É um dia ensolarado de janeiro em Los Angeles, mas, como é de se
esperar, o mundo do Black Sabbath parece bastante sombrio. O guitarrista
Tony Iommi está na Inglaterra passando por tratamento contra um linfoma
diagnosticado no ano passado. Ozzy Osbourne, zanzando pelo estúdio
Shangri-La, em Malibu, com um chapéu preto e terno, tem seus próprios
problemas médicos: o braço está apoiado na tipoia depois de uma cirurgia
na mão e, quatro dias antes, ele se transformou por um breve momento em
tocha humana: “A minha mulher [Sharon] deixou uma vela acesa no
andar de baixo e a mesinha de centro pegou fogo”, balbucia, afastando o
cabelo da testa e revelando uma marca vermelha de queimadura. “Ela jogou
água na madeira e foi como se napalm tivesse explodido.” Encolhe os
ombros. “Um dia normal no lar Osbourne."
Pelo menos uma coisa está saindo do jeito do Sabbath: a banda está quase terminando 13,
o primeiro álbum de estúdio com Osbourne em 35 anos. Gravado no final
do ano passado no famoso estúdio de Los Angeles com o produtor Rick
Rubin, 13 conta com Osbourne, Iommi, o baixista Geezer Butler e o
baterista convidado Brad Wilk (do Rage Against the Machine)
ressuscitando o som lamacento e ultrapesado dos primeiros discos do
Sabbath. Em outra menção a suas raízes, faixas matadoras como "End of
the Beginning" e "Age of Reason" duram até oito minutos. "Não sei o que
está acontecendo no mundo da música”, diz Osbourne. "Minha mulher me
fala sobre bandas e não faço ideia do que está dizendo. Só fazemos o que
sempre fizemos."
Osbourne saiu em algumas turnês com o Sabbath nos últimos 15 anos,
mas o caminho para uma reunião no estúdio foi particularmente longo e
árduo. Eles se encontraram com Rubin pela primeira vez há mais de 10
anos, só que, segundo o produtor, “não deu liga na época”. Iommi afirma
que o lançamento do reality show The Osbournes na MTV logo em
seguida complicou as coisas: "Aquilo afastou o Ozzy. Quando ele estava
para fazer o programa, pensei ‘Hmmm, não sei no que vai dar'. Deu no que
deu, e agora é tarde demais".
Mesmo quando o projeto foi retomado em 2011, quase saiu dos trilhos. O
baterista original Bill Ward, que havia participado dos primeiros
ensaios para um novo disco, anunciou em fevereiro do ano passado que não
participaria devido ao que chama de “dificuldades contratuais” (ele não
quis dar declarações para esta matéria). Iommi diz que as exigências de
Ward vieram do nada. "Não sabia que Bill estava tendo esses problemas
quando nos reunimos – ele não falou nada para nós”, afirma. “Foi
bastante confuso. Queríamos que estivesse envolvido, mas ficou difícil
demais.” Osbourne acrescenta: "Você não pode dizer 'Bom, não gosto
disso’. Você se levanta e dá um jeito nas coisas. A vida de um astro de
rock boêmio acabou há muito tempo".
O diagnóstico do câncer de Iommi foi outro empecilho. “Não conseguia
acreditar naquilo”, conta Osbourne. "Depois daquele tempo todo, estamos
no mesmo barco e bang." As sessões foram adiadas por pouco tempo quando o
guitarrista iniciou a quimioterapia no ano passado. Então, quando
finalmente chegou a hora de gravar o álbum, Rubin deu sua contribuição
aos problemas. Com a banda reunida em sua casa, em Los Angeles, ele
tocou o primeiro álbum deles, o brutalmente primitivo Black Sabbath,
de 1970. "Queria fazer um disco que pudesse ser comparado àqueles
quatro primeiros”, conta Rubin. "O primeiro não era um álbum de heavy
metal puro. Dava para ouvir a influência do jazz, então a meta era essa,
e capturar aquela interação ao vivo."
Para a banda, o desafio de Rubin de fazer jus ao som de antigamente
foi desconcertante, no começo.
“Foi confuso", diz Butler. "Tivemos de
desaprender tudo o que tínhamos aprendido.” O Sabbath recusou um dos
pedidos de Rubin: que o constantemente volátil Ginger Baker ocupasse o
posto de baterista. "Pensei: 'Mas que diabos?'", lembra Iommi. "Não
conseguia imaginar aquilo." Rubin, então, sugeriu Wilk, que visitou a
casa de Osbourne e tocou com ele, Iommi e Butler clássicos do Sabbath
como "War Pigs". "Nunca ouvi instrumentos tão altos em toda a minha
vida”, afirma o baterista do Rage, que acabou tocando em todo o álbum.
"E já toquei em algumas bandas bem barulhentas."
Depois de ser chamado, Wilk foi sujeito ao equivalente do Sabbath ao
trote. "Tony ficava constantemente implicando comigo”, conta. "Eu
chegava e ele perguntava: ‘Você recebeu meu e-mail ontem à noite com
aquela nova música?' Sou tremendamente ingênuo, então respondia 'Não,
não recebi' e ele começava a tocar um riff que eu nunca tinha ouvido,
daí comentava: 'Ahn, não – uau!' Ele ficava fazendo isso até eu perceber
que era só uma brincadeira."
Quando as gravações começaram, Iommi só conseguiu trabalhar algumas
semanas por vez antes de tirar uma semana de folga para tratamentos
adicionais contra o câncer – um cronograma que irá adotar nos próximos
dois anos. Até agora, a banda só anunciou uma turnê rápida no segundo
trimestre no Japão, Austrália e na Nova Zelândia, com shows nos Estados
Unidos acontecendo após o descanso de Iommi. "Eu me atreveria a dizer
que as coisas estão bem boas no momento”, Iommi ri modestamente. "Ainda
estou aqui, e está tudo ok. Tínhamos de fazer este álbum agora. Meu
Deus, se acontecesse daqui a 10 anos, não sei se estaríamos vivos."
Embora Osbourne descreva o novo disco como "blues satânico", a doença
de Iommi não é a única coisa que mudou no Sabbath. Ozzy admite que não é
mais o “alcoólatra e drogado louco e furioso” que era durante a
gravação de seu último álbum com o Sabbath, Never Say Die, de 1978 ("Deveria ter se chamado I Wish I Was Dead" [“Queria estar morto”],
murmura), e até uma música nova do Sabbath como a provocantemente
intitulada "God Is Dead" [Deus está morto] faz uma virada inesperada.
"Ela começa com 'God is Dead'", conta Osbourne, antes de acrescentar um
tanto melancolicamente “mas, no final, diz 'I don't believe that God is
dead' [Não acredito que Deus está morto]."
por David Browne/ Tradução: Ligia Fonseca
Fonte: Rolling Stone
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