Sempre achei Mark Arm um letrista subestimado. O cara tem um humor seco como o deserto, e “I Like It Small” é seu magnum opus: uma declaração de intenções, bem humorada e sem um pingo de ressentimento, sobre a alegria de ser “pequeno” em um mundo onde todos querem ser grandes e poderosos. “Produção mínima / ações baratas / ambientações simples / apelo limitado / porões enfumaçados / temporadas curtas / baixas expectativas / O que foi que eu fiz? (…) Eu não preciso de uma Magnum / um cano curto me satisfaz / E a qualquer hora, prefiro G.G. Allin / a Long Dong Silver”.
A letra me parece uma piada com a suposta “falta de ambição” do Mudhoney, uma banda que sempre ficou feliz com o que conquistou. Os caras têm 50 anos, famílias e empregos fora da banda: o baixista Guy Maddison é enfermeiro, o guitarrista Steve Turner vende discos raros no Ebay, e Mark Arm trabalha no setor de vendas pelo correio da sub Pop – se você pedir um disco, tenha certeza de que foi Mark que embalou.
Já escrevi isso antes: se fossem “espertos”, eles teriam dado um tempo depois da morte de Kurt Cobain e voltado uns cinco ou seis anos depois, ganhando fortunas para tocar nos Coachellas da vida. Mas não é a deles. Outro dia, a Sub Pop calculou que, em 25 anos de carreira, o Mudhoney vendeu um total de 500 mil discos. Só para comparar, “Nevermind” vendeu entre 30 e 35 milhões. E está tudo bem.
E agora, com um documentário na praça (“I’m Now”, com várias cenas filmadas no Brasil), uma biografia a caminho, escrita pelo jornalista inglês Keith Cameron, e um disco que está sendo considerado um dos melhores da carreira da banda, será que o Mudhoney finalmente vai parar de ser chamado de “sobrevivente do grunge”, como se fosse um pecado continuar fazendo o que gosta?
por André Barcinsky
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