O show que eles farão hoje, em Salvador, marca o bem-vindo fim de um período de incerteza, iniciado logo após a já tradicional participação da banda no Carnaval, quando o baixista CH Straatman anunciou que estava deixando seu posto.
Foi praticamente uma pá de cal na banda, que, meses antes, no fim de 2012, já havia perdido o guitarrista Morotó Slim, que também tinha saído naquela ocasião.
Sobraram o baterista-fundador Rex e o substituto de Morotó, o guitarrista Julio Moreno. Com outros problemas pessoais pesando sobre seus ombros, Rex preferiu, como ele mesmo diz, “ficar na minha”.
"Tô tocando até numa charanga, com outros dez músicos. Tem também um trabalho com Ronei Jorge e Edinho (Rosa, guitarrista dos Ladrões de Bicicleta). É um lance autoral deles, que esta bem adiantado, meses trabalhando. Mas os caras voltaram a tocar com os Ladrões de Bicicleta, então este trabalho está meio de stand by no momento", revela.
“Mas ficou essa expectativa de que eu pudesse esclarecer, já que eu fui o remanescente da formação original da banda que eu montei, conceituei e batizei quando nossa banda anterior, os Dead Billies, ainda existiam. Foi na viagem para o VMB 2001, em São Paulo. Chamei Morotó e falei tudo isso pra ele. Eu nem contava com o final dos Dead Billies, era para ser um projeto paralelo. Então, de certa forma, é uma coisa minha. Cabia a mim apagar a luz e fechar a porta – que era o que parecia estar acontecendo”, conta Rex.
"Mas a verdade é que o processo todo (das saídas de Morotó e CH) foi muito desgastante. Poderia ter sido menos, mas foi bem desgastante. Também passei por uma série de outros problemas pessoais nos últimos dois anos. Eu ainda não compreendi o processo, pois nada era muito claro. Eu não digeri tudo isso ainda", confessa.
"Ele ficou esse tempo todo tentando me convencer: 'vambora arrumar um baixista para botar na banda' e tal. Eu fui contra, apesar de vários terem se colocado a disposição. Eu tenho uma ideia de banda que são aquelas pessoas e aquela ideia. Eu ia me sentir muito sozinho, já que eu seria o que restou da ideia, da formação inicial. Acho que isso tiraria um pouco da essência do trabalho. Disse para Julio que preferiria montar outra banda com ele, com outro nome, a continuar com os Retros", acrescenta.
"Não era o caso de chamar qualquer um. Para mim não seria problema acabar. Tenho muito orgulho e apego às coisas que fiz. Os Dead Billies e os Retros são minha escola, onde eu aprendi a tocar e ser profissional. São as bandas que me levaram pelo Brasil todo. Mas quando o Billies acabaram eu pensei: 'Fudeu. Nunca mais vou ter outra igual'. E não tive mesmo, mas tive uma tão boa quanto, que foi até mais além do que os Billies foram. Teve um alcance maior, fizemos muito mais coisas", reflete Rex.
"Se tivesse que acabar, seria triste, mas para mim... Veja, hoje eu toco com 28 músicos diferentes em sete bandas diferentes. E na minha cabeça, seria muito fácil reunir músicos e montar um novo trabalho. Graças a Deus, eu sempre soube cultivar amizades com muita gente boa, e o que não me falta é amigo músico talentoso para continuar tocando a vida toda se eu quiser", percebe.
"Na minha cabeça, eu criei as condições para que acontecesse. Quando substituí Morotó, foi muito triste para mim, pois o cara é um irmão. E (a saída dele) foi algo inexplicável. Ele mesmo nunca conseguiu explicar. Aí veio Júlio, que é um cara maravilhoso, parceiro mesmo, superinteligente, fã do nosso trabalho. Trouxe uma alegria grande, mas senti que ele ficou muito frustrado quando CH saiu e todo um trabalho (o que seria o terceiro álbum dos Retrofoguetes) foi jogado fora", relata Rex.
Purgatório, retomada
Só que esses caras não são conhecidos como “Os Fabulosos Retrofoguetes” a toa. E eis que não apenas Morotó Slim retornou ao seu posto – ao lado do já efetivado Julio – como o baixista original Joe Tromondo (outro ex-Dead Billies) também fez o caminho de volta ao lar.
"Fiquei na fé de algum dia ter de volta a velha turma, entende? Para minha surpresa, pois não fiz nenhum movimento ou esforço para trazer esses caras de volta. Morotó simplesmente virou para mim e disse que se eu quisesse voltar com a banda 'eu topo'. 'Como assim, você pediu para sair', eu respondi. Depois disso, ficou claro para mim que, para bom entendedor, meia palavra basta", limita-se a explicar.
"É tudo muito sintomático, os fatos se explicam por si. Agora vamos tocar. É um recomeço, não podemos esperar que funcione hoje automaticamente, por que não tocamos juntos há mais de dez anos. É uma nova banda, já que estamos com Joe, que não toca conosco há dez anos. E com Júlio, que pela primeira vez está definitivamente integrado. Estamos quebrando a cabeça nos ensaios para soar tudo bem. O bom é que é de verdade, não é uma reuniaozinha para um show. É a continuidade de um trabalho", observa.
Banda reunida, anúncio feito, soltaram logo uma música nova: a polca Brezhnev pode ser ouvida e baixada neste link.
“Foi o tempo que eu precisava para botar a cabeça no lugar e entender o que aconteceu”, afirma Rex.
“Fora isso, eu acho que bandas são ideias. Ideias que não se acabam enquanto houver a possibilidade dos talentos envolvidos se unirem e para trabalhar e realizar essa ideia”, acredita.
“Olha aí: Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta voltaram, a Úteros em Fúria fez uma reunião super bonita outro dia. E o publico vibra, pois a essência da coisa continua ali”, continua.
“Isso pode acontecer um dia com os Dead Billies. Ou talvez nunca. O fato é que as pessoas continuam amigas e gostando de tocar juntas”, despista.
Amarradão, o baixista Joe diz que não vê a hora de voltar a subir no palco com seus velhos amigos.
“A gente estava se vendo muito ultimamente, e com aquela coisa toda da saída de Morotó e CH eu senti que Rex tinha ficado bem triste, naquela indecisão: não sei se volto, não sei se acabo... Parecia um purgatório”, conta.
“Aí eu disse ‘porra, se você quiser voltar com a banda, eu volto para tocar com vocês. E com Glauber (Dead Billies) também’. Mas essa é uma possibilidade mais distante. Aí ele: ‘então vamos voltar?’ Vamos. Simples assim”, relata Joe.
“O lance é que estou me divertindo demais nos ensaios e doido pra fazer mais músicas e cair na estrada”, resume.
Quanto aos planos futuros dos Retros, Rex conta o que vem (e o que não vem) aí: "Temos um álbum pré-produzido que vai ficar engavetado. Vamos pular esse e começar tudo de novo. Começamos a fazer músicas novas e acho que vamos lançar um EP temático antes do CD. Tudo ainda é muito novo e ainda não traçamos os planos, mas vamos sim, continuar e gravar o terceiro CD com andré t", revela.
"Carnaval? Retrofolia, com certeza! Julio já fazia parte há anos, e depois dese show já vamos começar pensar nisso. Ainda não sei se vai ter trio elétrico. Tivemos um convite de Jequié para levar o Retrofolia para lá. Estamos pensando em tudo isso, mas até sábado, estamos na função desse show. Ah! E deve ter o Natal dos Retrofoguetes também. Afinal, temos que manter nossas tradições. Mas é uma cosa de cada vez", conclui Rex.
Primeiro show de uma nova fase para uma das mais importantes bandas de rock da Bahia, a apresentação deste sábado promete ser histórica.
por Franchico
rock loco
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