Tenho aqui ao meu lado um disquinho charmoso, com uma capa
primorosa muito bem impressa num papel de boa qualidade. Não é vinil, o que
seria o ideal, mas o desenho parece ter sido feito para o formato CD, pois está
perfeitamente encaixado nas proporções reduzidas do digipack que embala a
bolachinha. Abrindo-o, temos uma bela foto da banda de um lado e todas as
informações técnicas – que tanto fazem falta nos downloads da internet – do outro.
Atrás, o nome das músicas, grafados em letras estilosas que reproduzem a linguagem
visual das ruas, e as marcas do coletivo de selos responsável pelo lançamento.
Ao meter a mão dentro do pacote, no lado esquerdo,
encontraremos um belo encarte desdobrável que ostenta, de um lado, um lindo
pôster da banda, e do outro as letras. Porque você não vai, a princípio,
colocar o disco para tocar enquanto faz milhares de outras coisas. Pelo menos
uma vez, ou duas, ou três, ou sabe-se lá quantas, você vai pegar o encarte e
acompanhar as letras junto com as músicas. Experimente, é uma experiência
reveladora.
Parece papo de “tiozão” saudosista. Não descarto a
possibilidade de que seja. Concordo que o que importa, no final das contas, é a
musica, muito mais do que a plataforma na qual ela é acondicionada. Mas acho
também que você deveria, pelo menos uma vez, sentar-se confortavelmente em
frente a um aparelho de som decente e apreciar este disquinho com calma, sem
pressa. Não precisa pular as faixas, elas são curtinhas! E não demora – 21 minutos
depois de apertar o play você estará livre para voltar ao computador e conferir
as atualizações dos amigos no facebook. Sem problema, acontece comigo também.
Adoro facebook.
Então supomos que você tem um aparelho de som decente
e não ouve musica apenas nas diminutas caixinhas acústicas do seu computador. Você
será pego de surpresa por um esporro matador já na faixa de abertura, a que dá
título ao disco. Nervosa, urgente, como o punk rock deve ser – esqueci de
dizer, é um disco de punk rock. A segunda vem colada à primeira, sem
intervalos, e é igualmente nervosa e urgente (todas são), mas já um pouco mais
trabalhada. E assim elas vão se sucedendo, sem pausa para respirar, num misto
de simplicidade e intensidade, com letras confessionais - escritas em português,
inglês e francês - que discorrem sobre o dia-a-dia de pessoas batalhadoras. Tudo
emoldurado em arranjos criativos executados com precisão por uma banda afiada e,
acima de tudo, empolgada.
A mixagem é “na cara”, com os vocais ligeiramente “soterrados”
pela massaroca sonora. Mas ouvem-se perfeitamente todos os instrumentos,
inclusive o contrabaixo, este eterno injustiçado. E todos estão em pé de
igualdade no que se refere à habilidade dos músicos – nenhum deles é virtuoso,
mas são extremamente competentes no que se propõem a fazer. O disco desce
redondo da primeira à ultima faixa, e acaba de forma diametralmente oposta ao início,
aos poucos, como se eles não quisessem nos deixar, ir embora. Hora de apertar
de novo o play e começar tudo de novo. A internet pode esperar.
Esta experiência é ainda mais intensa porque se trata, no
meu caso, de uma banda próxima, de amigos. Pessoas que eu conheço de perto e
cujo trabalho já admiro há bastante tempo. Vou aos shows que eles produzem,
almoço no restaurante que eles administram. Converso com eles sempre que posso
e é sempre um papo muito agradável e cheio de conteúdo. O que mais me deixa
feliz, no entanto, é que o disco está sendo muito bem recebido, com resenhas
sempre favoráveis. Freqüentou boa parte das listas de melhores do ano em que
foi lançado e foi recomendado publicamente por alguns ícones do punk rock e do Hard
Core nacional. Se você ainda não o conhece, corra atrás. Vale muito a pena.
È o “Coração metrônomo” da Renegades of punk.
Ouça AQUI.
a.
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