Não deixa de ser curioso que num festival com nada menos que 15 bandas tocando sem parar em uma única tarde/noite, o melhor show tenha sido realizado justamente pela formação mais enxuta. Pois foi o que aconteceu nesta sexta, na abertura do Goiânia Noise Festival com o The Baggios. E quem diz é o público que se acotovelou para vê-los, de longe o maior de toda a sexta, à exceção do show do Exploited (veja como foi), única atração internacional desta 19ª edição do festival. O grupo, na verdade um trio à Experience, de Jimi Hendrix, incompleto, sem baixista, é de Aracaju e se vale da perícia técnica do guitarrista Júlio Andrade e do feeling que ele tem ao tocar o instrumento.
Mas nem parece. O guitarrista sobe no palco com um típico figurino de passista de escola de samba do carnaval dos anos 20, com chapéu e tudo, e entrega muito mais do que promete. É o show de lançamento do álbum “Sina”, e em “Sem Condição” ele despeja um riff pesado e colante que arrebata o público. Há efeitos nos vocais que funde a massa sonora com a guitarra como se fosse uma coisa só, mas que falta faz um baixista! Em “Pegando Uma Punga”, um dedal faz o efeito slide guitar cuja introdução lembra as paragens de um Lynyrd Skynyrd – interiorano como o Baggios - em começo de carreira. Uma pena o tempo curto – só o headliner tem mais de meia hora para tocar – no qual só cabem oito músicas.
O que falta o Baggios – uma banda – sobra ao Diablo Motor. O quarteto é do Recife e faz um rockão dos bons, com referências ao stoner rock, só que com músicas mais curtas e certeiras, cheias de refrães colantes. Caso de “Não Quero te Entender”, que abre o show em grande estilo. Mas o que o Baggios tem de sobra, falta ao Diablo: público. E justamente em Goiânia, sede da Monstro Discos, que lança o álbum da banda, e onde esse tipo de som é tido como trilha sonora oficial. É uma pena que poucas pessoas tenham visto o grupo tocar porradas como “Sem Moderação” e “Cafa Song”, essa dedicada aos cafajestes, num dos melhores shows do Noise desse ano.
Mas poucas bandas têm o domínio de palco e do público como o Delinquentes, que vem para mostrar que o Pará não vive só de guitarrada e de música de gosto duvidoso e visual borrado. O grupo, veterano, tem um entrosamento espantoso sobre o palco, o que resulta seguramente no melhor show entre as bandas de hardcore, punk e adjacências que tocaram antes do Exploited. O perturbado vocalista Jayme Katarro tem o público na mão e comanda a maior roda de pogo do festival. O som da banda há tempos deixou de ser o hardcore de raiz e hoje emana um peso extraordinário, incluindo referências ao metal contemporâneo: uma massa sonora que garante pogo, bateção de cabeça e tudo que não pode faltar num show der rock pesado de verdade.
Outros veteranos que fizeram bonito, mais cedo, foram o Sangue Seco e o Ressonância Mórfica. O primeiro, com um punk rock oitentista dos bons, com várias referências ao Cólera e ao Inocentes, muito embora tenham incluído o hino “Grandola Vila Morena”, consagrado pelo 365, no repertório. Vale o final com a genial “Eu Quero Que Você Morra”, cantada a plenos pulmões pela plateia. Já no Ressonância, o que conta é o extremo, o grind, o crust, o esporro, a porrada na cara. Não por acaso o grupo gravou uma faixa para o tributo de bandas brasileiras ao Napalm Death e tocou no show, mesmo que não desse para identificar qual música foi a escolhida. Mas e daí? O que importa é que o Mal esteve presente durante todo o show, um dos mais sombrios de toda a noite, que terminou com o público “cantando” em cima do palco.
Quem poderia estar num patamar diferente é o Zefirina Bomba, cuja proposta de tocar hardcore com um violão todo detonado e transformado numa poderosa arma acaba caindo no lugar comum por conta de um repertório um pouco repetitivo. Ao menos se consideramos o show desta sexta; vamos renovar, rapaziada. Num espécie de bloco “classic rock” em plena noite punk/hardcore, caiu muito mal a escalação do Soothing, sobretudo por tocar próximo das atrações principais da noite. Isso porque embora o grupo tenha músicos experientes, a formação ainda é insipiente e não sabe para onde ir, apostando em rock progressivo/fusion com dois vocalistas que não valem por um; vamos ensaiar e tocar mais, pessoal.
Melhor para o Galo Power, que, ao iniciar o show antes que o do Soothing acabasse, roubou-lhe o público. O grupo, este sim bem ensaiado, só tem evoluído, fazendo versões casa vez mais trabalhadas e ao mesmo tempo com improvisações das músicas. A grooveada “Big Momma” e a enguitarrada embalagem dada à boa “Tales Of Life”, no encerramento que o digam. Mais cedo, o Bad Matters se arriscou fazendo o rock parecido com o do Diablo Motor, mas ficou devendo mais músicas boas, e menos decalcadas do Queens Of The Stone Age. Já o Evening não consegue esconder as raízes noventistas que incluem o grunge de Mudhoney e o nu-metal esporrento do Korn em início de carreira. E o trio ainda vem para o festival da importância do GNF com um guitarrista tapa buraco. Aí, não.
Quem abriu os trabalhos foi o Expressão Urbana, com um punk rock anos 80 ainda bem ingênuo. A formação com duas guitarras não se explica, mas como vocalista solo, um dos guitarristas fica meio perdido. Já o Shotgun Wives é um equívoco já na paisagem do palco. Cinco sextos da banda usam óculos de aro gigante e os instrumentos – escaleta, banjo - ligam a turba ao famigerado indie de quermesse que não faz o menor sentido. Assim como não se faz necessário o outro extremo: uma banda feminina – caso das Radioativas - que vai fundo em clichês do rock que bandas como o Velhas Virgens fazem com muito mais vigor. Ou, ainda o remi-remi hip hop do Calango Nego, cujo show até agora não deve ter começado. Saiam dessa pessoal.
por Marcos Bragatto
rock em geral
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por Marcos Bragatto
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