domingo, 7 de abril de 2013

Klaus Flouride (Dead Kennedys), duas entrevistas

(**) Em sua opinião, o que mudou no mundo desde que vocês começaram, em finais dos anos 1970, para hoje?

Tudo está pior. A pobreza vai aumentar, as corporações multinacionais, especialmente a indústria de armamentos, estão indo para onde está o dinheiro. Estão colocando armas automáticas na mão de gente que não poderia ter acesso a armas automáticas. Essas armas estão indo para os lugares errados. Estão indo para os morros do Rio de Janeiro, onde aqueles caras violentaram a mulher na semana passada. Coisas como essas vão sempre acontecer eternamente. E tudo que eles querem é pegar os 99% de todo o dinheiro e ficar com ele. As lideranças continuam megalomaníacas e as corporações continuam no topo das decisões. Os países estão destroçando as conquistas sociais, os direitos sociais. A religião segue enlouquecendo as pessoas. Temos um novo papa que está sendo retratado como um cara legal, mas cujas posições o desmentem. Ele não tem mostrado nenhuma visão diferente dos anteriores, não vai reconhecer que as pessoas têm o direito de decidirem sobre o que fazem com seus próprios corpos. Então, vai ser um retrocesso, a Igreja Católica não tem intenção de mudar e as pessoas vão mergulhando em mais ignorância. Esse papa simplesmente ganhou um belo de um apartamento para si. O Vaticano é um belo palácio, quantos de nós poderiam viver num lugar assim? Nada mudou. 

O novo papa chegou a ser acusado de ter colaborado com a ditadura argentina.

Não tinha ouvido falar sobre isso, mas não posso dizer que seja uma surpresa para mim. A Igreja Católica sempre vendou seus olhos nos lugares onde aconteciam atrocidades. E a igreja argentina, naquele período, ganhou a reputação de não ser um bom lugar para se procurar um homem santo. Eu tendo a ficar longe de teorias conspiratórias, mas sempre que há uma fumaça há fogo. 

Jello Biafra disse uma vez que “o punk rock não está morto, mas merece morrer”.

Biafra sempre usou de muito sarcasmo. Acho que ele estava falando… Eu não falo muito sobre Biafra hoje em dia, não sei o que exatamente ele pensa. Mas acho que as coisas se mantém em movimento, que uma música agressiva não é necessariamente punk rock, e certamente a moda, um casaco preto, um cabelo moicano, nada disso tem nada a ver com punk. Muita gente vive desse sentimento nostálgico, que não carrega o espírito da coisa. Tem muita gente por aí vivendo como se fosse um hippie dos anos 1960. E ficam dizendo besteiras: “Ah, 1966, aquele ano era meu favorito!”. Ou: “Uh, 1977 foi o melhor ano da vida!”. 

Há alguma possibilidade de o Dead Kennedys gravar um novo disco com essa formação atual?

Há sempre uma possibilidade. O único problema é que não é mais tão orgânico como costumava ser. O cantor vive em Nova York, o baterista vive em Los Angeles, e eu vivo aqui em São Francisco. Então, ficar juntos para ensaiar e desenvolver canções é muito difícil de acontecer. Mas temos colaborado, mandando arquivos musicais um para o outro. Há algum material novo já produzido.

(*) A última vez que o DK veio ao Brasil foi em 2001, com Brandon Cruz no vocal, e vocês tiveram uma resposta bastante positiva. O que mais mudou desde então?
Klaus: Bem, um vocalista e algumas músicas diferentes e no mínimo uma música nova. Talvez mais, ainda não sabemos. Além disso, desde então nós temos tocado bastante, feito shows mais regularmente e, por causa disso, nós estamos tocando bem melhor e somos músicos mais experientes do que nos anos 1980.

O que vocês esperam desta turnê brasileira?
Klaus: Esperamos atingir um público que nunca teve a chance de assistir a um show nosso assim como ter a possibilidade de reencontrar alguns que nos viram em 2001 de um ângulo diferente do Brandon, assim como Brandon era diferente do Jello.

O que o Público brasileiro pode esperar da turnê?
Klaus: Nós pretendemos tocar nossas músicas e fazer um show mais forte do que nunca, sendo que fazer quatro shows em quatro dias em um país bem extenso requer muita concentração para atravessar os limites. Nós vemos isso como um desafio.

Em uma entrevista para a citizenmag em 2003, você disse que o DK estava com material novo para gravar e lançar. Bem, estamos em 2013, quais as chances de vermos um álbum de inéditas do DK.
Klaus: Acho que não sou o "vidente" que eu achei que era. Nós todos estivemos trabalhando em projetos diferentes, alguns já vieram à tona, outros ainda não, e também estivemos trabalhando em novas músicas p’ro Dead Kennedys, novamente, algumas foram finalizadas (pelo menos uma estará nos shows) e outras não estão prontas ou mal iniciadas ou serviam melhor para nossos projetos individuais. Também há o problema de que não moramos todos dentro de um raio de apenas alguns quilômetros uns dos outros como nos anos 80. Nós temos que viajar para estarmos juntos em um lugar. Skip, o vocalista, mora na costa leste, o que é literalmente do outro lado do país. Adicione a isto o fato de trabalharmos muito bem quando estamos na mesma sala (alguns dos nossos melhores materiais saem das passagens de som), mas não trabalhamos nada bem trocando arquivos de áudio pela internet, cada um adicionando um pouco aqui depois ali. Nós nunca compusemos assim e provavelmente nunca iremos. Dito isto, isso não exclui alguns de nós colaborando e então reunindo a banda em um mesmo espaço para transformar as ideias em músicas de verdade. Qualquer coisa pode acontecer e eu aprendi a jamais dizer nunca.

O que é punk?
Klaus: É o que você quiser que seja. Nós não criamos a palavra e eu não acho que devemos dizer que “o punk é isso ou aquilo”. É uma coisa diferente para pessoas diferentes, das quais algumas eu concordo e outras eu discordo. Tentar definir esse tipo de coisa é função de blogueiros. O que é literatura? O que é a TV ou a internet? Faça as perguntas e você terá um milhão de respostas. Nossa posição é mais sobre pensar por você mesmo do que ser alimentado por fatos e se curvar diante deles. Em nossas músicas, nós falamos sobre assuntos que podem te fazer pensar e se estes temas te interessarem você pode ir para casa e pesquisar um pouco mais sobre esses assuntos. Porém, nós não iremos dizer o que você tem que pensar, apesar de tentarmos te fazer refletir enquanto você também se diverte.

Alguma banda nova que está entre suas favoritas?
Klaus: Tem algumas bandas que eu realmente gosto de ouvir e ver, mas não são limitadas apenas a bandas punk. Seria o mesmo que limitar sua alimentação a “comer apenas milho” porque eu gosto de milho. Eu não tenho certeza se estaremos falando da mesma coisa se disséssemos “esta banda é punk”. Então, para não ofender ninguém que eu gosto deixando-os de lado, eu não vou falar o nome de nenhuma. Portanto, Bieber, você pode esquecer.

Você está acompanhando o processo entre o Premier Russo Vladimir Putin e a banda punk Pussy Riot? Qual sua opinião a respeito do assunto?
Klaus: Eu acho que é um grande absurdo e ao mesmo tempo brilhante Putin se sentir tão ameaçado por elas, mas as ações dele são criminosas, não as delas, como pode parecer. O que elas fizeram???? Cantaram suas opiniões? E elas estão na prisão já faz um ano? Mas que... Mas que bando de... Parece que a antiga lógica da U.R.S.S. está voltando para ficar, só que usando o velho nome pré 1917. Seria interessante ver o quanto a população irá permitir até termos, quem sabe, uma primavera russa.

Como um grupo contra grandes corporações, eu imagino que o DK não veja a distribuição gratuita de músicas pela internet necessariamente como uma coisa ruim, mas vocês acreditam que a internet seja realmente capaz de atingir as massas como o rádio fez em um passado não muito distante?
Klaus: Como um artista/músico/performer eu discordo da premissa da sua pergunta.
No “passado não muito distante” megacorporações fizeram toneladas de dinheiro em cima de músicos, mas os músicos também foram pagos (apesar de ter sido de uma maneira desequilibrada) por seus trabalhos. Contratos foram feitos e esperançosamente seguidos. O rádio paga pelo uso das músicas. Museus por arte visual. Cinemas por filmes bem como seus atores, diretores, cinegrafistas, etc., por seus trabalhos nos filmes. DVDs foram vendidos e por aí vai. Então, sobre a pirataria. Todos compramos bootlegs, todos gravamos fitas para os amigos, etc., mas o percentual era tão mínimo comparado a sites como Megaupload, no qual um cara comprava um CD e então todos os outros teriam de graça. Seu o site tinha milhões e milhões de acessos e os publicitários sabiam disso e estavam dispostos a bem pagar por este espaço. Assim ele ficou bilionário enquanto os artistas levaram um prejuízo tão grande que isso realmente tirou seus sustentos e a chance de ter arte como modo de vida.
Se você gosta da comida de um restaurante, é certo você comer e simplesmente ir embora sem pagar? Fodam-se o cozinheiro, o garçom e o dono, isso deveria ser GRÁTIS!!!
Se você curte arte, fotografia, música e é grátis (apesar de não ser necessariamente com a permissão do artista) você deveria apenas baixá-las?
Uma coisa é o artista dizer “Aqui, pegue uma amostra grátis de um projeto que está por vir. Pegue e aproveite.” Outra coisa totalmente diferente é alguém postar , digamos, no youtube, onde eles não tem praticamente nenhum trabalho e qualquer um pode copiar o que está lá, sem contar que o Google, entre todos, é o único que ganha dinheiro com isso. (Toneladas de dinheiro, por sinal, mesmo com canais monetizados)
Então, se alguém tem algum valor pra você, não deveria ser recompensada pelo prazer que você aproveita a não ser que seja escolha do artista dar de graça?
Shows grátis? Mas o artista fez uma escolha. Fazer um bootleg na era pré-napster de compartilhamento, talvez não tão legal, mas ainda é como comparar um resfriado com câncer. São dois níveis totalmente diferentes.
Portanto, nós aceitamos as corporações, isso se elas se comportarem de maneira justa, tiverem boas intensões e não tenham apenas o objetivo de sustentar os caras no topo da lista dos podres de rico em cima do trabalho de outros. Nós não somos tão anticorporações como somos anticorporações gananciosas. Parafraseando, “É sobre o seu caráter”. Nós não gostamos do conceito de que músicos ou artistas de qualquer tipo presumidamente não deveriam ser recompensados por seus trabalhos, se o trabalho é valorizado por aqueles que o apreciam.

Você acredita na militância na internet e em mídias sociais?
Klaus: Sim. Eu acho que as ideias podem se espalhar e os movimentos ganharem ímpeto. Contudo, sou cauteloso com a verdade sobre qualquer coisa que leio na web, ou em qualquer lugar, se é uma coisa que quer me convencer. Então, é preciso tempo para verificar os fatos.

Você não acha que a falta de humanidade e contato direto entre as pessoas na internet pode levar isso a nada?
Klaus: Tire a humanidade e o contato direto entre as pessoas e estará sujeito a uma redução na experiência.

Em 2009 e 2011 eu assisti a diversos shows de bandas tanto famosas quanto independentes e alternativas nos EUA, e algo que realmente me deixou desconfortável foi a apatia do público norte-americano. Eles param em frente ao palco e apenas assistem e batem palmas ao final de cada música. É como se estivessem assistindo TV. Isso já aconteceu com o DK? Como vocês superam isso?
Klaus: No geral não. Parece ter sempre um pouco de ação, no mínimo, em frente ao palco. Nós também chegamos a tocar em lugares com um balcão e cadeiras onde as pessoas assistiam sentadas. Cada um na sua em questão de participação (se o público quer participar beleza, senão beleza também), mas algumas vezes parece haver um cansaço que pode vir com uma superexposição. Se você mora em uma cidade onde toda noite tem cinco bons shows para ver, algumas pessoas terão uma linguagem corporal dizendo “Certo, prove que você merece”. Nós os vemos como um tipo especial de público que precisa ser informado e que nos faz superar desafio proposto.

Mesmo após diversas críticas positivas sobre Ron Skip Greer estar tocando junto com o DK, o luisville.metromix.com o classificou como a sexta pior substituição de vocalistas em bandas de rock (aparentemente apenas por causa do nome). Qual a sua resposta para isso?
Klaus: Honestamente, eu não tenho uma opinião sobre isso ou qualquer uma de suas intensões em apenas irritar. É como passar a noite lendo blogs e vendo que a maioria é escrita por pessoas incomodadas com as próprias vidas e não têm nada melhor pra fazer do que ficar vomitando em cima do teclado. Também existem muitos outros (uma boa coisa da internet) que possuem outros objetivos melhor definidos. Tanto faz.

O público brasileiro parece estar indeciso sobre ver o DK sem o Jello. Levando em conta que ele saiu da banda em 1986, e que a maior parte desse público praticamente nunca viu a formação original mesmo em DVD ou no You Tube, o que você tem a dizer para essas pessoas?
Klaus: Ninguém é obrigado a comprar o ingresso. Se você está curioso e tem a mente aberta, venha e veja por si mesmo. Nós somos os Dead Kennedys com o Jello e nós somos os Dead Kennedys com o Skip. São apenas temperos diferentes. Se o Jello algum dia pedisse para voltar, ele seria mais do que bem vindo, a oferta foi feita, mas ele escolheu o caminho de suas spoken words e com o Guantanamo [School of Medicine]. Esta é a escolha dele e por ele está bem assim. Contudo, eu sei e entendo que muitos gostariam de ver uma reunião da formação original, Jello parece não achar que vale a pena pra ele. Mas o que deve ser lembrado é que será um show musical com ênfase nas músicas e letras. É isso que levaremos ao Brasil, assim como nós fazemos em todos os outros lugares que tocamos.

Uma mensagem para todos que mal podem esperar para ver o Dead Kennedys novamente no Brasil.
Klaus: Nós estamos ansiosos para os shows e encontrar todos depois deles. Todos nós saímos (depois de recuperar o fôlego por uns cinco minutos) e conversamos com o maior número de pessoas possível. O Brasil sabe festejar mais do que qualquer um. Então, vamos nos reunir e celebrar a música.

Serviço:

Data: 18/04/2013 (quinta-feira) - Curitiba/PR
Abertura da casa: 20h
Local: Music Hall
Endereço: Rua Engenheiro Rebouças, 1645 Fone: (41) 3026-5050
Abertura: FANG (USA)

1º lote de ingressos antecipados a R$ 75,00*
2º lote de ingressos antecipados a R$ 90,00*
Camarotes antecipados a R$ 130,00*
*estudantes e doadores de 1kg de alimento

Pontos de Venda:
Túnel do Rock, Let’s Rock, Dr. Rock, Bar Lado B
Vendas Online
https://ticketbrasil.com.br/show/deadkennedys-pr/

Data: 19 de abril de 2013 (sexta-feira) - Americana/SP
Local: Espaço Americana (Av. Bandeirantes, 2345
Centro)

Data: 20 de abril de 2013 (sábado) - Recife/PE
Local: Chevrolet Hall (Abril Pro Rock 2013)

Data: 21 de abril de 2013 (domingo) - São Paulo/SP
Local: Via Marques

Fontes:

(**) Jotabê Medeiros – O Estado de S.Paulo
(*) Guilherme S. Guinski - Bronco rock

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