Considerada um dos maiores
expoentes do post punk punk nacional da atualidade, a banda paulistana Segundo Inverno
vem frequentando todo o circuito de casas de shows em SP nos últimos
anos, sempre em excelentes apresentações, e também aumentando a frequência
de shows em outros estados, como Paraná e Brasília. Inclusive com
várias visitas ao renomado festival “Woodgothic” que acontece em Minas
Gerais.
Segundo Inveno é uma das atrações da edição de sábado, dia 30/11/2013, do programa de rock.
Abaixo, uma entrevista exclusiva para o site revoluta.
Poderiam começar fazendo um pequeno resumo da carreira do Segundo Inverno?
Segundo Inverno é uma banda de rock paulistana formada por André Januzzi
(bateria), Dennis Monteiro (voz/guitarra), Penna Lopes (baixo) e Renato
Andrade (voz/guitarra). O SI tem três EP’s, o primeiro, homônimo de
2009, o segundo “O homem dos olhos cinzas” de 2010 e o terceiro “Faça
Algo” de 2013 (os três podem ser encontrados para download na internet).
Nosso primeiro disco oficial foi lançado no fim de 2012 com o nome de
“As coisas que movem o mundo” em formato SMD. Também participamos de
algumas coletâneas que tiveram lançamentos físicos como a “De Profundis
III” e “50 tons de ódio”. Somos influenciados pela estética minimalista
da música post punk. Nós todos já passamos por outras bandas, como:
Persephone Eyes, Days are Nights, Broken Days e Indigesto.
Vocês estão lançando agora o primeiro disco. Falem um pouco a
respeito, desde as composições, tempo que levaram para gravar até o
lançamento oficial.
Começamos a gravar o nosso CD oficial no segundo semestre de 2010, só
conseguimos lançá-lo em 2012. O processo foi bem complicado, como
costuma ser para toda banda independente. Durante a gravação tivemos
duas mudanças na formação. Regravamos algumas vezes várias músicas até
chegarmos às versões definitivas que entraram no álbum. A ideia desse
disco era reunir nossas composições desde 2009 quando começamos,
mesclando com coisas mais recentes. O CD reúne músicas dos nossos dois
primeiros EP’s em novas gravações junto com composições criadas durante
2011 e 2012, basicamente “As coisas que movem o mundo” é um resumo dos
três primeiros anos da banda.
“As Coisas Que Movem o Mundo” – o título do CD – pode ter várias interpretações, sem dúvida. E no ponto de vista da Segundo Inverno, qual seria?
Acreditamos que a interpretação é individual, nossas músicas tem um
forte apelo existencial, nossas letras são quase sempre em primeira
pessoa, abordamos temas e experiências humanas, existe espaço também
para críticas sociais e o uso do sarcasmo e do cinismo. Foram dois anos e
meio de gravação e produção do disco, todas as nossas experiências
pessoais estão registradas lá, exatamente por existir esse apelo
introspectivo e pessoal nas nossas músicas seria impossível não imprimir
as coisas que acreditamos e que experimentamos no nosso álbum, mesmo
que de forma lírica ou subjetiva. Esperamos que cada pessoa que escutar o
CD possa se identificar com as coisas que movem seus mundos.
A arte da capa tem ligação com esse título de alguma forma?
Na verdade nos inspirou, mas a capa veio bem antes disso, entre 2008 e
2009 um amigo chamado Bruno Arena Inocêncio, que só conhecemos
virtualmente, permitiu que o Dennis usasse uma obra sua em uma de suas
bandas. Desde então Dennis guardou a carta na manga, até que em 2011
decidimos usar a imagem, mas nem tínhamos ideia do nome que daríamos pro
álbum. A ideia do nome veio em um ensaio quando nosso antigo baixista
Carlos Porto sugeriu “as coisas que movem o mundo” gostamos muito do
nome!
O disco foi lançado em parceria com diferentes selos e
apoios. Essa foi uma forma de viabilizar seu lançamento em tempos que o
CD já não vende mais como antes?
Na verdade nosso CD foi uma produção independente, não lançamos por
nenhum selo. Produzimos no formato SMD. Como sempre, estávamos num puta
aperto, precisávamos de grana para lançá-lo e buscamos apoios de algumas
pessoas envolvidas com o meio underground de São Paulo que já tínhamos
amizade como a “Loja Ferro Velho”, o “Projeto Via Underground” e o
“Projeto Nephilim”, esses nos ajudaram financeiramente com os custos do
CD, ainda tivemos um apoio das “Lojas Ferro Velho”, “Baratos e Afins” e
“Locomotiva Discos” que vendem nosso material em São Paulo.
E imagino que essa iniciativa é ótima para as pessoas no
final, já que ele chega num preço muito acessível (inclusive impresso na
capa).
O CD tem encarte 12 por 24 colorido, com todas as letras, apesar de
demorado foi como queríamos, apesar da burocracia de ser prensado na
Zona Franca de Manaus (risos). Lançamos no formato SMD e eles trabalham
com o preço sugerido de R$7 (sete reais) que realmente é um preço
acessível a todos, gostamos muito do resultado!
Parece que vocês tiveram problemas com um selo antes disso
tudo acontecer, e isso retardou em muito o lançamento do disco. Isso é
verdade?
Tivemos alguns problemas com pessoas que prometeram ajuda e no fim
atrasaram nosso CD, além de duas mudanças de formação, iríamos lançar
através de um selo mas a pessoa que representava o selo não cumpriu com
os prazos programados, foi um problema sério. Quando se faz música
própria é bem complicado encontrar apoio e ainda temos que passar por
situações como essas. Lançamos independentes mesmo e pretendemos
continuar assim, não queremos apresentar ao nosso público uma música que
foi gravada há um ano, queremos gravar e lançar! Não precisamos dessa
burocracia toda.
Voltando ao álbum: as composições são assinadas basicamente
pelo Dennis e Renato. Cada um chega com a ideia totalmente pronta ou o
restante da banda de alguma forma também participa?
Geralmente chegamos com uma letra pronta, no Segundo Inverno Renato e
Dennis escrevem as letras, cada um escreve aquilo que canta. Desde o
final de 2012, o André entrou na banda, ele também escreve e em breve
teremos musicas com letras dele, mas a parte de composição da música
geralmente acontece em conjunto, quase sempre elas partem de algum riff
de baixo ou de uma sequência básica de 4 acordes. Mas já escrevemos
coisas na hora do ensaio, não temos muita regra pra isso, o importante é
liberdade pra criar.
Também se nota a diferença e estilo de cada um na abordagem dos temas escritos, às vezes mais politizados ou introspectivos…
Sobre as letras o Renato escreve algo mais direto, utilizando jogo de
palavras, ele tocou em algumas bandas punks e gosta de escrever sobre
temas políticos e do dia a dia, misturando um pouco de ironia, afinal
tem tudo a ver com o punk, um estilo de vida que sempre será atual!
Apesar de algumas pessoas terem parado no tempo. Enquanto o Dennis
escreve de forma mais subjetiva e poética… Atualmente as nossas novas
composições tem ganhado um cunho social maior! Mas achamos isso muito
bom, ter diferentes compositores e diferentes formas de escrever, em uma
banda acreditamos ser uma vantagem! Um exemplo clássico no rock
nacional é o Titãs nos anos oitenta.
E a repercussão do disco? Como está sendo tanto pelo público quanto pela mídia especializada?
A repercussão tem sido bem tímida por enquanto, nossa maior forma de
divulgação até aqui foi quando estivemos no Festival Woodgothic, em São
Thomé das Letras (MG), no mês de Junho passado. Lá tivemos um contato
maior com o público de outras cidades e estados e fizemos uma boa
divulgação do nosso material. Alguns fanzines e mídias virtuais também
resenharam nosso CD, como o tradicional fanzine Rock do ABC.
Durante um tempo a banda foi um power-trio, com o uso
inclusive de bateria eletrônica. Quando sentiram a necessidade de um
baterista “real’’ na banda e o quanto isso influenciou/mudou o a
sonoridade da banda tanto em estúdio quanto ao vivo?
No começo achávamos ótimo que algumas pessoas reclamassem e não
entendessem a proposta da banda, principalmente alguns que estavam
acostumados à santa trindade do rock!!! (risos). Mas penso que a música
quando é feita com garra e honestidade não precisa de um padrão para ser
seguido. Continuamos usando a velha drum machine. Mas com o tempo
precisávamos de um pouco de liberdade para improvisar e o André Januzzi,
o novo baterista, também toca guitarra e canta. Ficou bem legal agora,
temos mais um vocalista e guitarrista também. Acho que sentimos a
necessidade de algo mais direto, mais rústico e orgânico em nossa
sonoridade. Pretendemos gravar coisas novas com elementos eletrônicos, o
importante é ter mais opções.
A banda é frequentemente rotulada de Post Punk. E escutando o
disco percebemos influências diversas, tanto de coisas brasileiras dos
anos ‘80 quanto de fora. Quais as inspirações musicais de vocês?
Nossas inspirações são principalmente o Post Punk francês, alemão e
inglês, o tradicional Punk Rock, a New Wave, No wave, Cold wave… esses
sons minimalistas dos 70 e 80, até mesmo muita coisa da música
eletrônica. O post punk que pode ter um monte de sonoridades diferentes,
não ficamos presos a um estilo. Então a ideia inicial é tocar uma
música meio cavernosa e depois uma música de poucos segundos. Ser
agressivo e calmo, este é o Segundo Inverno. Caras que ouvem o
“Rudimentary Peni”, “Crass”, “Inca Babies”, “Siekiera”, a boa e velha
New Wave, Rock nacional, etc.
A banda vem ganhando nome tocando em todo circuito da cidade
de São Paulo e também fora. Vocês notaram o crescimento do público,
pessoas estão seguindo vocês regularmente?
Acho que aos poucos muitas pessoas passam a conhecer o nome e ouvir
um pouco da nossa banda. Tem um pessoal que acompanha sim e isto é muito
bom! Seguimos divulgando o que é um “trabalho de formiga” dentro deste
universo com milhares de bandas. Tem muitos lugares que gostaríamos de
tocar e muitas publicações e pessoas que estamos tentando “apresentar” a
banda que agora em Junho fez 4 anos, e nesse tempo conseguimos tocar em
cidades como Curitiba, Brasília, São Thomé das Letras, e algumas
cidades do interior de São Paulo.
O Segundo Inverno é um dos destaques frequentes do importante
festival “Woodgothic” que acontece todo ano em Minas Gerais. Falem a
respeito pra quem ainda não conhece o evento:
O Festival acontece na cidade de São Thomé das Letras, hoje em dia de
forma bienal, esse ano foi nossa terceira apresentação nos quatro anos
de vida do festival. Apenas não tocamos na primeira edição, em 2008,
ainda não existíamos (risos). É um festival independente voltado às
diversas vertentes da música darkwave/postpunk e gótica no Brasil. Tocar
nesse festival é sempre muito gratificante para nós, podemos fazer
contato com pessoas e bandas que tocam pelo Brasil e exterior, pois todo
ano o festival leva alguma atração internacional para a cidade.
Quem anda fazendo um trabalho interessante, e que vocês curtem aqui no Brasil?
Para não fugirmos do tema, bandas que tocaram conosco nos últimos
anos no Woodgothic, como “Ecos d’alma”, “Poemas de Maio”, “Blue
Butterfly”, “Escarlatina Obsessiva”, “Plastique Noir”, “Downward Path”,
“Signo XIII”, “Drei Hexen”, “Bells of Soul”, “Glassbox”, não dá pra
lembrar de todos, mas são muitos que estão fazendo esse “corre” conosco.
Pensam em licenciar esse disco no exterior e quem sabe fazer shows lá fora um dia?
Quem sabe algum dia surja alguma proposta de algum selo lá fora, na
época que o Dennis tinha o selo nós tinhamos maiores contatos com o
pessoal que distribui som lá fora, hoje em dia temos bem menos contato,
mas nada impede que isso aconteça.
Nesse tempo de estrada, que pontos positivos e negativos destacariam na cena independente nacional?
Pontos negativos eu acredito que todas as bandas já passaram ou ainda
vão passar. Do underground ao mainstream. Tivemos de improvisar com o
Dennis tocando baixo quando fomos para Curitiba, pois o nosso antigo
baixista abandonou o barco um dia antes! (risos). Já ligamos todos os
instrumentos em uma única saída de som para que pudéssemos tocar em uma
gig no interior. Entre outras roubadas que só a vida de um músico
underground pode proporcionar.
E os planos do Segundo Inverno para o futuro?
Estamos divulgando o nosso novo EP “Faça Algo” e também o nosso
álbum, estamos envolvidos na produção de dois novos vídeos para o
segundo semestre deste ano.
Algo mais que gostariam de acrescentar?
Primeiramente queremos agradecer o espaço e gostaríamos de deixar
nossos contatos que são a forma direta de interagir conosco e é sempre
nesses “canais” que estaremos divulgando nosso trabalho, são eles:
www.youtube.com/segundoinverno
www.facebook.com/segundoinverno
www.soundcloud.com/segundo-inverno
www.segundoinverno.blogspot.com
E-mail: segundoinverno@gmail.com
por Márcio Carlos
revoluta
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