Curtiram muito porque foi um show muito bom, sem firulas nem
frescuras, com um ritmo perfeito, som no talo, excelentes composições novas seguidas
de verdadeiros clássicos praticamente emendadas uma à outra. Muito
provavelmente por respeito à banda que ainda iria se apresentar, num horário
pra lá de ingrato – consideração que alguns que tocaram antes não tiveram o bom
senso de demonstrar – Silvio falou pouco, o que, se por um lado privou a
garotada soteropolitana de alguns esclarecimentos sobre o que estava por trás
do rolo compressor que comprimia seus ouvidos, por outro deixou a apresentação
mais enxuta, o que, em se tratando de Hard Core, é perfeito. Curto e grosso,
pero sin perder La ternura jamás - o velho “sub” fez questão de agradecer,
enfaticamente, os que permaneceram até ali e iriam ficar até o final. Fecharam
a parte que lhes cabia com chave de ouro: “inanição”. Perfeito!
Praticamente ninguém sabia, e ele não disse nada, mas
passadas as 12 badaladas “notúrnicas”, como diria Bento Carneiro, o Vampiro
Brasileiro, Silvio Campos, para mim o eterno Sylvio “suburbano”, pioneiro do
rock independente subterrâneo nas terras do cacique Serigy, estava completando,
oficialmente, 49 aninhos de vida. Muito bem vividos. E comemorou da melhor
maneira possível: cometendo mais um show de Hard Core matador, do alto de sua
mais do que comprovada competência e entrega à frente de uma banda precisa e
devastadora, referencia do estilo no Brasil e, porque não dizer, no mundo! Eu também
não sabia. Chegando agora em casa, ao ser avisado pelo Facebook, o maior
dedo-duro da face da terra, espantei o cansaço da viagem e resolvi fazer hoje
mesmo este texto, para que o mesmo servisse como um pequeno porém sincero
presente de aniversário para este grande amigo, grande figura, grande ser
humano. Parabéns pra você, Silvio Campos. Muitas felicidades, muitos anos de
vida.
A primeira noite da edição de 2013 do Palco do Rock, que
acontece todo ano no Coqueiral de Piatã, na Orla de Salvador, em pleno Carnaval, se
encerrou com o thrash metal “modernoso” com forte presença feminina da banda
Autopse, de Maceió. Apesar da perceptível influencia do malfadado “nu metal”,
esta excrescência
estilística nascida no final da década de 1990, quando o rock dava seus últimos
suspiros de criatividade, eles têm algumas boas composições, e melhor: cantadas
em bom português. A vocalista, Daniela Serafim, tem um vocal gutural poderoso,
mas ainda parece um tanto quanto insegura quanto à sua posição de “Frontwoman”.
Já a banda é precisa e muito competente e tocou com os instrumentos bem
equalizados e com as guitarras no talo, como deve ser. Destaque para Janaína
Melo, a baterista, que teve direito, inclusive, a um pequeno solo – e arrasou!
Antes da Karne tocou a Estamos em Eso, punk rock/Hard Core da
Argentina. Bons riffs de guitarra. Boa presença de palco. Antes deles, a
Headhunter DC, certamente uma das melhores bandas de Death Metal do Brasil. Foi
o ponto alto da noite, um verdadeiro culto executado com impressionante competência
e profissionalismo pelo 4 cavaleiros do apocalipse comandados por um quinto
elemento materializado na figura magnética de Sergio Balloff. Na platéia, um
verdadeiro mar de “camisas pretas” saudando-os com os braços erguidos. Bonito.
Em ordem inversa, se apresentaram ainda o Desgraciado, de São
Paulo – Hard Core “grosso” exalando “atitude” e testosterona por todos os poros
– Irmão Carlos e o Catado, local – espécie de mangue beat do criolo doido cheio
de percussão, passos de dança robóticos desengonçados, músicas próprias sem
brilho e covers oportunistas – Blessed in fire, também local – Heavy metal “tradicional”,
daqueles bem gritados, solados e dedilhados – Pâncreas – uma espécie de Camisa
de Vênus do Século XXI. Desnecessário – e Cidadão Dissidente, de Feira de
Santana – que eu não vi.
Vale notar que o Palco do Rock aparentemente deixou de ser o
que eu chamava de “o maior festival de porralouquice da face da terra”. Isto
porque antes era, litralmente, uma loucura: por todos os lados gente fantasiada
de morte, de Eddie do Iron Maiden e todo tipo de bizarrice possível e imaginável.
Se a banda que estivesse no palco fosse punk, era obrigada a tocar um cover do
Nirvana. Se fosse mais puxada para o metal, tinha que tocar – adivinha! - Iron
Maiden. Se não tocasse, recebia uma chuva de areia e cascalho e tinha que,
frequentemente, interromper sua apresentação pelo palco ter sido invadido. Presenciei
isso uma vez com a Pólux, do Rio de Janeiro – antiga banda de Bianca Jordão, do
Leela: elas só conseguiram continuar sua apresentação depois de improvisar uma
versão tosca de alguma musica do Nirvana.
Agora, tirando uma ou outra máscara de gás aqui ou ali – que
eu imagino que tenha algum misterioso efeito decorativo, já que nunca ouvi
falar de nenhuma explosão de bombas de gás lacrimogênico em nenhuma das edições
do evento que justificassem tamanha precaução – estava tudo relativamente
normal, como já tinha sido na última vez em que compareci, em 2010, para ver o
Korzus.
Valeu a viagem. Foi uma boa noite de carnaval. E de quebra
conheci a mais nova obra faraônica do Governo de Sergipe, a Ponte Gilberto Amado,
que supostamente aumentará vertiginosamente o fluxo turístico no litoral do
estado ao diminuir em meros 30
km a distancia entre Salvador e Aracaju ...
por Adelvan
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