O julgamento das três integrantes da banda punk Pussy Riot, que chamaram a atenção do mundo por terem protestado contra o presidente russo no altar da maior igreja do país, teve início nesta segunda-feira (30/07) e se estenderá até o dia 15 de agosto. Sob a acusação de vandalismo e ódio religioso, Maria Alyokhina, Nadezhda Tolokonnikova e Yekaterina Samutsevich podem ser condenadas a até sete anos de prisão pela canção “Virgem Maria, expulse Putin”.
Apesar de o tribunal em Moscou estar de olho no trio de rock, organizações e ativistas de direitos humanos de todo o mundo estão prestando atenção nas atitudes do sistema judicial russo, acusado internacionalmente por não tolerar críticas ou dissidências do governo de Vladimir Putin.
As artistas foram presas em fevereiro deste ano após apresentaram sua canção na Catedral de Cristo Salvador em Moscou. A música, que imita a melodia de canções religiosas e utiliza palavrões para criticar o governo russo bem como a suposta corrupção dentro da igreja ortodoxa, provocou a ira de diversos representantes de ambas as instituições.
O líder dos cristãos ortodoxos na Rússia, o Patriarca Kirill que está envolvido em diversos escândalos de corrupção, condenou a apresentação da banda e disse que sua atitude foi uma “blasfêmia”. A Promotoria do Estado russo também insistiu que a Pussy Riots “pode ter causado um dano considerável aos valores sagrados cristãos” além de terem realizado “uma agressão às fundações seculares da Igreja Ortodoxa russa”.
Apesar de pedirem desculpas aos cristãos que se sentiram ofendidos com a performance, as acusadas se recusaram a admitir sua culpa por considerarem que o protesto não configura um crime segundo as leis da Rússia. As artistas mantiveram sua posição mesmo com a possibilidade de firmar uma negociação com o promotor e diminuir sua pena. “Nós nos recusamos a assumir culpa”, disse Nadezhda.
“O tema principal da nossa apresentação não é a Igreja Ortodoxa, mas sim a ilegitimidade das eleições”, afirmou Yekaterina segundo o diário britânico The Daily Mail. "As chamadas (pelo Patriarca) para votar em Putin e para não ir aos comícios de protesto são claras violações dos princípios de um estado laico”, continuou ela. Os advogados de defesa das Pussy Riots impetraram pedido no tribunal desta segunda-feira (30/07) para chamar o representante da instituição religiosa a testemunhar no processo, informou a rede Interfax. “Venho solicitar a convocação do Patriarca Kirill como líder da Catedral de Cristo Salvador e da Igreja Ortodoxa Russa, que pode responder à perguntas em nome de todos os crentes ortodoxos e explicar os fundamentos canônicos do cristianismo ortodoxo", disse Volkova Violetta, advogada de defesa.
A justiça russa já recusou diversos pedidos judiciais da defesa, incluindo uma apelação para enviar o processo de volta ao Escritório da Promotoria já que não existem provas suficientes. Segundo os relatos divulgados no Twitter simultâneos ao julgamento, o tribunal de Moscou continua a boicotar os advogados da banda que antes mesmo da sessão, chegaram a acusar o judiciário de parcialidade. “Estou considerando isso como o início de uma campanha autoritária e repressiva do governo que procura dificultar a atividade política e criar um sentimento de medo entre os ativistas políticos”, acrescentou Yekaterina.
Figuras importantes da arte na Rússia protestaram a favor das acusadas e pediram ao governo para soltá-las. Na semana passada, Petr Pavlesnky (foto acima) chamou a atenção da mídia internacional quando costurou sua boca em solidariedade à banda punk que ganhou, até mesmo, um site “Freepussyriot.org”.
A luta das artistas atravessou os oceanos e mobilizou diversos famosos, como Sting, Faith No More e Red Hot Chili Peppers, que pediram por sua liberdade durante show em São Petesburgo. Iiro Rantala, um proeminente músico finlandês de jazz, cancelou sua apresentação na capital russa em protesto à prisão das mulheres assim como o artista plástico britânico, Stuart Semple, decidiu não disponibilizar suas obras para o Festival de Artes de Moscou.
“Nós estamos pedindo às autoridades russas para tirar suas queixas de vandalismo e soltar imediatamente Maria, Ekaterina e Nadezhda”, disse Kate Allen, o diretor da Amnestia Internacional do Reino Unido. “A Amnestia continuará em sua campanha pela sua libertação durante o tempo que for necessário”, acrescentou ele que lembrou ao governo russo que mais de 12 mil pessoas já assinaram petição em favor das Pussy Riots.
por Marina Mattar
Opera Mundi
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