quarta-feira, 10 de outubro de 2012

# 244 - 06/10/2012

As vendas do primeiro disco do Velvet Underground foram pífias, mas existe uma lenda segundo a qual quem o comprou montou uma banda após ouvi-lo. Com efeito, segue sendo uma das mais influentes formações da história do rock, com uma sonoridade que ainda hoje, 45 anos depois, soa moderna. Absolutamente essencial! Se você nunca ouviu, trate de ouvir. Agora! Tenho orgulho de ter tocado este disco no rádio, na íntegra (as músicas que não toquei neste bloco especial já haviam ido ao ar em edições passadas). /// Kraftwerk e Public Enemy estão entre os nomes dos indicados para o Rock And Roll Hall of Fame deste ano, portanto, nunca mais me perguntem porque eu toco Kraftwerk, já que o programa é de rock. Aliás, é outra banda incrivelmente influente – uma espécie de Velvet Underground da música eletrônica. Já o Public Enemy é a banda de rap com atitude mais “roqueira” que existe. /// Respondendo a mais uma onda de boatos sobre uma suposta volta dos Smiths, Morrissey mandou um recado por seu acessor de imprensa: “The Smiths nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, nunca vai voltar – para sempre”. /// Suede vai tocar pela primeira vez no Brasil, no Festival Planeta Terra. Confesso que não entendi porque não são eles os "headliners" ... /// Mais uma banda sergipana lançando disco (e não demo) este ano: Tchandala, com “Fear of time”, que havia sido precedido pelo ótimo single “one billion lights”. “Power metal” classudo e muito bem gravado, com refrões grudentos e guitarras absolutamente matadoras – aliás, as guitarras são o grande ponto forte do disco! Parabéns ao piloto das 6 cordas, Thamise Ducci. “Fear of Time” foi lançado no mercado brasileiro através da MS Metal Records no mês de setembro de 2012. O trabalho foi registrado no Elite Studio em Aracaju (Sergipe), contou com o trabalho do engenheiro de som André Franzon e sua mixagem e masterização foram conduzidas por Marcos Franco e Victor Mattos, no Revolusom Studios, em Salvador (Bahia). Para adquirir uma cópia, basta entrar em contato com o grupo através do e-mail dbenjamim@gmail.com. Em Aracaju o disco está à venda na Freedom, que fica na Rua Santa Luzia, 151, centro – próximo à Catedral Metropolitana. /// Abaixo, reproduzo 3 resenhas sensacionais publicadas originalmente no site WWW.rocksergipe.com. Assino embaixo de cada uma das palavras, usadas para descrever os discos da Mamutes, The Baggios e Plástico Lunar:  

ELETRORGASMO

A última vez que eu vi o Mamutes em ação foi no Rock Sertão de dois mil e dez. A princípio o impulso de afastar algumas teias de aranha dos meus bolsos, e rachar a gasolina com os comparsas, nasceu do tesão de ver a apresentação do Mopho, a única banda – excetuando os Smiths, claro – que já me fez chorar de emoção. É, mas a manada literalmente roubou aquela noite; inclusive colocando uma derradeira pá de cal na morna impressão que eu tive de um antigo cd demo deles. Senhora banda de palco. Durante o ataque sonoro dos caras eu devo ter destruído umas três guitarras imaginárias. E todas importadas! Caralho, dez reais de gasolina e três Telecaster imaginárias. Porém tudo vale a pena quando o assunto é dar uma bela enxaguada na alma... 

Quatro estações depois e eis que esse glorioso comboio de desajustados me aparece com uma granada de mão batizada com o estupendo título de “Eletrokarma”, desde já considerado como mais um capítulo vital na história da música feita em Sergipe. Capítulo escrito com sêmen, sangue e bílis, esfregados apropriadamente nas fuças desse moleque mimado que virou o tal rock nacional.

Isto não quer dizer que no stoned–rock matador que a banda nos presenteia em dez faixas rigorosamente brilhantes não haja espaço para filigranas de sofisticação, como a que encontramos na atmosfera soturna de “Os olhos da cobra”; ou na deliciosa levada disco retrô – com direito a sopros! – da espetacular “Tudo no seu tempo”. Ou mesmo em elementos pouco usuais para uma banda de hard–rock, como o uso de castanholas na emocionante “Noturna”. Casca–grossa pode até ser, baby, mas com estilo! E quando nos deparamos com a minha canção Mamutes preferida, “Te deixando meu bye bye”, não é de perguntar se não estamos frente a frente com a rock song do ano? Quanto às letras, o teor obsessivo de alguns temas faz com que exista um tom quase conceitual no disco. Constantemente os versos desfilam uma peculiar fauna de olhos que seduzem e/ou hostilizam; paraísos artificiais; a Noite, com o que há nela de alento e perigo; garotas que trazem o que há nelas de alento... e perigo. Tudo isso numa embalagem que, por si só, mereceria um texto a parte, pois a arte gráfica do banquete é coisa de gênio.

Nada disso faria muito sentido não fosse a coesão desconcertante dos músicos envolvidos, que vai desde o alcance interpretativo saborosamente canalha do vocalista Karl dy Leon, seguro tanto nos timbres mais rasgados quanto nas notas guturalizadas. Passando pelos riffs e solos econômicos do não menos inflamado guitarrista Rick Maia; pela condução superlativa das quatro cordas de Tiago Sandez, até chegarmos à já folclórica maestria do drummer–hero número um: mestre Odara – que chegou a concluir as gravações antes de, infelizmente, desfalcar a banda. 

E o que antes era “apenas” uma senhora banda de palco agora também celebra a honra de ser uma puta banda de estúdio. Se depender de registros como este “Eletrokarma”, não há era glacial que consiga extinguir esses mamutes... 

por Nathanael Zuckerman.

DANDO MUITO CERTO

Como os fãs do Coverama (acredite, eles existem) já devem estar cansados de NÃO saber, há um bom tempo o rock sergipano vem demonstrando, em seus variados estilos, uma gradativa e palpável consistência. Seria a chegada da tão sonhada Era de Ouro do rock local? Ignoro. Talvez seja muito cedo para este tipo de especulação. Além do mais, já foram vistos tantos náufragos nessa tormenta eterna... 

Bom, fato mesmo é que o termo “evolução” se encaixa com mais pertinência entre as viúvas de Charles Darwin e os jurados dos desfiles da Sapucaí. Mesmo assim não me abstenho de testemunhar que o hard-blues enfurecido desta dupla sancristovense atingiu em seu debut oficial níveis próximos aos de grande arte.

Como as linhas que seguem serão preenchidas com a mais mal dissimulada babação de ovo, nem vale a pena comentar a capa canhestra no melhor estilo samba do chá de cogumelo doido. Muito menos reparar nos caras vestidos para algum evento Cosplay, num modelito do tipo Luke Skywalker-fazendo-cara-de-paisagem-sob-o-sol-inclemente-de-Tatooine. Tolice. O que realmente interessa é que, sob uma cozinha extremamente sólida e fluente – cortesia do baterista Gabriel -, “The Baggios”, o disco, desfila aquela que é, provavelmente, a mais fodida coleção de riffs de guitarra em um mesmo trabalho desde o “Stop talking about music”, última (será?) obra-prima do imortal Thee Butchers’ Orchestra. Não bastasse este atordoante detalhe, temos um vocalista no auge de seu carisma interpretativo; mostrando um delicioso despojamento que não deve ser confundido com desleixo. Não se engane, por trás de uma voz aparentemente limitada, esconde-se um cantor incisivo e bastante peculiar. Coisa que não se encontra em qualquer esquina.
Espertos como só eles, a dupla cuidou pessoalmente da produção da obra com invulgar esmero (reparem, por exemplo, na beleza que ficou “Oh cigana”, minha faixa preferida), bem como recrutou um time de primeira para os afiados arranjos de sopro que iluminam algumas faixas; além de contar com as honrosas presenças do maior arroz-de-festa do rock sergipano, mr. Leo Airplane, em suas costumeiramente brilhantes intervenções de teclado – e uma mão na mixagem – e de Hélio Flanders, frontman da banda Vanguart, dividindo com Júlio os vocais na dylanesca “Morro da saudade”. O resultado de tudo isso é o que aconteceria se Robert Johnson sobrevivesse tempo suficiente para fazer uma Jam no também saudoso CBGB’s. Pensando bem, é mais que isto: é The Baggios tocando música The Baggios.

No mais, é curioso notar que Júlio abre este bálsamo sonoro cuspindo o seguinte verso: “As coisas não estão dando certo pra mim.” Parafraseando o nosso Dirty Harry tupiniquim, eu diria que o senhor é um fanfarrão, seu Júlio! Um fanfarrão!! Se as coisas não estão dando certo pra você, que desde já pode se ufanar de ter em seu currículo um clássico instantâneo como este, pra quem estará?!? 

por Carlos Lee Hooker.

COLEÇÃO DE VIAGENS ESPACIAIS

A viabilidade da boa música alternativa sempre encontrou árduos obstáculos. Principalmente em locais considerados "periféricos", como é o caso da terra do tal papagaio das asas douradas. Ainda mais agora que, não bastasse o obtuso comodismo do consumidor de rock, a própria maneira de se usufruir música passa por um momento muito complexo de transição.

Toco neste incômodo assunto porque, não obstante estas e outras não mencionadas pedras no caminho, é com a empolgação de um nerd virgem no meio de um baile funk que testemunho que a banda aracajuana Plástico Lunar continua se negando a fazer concessões e nos presenteia com o implacável "Coleção de viagens espaciais".

Para quem já tem lugar cativo no tapete mágico da Plástico desde os cds demo, sacou que neste aguardíssimo disco de estreia temos uma banda mais insana, chapada, brutal e, por que não dizer experimental - aliás, ponto positivo para o produtor, e também tecladista da banda, Leo Airplane, que conseguiu com muita maestria dar densidade e coesão à vasta gama de informações sonoras que o disco possui.

Desde a nova roupagem jazística para a espertíssima faixa de abertura "Moderna", até a colagem lisérgica, não creditada, que encerra o trabalho, ficamos convencidos de que estamos diante de uma perene obra-prima.

Mesmo consciente da tarefa ingrata que é apontar os destaques de toda grande obra, vale mencionar o baixo matador de mestre Bicho Grilo, e o puta vocal rasgado do drummer hero Odara no clássico instantâneo "O banquete dos Gafanhotos". Lamento apenas o projeto gráfico pouco inspirado, além da injustificável e criminosa ausência da minha Plástico song preferida: "Fungos" (levemente "citada" na já mencionada colagem que encerra o petardo...).

Mas nada disso ofusca a excelência musical desta que é, tranquilamente, uma das melhores bandas brasileiras em atividade. Aproveite um dos poucos motivos pra se orgulhar de ser sergipano, esqueça de apertar o cinto, e boa viagem...

por Carlos Lee Hooker

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Tchandala - Fear of time
Mamutes - A dama de branco
The Baggios - Candango´s Bar
Plástico Lunar - Tudo do seu jeito (versão demo)
Road to joy - Little old town
Nantes - Bem vinda chuva

Placebo - B3
Coheed And Cambria - The Afterman

Liverpool - Por favor, sucesso
Conjunto Melódico Norberto Baudalf - Stupid cupid
Os Brasas - Ao partir encontrei meu amor (versão dois)
Os Cleans - Estarei com você

Public Enemy (with Anthrax) - Bring tha noize
Kraftwerk - Computerwelt (edit)

The Smiths - Last Night I Dreamt that sombody loved me
Arctic Monkeys - She´s Thunderstorms
The Jesus & Mary Chain - You trip me up (acoustic)
Suede - Everything will flow

45 Anos de "The Velvet Underground & Nico":
# All tomorrow´s parties (single version)
# I´ll be your mirror (single version)
# There she goes again
# Run Run Run
# Venus in furs
# European son



 
 
 
 

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