Spielberg e Moll voltaram a se associar no ano 2000, reunindo um grupo de cineastas para fazer filmes sobre o Holocausto em cinco países. O projeto reuniu Andrzej Wajda, Luis Puenzo (de A História Oficial), Vojtech Jasny, Pavel Chukhraj (de O Ladrão) e Janos Szasz.
Com esse currículo, dificilmente alguém conseguiria adivinhar qual foi o passo seguinte de James Moll. Durante quatro meses, o documentarista seguiu o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Dave Grohl, que integrou a mais importante banda de rock dos anos 90, o trio Nirvana.
Em 1995, um ano após o suicídio do parceiro Kurt Cobain, Dave Grohl chacoalhou a poeira e recomeçou tudo com uma banda que logo se tornaria uma das maiores da América, o Foo Fighters – hoje integrada pelo baixista Nate Mendel, os guitarristas Pat Smear e Chris Shiflett e o baterista Taylor Hawkins. Back and Forth, o documentário, estreia sexta-feira no Brasil, acompanhado da exibição em 3D do novo show da banda, inédito no País.
Em geral, as bandas fazem filmes sobre a carreira para registrar seu legado, realçar sua importância histórica. Não é o caso do Foo Fighters, que está no auge. Então, por que fazer um documentário sobre a banda?
Você deve perguntar isso ao Dave (Grohl, líder do grupo). Da minha perspectiva, o que posso dizer é que me parece legal ver uma banda no auge de sua popularidade. É melhor do que uma banda à beira da aposentadoria. Para mim, trata-se de contar uma história narrada pelos seus protagonistas, essa foi minha preocupação central. Dave fala de maneira confortável sobre seu passado no Nirvana, assim como seus colegas das ex-bandas que integraram. E também ouvi ex-integrantes. É uma distinção importante: não é um filme sobre rumores, mas sobre o que se passou segundo as palavras de quem viveu aquilo.
Filmes sobre rock sempre trazem coisas picantes, sexo em limusines, quartos de hotel estourados. Seu filme não tem esse ritmo, examina a rotina, o dia a dia, com paciência…
Essas coisas de filmes de rock são quase uma fórmula, não? Eu foquei nos personagens. Da primeira vez que os encontrei, gostei deles e de sua banda. Durou três horas nosso primeiro encontro. E quis conhecê-los de verdade. Queria mostrar os integrantes da banda não como rock stars, mas como pessoas. Há uma diferença. A coisa do rock star é um tipo de fantasia, uma ilusão. Claro que comparece, mas eu não queria isso, queria ver o que havia por trás.
Muitos filmes sobre rock foram feitos por cineastas consagrados, como Martin Scorsese, que dirigiu documentário sobre os Rolling Stones. Você viu esses filmes antes de começar o seu trabalho?
Vi alguns, incidentalmente. Não tenho ídolos entre esses cineastas. Intencionalmente, eu me mantive afastado disso quando pensei em começar a filmar a história do Foo Fighters. Teve até um momento em que Taylor (Hawkins) me perguntou quais desses filmes eu tinha visto e eu não conseguia responder. Não me lembrava de nenhum. Até considerei assisti-los, mas decidi não ver. Pensei: vou deixar o material que tenho em mãos me dizer qual é o caminho que o filme vai seguir.
Você é pianista. Ainda toca piano?
Sim, toco de vez em quando. Estudei música clássica, minha mãe era cantora, aposentou-se há algum tempo. Também toquei música contemporânea. Mas Foo Fighters eu só acompanhei como fã, nunca teria a manha de tocar as músicas deles. Sempre gostei do que fazem. Um dia, fui chamado a conversar com Nigel Sinclair (produtor), e ficamos um tempão falando de amenidades. Ele me perguntou qual era meu sonho, o que eu queria fazer em meu próximo projeto. “Eu sempre sonhei em fazer um filme sobre rock”, eu disse. E ele: “Bom, então o que você acha do Foo Fighters?” Eles já estavam com o projeto. Eu achei o máximo, topei imediatamente. Poucos dias depois eu já estava reunido com a banda.
Você sabe, o Foo Fighters vem depois de um grupo lendário, o Nirvana. É como uma sombra que paira sobre um grupo, como o Joy Division sobre o New Order. Como você lidou com isso?
Não vi essa sombra… Depois de 16 anos excursionando, acho que eles não têm mais esse peso. Dave trata com grande naturalidade, é parte da história dele e ele não nega. No início, ele conta que queria muito separar o que era hoje do que tinha sido, mas depois viu que era uma bobagem. Sei que o Nirvana foi um grupo sem paralelos, mas eu apreciei a música dos dois grupos separadamente. E o grupo falou disso sem problemas. Há alguma reticência somente em abordar o assunto Courtney Love, porque eles enfrentaram algumas disputas. Ainda assim, eles falam sobre ela. Não explorei muito isso, porque meu objeto não era o Nirvana, se entrasse nessa área acabaria ficando mais um filme sobre o Nirvana e não havia necessidade disso.
Bom, você registrou quase integralmente os ensaios e a gravação do mais recente álbum dos Foo Fighters, Wasting Light. Tem gente dizendo que é o melhor da carreira deles, e que o Foo Fighters não tem tradição de fazer bons discos, mas sim shows memoráveis. O que você acha disso?
Quando comecei a fazer o filme, nunca tinha ido a um show deles. A primeira vez que estive lá, senti a energia. Pensei: cara, isso aqui soa bom demais, porque eles têm de ensaiar? Há uma espontaneidade, uma característica única desses caras tocando juntos. Mas acompanhei também o trabalho de pesquisa, em estúdio, que é um processo mais longo e, obviamente, sem paralelo de comparação. Também é uma atividade incrivelmente criativa. Houve momentos, dentro da garagem de Dave Grohl, que tive de operar câmeras por controle remoto do lado de fora, porque era tão apertado que não dava para entrar.
E o disco novo, o que acha dele?
Acompanhei todo o processo e ainda ouço o disco em casa. É um grande trabalho, e eu diria, sem medo de errar, que é um dos melhores da carreira deles. Quando acompanhei aquilo sendo gravado – é tudo fragmentado –, não dava para saber qual seria o resultado final. É uma experiência fascinante. Quando vi tudo junto, fiquei ainda mais vidrado.
pOR Jotabê Medeiros
Fonte: estadão
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