Minha amiga Catarina Cristo uma vez falou uma coisa que não
me saiu mais da mente: “o rock me emociona”. A mim também. O rock e, também, o
talento, essa coisa misteriosa que parece aflorar do nada em pessoas aparentemente
abençoadas pelos deuses desde o berço. Thomas
Edison dizia que talento é 1% inspiração e 99% transpiração. Entendo o que ele
quis dizer: que por trás de uma obra bem executada há sempre muito trabalho
acumulado. Mas que há quem parece ter nascido para ser Mozart e quem vai morrer
sendo Salieri, isto há! Como explicar Jimi Hendrix, por exemplo? Apenas como
fruto de treinamento exaustivo? Acho que não. Imagino quanto gente já praticou
o dobro que ele e não chegou a uma fração de sua genialidade ...
Sábado passado eu tive mais uma demonstração de talento
explícito, em estado bruto. Foi no bom (mais ou menos, né) e velho Capitão
Cook, encerrando a noite de lançamento do disco “Coração Metrônomo”, da
Renegades of punk. Para o azar dos incautos que foram embora mais cedo, três
guris (não sei qual a média de idade deles, mas não parece passar dos vinte e
poucos anos, senão menos) sacaram de seus instrumentos na, esta sim, boa e
velha formação básica do rock, um Power trio, e foi como se os espíritos de
Jack Bruce, baixista e vocalista do Cream, Tony Iommy e Bill Ward,
respectivamente guitarrista e baterista do Black Sabbath, baixassem misteriosamente
à nossa frente ...
Pedro Ivo, Thiago Alef e Lillian Lessa formam a
Necronomicon, banda alagoana de rock pesado com forte influência dos sons
emitidos nos anos 60 e 70 pelos nomes supra-citados, além de generosas pitadas
de rock progressivo e, nas letras, do que foi escrito pelo mestre do horror H.
P. Lovecraft. São, acima de tudo, muito talentosos, mas tem mais: são “do rock”,
como fica evidente na entrega com que executaram suas longas composições nos
cerca de 60 minutos de apresentação madrugada adentro - com direito, inclusive,
a um espetacular solo de bateria e a uma divertida intervenção de um figura magrinho
e perfomático que, pelo que entendi, é o “manager” deles. No “recheio”, um
excelente “set” composto apenas de músicas próprias, a maioria de seu segundo
disco, “The Queen of Death”, a ser lançado em breve em glorioso vinil.
A perfomance do trio foi tão perfeita que fica até difícil destacar algo. Pedro, que além de cantar e tocar baixo é uma espécie de líder informal do grupo, é acompanhado por Thiago, igualmente brilhante na tarefa de espancar sem dó nem piedade as peles da bateria, e por uma garotinha aparentemente tímida e introspectiva que se comunica basicamente através de riffs poderosos e soturnos. O nome dela é Lillian, mas resolvi rebatizá-la como Antonia – Antonia Iommy. Sensacional! Se já chegaram a este nível em inicio de carreira, é de se imaginar o que pode vir por aí, caso persistam e não se deixem abater pelo estruturalmente raquítico e desestimulante cenário independente brasileiro. Em todo o caso, posso afirmar sem medo que Alagoas já tem mais um nome com potencial para ser registrado na história das grandes bandas do rock nacional, ao lado do Mopho ...
A perfomance do trio foi tão perfeita que fica até difícil destacar algo. Pedro, que além de cantar e tocar baixo é uma espécie de líder informal do grupo, é acompanhado por Thiago, igualmente brilhante na tarefa de espancar sem dó nem piedade as peles da bateria, e por uma garotinha aparentemente tímida e introspectiva que se comunica basicamente através de riffs poderosos e soturnos. O nome dela é Lillian, mas resolvi rebatizá-la como Antonia – Antonia Iommy. Sensacional! Se já chegaram a este nível em inicio de carreira, é de se imaginar o que pode vir por aí, caso persistam e não se deixem abater pelo estruturalmente raquítico e desestimulante cenário independente brasileiro. Em todo o caso, posso afirmar sem medo que Alagoas já tem mais um nome com potencial para ser registrado na história das grandes bandas do rock nacional, ao lado do Mopho ...
Foi foda! Quem perdeu esta segunda oportunidade de vê-los (já haviam se apresentando por aqui no inicio do ano durante o carnaval,
no festival Grito rock) tem a obrigação, a partir do momento em que lê estas
mal traçadas linhas, de se arrepender amargamente. Corra atrás e ouça, mas saiba que ao vivo é ainda melhor - mesmo sem a presença dos teclados, que criam belissimos climas nas gravações de estúdio.
Antes, tivemos os anfitriões da Renegades executando seu
punk rock nervoso e energético sob o brilho de luzinhas de pisca-piscas
natalinos usados para decorar a bateria e os pedestais dos microfones – grande sacada.
Simples, bonito e eficiente. Como a banda em si, aliás. Também difícil destacar
algo, mas eu chamaria a atenção para a versão de “o inimigo”, das Marcenárias,
e para a tiara de oncinha e a glamourosa guitarra azul brilhante de Daniela,
que a toca com uma energia e desenvoltura desconcertantes. Excelente!
Abrindo a noite, Alunte. Banda nova, primeira apresentação. Precisam
amadurecer, claro, e isto só acontecerá com mais experiência de palco, mas mandaram
bem, com um som potente que remete ao grunge dos anos 90, tanto na forma quanto
na execução, desencanada e desleixada. Rock, enfim.
Fim.
A.
Curti a noite e a sua visão da noite - como sempre!
ResponderExcluirÉ Dani aqui!
ExcluirRapaz, bem que eu passei a noite de sábado com a sensação de que estava perdendo algo... Estou devida e amargamente arrependido.
ResponderExcluirTava lembrando dessa história hj, Adelvan. Ouvindo uma música que tinha me feito chorar em um show, pensei nas TROZENTAS vezes em que chorei em shows de rock e lembrei disso. Emociona mesmo :~
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