domingo, 10 de fevereiro de 2013

Parabéns, Silvio Campos ...

No exato momento em que a Karne Krua começou a ligar os equipamentos para começar seu show, com cerca de uma hora e meia de atraso, já na madrugada da primeira noite da 19ª edição do Palco do Rock, em Salvador, começou a chover. Temi pelo pior: que nossos heróis do underground sergipano tocassem para ninguém, já que tinha havido uma verdadeira debandada de camisas pretas depois da apresentação mais esperada da noite, do Headhunter DC. Ledo engano! Podem dizer o que quiser do publico “roqueiro” baiano, mas de timidez, apatia e falta de ânimo, eles não sofrem não. Foi só soarem os primeiros acordes que uma revoada de seres vestidos de preto, a maioria ainda naquela flor da idade em que a empolgação é a tônica, embalada pelo frescor dos hormônios em ebulição, surgiu meio que do nada – dos arredores, do camping, das dunas, de todos os lados, enfim – e se posicionou em frente ao palco para mais alguns bons minutos de rock tocado no talo! Não foi nenhuma multidão, evidentemente, pelo avançado da hora e pela revoada pós-culto da morte supracitada. Mas os relativamente poucos que estavam lá, resistentes, parecem ter curtido o que viram e ouviram. E muito.

Curtiram muito porque foi um show muito bom, sem firulas nem frescuras, com um ritmo perfeito, som no talo, excelentes composições novas seguidas de verdadeiros clássicos praticamente emendadas uma à outra. Muito provavelmente por respeito à banda que ainda iria se apresentar, num horário pra lá de ingrato – consideração que alguns que tocaram antes não tiveram o bom senso de demonstrar – Silvio falou pouco, o que, se por um lado privou a garotada soteropolitana de alguns esclarecimentos sobre o que estava por trás do rolo compressor que comprimia seus ouvidos, por outro deixou a apresentação mais enxuta, o que, em se tratando de Hard Core, é perfeito. Curto e grosso, pero sin perder La ternura jamás - o velho “sub” fez questão de agradecer, enfaticamente, os que permaneceram até ali e iriam ficar até o final. Fecharam a parte que lhes cabia com chave de ouro: “inanição”. Perfeito!

Praticamente ninguém sabia, e ele não disse nada, mas passadas as 12 badaladas “notúrnicas”, como diria Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro, Silvio Campos, para mim o eterno Sylvio “suburbano”, pioneiro do rock independente subterrâneo nas terras do cacique Serigy, estava completando, oficialmente, 49 aninhos de vida. Muito bem vividos. E comemorou da melhor maneira possível: cometendo mais um show de Hard Core matador, do alto de sua mais do que comprovada competência e entrega à frente de uma banda precisa e devastadora, referencia do estilo no Brasil e, porque não dizer, no mundo! Eu também não sabia. Chegando agora em casa, ao ser avisado pelo Facebook, o maior dedo-duro da face da terra, espantei o cansaço da viagem e resolvi fazer hoje mesmo este texto, para que o mesmo servisse como um pequeno porém sincero presente de aniversário para este grande amigo, grande figura, grande ser humano. Parabéns pra você, Silvio Campos. Muitas felicidades, muitos anos de vida.

A primeira noite da edição de 2013 do Palco do Rock, que acontece todo ano no Coqueiral de Piatã, na Orla de Salvador, em pleno Carnaval, se encerrou com o thrash metal “modernoso” com forte presença feminina da banda Autopse, de Maceió. Apesar da perceptível influencia do malfadado “nu metal”, esta excrescência estilística nascida no final da década de 1990, quando o rock dava seus últimos suspiros de criatividade, eles têm algumas boas composições, e melhor: cantadas em bom português. A vocalista, Daniela Serafim, tem um vocal gutural poderoso, mas ainda parece um tanto quanto insegura quanto à sua posição de “Frontwoman”. Já a banda é precisa e muito competente e tocou com os instrumentos bem equalizados e com as guitarras no talo, como deve ser. Destaque para Janaína Melo, a baterista, que teve direito, inclusive, a um pequeno solo – e arrasou!

Antes da Karne tocou a Estamos em Eso, punk rock/Hard Core da Argentina. Bons riffs de guitarra. Boa presença de palco. Antes deles, a Headhunter DC, certamente uma das melhores bandas de Death Metal do Brasil. Foi o ponto alto da noite, um verdadeiro culto executado com impressionante competência e profissionalismo pelo 4 cavaleiros do apocalipse comandados por um quinto elemento materializado na figura magnética de Sergio Balloff. Na platéia, um verdadeiro mar de “camisas pretas” saudando-os com os braços erguidos. Bonito.

Em ordem inversa, se apresentaram ainda o Desgraciado, de São Paulo – Hard Core “grosso” exalando “atitude” e testosterona por todos os poros – Irmão Carlos e o Catado, local – espécie de mangue beat do criolo doido cheio de percussão, passos de dança robóticos desengonçados, músicas próprias sem brilho e covers oportunistas – Blessed in fire, também local – Heavy metal “tradicional”, daqueles bem gritados, solados e dedilhados – Pâncreas – uma espécie de Camisa de Vênus do Século XXI. Desnecessário – e Cidadão Dissidente, de Feira de Santana – que eu não vi.

Vale notar que o Palco do Rock aparentemente deixou de ser o que eu chamava de “o maior festival de porralouquice da face da terra”. Isto porque antes era, litralmente, uma loucura: por todos os lados gente fantasiada de morte, de Eddie do Iron Maiden e todo tipo de bizarrice possível e imaginável. Se a banda que estivesse no palco fosse punk, era obrigada a tocar um cover do Nirvana. Se fosse mais puxada para o metal, tinha que tocar – adivinha! - Iron Maiden. Se não tocasse, recebia uma chuva de areia e cascalho e tinha que, frequentemente, interromper sua apresentação pelo palco ter sido invadido. Presenciei isso uma vez com a Pólux, do Rio de Janeiro – antiga banda de Bianca Jordão, do Leela: elas só conseguiram continuar sua apresentação depois de improvisar uma versão tosca de alguma musica do Nirvana.

Agora, tirando uma ou outra máscara de gás aqui ou ali – que eu imagino que tenha algum misterioso efeito decorativo, já que nunca ouvi falar de nenhuma explosão de bombas de gás lacrimogênico em nenhuma das edições do evento que justificassem tamanha precaução – estava tudo relativamente normal, como já tinha sido na última vez em que compareci, em 2010, para ver o Korzus.

Valeu a viagem. Foi uma boa noite de carnaval. E de quebra conheci a mais nova obra faraônica do Governo de Sergipe, a Ponte Gilberto Amado, que supostamente aumentará vertiginosamente o fluxo turístico no litoral do estado ao diminuir em meros 30 km a distancia entre Salvador e Aracaju ...

por Adelvan

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