(**) Em sua opinião, o que mudou no mundo desde que vocês começaram, em finais dos anos 1970, para hoje?
Tudo está pior. A pobreza vai aumentar, as corporações multinacionais,
especialmente a indústria de armamentos, estão indo para onde está o
dinheiro. Estão colocando armas automáticas na mão de gente que não
poderia ter acesso a armas automáticas. Essas armas estão indo para os
lugares errados. Estão indo para os morros do Rio de Janeiro, onde
aqueles caras violentaram a mulher na semana passada. Coisas como essas
vão sempre acontecer eternamente. E tudo que eles querem é pegar os 99%
de todo o dinheiro e ficar com ele. As lideranças continuam
megalomaníacas e as corporações continuam no topo das decisões. Os
países estão destroçando as conquistas sociais, os direitos sociais. A
religião segue enlouquecendo as pessoas. Temos um novo papa que está
sendo retratado como um cara legal, mas cujas posições o desmentem. Ele
não tem mostrado nenhuma visão diferente dos anteriores, não vai
reconhecer que as pessoas têm o direito de decidirem sobre o que fazem
com seus próprios corpos. Então, vai ser um retrocesso, a Igreja
Católica não tem intenção de mudar e as pessoas vão mergulhando em mais
ignorância. Esse papa simplesmente ganhou um belo de um apartamento para
si. O Vaticano é um belo palácio, quantos de nós poderiam viver num
lugar assim? Nada mudou.
O novo papa chegou a ser acusado de ter colaborado com a ditadura argentina.
Não tinha ouvido falar sobre isso,
mas não posso dizer que seja uma surpresa para mim. A Igreja Católica
sempre vendou seus olhos nos lugares onde aconteciam atrocidades. E a
igreja argentina, naquele período, ganhou a reputação de não ser um bom
lugar para se procurar um homem santo. Eu tendo a ficar longe de teorias
conspiratórias, mas sempre que há uma fumaça há fogo.
Jello Biafra disse uma vez que “o punk rock não está morto, mas merece morrer”.
Biafra sempre usou de muito sarcasmo. Acho que ele estava falando… Eu
não falo muito sobre Biafra hoje em dia, não sei o que exatamente ele
pensa. Mas acho que as coisas se mantém em movimento, que uma música
agressiva não é necessariamente punk rock, e certamente a moda, um
casaco preto, um cabelo moicano, nada disso tem nada a ver com punk.
Muita gente vive desse sentimento nostálgico, que não carrega o espírito
da coisa. Tem muita gente por aí vivendo como se fosse um hippie dos
anos 1960. E ficam dizendo besteiras: “Ah, 1966, aquele ano era meu
favorito!”. Ou: “Uh, 1977 foi o melhor ano da vida!”.
Há alguma possibilidade de o Dead Kennedys gravar um novo disco com essa formação atual?
Há sempre uma possibilidade. O único problema é que não é mais tão
orgânico como costumava ser. O cantor vive em Nova York, o baterista
vive em Los Angeles, e eu vivo aqui em São Francisco. Então, ficar
juntos para ensaiar e desenvolver canções é muito difícil de acontecer.
Mas temos colaborado, mandando arquivos musicais um para o outro. Há
algum material novo já produzido.
(*) A última vez que o DK veio ao Brasil
foi em 2001, com Brandon Cruz no vocal, e vocês tiveram uma resposta
bastante positiva. O que mais mudou desde então?
Klaus: Bem, um vocalista e algumas músicas diferentes e no mínimo
uma música nova. Talvez mais, ainda não sabemos. Além disso, desde
então nós temos tocado bastante, feito shows mais regularmente e, por
causa disso, nós estamos tocando bem melhor e somos músicos mais
experientes do que nos anos 1980.
O que vocês esperam desta turnê brasileira?
Klaus: Esperamos atingir um público que nunca teve a chance de
assistir a um show nosso assim como ter a possibilidade de reencontrar
alguns que nos viram em 2001 de um ângulo diferente do Brandon, assim
como Brandon era diferente do Jello.
O que o Público brasileiro pode esperar da turnê?
Klaus: Nós pretendemos tocar nossas músicas e fazer um show mais
forte do que nunca, sendo que fazer quatro shows em quatro dias em um
país bem extenso requer muita concentração para atravessar os limites.
Nós vemos isso como um desafio.
Em uma entrevista para a citizenmag
em 2003, você disse que o DK estava com material novo para gravar e
lançar. Bem, estamos em 2013, quais as chances de vermos um álbum de
inéditas do DK.
Klaus: Acho que não sou o "vidente" que eu achei que era. Nós
todos estivemos trabalhando em projetos diferentes, alguns já vieram à
tona, outros ainda não, e também estivemos trabalhando em novas músicas
p’ro Dead Kennedys, novamente, algumas foram finalizadas (pelo menos uma
estará nos shows) e outras não estão prontas ou mal iniciadas ou
serviam melhor para nossos projetos individuais. Também há o problema de
que não moramos todos dentro de um raio de apenas alguns quilômetros
uns dos outros como nos anos 80. Nós temos que viajar para estarmos
juntos em um lugar. Skip, o vocalista, mora na costa leste, o que é
literalmente do outro lado do país. Adicione a isto o fato de
trabalharmos muito bem quando estamos na mesma sala (alguns dos nossos
melhores materiais saem das passagens de som), mas não trabalhamos nada
bem trocando arquivos de áudio pela internet, cada um adicionando um
pouco aqui depois ali. Nós nunca compusemos assim e provavelmente nunca
iremos. Dito isto, isso não exclui alguns de nós colaborando e então
reunindo a banda em um mesmo espaço para transformar as ideias em
músicas de verdade. Qualquer coisa pode acontecer e eu aprendi a jamais
dizer nunca.
O que é punk?
Klaus: É o que você quiser que seja. Nós não criamos a palavra e
eu não acho que devemos dizer que “o punk é isso ou aquilo”. É uma coisa
diferente para pessoas diferentes, das quais algumas eu concordo e
outras eu discordo. Tentar definir esse tipo de coisa é função de
blogueiros. O que é literatura? O que é a TV ou a internet? Faça as
perguntas e você terá um milhão de respostas. Nossa posição é mais sobre
pensar por você mesmo do que ser alimentado por fatos e se curvar
diante deles. Em nossas músicas, nós falamos sobre assuntos que podem te
fazer pensar e se estes temas te interessarem você pode ir para casa e
pesquisar um pouco mais sobre esses assuntos. Porém, nós não iremos
dizer o que você tem que pensar, apesar de tentarmos te fazer refletir
enquanto você também se diverte.
Alguma banda nova que está entre suas favoritas?
Klaus: Tem algumas bandas que eu realmente gosto de ouvir e ver,
mas não são limitadas apenas a bandas punk. Seria o mesmo que limitar
sua alimentação a “comer apenas milho” porque eu gosto de milho. Eu não
tenho certeza se estaremos falando da mesma coisa se disséssemos “esta
banda é punk”. Então, para não ofender ninguém que eu gosto deixando-os
de lado, eu não vou falar o nome de nenhuma. Portanto, Bieber, você pode
esquecer.
Você está acompanhando o processo
entre o Premier Russo Vladimir Putin e a banda punk Pussy Riot? Qual sua
opinião a respeito do assunto?
Klaus: Eu acho que é um grande absurdo e ao mesmo tempo brilhante
Putin se sentir tão ameaçado por elas, mas as ações dele são
criminosas, não as delas, como pode parecer. O que elas fizeram????
Cantaram suas opiniões? E elas estão na prisão já faz um ano? Mas que...
Mas que bando de... Parece que a antiga lógica da U.R.S.S. está
voltando para ficar, só que usando o velho nome pré 1917. Seria
interessante ver o quanto a população irá permitir até termos, quem
sabe, uma primavera russa.
Como um grupo contra grandes
corporações, eu imagino que o DK não veja a distribuição gratuita de
músicas pela internet necessariamente como uma coisa ruim, mas vocês
acreditam que a internet seja realmente capaz de atingir as massas como o
rádio fez em um passado não muito distante?
Klaus: Como um artista/músico/performer eu discordo da premissa da sua pergunta.
No “passado não muito distante” megacorporações fizeram toneladas de
dinheiro em cima de músicos, mas os músicos também foram pagos (apesar
de ter sido de uma maneira desequilibrada) por seus trabalhos. Contratos
foram feitos e esperançosamente seguidos. O rádio paga pelo uso das
músicas. Museus por arte visual. Cinemas por filmes bem como seus
atores, diretores, cinegrafistas, etc., por seus trabalhos nos filmes.
DVDs foram vendidos e por aí vai. Então, sobre a pirataria. Todos
compramos bootlegs, todos gravamos fitas para os amigos, etc., mas o
percentual era tão mínimo comparado a sites como Megaupload, no qual um
cara comprava um CD e então todos os outros teriam de graça. Seu o site
tinha milhões e milhões de acessos e os publicitários sabiam disso e
estavam dispostos a bem pagar por este espaço. Assim ele ficou
bilionário enquanto os artistas levaram um prejuízo tão grande que isso
realmente tirou seus sustentos e a chance de ter arte como modo de vida.
Se você gosta da comida de um restaurante, é certo você comer e
simplesmente ir embora sem pagar? Fodam-se o cozinheiro, o garçom e o
dono, isso deveria ser GRÁTIS!!!
Se você curte arte, fotografia, música e é grátis (apesar de não ser
necessariamente com a permissão do artista) você deveria apenas
baixá-las?
Uma coisa é o artista dizer “Aqui, pegue uma amostra grátis de um
projeto que está por vir. Pegue e aproveite.” Outra coisa totalmente
diferente é alguém postar , digamos, no youtube, onde eles não tem
praticamente nenhum trabalho e qualquer um pode copiar o que está lá,
sem contar que o Google, entre todos, é o único que ganha dinheiro com
isso. (Toneladas de dinheiro, por sinal, mesmo com canais monetizados)
Então, se alguém tem algum valor pra você, não deveria ser recompensada
pelo prazer que você aproveita a não ser que seja escolha do artista dar
de graça?
Shows grátis? Mas o artista fez uma escolha. Fazer um bootleg na era
pré-napster de compartilhamento, talvez não tão legal, mas ainda é como
comparar um resfriado com câncer. São dois níveis totalmente diferentes.
Portanto, nós aceitamos as corporações, isso se elas se comportarem de
maneira justa, tiverem boas intensões e não tenham apenas o objetivo de
sustentar os caras no topo da lista dos podres de rico em cima do
trabalho de outros. Nós não somos tão anticorporações como somos
anticorporações gananciosas. Parafraseando, “É sobre o seu caráter”. Nós
não gostamos do conceito de que músicos ou artistas de qualquer tipo
presumidamente não deveriam ser recompensados por seus trabalhos, se o
trabalho é valorizado por aqueles que o apreciam.
Você acredita na militância na internet e em mídias sociais?
Klaus: Sim. Eu acho que as ideias podem se espalhar e os
movimentos ganharem ímpeto. Contudo, sou cauteloso com a verdade sobre
qualquer coisa que leio na web, ou em qualquer lugar, se é uma coisa que
quer me convencer. Então, é preciso tempo para verificar os fatos.
Você não acha que a falta de humanidade e contato direto entre as pessoas na internet pode levar isso a nada?
Klaus: Tire a humanidade e o contato direto entre as pessoas e estará sujeito a uma redução na experiência.
Em 2009 e 2011 eu assisti a diversos
shows de bandas tanto famosas quanto independentes e alternativas nos
EUA, e algo que realmente me deixou desconfortável foi a apatia do
público norte-americano. Eles param em frente ao palco e apenas assistem
e batem palmas ao final de cada música. É como se estivessem assistindo
TV. Isso já aconteceu com o DK? Como vocês superam isso?
Klaus: No geral não. Parece ter sempre um pouco de ação, no
mínimo, em frente ao palco. Nós também chegamos a tocar em lugares com
um balcão e cadeiras onde as pessoas assistiam sentadas. Cada um na sua
em questão de participação (se o público quer participar beleza, senão
beleza também), mas algumas vezes parece haver um cansaço que pode vir
com uma superexposição. Se você mora em uma cidade onde toda noite tem
cinco bons shows para ver, algumas pessoas terão uma linguagem corporal
dizendo “Certo, prove que você merece”. Nós os vemos como um tipo
especial de público que precisa ser informado e que nos faz superar
desafio proposto.
Mesmo após diversas críticas positivas sobre Ron Skip Greer estar tocando junto com o DK, o luisville.metromix.com
o classificou como a sexta pior substituição de vocalistas em bandas de
rock (aparentemente apenas por causa do nome). Qual a sua resposta para
isso?
Klaus: Honestamente, eu não tenho uma opinião sobre isso ou
qualquer uma de suas intensões em apenas irritar. É como passar a noite
lendo blogs e vendo que a maioria é escrita por pessoas incomodadas com
as próprias vidas e não têm nada melhor pra fazer do que ficar vomitando
em cima do teclado. Também existem muitos outros (uma boa coisa da
internet) que possuem outros objetivos melhor definidos. Tanto faz.
O público brasileiro parece estar
indeciso sobre ver o DK sem o Jello. Levando em conta que ele saiu da
banda em 1986, e que a maior parte desse público praticamente nunca viu a
formação original mesmo em DVD ou no You Tube, o que você tem a dizer
para essas pessoas?
Klaus: Ninguém é obrigado a comprar o ingresso. Se você está
curioso e tem a mente aberta, venha e veja por si mesmo. Nós somos os
Dead Kennedys com o Jello e nós somos os Dead Kennedys com o Skip. São
apenas temperos diferentes. Se o Jello algum dia pedisse para voltar,
ele seria mais do que bem vindo, a oferta foi feita, mas ele escolheu o
caminho de suas spoken words e com o Guantanamo [School of Medicine].
Esta é a escolha dele e por ele está bem assim. Contudo, eu sei e
entendo que muitos gostariam de ver uma reunião da formação original,
Jello parece não achar que vale a pena pra ele. Mas o que deve ser
lembrado é que será um show musical com ênfase nas músicas e letras. É
isso que levaremos ao Brasil, assim como nós fazemos em todos os outros
lugares que tocamos.
Uma mensagem para todos que mal podem esperar para ver o Dead Kennedys novamente no Brasil.
Klaus: Nós estamos ansiosos para os shows e encontrar todos
depois deles. Todos nós saímos (depois de recuperar o fôlego por uns
cinco minutos) e conversamos com o maior número de pessoas possível. O
Brasil sabe festejar mais do que qualquer um. Então, vamos nos reunir e
celebrar a música.
Serviço:
Data: 18/04/2013 (quinta-feira) - Curitiba/PR
Abertura da casa: 20h
Local: Music Hall
Endereço: Rua Engenheiro Rebouças, 1645 Fone: (41) 3026-5050
Abertura: FANG (USA)
1º lote de ingressos antecipados a R$ 75,00*
2º lote de ingressos antecipados a R$ 90,00*
Camarotes antecipados a R$ 130,00*
*estudantes e doadores de 1kg de alimento
Pontos de Venda:
Túnel do Rock, Let’s Rock, Dr. Rock, Bar Lado B
Vendas Online
https://ticketbrasil.com.br/show/deadkennedys-pr/
Data: 19 de abril de 2013 (sexta-feira) - Americana/SP
Local: Espaço Americana (Av. Bandeirantes, 2345
Centro)
Data: 20 de abril de 2013 (sábado) - Recife/PE
Local: Chevrolet Hall (Abril Pro Rock 2013)
Data: 21 de abril de 2013 (domingo) - São Paulo/SP
Local: Via Marques
Fontes:
(**) Jotabê Medeiros – O Estado de S.Paulo
(*) Guilherme S. Guinski - Bronco rock
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