A tarde em que Mike Patton trocou figurinhas com Max Cavalera,
conheceu o rock brasileiro, escapou de dar entrevista – e se revelou um
cara absolutamente normal.
O quarto é uma puta zona: meias e moletons se espalham pelo chão, a
cama desarrumada está atulhada de discos e CDs, as paredes são cobertas
de dezenas de fotos e pôsteres de tudo que é banda de metal, de Black
Sabbath a – principalmente – Sepultura. Natural. O dono do quarto é Max Cavalera, cantor e guitarrista do
quarteto mineiro que inverteu a lógica paul-simoniana do mercado
fonográfico mundial ao exportar thrash metal para o primeiro mundo.
Há menos de uma semana em São Paulo, depois de uma vitoriosa turnê
europeia, Max tem hoje em seus bagunçados aposentos um convidado
especialíssimo: Mike Patton, do Faith No More. No dia do último show do FNM no Brasil, Mike passou a tarde no
quartel-general dos Cavalera, no bairro de Santa Cecília, ouvindo as
novidades que Max acabara de trazer de viagem (Pearl Jam, Primus etc.) e
descobrindo as maravilhas do passado punk paulistano. “This is cool”, diz Mike de uma antiguidade do Olho Seco. Max mostra a capa do LP Screw You, do DeFalla. Mike gargalha: “This is waaaay cool!”
E nós – nós sendo eu, Carlos Eduardo Miranda e o fotógrafo Rui Mendes
–, que catzo estamos fazendo em meio a este amigável encontro de titãs? Nada, porque já desisti de entrevistar Mike. Pô, é a última tarde
livre do cara no Brasil. A última coisa que ele quer é dar entrevista. E, pensando bem, não tenho muito o que perguntar, apesar de ter sido
um dos primeiros a encher a bola do Faith No More neste país. Afinal,
entre MTV, jornais e revistas, todo mundo já perguntou tudo para Patton. Se ele gosta da mulher brasileira, o que ele acha de macumba, da
Rosane Collor, seus filmes/grupos/tênis/políticos prediletos etc. etc.
Foi uma over total.
Melhor relaxar e entrar no clima carnaval da banda. O soundcheck até
que rendeu umas abobrinhas – já na viagem, no ônibus da banda, engatei
um papo com o Roddy sobre o Kraftwerk. Mostrei o Entrevistão de setembro
e tal. No Olympia, vi os caras escaparem das minas que cercavam a entrada;
almoçarem o rango da peãozada da MTV, que ia gravar o show (frango,
arroz, feijão, salada e Coca-Cola; Big Jim Martin arrotava sem parar); e
fazerem uma passagem de som bacaninha, com Zombie Eaters, We Care A Lot e uma música nova. Era um punk-progressivo (existe?) que eles tocaram nos shows e ainda
estavam meio que compondo (“e se a gente fizer um break aqui?” etc. Deu
pra sacar que o Roddy manda mais do que parece).
Num intervalo da passagem do som apareceu uma vozinha, sussurrando
“Varig flight 510 to São Paulo and Recife, now boarding... gate 8”. Opa, os caras samplearam um aeroporto? Não, Mike Patton é que é um imitador bom pra cacete. O cara é bem legal também. Molecão, boa praça, nem um pouco
impressionado com seu status sexual entre as ninfetinhas brazucas. Só
quer se divertir, só quer good clean fun.
E é porque o cara é legal que eu desisto definitivamente de tentar
estragar o último dia livre dele. Melhor deixar o papo rolar sem
gravadores nem blocos. Só peço duas coisas: que ele tire uma foto com o Max, e que diga como
está a produção do novo disco do FNM – provavelmente a única coisa que
ninguém perguntou ao vocalista. “Você sabe tanto quanto eu, cara. Já compusemos umas dez canções, e
cada uma aponta para um lado. O que vai entrar no disco não sei.”
Você disse numa entrevista para a Bizz que estava mais para Commodores que Black Sabbath.
“Gosto dos dois. Todo mundo na banda gosta de umas coisas meio
estranhas, a não ser o Jim Martin, que só ouve som pesado. Nas músicas
novas estamos radicalizando pelo dois lados: é ao mesmo tempo muito mais
trash e muito mais macio, easy listening, que The Real Thing. Mas ainda é cedo pra dizer que cara o álbum vai ter.” O disco já tem nome? “Ainda não.” Ontem, no soundcheck, vocês tocaram uma música nova. Tinha um riff,
metal bem tradicional e um tecladão meio Rush, sobre uma batida punk
forte. “É, ainda não tem nome nem letra, estou escrevendo ainda. Mas você
viu, não vamos mudar do dia para a noite, nem nada assim. É só o Faith
No More.”
E é mais que o suficiente. Libero o cara e vamos todos para a sala
fazer as fotos. O fotógrafo faz milagres com a pouca luz e tempo
disponíveis, e pronto. Segue-se uma discussão sobre as diferenças entre a
censura americana e a brasileira. Mike teorizou: “Aqui dão muita importância para o que se diz, por
isso é que censuram. Lá nos EUA ninguém encana com o que você fala,
porque sabem que não faz muita diferença”.
Eles, no caso, são aqueles de sempre – o governo, o sistema, quem
"manda no boteco". Eles, pô. “Mas na prática você tem de enfrentar a
censura comercial, lojas que não vendem o seu disco se não concordam com
o que você diz. E os meios de comunicação são muito bundões, qualquer grupinho pressiona e eles já cedem."
O resto é conversa mole. Max entra num papo com Miranda (produtor do Screw You
de que ele tanto gostou), ouve Titãs, Grito Suburbano, Ratos De Porão.
Vemos um vídeo do Ice-T que Max acaba de trazer de viagem. Discutimos onde comprar uma zarabatana no centro de São Paulo. Rola Mucky Pup na MTV, risadas, uma defesa do jornal paulistano Notícias Populares sobre o carioca O Povo e muito guaraná.
Garanto que misturar guaraná em pó com Coca-Cola é pega garantido. Mike, viciado em Coke, vibra com a ideia.
Já está chegando a hora de ir – a moçada BIZZ para casa, Max e Mike
vão comprar discos na Baratos Afins. Descemos o elevador, demos tchaus. Mike agradece por não termos forçado a barra e tentado fazer a entrevista. No problem. O prazer foi todo meu.
Na rua, é cinco e meia. Uma chuvinha fina e pentelha embaça o
trânsito. Vamos para um lado caçar um táxi, Max e Mike vão para o outro. Essa era a foto: Max Cavalera e Mike Patton no centro de São Paulo, encolhidos na chuva, a caminho do metrô.
Ambos estão subindo como ônibus espaciais na cena pop mundial mas
continuam despretensiosos, desencanados. Dois caras normais – aleluia.
por André Forastieri (para a revista Bizz, em algum momento do início dos anos 1990)
Fonte: O Blog dele
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The Beatles – Love me do
Led Zeppelin – In the light
L7 - Monster
Ministry - N.W.O.
Helmet - unsung
Sonic youth - Kool thing
Faith No More - just a man
Screaming lord sutch - scream and scream
Elvis Hitler - Cool Daddy in a cadillac
Astro Zombies - Desperado
Dmented are go - Call of the wired
Guana Batz - Seethrough
Devotos do ódio - Vida de ferreiro
Karne Krua - subversores da ordem
Mukeka di rato - new wave índio
Blind Pigs - Bread & Circus policy
Anões de jardim - The peas
Intense Manner of living - Barbarism behind the wall
Gang of four - It was never turn out too good
Harry - Morbid (nobody else´s lucid dream remix)
KMFDM - Urban Monkey warfare
nine inch nails - all the pigs, all lined up
Voi Vod - Batman
Metallica - Lover man
Scarlett Johansson - I don´t want to grow up
Patti Smith - Everybody wants to rule the world
Nouvelle Vague - Love will tear us apart
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