Junto com seu estimado colega e irmão, Iggor, fez algum do mais bestial e inovador thrash no meio dos anos 80 e 90, no altamente influente bastião do Metal, o SEPULTURA. Infelizmente, diferenças pessoais em 1996 o afastaram da banda. Ao transferir-se pros EUA, ele concentrou seus talentos em um novo projeto, o ainda vigente SOULFLY.
Por anos Max trabalhou incansavelmente com o grupo, lançando sete discos de estúdio e gradualmente construindo um séquito de adoradores no processo. Agora com uma nova banda e seu irmão de volta a seu lado, o mundo está finalmente começando a notar.
Eu recentemente tive a oportunidade de falar com o barbado de vozeirão para dissecar o novo disco e ver o que ele acha de seu recente sucesso.
Traduzido por Nacho Belgrande
Foto de Dirk Behlau
Onde você está agora?
Hoje estamos em Pittsburgh.
E como tem sido a turnê até agora?
A turnê tem ido muito bem, cara. Tem havido muitos grandes shows e muitas pessoas espremidas nos lugares e todo mundo está curtindo o lance novo. Estamos nos divertindo muito, e escolhemos o Lazarus A.D. como abertura – eles são uma banda de thrash muito boa. Os fãs estão pirando. Temos mosh pits enormes toda noite. Não poderia ser melhor, cara. Tá sendo fabuloso.
Ótimo. Então o novo disco do Cavalera Conspiracy é bem pesado, cara. Definitivamente nada parecido com aquele disco pop, Inflikted.
Sim, nós queríamos que Blunt Force Trauma fosse um disco mais pesado, mais brutal. Nós olhamos pra Inflikted como um primeiro disco muito bom, mas precisávamos entrar no peso e criar algo mais pesado. Decidimos fazer Blunt Force Trauma desse jeito. Eu realmente queria um toque de thrash nele. Algumas das faixas têm uma levada muito thrash metal, e algumas delas são mais hardcore, com Roger [Miret] do Agnostic Front cantando em “Lynch Mob” e fazendo um cover de “Six Pack” do Black Flag. Tem essa vibe meio hardcore no disco, mas é essencialmente um disco de metal. Eu estou realmente orgulhoso dele. Eu acho que é um ótimo disco pra se tocar ao vivo.
Eu ia falar dessa influência hardcore. “Torture”, eu devo dizer, é uma de minhas faixas favoritas.
“Torture” é muito legal, cara. É a segunda música da noite, e mantém a platéia acesa com uma baita roda de pogo. É muito boa. É muito a foder. É uma canção rápida. É pra ser uma música thrash. Só tem um minute e cinquenta segundos – menos de dois minutos. Não tem enrolação e é bem na sua cara. Um negócio meio direto. Eu estou muito animado com o disco.
Você e Iggor meio que compuseram essas músicas à distância, e deram o toque final nelas ou finalizaram muitas das faixas no estúdio. Isso meio que se tornou, para muitas bandas, uma coisa menos costumeira hoje em dia. Existe mais pressão ou raiva no estúdio quando você está montando tudo naquele momento?
A pressão em nós era para que fizéssemos um disco melhor que o primeiro. Inflikted foi muito bem recebido e recebeu grandes resenhas ao redor do mundo todo, e foi muito bem recebido pelos fãs. Havia um pouco de pressão para fazer um segundo disco melhor. Nós nos sentimos muito confiantes ao entrarmos no estúdio. Nós sabíamos que o material era bom. Eu tinha escrito muitas canções em minhas folgas. Eu escrevi “Warlord”, “Torture”, “Gengis Khan”, “Burn Waco”… e me sentia muito bem com elas. Elas eram canções muito boas, e eu estava confiante de que seria um disco mais pesado. Nós fomos com a idéia de fazer um disco mais pesado, então todo mundo se sentia muito confiante e excitado por fazer um disco mais pesado do que o outro. Eu queria mais brutalidade por parte da banda – guitarras muito pesadas, um som muito cru pro disco, e o produtor Logan Mader nos deu isso. Eu acho que o disco tem um som muito bom e cru. Ele soa mais pesado do que Inflikted. Eu estou feliz com isso.
Você se deu conta que eu não estava falando sério ao chamar Inflikted de disco pop, certo? Eu não esperava nada com AutoTune.
Eu acho que ambos são discos fortes. As pessoas acham que as canções em Inflikted são ótimas, como “Sanctuary” e a faixa título e “Doom of All Fires” e “Black Ark”, na qual temos Richie Cavalera do Incite cantando conosco toda noite. É ótimo. Nos dois primeiros shows eu tive a banda do meu filho, a Mold Breaker, abrindo o show na Califórnia, e eles se saíram muito bem. Estamos muito animados em tê-los conosco. É muito legal que a família esteja toda envolvida.
Uma coisa que me desperta curiosidade é que você manteve o Soufly na ativa ao longo de todo esse processo. Como você mantém projetos múltiplos com um monte de fatores em comum, como Marc Rizzo, soando distintos um do outro?
Eu amo o Soulfly. O Soulfly me deu muita integridade. Se não fosse pelo Soulfly, eu não estaria aqui agora. Eu amo muito meu trabalho com o Soulfly. Eu amo todos os discos. Eles todos têm um significado muito especial para mim, desde o primeiro. Eles são todos discos fabulosos para se fazer parte. Eu amo tocar com Iggor, também. Quando eu tive a chance de fazer o Cavalera Conspiracy, foi um momento do caralho. Eu tinha a chance de voltar a tocar com meu irmão com quem eu cresci tocando música. Essas são duas coisas musicais muito importantes que eu tenho na minha frente e que eu levo muito a sério. Eu amo a ambos e eu quero continuar fazendo as duas coisas. Elas não entram em conflito com minha programação. Eu tenho tempo pra ambas.
Nesse momento o Soulfly está de folga. Eu estou com o Cavalera Conspiracy e então eu vou me rejuntar ao Soulfly e lançar outro disco e sair em turnê. Vamos continuar fazendo isso desse jeito. Eu acho que é a melhor maneira. São excelentes válvulas de escape para mim e minha raiva, a agressividade sai diferentemente em ambas as bandas. O Cavalera Conspiracy é mais direto e mais metal. Eu fico sendo mais o Max dos anos 80 – o Max do Thrash Metal que as pessoas viram nos anos 80 e 90. Eu faço isso mais no Cavalera Conspiracy. E no Soulfly, eu sou mais o Max revolucionário com idéias diferentes e planejando guerras com música e gravando em lugares diferentes e indo a países diferentes. Eu amo isso com o Soulfly também aquele aspecto do Soulfly que viaja para luares diferentes. Eu curto as duas coisas. Elas são diferentes, mas eu curto fazer as duas.
Falando no Iggor, como é que ele se mantém ocupado entre suas pausas?
Ele passa muito tempo no computador dele. Ele fala com a esposa dele no Brasil, ele fala com os filhos dele e mantém contato com a família, e ele passa um tempo conosco. Ele sai com os membros da banda no ônibus. Ele troca idéia comigo e me mostra muita música nova que ele está ouvindo. A gente fica no fundo do ônibus. É uma relação ótima. Temos respeito um pelo outro. Amamos dividir o palco. A melhor parte do dia é quando estamos no palco fazendo o show e fazendo o que viemos aqui pra fazer. Ele bota pra fuder toda noite com sua bateria. Eu amo isso. Eu amo ouvir a força da bateria – ouví-la por detrás de mim quando estou no palco. Eu quero ser brutalizado pela bateria de Iggor toda noite. É ótimo.
Continuando com os membros da banda, seu ‘novo’ baixista Johny Chow não é de fato novo à banda, mas é o primeiro lançamento oficial com ele de membro permanente. Como ele entrou na banda?
Achamos Johny Chow através de um amigo. Vimos a foto dele e amamos. Ele tinha essa barba e parecia com um arroz doce. [risos] Ele parecia incrível. Eu pensei, “esse cara parece louco. Temos que tocar com esse cara!” – só de olhar pra foto. Então encontramos com ele, e ele foi muito legal. Começamos a tocar com ele, e ele se saiu muito bem. Ele é um baixista incrível. Ele se tornou uma grande parte da banda.
O primeiro disco que gravamos foi com Joe Duplantier do Gojira, guitarrista, mas que tocou baixo pra gente. Logo depois que o primeiro disco saiu, Johny Chow entrou no lance. Fico feliz que ele o tenha feito. Porque o Cavalera Conspiracy precisava de uma formação estável, e Johny é esse cara estável que nós precisávamos na banda. Agora está completa. Sou eu, Marc, Iggor e Johny, que é a formação ideal pra banda. Vamos crescer com essa formação e vamos fazer muitos discos com ela. Vai ter muito Metal saindo de dentro de nós nos próximos anos.
Eu acho que isso torna bem claro de onde a inspiração para a faixa “Rasputin” vem.
Ah sim. Exatamente. Vem diretamente de Johny Chow.
Muito engraçado. Você falou de trazer o Roger do Agnostic Front como convidado no disco. A meu ver, uma grande parte do som Max Cavalera vem do uso de músicos convidados e vocalistas convidados. Você meio que vê isso rolando tanto no Soulfly como no Cavalera Conspiracy. Você consegue pensar em algum músico no momento com os quais você ainda não trabalhou e que ficaria feliz por colaborar no futuro?
Ah sim, há muitas pessoas com as quais eu gostaria de fazer algo. Há gente como Lars Ulrich, James Hetfield, Lemmy do Motorhead…. da cena hardcore eu adoraria fazer algo com Joseph McGowan do Cromags…da cena punk tem Henry Rollins que era do Black Flag, eu amos os vocais dele. Tem muita gente que eu acho que possa fazer algo. Tenho orgulho de todas as colaborações que eu fiz até agora. Estou muito feliz por ter trabalhado com todas as pessoas incríveis desde Tom Araya até David Effelson passando pelo Morbid Angel até Greg Puciato do Dillinger Escape Plan, Tommy Victor do Prong e Chino Moreno do Deftones, Sean Lennon… é o meu lance favorito de estar no ramo da música, eu gravo com muitos de meus heróis e ídolos, como quando eu fiz “Terrorist” com Tom Araya Eu estava tão animado, porque o Slayer era uma puta duma banda pra mim. Eu cresci ouvindo o Slayer, e estar no estúdio com Tom foi ótimo. Foi realmente maravilhoso e eu me senti como um garotinho. Foi a realização de um sonho. Essa parte da música é muito boa. Eu amo essas jam sessions e gravar com pessoas diferentes. Eu acho que é algo que sempre vai ser parte de minha carreira.
Na mesma linha de raciocínio, você consegue pensar em alguma banda jovem e na ascendente nesse momento que você tenha se interessado ou que venha a ter respeitado ao longo dos anos?
Sim, tem muitas bandas que eu ouço que eu realmente curto. Eu curto Converge. Eu curto Trap Them. Eu curto Whitechapel, The Chariot, Black Death, Municipal Waste, Toxic Holocaust e algumas daquelas bandas thrash que estão revivendo o thrash metal. Eu gosto do Warbringer. Eu curto todas essas bandas. Tem muita música boa por aí. É bom saber que estão mantendo metal vivo e que as novas gerações estão abraçando. Eles sabem de onde veio tudo e estão dando continuidade. Eu ainda amo os clássicos como Megadeth, Slayer, e todas aquelas bandas que ainda estão tocando coisas a fuder depois de vinte ou trinta anos. É incrível que essas bandas ainda estejam tocando. Me deixa muito orgulhoso e me faz querer continuar tocando porque é uma inspiração que aquelas bandas ainda estejam nessa. Mesmo coisas como Ozzy e o Motörhead porque eles são mais velhos e você olha pra eles e pensa, “se eles podem fazer isso, eu posso fazer isso por muito tempo”. Então eu olho pra isso desse modo. É uma inspiração pra que eu faça música por muito tempo.
Ótimo. Então quais são seus planos pro future. Eu sei que você mencionou parar um pouco depois da turnê para tocar de novo com o Soulfly, mas o que você se vê fazendo depois desse giro de turnê?
Essa turnê vai até o fim do ano. Vamos pra Europa e daí voltamos pros EUA e faremos outra grande turnê pelos EUA e isso vai até Outubro ou Novembro. Depois, eu vou voltar pro Soulfly e compor o disco novo que vai sair em algum momento do ano que vem. Vai ser um grande disco de estúdio, o que é ótimo. Estou muito animado. Nem consigo acreditar que já são oito discos. Espanta-me que haja tantos assim. Vou tentar fazer um disco bom, forte e diferente, um disco vibrante. Eu tenho que ver quem vai tocar nele e tentar fazer algo assassino. Ano que vem eu volto com o Soulfly. Esse ano eu decidi fazer meu trabalho com o Cavalera Conspiracy e no ano que vem, é o Soulfly. Vamos voltar á estrada com o Soulfly ano que vem.
Beleza… então eu não tenho certeza que essa seja uma pergunta estranha. Eu não vou lhe perguntar sobre uma reunião do Sepultura. Eu sei que isso ta batido demais. Eles seguiram ao longo dos anos e Iggor continuou a tocar com eles por um tempo. Você escutou alguma coisa que eles lançaram recentemente?
Não, não tenho interesse e eu realmente não me importo com o que eles estejam fazendo. A banda não me preocupa. O Sepultura foi uma grande parte da minha vida quando eu estava com eles. Quando eu me separei deles em 1996 depois de Roots, foi a última vez que ouvi algo deles. Não me preocupa mais. Está bem por dizer morto pra mim.
Eu fiz um pouco de pesquisa. O Iggor, se não me engano, tem um projeto meio eletrônico no momento, certo?
Sim, no Brasil.
E como é? Vocês falam disso?
É algo que ele faz nas folgas dele. É realmente diferente das coisas que ele faz no Cavalera Conspiracy. No Cavalera Conspiracy, ele é um baterista de Metal tocando Metal e brutalizando a bateria toda noite. Não tenho certeza do que ele faz exatamente. Eu nunca o vi tocar ao vivo com o projeto dele, que se chama Mix Hell. Eu acho que ele algumas vezes traz a bateria pra tocar o lance eletrônico, o que é uma idéia boa. Eu nunca os assisti, então não tenho certeza do que eles fazem. Quando ele está com o Cavalera Conspiracy, ele fica ocupado com a banda. Ele faz tudo que pode com o Cavalera Conspiracy – passagem de som, autografar merchandise pra turnê nova, arrumando coisas pra fazer toda noite, novas canções pra tocar e trabalhar em coisas novas e pior aí vai. Ele se mantém ocupado com o Cavalera Conspiracy, o que é legal e tudo mais. É assim que tem que ser.
Exato. No momento você vive nos EUA, certo? Enquanto o Iggor mora no Brasil?
Qual é o principal meio de comunicação de vocês, especialmente entre um disco e outro? Há muito envio de riffs e coisas pra lá e pra cá como anexos de email?
Sim, mandamos coisas pra lá e pra cá. Com a internet, é realmente fácil mandar coisas. Enviamos arquivos um para o outro. Eu escrevo um monte de riffs e os envio pra ele, e ele os recebe no mesmo instante, o que é realmente ótimo. Conversamos pelo telefone e mantemos contato enquanto ele está no Brasil. Quando nos reunimos, fazemos discos. Daí saímos em turnê. É uma relação muito legal. Não nos vemos o tempo todo, mas quando o fazemos, é especial. Sair em turnê com Iggor é realmente divertido para mim e passar um tempo com ele e conversar e tocar e assistir a filmes com ele, ficar no fundo do ônibus falando de nossas vidas. É muito legal, Quando tudo acaba, a gente volta pra nossas próprias vidas – voltar ao Soulfly, e ele volta pro Brasil pro projeto dele. Nos veremos de novo em alguns meses e começaremos tudo de novo. É ótimo. É assim que tem que ser. Está funcionando desse jeito. É uma relação legal de se ter porque você nunca cansa um do outro. Quando nos vemos, é sempre de bom humor e prontos pra fazer algo. Estamos sempre prontos pra sair em turnê. Algumas bandas saem em turnê e odeiam estar ali, isso não acontece conosco. Amamos sair em turnê. Amamos tocar toda noite, e eu amo ver os fãs toda noite e tocar o inferno com eles. Essa é minha parte favorita do dia inteiro. Eu fico aguardando pelo show. O dia passa bem devagar e daí o show chega. É minha parte predileta do dia – estar ao vivo no palco tocando em frente dos fãs. É o que eu mais curto fazer.
Fonte: lokaos.net
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