Uma amiga das antigas me convoca: “Vamo lá!” Me conta que
sua vida mudou quando assistiu no cinema The Song Remains the Same,
documentário com o Led Zeppelin ao vivo, Rio de Janeiro, fim dos 70. Descobriu
O ROCK, e Plant foi o primeiro homem de sua vida, o símbolo sexual que a
desvirginou. Era enchimento, provoco... mas, sim, Plant era um deus grego, ou
talvez ninfa celta pré-rafaelita, andrógino e muito macho, lindo e loiro e
sedutor e natural. Led Zeppelin era o bicho.
Em entrevista a Rodrigo Carneiro no Valor, Castor Daudt, do
DeFalla, explica muito bem: "Eles criaram os parâmetros para todas as
bandas de hard rock e heavy metal que se seguiram... Tinha o cantor sexy, o
guitarrista gênio descolado, o baixista nerd e o baterista alucinado".
Faltou dizer que tinha um gênio da composição no comando, Jimmy Page, o
guitarrista mais importante de sua geração, que inclui Clapton e Hendrix, pra
começar.
Eu não me apaixonei por Plant no cinema nem nunca. Só me
rendi ao Led Zeppelin muitos anos depois da banda acabar. Eles sempre estiveram
por ali, cercando, "o Led", falavam os cabeludos, mas era banda para
os irmãos mais velhos dos meus amigos, e, muchocho, som de bicho-grilo. A ficha
começou a cair junto com os preconceitos, lá por 1985. Em 1990, cometi meu
primeiro artigo sobre o Led Zeppelin para a Folha.
Chutava o pau, comparando a vitalidade e a riqueza criativa
da coleção Remasters com a bunda-molice, unha encravada do lamuriento rock
amoreco da crítica da época, Morrissey etc. Gigantes andavam sobre a Terra nos
70, eu dizia em 90. Hoje, parecem everests. O rock ficou pequeno.
Dispenso a orgia mitômana nos shows brasileiros de Plant.
Mas confesso uma certa tentação de ir a um cinema assistir Celebration. É o
filme do show que reuniu Plant, Page, John Paul Jones e o filho de John, Jason
Bonham, por uma única noite, em 2007. Hoje, é o lançamento mundial em DVD,
Blu-Ray, vinil e tal. Mas também será exibida em cinema, aqui no Brasil, dias
30 de outubro e 3 de novembro. Metal pesado no conforto de poltronas
reclináveis?
Pipoca e Led Zeppelin combinam? Talvez trufada? Talvez com a
amiga? A principal razão do Led Zeppelin ser esse mito intocável é Plant.
Sempre se negou a vender a lenda em troca de uns caraminguás. Resistiu valente
a se tornar cover de si mesmo. Tentações não faltaram, nem pressão de Jimmy
Page. Nunca topou ressuscitar a banda ou gravar novo material. Cedeu de leve e
raramente.
Vi a dupla reunida em São Paulo na turnê Unledded, 1996*,
reinventando o melhor do Led Zeppelin para outra Era, com forte acento étnico.
Belo show, sem fedor de defunto, contendo uma Kashmir mais épica que a
original, o que em princípio é impossível. As memórias vivem e me bastam. Led
Zeppelin, nunca verás nada igual. Plant, muito menos. Faz o que quer. Rasga
dinheiro. Escolheu o caminho onde ninguém vai. É louco, louco dos meus. Sabe o
segredo. He asks no quarter...
* NOTA DO EDITOR (ADELVAN): Também vi esse show e foi uma
experiencia transcedental! Lembro que estava sentado no piso do estádio
(Hollywood rock, pacaembu, são paulo), totalmente esgotado, mas ao ouvir os
primeiros acordes da guitarra de Jimmy Page - provavelmente o som de guitarra
mais cristalino que já penetrou meus tímpanos - esqueci completamente o cansaço
...
por André Forastieri
r7
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