Cláudio César Dias Baptista (também conhecido pela abreviatura CCDB, São
Paulo, 6 de maio de 1945) é escritor, produtor de equipamentos de som e
músico brasileiro. Foi um dos fundadores do grupo musical "The
Thunders" (depois rebatizado "Os Seis") que viria a se tornar mais tarde
Os Mutantes. Depois da entrada de Rita Lee, que com Arnaldo Baptista e
Sérgio Dias (irmãos de Cláudio) integravam a formação considerada
clássica da banda, CCDB atuava nos bastidores como "o quarto mutante"
(chamado por alguns "O Primeiro Mutante", "The First Mutante", "O Quarto
Integrante da Banda" ou ainda "O Mutante Oculto", uma referência a seu
estudo místico), fazendo as vezes de técnico de som e construtor de todo
o equipamento dos Mutantes, como a Guitarra de Ouro, as mesas de som e
os equipamentos CCDB. Cláudio começou a mostrar seus dotes ainda
criança, construindo telescópios. Em 1963 fabricou suas primeiras
guitarras. Uma delas, a partir de um violino.
A pedido de um
amigo, empenhou-se em fazer “a melhor guitarra do mundo”, com peças
banhadas a ouro. Ao cabo de oito meses, entregou a encomenda. Na parte
de trás, a inscrição de uma “maldição”: se alguém roubasse a guitarra,
espíritos perseguiriam o gatuno para sempre.
Em 1964, os irmãos
Arnaldo Baptista e Cláudio César Dias Baptista, juntamente com Raphael
Vilardi e Roberto Loyola, fundaram o grupo The Wooden Faces. Um ano
depois, conheceram e convidaram Rita Lee - então no Teenage Singers - a
integrar a banda. Ainda entraria no grupo Sérgio, o caçula na família
Baptista. A nova banda passou a se chamar Six Sided Rockers, depois O
Conjunto e O´Seis.
Em 1966, eles gravaram compacto simples pela
Continental com as composições "Suicida" (de Raphael e Roberto) e
"Apocalipse" (de Raphael e Rita), que vendeu menos de duzentas cópias.
Ainda naquele ano, Cláudio César, Raphael e Roberto deixariam o grupo.
Com o aparecimento dos Mutantes em 1966, Cláudio fica responsável pela
construção dos instrumentos: guitarras, baixos e amplificadores. Seus
inventos proporcionam possibilidades ímpares de sonoridade, marca
registrada da banda. Arnaldo, Rita e Sérgio mantiveram o grupo, que foi
rebatizado com o nome definitivo de Os Mutantes - por sugestão de Ronnie
Von, que, naquela ocasião, lia O Império dos Mutantes, ficção
científica de Stefan Wul. Von, uma das estrelas da Jovem Guarda,
comandava então o programa dominical O Pequeno Mundo de Ronnie Von,
transmitido pela TV Record, e não havia gostado do nome anterior. Em 15
de outubro de 1966, Os Mutantes estrearam no programa. Impressionaram
tanto que o grupo foi convidado a fazer parte do elenco fixo do
programa. Eles também participaram das gravações do LP Ronnie Von - nº 3
Fonte: http://www.contrabaixobr.com/t17260-luthier-historia-claudio-cesar-dias-baptista-ccdb
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Ardo é um músico inquieto e inventivo. É o motor criativo de Os
Atlantes, banda que ele integra ao lado do irmão, Sérias, e da mulher,
Ree. Apreciado por sua originalidade, o conjunto acabou precocemente
depois que os músicos começaram a tomar uma droga lisérgica chamada KSE.
Após a dissolução do grupo e um salto suicida no vazio, Ardo acabou
internado numa clínica psiquiátrica, por “abuso na ingestão de
alucinógenos e conflito afetivo irresoluto”.
A semelhança com a trajetória de Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita
Lee, que formaram Os Mutantes nos anos 60 e 70, não é fortuita. Os
Atlantes são um grupo fictício criado por Cláudio César Dias Baptista,
irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio e cofundador do grupo que deu
origem aos Mutantes. Luthier autodidata, construiu vários instrumentos
usados pela banda e foi em parte o responsável pela sonoridade única de
faixas como
.
, que o público desconhece.
é
uma obra de números superlativos: são 1 267 personagens apresentados em
3 712 páginas. O autor gosta de chamar a atenção para sua diversidade
lexical: ele estima ter usado 30 mil palavras diferentes (“Mais do que
em
”). Muitas são neologismos e termos de idiomas
extraterrestres – por isso o autor fez também o Livro Treze, um
glossário mais extenso que os outros doze volumes juntos.
e alter egodo autor, como o nome sugere. Na galáxia ficcional criada
por ele, não são poucos os personagens, lugares e situações que têm
paralelo com os da Terra. Nem poderia ser diferente: “Existe, sim, uma
ligação com a minha vida, porque
contém uma mensagem e ela só pode ser passada a partir do que aprendi nesta existência”, disse Baptista.
se deslocam em 78 tipos diferentes de
naves. A obra apresenta ainda uma profusão de engenhocas imaginadas pelo
autor, como o psicoaudiossintetizador alfa, instrumento musical operado
pela mente, e o ionomag, sistema propulsor de naves “que poderá quiçá
funcionar, se testado em laboratório e com o devido investimento de
capital”. Apesar desses elementos, o autor fica pouco à vontade ao ver
sua obra rotulada. “Meus livros são bem mais que ficção científica”,
afirmou. “
fisionomia
de Cláudio César Dias Baptista lembra a de seus irmãos maisconhecidos.
Mas ele se indispõe com a forma como a semelhança costuma ser apontada.
Sendo o primogênito, raciocina, seria mais adequado dizer que Arnaldo e
Sérgio é que se parecem com ele. Baptista gosta de se identificar com as iniciais CCDB, que ele registrou
como marca. Mora com a mulher e o filho num sobrado branco de dois
andares nos arredores de Rio das Ostras, no litoral norte-fluminense.
Mudou-se para lá no fim dos anos 90 e ali concluiu a redação de
. Leva uma vida austera, rodeado de poucos livros, filmes em DVD e VHS e aparelhos de som.
O luthier não produz mais instrumentos musicais e equipamentos de áudio.
Dedica-se hoje ao trabalho virtualmente sem fim de revisão de sua obra e
atualização da versão online do Livro Treze, que lançou no fim de 2011 e
já está na sexta revisão. Passa boa parte do tempo em seu Q.G., no 2º
andar da casa, um espaço amplo que lhe serve de quarto e ambiente de
trabalho, sem paredes internas para delimitar os ambientes.
CCDB tem sua obra no mais alto juízo. “É um trabalho perene e um passo
brilhante para a literatura do Brasil, para o nosso povo e para o nosso
idioma”, afirmou. “O tempo dirá se exagero.” Não obstante, ele ainda não
conseguiu convencer nenhuma editora a publicá-lo. De acordo com suas
contas, já sondou cerca de “600 editoras brasileiras e 400 portuguesas”,
conforme disse numa entrevista apiauíem sua casa, numa tarde de março.
Ele não abre mão de publicar a obra na íntegra, com os doze volumes e o
glossário, se possível com as capas e ilustrações também feitas por ele.
As tentativas fracassadas não chegam a ser motivo de frustração.
“Escritores como Cervantes e Monteiro Lobato tiveram dificuldades
imensas para ser publicados”, disse CCDB. “Minhas dificuldades são
mínimas.”
segue disponível apenas
numa plataforma de leitura desenvolvida pelo próprio CCDB em seu site.
Os interessados não podem ter uma cópia impressa ou eletrônica dos
livros: é possível apenas comprar tempo de acesso às obras. Por 15
reais, ganha-se o direito a trinta dias de acesso ao ambiente de
leitura, que oferece também outros livros escritos por Baptista,
inclusive os doze volumes de
, aventura para o público infantil ambientada no universo ficcional.
na íntegra. Baptista sabe
quantos são, mas prefere não revelar (o número “mal dá para manter o
site no ar”). Como os livros só estão disponíveis no site, as
estatísticas de acesso permitem ao autor monitorar o andamento da
leitura dos usuários – eventualmente, ele manda e-mails para comentar a
fruição de seus escritos.
A plataforma fechada é sintomática do verdadeiro pavor que CCDB tem da
perspectiva de ter seus livros e inventos pirateados. Ele nem cogita
disponibilizar sua obra na internet para que alcance um público maior e,
quem sabe, acabe convencendo algum editor a publicá-la em papel. “O
fato de ser lançada de graça significaria que não tem valor”, avaliou.
“Seria um desdouro para a obra. Prefiro esperar mais.”
Os usuários dispostos a enfrentar os doze volumes têm ainda um obstáculo
adicional: a organização do site é anárquica – um emaranhado de páginas
de navegação confusa, desprovido de ordem aparente. CCDB vê isso como
uma barreira iniciática para selecionar seus leitores. “O caos força a
pessoa desinteressada a fugir do site.”
por Bernardo Esteves
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Primeiro Mutante, Cláudio César Dias Baptista trabalha duro como escritor e luta para ver seus livros publicados
Célebre pela fabricação de
instrumentos, irmão mais velho de Sérgio e Arnaldo passou por
experiência mística que o levou a escrever compulsivamente. Íntegra da
entrevista feita para a matéria publicada no site da Revista Bizz em
agosto de 2007.
por Marcos Bragatto
Quem se aproxima do palco durante um show d’Os Mutantes pode ver
de perto Sérgio Dias tocando uma guitarra aparentemente anacrônica, com
botões grandes, corpo pesado e acabamento, digamos, retrô. Trata-se de
uma das três guitarras de ouro fabricadas pelo irmão de Sérgio, Cláudio,
nos tempos em que o Mutantes não passava de uma aventura. Cláudio César
Dias Baptista é o irmão mais velho e fundador do grupo que se
converteria no Mutantes, o The Thunders. Não a toa é conhecido
mundialmente como “the first Mutante”.
CCDB, como assina suas criações, deixou de lado a fabricação de
instrumentos e equipamentos eletrônicos há dez anos, mas por uma boa
causa. Por conta de uma experiência mística, na qual diz ter encontrado
Deus, partiu para escrever compulsivamente numa casa feita por ele e
pela família no interior da pacata cidade litorânea de Rio das Ostras,
no norte fluminense. Lá, concluiu sua principal obra, “Géa”, com 12
volumes mais um dicionário explicativo, e “Geínha”, obra
infanto-juvenil; refez com o filho o “CCDB Gravação Profissional”,
publicação com tudo que se pode pensar sobre gravações; e finaliza agora
o “livro chamado que”, ou “) que (“, assim mesmo, com os parênteses
invertidos.
Numa atmosfera em que o branco predomina, desde as roupas até a
mobília da casa, CCDB trabalha incansavelmente o dia todo, todos os
dias, e luta para que suas obras, “para o bem do Brasil”, como costuma
dizer, sejam enfim publicadas. Cláudio recebeu a equipe da Editora Abril
com uma doçura que manteve durante toda a entrevista e sessão de fotos.
Contou toda a experiência mística pela qual passou, citou trechos de
seus livros, e ainda deu uns pitacos na volta do Mutantes, ou “pseudo
Mutantes”, como prefere chamar o novo grupo que hoje conta apenas com
Sérgio Dias da formação clássica. Veja como foi a conversa:
Rock em Geral: Como você decidiu morar aqui?
Cláudio César Dias Baptista: Eu morava em
Laranjeiras, onde eu, minha mulher e alguns familiares dela
trabalhávamos construindo amplificadores, mesas de som e equipamento de
áudio. Nós ocupávamos cinco quitinetes do tamanho de 3 x 6 (metros), até
1997, quando nos mudamos pra cá. Eu tinha escrito os meus arquivos para
a revista Nova Eletrônica, quase 700 páginas. Eram artigos de áudio,
mas eu coloquei personagens que depois se transformaram nos personagens
da minha obra principal, chamada “Géa”. Eu tinha idéia de escrever um
livro desde aquele tempo, prolongando a estréia desses personagens, mas
não estava decidido a escrever. Nesse tempo todo trabalhando eu vinha
fazendo umas práticas místicas, exercícios de busca daquilo que eu já
tinha encontrado de certa forma numa vigem que eu fiz com LSD, que era a
vivência emocional daquilo que eu havia descoberto com o meu
raciocínio, mas não tinha ainda toda essa experiência do caminhar até
esse ponto. Essa coisa que eu obtive na viagem lisérgica foi encontrar
Deus. No sentido figurado eu poderia dizer que vi Deus, mas quando eu
estava trabalhando numa dessas quitinetes, em Laranjeiras, fazendo uma
experiência mística, eu encontrei, apareceu-me um ser incorpóreo, de uma
maneira inesperada. Normalmente quem pratica misticismo procura
alcançar o cósmico por meio de práticas que se repetem e se repetem, na
dificuldade em conseguir. No entanto dessa vez foi como se eu estivesse
num carro de uma montanha russa que despencasse e me levasse e me
segurasse para não cair.
REG: Você planejou uma experiência desse tipo?
CCDB: Não, eu fazia experiências constantes, e
dentro de certas normas, pra poder palmilhar aquele caminho ou subir
aquela montanha a qual o LSD tinha me levado. Ele me levou ao topo, sem
que eu percorresse o caminho intermediário. Eu não tive essas
experiências que místicos orientais costumam ter, em qualquer lugar, e
percorrendo toda o caminho até chegar e alcançar aquela luz máxima que
eu consegui na experiência lisérgica. Eu tinha chegado a essa luz pela
filosofia, por pensar muito a minha vida toda, mesmo naquele tempo da
juventude, que foi quando eu tomei ácido. Mas o ácido fez com que se
concretizasse a experiência mística em si, que não é apenas de razão, de
filosofia, ela transcende isso.
REG: E você quis fazer sem usar ácido dessa vez…
CCDB: Eu quis fazer sem usar ácido e consegui, não
dessa vez, outras vezes eu consegui essa experiência. Mas a experiência
de encontro com Deus é indizível, eu posso contar muitas e muitas vezes,
em “Géa” tá contado como se fosse uma das minhas personagens, mas é
indizível, ela não basta, por incrível que pareça. Ela é tão óbvia… É
como se você ou qualquer pessoa me olhasse e conseguisse sentir que a
existência de qualquer coisa é o maior milagre que pode existir. Muito
mais fácil seria que nada existisse. Então é mais uma intensa emoção, de
intensa vivência, que o palmilhar de uma trilha numa montanha, uma
experiência que pode ser descrita como foi essa que eu tive no tal carro
de montanha russa, que não foi bem um carro, mas a sensação de estar
nesse carro.
REG: Mas como é que você viveu essa experiência?
CCDB: Eu estava sentado diante do meu Sanctum, que é
o lugar sagrado, na frente de um espelho, com velas acesas, praticando
todas as quintas-feiras como eu costumava praticar e ainda pratico
meditação. De repente, ao invés de acontecer aquilo que eu esperava, que
tivesse a dificuldade de sempre, aconteceu essa experiência diferente
que não foi a do topo da montanha, não foi a de alcançar Deus, coisa que
eu já tinha conseguido sem o uso do LSD. Dessa vez era uma das minhas
tentativas de percorrer o caminho e uma das minhas perguntas é se havia
entidades incorpóreas, independente da matéria - como os espíritas
diriam que são os espíritos, né? – e eu não estava nesse dia procurando
isso, estava em busca de contato com outras pessoas, com outros místicos
que eu já tinha tido experiências assim, pelo mundo todo, e tive esse
contato. A experiência começou nesse mergulho, e eu fui parar num
terreno muito amplo, com um jardim, à noite, no centro do qual havia uma
fogueira. Ao redor da fogueira éramos muitas pessoas que também estavam
chegando ali pelo mesmo caminho que eu, ou similar, e todos estávamos
de braços dados sentados num grande círculo da fogueira.
REG: Isso tudo você via?
CCDB: Presenciava como estou vendo você, de olhos
fechados e num estado de relaxamento profundo, mas não numa
auto-hipnose. Eu digo a mim mesmo que eu tenho cem por cento de certeza
de que isso aconteceu, mas eu não testemunho a ninguém que isso seja cem
por cento de verdade. Eu testemunho que seja verdadeira a experiência
com Deus, tanto o ácido quanto fora dela. Alguns místicos dizem que a
experiência com as drogas, que incluem o LSD, não é uma experiência
verdadeira, mas quem diz isso não viveu a experiência com o LSD. Eu digo
que é a mesma coisa porque também consegui, por meio de práticas
místicas, de técnicas que existem e que você pode aprender em ordens
místicas, existem várias que são autenticas. Eu pertenço a uma delas,
mas prefiro não dizer qual é, inclusive porque não quero que meus livros
tenham, e ao escrever os livros fiz questão de que não tivesse
conotação de fruto de trabalho como ordem mística ou portador da palavra
de alguém que não seja eu. Meus livros chegam até - “Géa”
principalmente - a negar muito dos ensinamentos, não bem ensinamentos,
orientações, mas que essa ordem dá, caso a caso.
REG: “Géa” tem quantos volumes?
CCDB: São 12 volumes de texto e um que é o décimo
terceiro que é o dicionário. O dicionário tem o glossário dos termos
alienígenas, porque parte da história se passa em outros planetas.
REG: Podemos chamar de um livro de ficção?
CCDB: Não, eu não quero rotular. O livro começa, na
página 2, logo atrás da capa, onde é a página primeira do texto, com um
pedido. “Leia isto, por favor, ou, por favor, não leia ‘Géa’”. O
primeiro item fala em rótulo. “Géa” não pode ser rotulada, ela não é
misticismo, não é romance, não é filosofia, não é ficção, não é qualquer
gênero que você possa imaginar, e é todos eles porque contém todos
eles. É muito grande para rotular, e o maior perigo é o rótulo. Ele já
põe a pessoa na suposição de que a obra é isso e acabou, então ela já se
sente conhecedora do que tá ali dentro, baseada nas experiências que
teve antes, e não é bem assim. A mesma coisa o autor. “Esse autor é o
novo não sei quem”, se for na minha obra infantil, digamos que fosse no
“novo Monteiro Lobato”, se for na obra mística seria o “novo Paulo
Coelho”, e o que eu escrevo não tem nenhuma ligação com um ou com outro.
REG: Essa obra está finalizada?
CCDB: Já faz muito tempo que tá finalizada, terminei em 1994.
REG: Já foi editada?
CCDB: Levei dez anos escrevendo, sete dos quais eu
escrevi os textos dos doze livros de texto, cada um com 250 páginas, no
tipo de caractere que eu usei. O tamanho é 16 x 23, o tamanho
convencional, tamanho dez, times new roman, e o texto é escrito de
maneira que o desenho do texto, em algumas partes, condiz com a
narrativa, com o conteúdo. E sem ilustrações. Eu tenho a mesma obra já
ilustrada, com 62 ilustrações cada volume, todas são minhas. Eu tô
finalizando uma agora para a obra infanto-juvenil, organizando o livro
infanto-juvenil que também tem 62 ilustrações, que é a “Geínha”. Não é
um resumo de “Géa” ou uma “Géa facilitada”, é outra história, em outros
lugares.
REG: Por que tem o mesmo nome?
CCDB: Porque tem personagens que se prestam, dos
1300 personagens aproximadamente da obra “Géa”, tem personagens que se
prestam à literatura infantil. Tem a Tália, que é uma menina… Vários
personagens que são protagonistas, mas tem mais mil e tantas personagens
na obra infanto-juvenil. E tem outro livro, já que estamos falando
direto dos livros, que é o “livro chamado que”. É q, u, e, sem acento e
com inicial minúscula, entre parênteses invertidos (
N.E.: “)que(“ ).
Isso significa – alguém um dia vai perguntar – aquilo que está fora de
todo o universo. O universo seria o que está dentro dos parênteses, para
o lado de fora. E o que tá dentro, que seria na realidade fora dos
parênteses, o além do Universo. Isso simboliza a pessoalidade de Deus,
que é justamente aquilo que eu discuto que essa ordem nega, e o que eu
discuto na obra dizendo que existe. Assim como nossa consciência, sendo
nós mesmos, se destaca de nós e nos vê de fora, o Universo, ele
existindo consciência, existindo vida. Essa consciência também se
destaca e isso se torna pessoal quando enfoca o Universo. Então,
separando-se do Universo assim como o “que”, a consciência seria a
pessoalidade de Deus vendo o Universo, que seria seu corpo. A palavra
“que” quer dizer tudo isso.
REG: Esse também está concluído?
CCDB: Isso já tá tudo escrito. Eu fiz primeiro
“Géa”, que eu fui levado a ter a vontade final de escrever, tomar a
iniciativa de escrever por causa dessa experiência que eu interrompi na
narrativa. “Géa” tem 12 volumes, com 250 páginas cada volume, na versão
só com texto. Tem o dicionário que conta os termos alienígenas e os bons
neologismos, nenhum é vicioso. Por exemplo, ao invés de “varridamente”
louco eu digo “enceradeiramente” louco. O dicionário tem os termos
alienígenas que dá para o leitor entender lendo o livro sem a
explicação, mas ele explica para quem não conseguir entender. E depois
tem uma parte maior que é o “rarefeito dicionário de palavras raras”,
que mostra as palavras da nossa língua, explica essas palavras da
maneira que foram usadas no texto, com que acepção e de que maneira eu
as empreguei. Esse dicionário tem mais caracteres do que os doze volumes
de texto juntos, tem 1000 páginas e os caracteres são pequenos, a
margem é menor, é um volume pesado que poderia ser lançado como um CD,
junto com o livro, porque quem comprasse o livro, primeiro deveria
comprar o dicionário.
REG: Por que esses livros não foram publicados ainda?
CCDB: Por causa do tamanho da obra, e porque eu não
tenho agente literário e nem me pus atrás dos editores da maneira
convencional, que é mandar impresso para os editores um excerto do
livro. Eu me confesso incapaz de fazer um excerto. O site inteiro eu
criei pra isso, pra mostrar aos editores o que os livros são. Eu faço
sozinho e a partir de uma certa época com o meu filho Rafael, que é
co-autor de um dos meus livros, o livro técnico sobre gravação
profissional. Ele tem 24 anos, mora comigo e me ajuda nas botoeiras do
site, estudou informática, deu aulas, ele entende mais que eu do
assunto. Então os livros são “Géa”, com 12 volumes de texto e um
dicionário que poderia ser um CD, assim como o “Aurélio” eletrônico.
Nesse caso os livros seriam na forma também de livro eletrônico. Mas
eles poderiam estar contidos num CD ou DVD junto com o dicionário, ou
então a pessoa que lê o livro, mesmo impresso, teria também o
dicionário, se quisesse, ou o dicionário poderia ser impresso
convencionalmente, para quem quiser comprar. É possível ler os livros
sem o dicionário. Mas por que o dicionário de palavras raras tão
extenso? Porque “Géa” – não os meus outros livros – só a obra “Géa” tem
30 mil vocábulos aproximadamente. Esse léxicon é o dobro do que o
William Shakespeare tem em toda a sua obra, é seis vezes o que Camões
colocou em “Os Lusíadas”, é um quarto de todos os vocábulos da língua
portuguesa, como estariam na primeira versão do “Aurélio” eletrônico.
REG: Deve ser difícil de entender…
CCDB: Pode ser difícil, e a escrita foi programada
em dificuldade crescente até o final. Mas não absolutamente de um jeito
preciosista, e sim, e esta é a palavra que deve ficar marcante, usando
palavras melhores. Você pode escrever um texto com palavras melhores e a
demonstração disso está numa das páginas do site chamada justamente
“Géa é difícil?”. Nessa página tem um exemplo e um texto de uma
instância de uma poesia da “Eneida”, de Virgílio, e um texto, um
parágrafo meu, com a tradução para palavras mais simples. Lendo de um e
outro jeito o leigo percebe a vantagem de escrever com as palavras que
eu escrevi. E também porque eu gosto de trabalhar nos livros como eu
trabalhei nas minhas guitarras. Então, abordando os instrumentos aqui,
eu gosto de fazer um trabalho factível, onde cada parte contém o todo, o
detalhe seja o mais perfeito possível. Um instrumento meu musical novo,
uma guitarra, se você olhar com uma lente, não acha um defeito na
pintura, na emenda, nos traços, na emenda da escala com o cabo, nenhum. É
um trabalho muito bem feito, e foi com esse cuidado que eu escrevi
“Géa”. Eu escrevia para a Nova Eletrônica umas 40 páginas por dia. Ainda
posso escrever assim, mas depois dos sete anos da escrita dos livros de
texto eu passei três anos fazendo o dicionário e aprimorando o texto de
“Géa”, criando essa escala crescente de dificuldade programada para ele
ser didático também, vir a ser útil nas faculdades e nas escolas.
REG: Isso não cria uma dificuldade para o leitor, na medida em que o texto vai ficando cada vez mais difícil?
CCDB: Cria, sim, para muitos leitores cria, eu não
escrevi “Géa” para a massa, escrevi para mim, eu acho que é o jeito mais
honesto de se escrever um livro. Escrevi “Géa” do jeito que eu gostaria
de ler. Eu li “Eneida”, li “Odisséia”, “Ilíada”, esses livros que na
primeira vez foram muito difíceis de ler, justamente quando eu terminei
de escrever os sete volumes que ainda não estavam escritos num português
tão bom, mas já era um bom português. Quando eu escrevi o dicionário é
que eu resolvi ler os clássicos. A Lourdes, mulher do meu irmão Sérgio,
que é professora, se formou em literatura, me ofereceu um livro, sabendo
que eu ia escrever “Géa”, que é uma receita de bolo. Este é o que todos
os escritores vêm lendo antes de escrever, era escrito por alguém da
FGV, onde eu estudei administração. Eu abri a primeira página do livro e
vi uma frase que dizia que esse livro ensinava o leitor a pensar. Eu
fechei o livro e disse: “se ele escreve uma bobagem dessa, não é um bom
escritor e não vai me ensinar a escrever, é isso que eu não preciso”.
Devolvi educadamente o livro para ela e resolvi escrever um livro bem
feito. “Géa” é um livro só, não são livros para serem vendidos
separadamente porque a obra e muito grande, tem que ser lançada de uma
vez só nem que seja seriada. Eu quero lançar a obra inteira porque é um
livro só.
REG: Como fazer pra lançar isso tudo de uma vez só? Não tem sido difícil convencer os editores?
CCDB: É difícil, eu criei o site pra isso. Assim
como “Dom Quixote”, é uma obra grande e volumosa, a “Divina Comédia”
também. Um amigo meu me disse: “Géa” vai ser tão difícil de publicar
quanto “Dom Quixote”. E eu respondi a ele: E se “Dom Quixote” fosse
escrito hoje, você pode imaginar que ele não viesse a ser publicado?
Então eu tenho a mais absoluta certeza que “Géa” vai, sim, ser
publicada, apesar das dificuldades. Então eu tô oferecendo facilidades
como a publicação em fascículos, em páginas de jornal. Muitas grandes
obras foram publicadas primeiro em páginas de jornal, uma a uma,
capítulo a capítulo, até a publicação ficar pronta. E depois, como houve
sucesso, se transformaram em livros, e existem muitas outras mídias que
estão identificadas no site para que ela seja publicada. Eu aperfeiçoei
esses sete volumes, e os dois primeiros capítulos de “Géa” eram a
tradução, onde dois capítulos que eu escrevi para abrir um livro que o
meu pai deixou. Esse livro falava sobre a vida de um político com quem
ele trabalhou. Não foi publicado, está com o filho desse político, que
me pediu – a história é muito longa e nós iríamos fazer uma volta muito
grande -, que eu escrevesse o livro do meu pai como estava escrito até o
fim, mas foi parar nas mãos desse filho do político quando meu pai
morreu. Depois voltou aos pedaços pra mim. Eu recompus o livro, não
assinei como co-autor, fiz uma abertura e um fecho porque tinham sumido e
nessa abertura, já que o livro não saiu, e eu imagino que por motivos
pessoais o filho do político não queria que saísse. Era o Ademar de
Barros, governador de São Paulo três vezes, a primeira interventor
nomeado por Getúlio. Meu pai era o secretário particular dele, foi
dedicadíssimo a ele e poderia estar muito rico, porque teve muito poder
nas mãos, e o que a gente tem é fruto do nosso próprio trabalho, quase
nada nos deixou a não ser a honestidade que ele tinha e muitas coisas
boas, mas não capital. Eu tinha escrito esses dois capítulos, e como a
história era muito boa, e era uma - aí, sim, ficção científica -, eu
disse: não vou escrever uma palavra exatamente igual, porque senão seria
plágio. Mas nesse caso vou exclusivamente fazer a coisa que eu mais
odeio, que é plagiar, mas eu vou me autoplagiar. Eu reescrevi esses dois
capítulos e coloquei no começo de “Géa” como se fosse dois capítulos
escritos, recuperados pelo filho Clausar de Rasec. Rasec é o nome do meu
pai ao contrário, e Clausar é um anagrama do meu nome. Esse Clausar é
um dos protagonistas do livro, e Rasec é outro. Ele escreve esses livros
e ao reescrever o português, eu me tomei de um entusiasmo muito grande
pela língua portuguesa, porque eu acho que é muito mais difícil
reescrever um texto em português, traduzir o português para um português
fácil de entender, com boas palavras, palavras melhores, do que
traduzir em outra língua qualquer. Aí começou o interesse e eu comecei a
escrever nesse nível. Quando fiz o dicionário, até lá eu tinha
resolvido não ler os clássicos, porque eu não queria plagiar nem sem
querer as obras alheias. E eu nunca fui um grande leitor, não sou um
literato de jeito algum. Eu resolvi ler os clássicos depois. Quando eu
estava fazendo o dicionário, quando terminei de escrever o livro, achei
que era a hora de ler os clássicos e li tudo, vários deles estão
expostos na página “Se não acredita?”. Tenho a lista dos clássicos em
várias classificações, para que sejam comparados com o meu livro, em
ficção, romance, nas diversas formas da literatura.
REG: Isso é que te dá a certeza de que seu trabalho vai ser publicado…
CCDB: Dois dos capítulos do meu livro se passam num
planeta chamado Umalfa, onde há heróis – imagine Arnold Schwarzenegger
ou Rocky, como um habitante normal desse mundo, só que mais forte que
eles fisicamente, e eles voam com quadrigas que são puxadas por turbinas
e se digladiam com chicotes procurando arrancar as penas um do outro,
que eles levam na cabeça. O capítulo se chama “Longas Plumas Azuis” –
eles arrancam as penas e quem arrancar fica proprietário do outro. E tem
mais um monte de história interessante nessa corrida. E nesse mundo as
pessoas se parecem muito com os heróis da Grécia antiga, narrados nos
livros de Homero. Eu peguei, sem plágio nenhum, lendo a “Ilíada” e
“Odisséia”, e também “Eneida”, de Virgílio, fiz uma lista de todas as
palavras interessantes, algumas das quais nem dicionarizadas estão. Eu
dicionarizei como aristologismos. Essas palavras todas, sem exceção – e
são muitas – eu coloquei no texto desses dois capítulos: “Longas Plumas
Azuis” e “As Cavaleiras da Távola Reta”. Por que essas palavras? Porque
para quem lê esses dois capítulos que já são adiantados no texto, a
dificuldade não é tão grande, a pessoa vai aprendendo ao longo do texto,
vai se ambientar com o mesmo espaço onde vivem os heróis gregos, e com
os livros escritos por Homero e Virgílio. E assim eu faço com a obra de
Monteiro Lobato, quando o personagem Arqueu, que é um homem agérato, que
não envelhece e não morre se não for morto ou sofrer acidente, tem 40
mil anos de idade e mantinha-se vivo tentando fazer viver novamente a
sua mulher. Esse homem conversa com uma terráquea, que é professora de
literatura, e brinca com o idioma usando as palavras de Monteiro Lobato,
o clássico, que é completamente diferente daquele da série
infanto-juvenil. Não é preciosismo, mas é de um português muito nobre. E
assim vai. Escrevendo o dicionário eu aperfeiçoei “Géa”, que alcançou
um nível muito alto e mereceria um lançamento todo especial, como uma
obra nobre, perene, que vai perdurar, justamente por causa do estilo e
do vernáculo, e não por causa da filosofia, ciência, ficção, história,
dentro da narrativa que está ali, porque isso pode se obsoletar. Mas o
estilo não vai e é por isso que tantas obras, como essas que eu citei
duram até hoje e ainda há quem as leia apesar de não ler tanto quanto
outras que explodem nas bancas, como “Shogun”, por exemplo. Mas “Géa”
vai levar vantagem, ali não tem nenhuma palavra que não precisa ser
escrita, como nas músicas de Mozart - desculpe o auto-elogio, só eu
posso fazer porque quase ninguém leu.
REG: Quem já leu?
CCDB: Eu, minha família e alguns amigos, a quem eu
ofereci cópias. E as opiniões deles estão na página do meu site, chamada
“Opiniões Sobre Géa”, e agora também sobre “Geínha”. O site é
www.ccdb.gea.nom.br.
Voltando àquelas pessoas abraçadas ao redor do círculo naquela noite,
ao redor da fogueira, ali, ao lado esquerdo havia uma floresta, as
estrelas estavam esmaiadas pela luz semi-ofuscante da fogueira e à
direita um templo egípcio na sombra. Ali, essa turma do círculo, e eu
junto, subimos com esse círculo ao espaço, aos céus, e lá tivemos
aventuras muito bonitas de se descrever, mas eu não vou fazer isso
agora. Findas essas aventuras - e nós passamos por muitos lugares, até
teatros de reuniões de místicos -, estávamos de volta ao redor da
fogueira e a minha sensação era, talvez a de todos ali, de que a
experiência tinha terminado, e que já tinha sido uma experiência mais
que satisfatória. Súbito, à direita da fogueira, e não no centro, onde
seria esperado, uma manifestação: aparece uma luz dourada, incorpórea,
que se manteve assim dali em diante, e na fogueira apareceu uma voz
“pax.profundis”. Não é paz profunda, que é o cumprimento de uma ordem
mística, é “pax” e “profundis”, é o nome de alguém, da entidade que
estava aparecendo. Essa voz disse: este não tem corpo. Na hora eu não
entendi bem o que isso significava, mas poderia dizer só o seguinte: não
tem corpo porque nunca teve ou nasceu, quer dizer, morre e continua
vivo. Essa é uma das minhas grandes perguntas a qual eu obtive a
resposta. Essa entidade andou mais ainda para a minha direita, e tocou
uma das pessoas do círculo e eu senti o choque como se fosse elétrico.
Eu não sou espírita, já estive em sessões espíritas com o meu pai, que
as freqüentava por causa desse político, que era espírita ou acreditava
em espíritas, e era assediado por espíritas. Essa entidade tocou esse
primeiro companheiro de experiência e eu senti esse choque. Nós todos, o
tempo todo - eu esqueci de contar - estávamos com nossos corpos
translúcidos como cristais, e dentro havia uma luz branca e no centro
dela, uma luz dourada, e o tamanho variava um pouco, então tinha algo de
lisérgico nessa experiência. Depois desse toque essa entidade veio ser
de pessoa em pessoa, até chegar próximo a mim, quando chegou mais
próximo de mim eu já estava antecipando o que seria quando a
encontrasse, mas assim mesmo foi mesmo indescritível. Quando estava
diante de mim me interpenetrou com aquilo que eu só posso chamar de uma
imensa bondade, uma vontade de ajudar enorme. De jeito nenhum uma ordem,
uma convocação ou uma sugestão. Eu senti que havia algo a fazer, apenas
a apresentação de uma grande lacuna a ser preenchida e nisso é que veio
a vontade final e forte e definitiva de escrever. Essa entidade saiu e
passou ao membro seguinte do círculo, e aí sim essa experiência
terminou. Eu pensei que havia levado muito tempo, mas passaram-se uns 5
minutos. Daí pra frente comecei a trabalhar com “Géa”, contei para mim
mulher e meu filho o que tinha acontecido. Uma semana depois um amigo
meu apareceu, chamado Marconi Ricciardi, ele hoje mora na Austrália,
desistiu do Brasil, é uma cara ótimo, incrível, músico brasileiro, ele
tá citado até tem uma foto dele no site. Tem um artigo dele sobre mim,
chama-se “The First Mutante”. Ele se espantou quando me viu e perguntou o
que aconteceu. Eu tava transfigurado com a experiência. Eu tive outras,
mas essa foi a mais importante, que gerou a decisão final de começar a
escrever, que era uma decisão difícil de tomar porque eu não ia escrever
porcaria, eu nunca me dediquei a mais de uma coisa ao mesmo tempo,
tinha que parar o que fazia.
REG: Você fabricava os equipamentos nessa época?
CCDB: Eu estava no apogeu da produção de
equipamentos, eu e minha família. Conversando com eles, resolvemos
parar, sabendo o que nós iríamos enfrentar. Nós interrompemos, antes de
eu ter esse problema na mão, essa contratura, nos pés a mesma coisa,
isso me impede de trabalhar com eletrônica. Hoje não poderia trabalhar,
isso é causado por pré-diabetes, muito trabalho. Os médicos não sabem,
mas tem ligação com diabetes. Isso me impediria de trabalhar em
eletrônica, e também umas hemorragias pequenas que eu tive nos olhos que
me atrapalham muito no trabalho minucioso de componentes eletrônicos.
Mas isso só aconteceu depois de vir pra cá. Eu pararia, mas felizmente
parei a tempo. Só que ganhávamos muito bem, talvez tanto quanto o tempo
da revisa Nova Eletrônica.
REG: Quem comprava seus equipamentos?
CCDB: Eu fornecia a quem me procurava, eu não
anunciava, eram clientes avulsos. Vendemos todo o estoque, nós tínhamos
comprado cinco quitinetes desse mesmo tamanho, que estavam cheias de
equipamento de fabricação. Eu, minha mulher e algumas pessoas da família
dela montávamos esse equipamento, tudo feito legalmente. Não éramos
ainda uma empresa, mas cada um foi indenizado, todos pararam, nós
vendemos o resto do estoque (que era grande) e com esse estoque minha
mulher, em 80 viagens, construiu num mutirão com a família dela esta
casa aqui. Gastamos aqui bem mais do que ela vale. Viemos pra cá e
estamos aqui há dez anos. As cinco quitinetes nós alugamos a R$ 300 cada
uma, dá pouco por mês, e nem sempre estão todas alugadas. Há pouco
tempo tivemos que vender uma pra continuar na luta, porque não dava para
resistir com isso que recebíamos. Com isso compramos mais um computador
e um carrinho pra fazer as compras de Rio das Ostras pra cá. Nós nos
atiramos de cabeça mesmo nessa missão.
REG: Qual o papel dela e do seu filho?
CCDB: Ter se atirado na missão, porque ela poderia
ter discordado e até me mostrar que não era por aí, e eu teria atendido.
Meu filho se distanciou do centro onde poderia estudar melhor, teria
mais oportunidade de trabalho, e veio pra cá comigo também. Ele não
conseguiu cursar faculdade porque o estudo aqui é muito precário, é
feito à noite, ele ia de ônibus a Macaé ou Rio das Ostras para estudar, e
não conseguiu ainda passar nos vestibulares. Enquanto isso ele acabou
lecionando informática numa escola, e agora trabalha na criação de uma
loja eletrônica para o caso de nenhuma editora publicar meus livros.
Talvez a gente mesmo venha a publicar, naquela categoria dos livros
virtuais. Ele também é co-autor de um livro meu, que é “CCDB Gravação
Profissional”, era uma série de artigos que eu escrevi pra Nova
Eletrônica e ia ser publicado, tem matéria pra publicar durante quatro
anos. Esse tem 1135 páginas, como matéria técnica de gravação
profissional, cursos de áudio, kits de montagem de equipamentos de
áudio, todo tipo de informação sobre áudio. Em parte ali que começaram
os personagens de “Géa”. Às vezes, pra quebrar aquele ritmo maçante de
artigo técnico, eu introduzi as personagens para melhorar a leitura.
REG: E agora, você se ocupa com o que?
CCDB: Tô fazendo as ilustrações, já tenho o próximo
livro pronto para escrever, comecei anotando idéias. Terminei de
escrever “Géa” aqui, a maior parte dela foi escrita aqui, e à tarde eu
trabalhava nos terrenos, esses terrenos eram um mato pior do que aqueles
que o circundam. Eu carreguei, eu mesmo, à mão, cortando com enxada,
picareta, pás e carrinho, 1000 metros cúbicos de terra, dá 1500
toneladas de terra durante seis anos. Aterrei os terrenos todos e minha
mulher plantou esses terrenos todos, ela me ajuda. É uma vida também
gostosa, nós não trocamos aquela nossa vida boa por um inferno, temos
mais liberdade, apesar de certos problemas típicos, como gente invadindo
terrenos com vaca, etc. Eu escrevi “Géa” e o “livro chamado que”, que
foi feito de um jacto, sem nenhuma preocupação com a escrita, com o
vernáculo, mas aí eu já sabia escrever. Ele não teve correção, saiu
pronto, como as músicas de Mozart. Ele sim seria um best seller, porque
não é preciso ler “Géa” para ler o “livro chamado que”, ele alterna
capítulos que são a narrativa de fatos reais que aconteceram aqui
comigo, como se fossem acontecidos com essa personagem, com os nomes das
pessoas da vida real trocados. Problema com vizinho, cachorro e gato, a
origem dessa imobiliária querendo vender e comprar e te expulsar, a
coisa é séria. Esses capítulos se alternam com experiências do Clestes
do espelho do banheiro, um espelho místico, onde ele se projeta em
outros mundos e descobre muitas coisas, inclusive que ele é “que”, mas o
que é “que“ é preciso ler o livro pra saber. Ele se liga a “Géa” porque
tem histórias complementares de “Géa”, porque conta o começo de certas
coisas que apareceram em “Géa” a partir de certo ponto, e conta o que
aconteceu depois também, mas ele pode ser lido sozinho, sem ler “Géa”. É
a sugestão para a editora menor, ou que não queira investir tanto,
mesmo sendo uma grande editora, lançar primeiro esse livro como teste do
autor. Depois veio “Geínha”, que tá pronta, sendo ilustrada, é o que eu
tô fazendo agora, direto, e veio a reescrita de “CCDB Gravação
Profissional”. Durante um ano nós trabalhamos reescrevendo o livro, ele
re-digitou tudo porque eu não tinha mais os arquivos de computador, e
nós atualizamos tudo. Fizemos um livro que é sobre áudio analógico,
sobre áudio em geral, não só sobre gravação, e dá todas as dicas. A
abertura para quem queira começar com gravação digital, não só em
estúdios, mas sonorizações externas, gravação de maneira ampla e abrange
o resto do áudio. Tudo isso de experiências trabalhando com áudio, com
os instrumentos, nos estúdios de gravação com os meus irmãos e em
festivais, e tocando também, porque eu tocava. Eu sou o irmão mais
velho, quem começou tocando fui eu, tenho experiência muito gostosa de
ter tocado o instrumento, criado o instrumento, projetado e criado o
equipamento, instalado e operado o equipamento no show do conjunto que
ajudei a formar, e tocando e fazendo sucesso, é muito gostoso isso.
REG: Como você vê essa volta d’Os Mutantes?
CCDB: Eu não chamo de Mutantes, eu chamo esses que
voltaram de “Pseudo Mutantes”. Não há Mutantes sem Rita Lee e Cláudio
César Dias Baptista. Quando o Sérgio me convidou para fazer a excursão
no exterior, assim como convidou a Rita, eu me neguei. Quando ele se
reuniu ao Arnaldo e me convidou para excursionar com o conjunto, eu fiz
certas exigências. Exigi aquilo que eu vinha pedindo há muito tempo,
sugerindo, e não por minha causa, mas para ajudar o conjunto, como
sempre fiz. A minha postura é que instrumento musical tem o mesmo valor
que a música. Se não houvesse a evolução tecnológica dos instrumentos
musicais, hoje nos estaríamos como aqueles antropóides dos livros,
tocando com tacape num montículo de terra. Não existiria o Paganini sem o
Stradivarius. É uma pergunta interessante: quem é mais importante, o
Les Paul ou a Gibson Les Paul? Ficaria muito estranho Os Mutantes no
palco dos festivais e na capa dos CDs naquela imagem do Sérgio vestido
de toureiro segurando uma guitarra simples, e não aquela de ouro que ele
usa até hoje, a guitarra de ouro número 2 que eu fiz para ele. Eu fiz
três guitarras de ouro pra ele. O ouro era garantido “life time”,
naquela época, pela empresa que fazia o banho de ouro. É ouro sobre
peças de bronze, e por dentro toda folheada a ouro, o que me permitia
fazer no tempo dos circuitos de mais alta impedância, me permitia não
usar fio blindado num circuito complexíssimo da guitarra, e deu um som
agudo muito mais nítido, uma resposta extrema de alta freqüência. O ouro
servia de blindagem e é uma blindagem perene porque não corrói e também
protege a madeira contra intempéries, micróbios, fungos, etc, sem
perturbar as vibrações. Isso é uma explicação muito por alto da guitarra
de ouro que ele usa até hoje.
REG: E as exigências…
CCDB: Foram as seguintes. A primeira é que fizesse
aquilo que eu sugeri numa carta profética que eu tenho a seu dispor. Eu
chamo de carta profética porque eu escrevi em 2004 pra ele, e nessa
carta eu dizia que se Os Mutantes voltassem a se reunir… “Géa” fala da
volta do grupo Os Atlantes, que são Os Mutantes daquela história, e
conta como eles voltaram. “Géa” foi terminada em 2004 – eu escrevi essa
carta e antevia que a banda voltaria. Eu exigi que o Sérgio compusesse,
já que ele não quis ler “Géa”, pelo menos uma canção baseada em “Géa”,
ou se não quisesse compor, que ele tocasse e dissesse nos espetáculos
que aquela canção é relacionada ou criada a partir da obra “Géa”. Essa
canção já existe, tá no site, foi feita por Bruno Tavares, que é uma das
pessoas que adquiriu uma mesa CCDB 44, igual aquela que o Sérgio tem no
estúdio dele e usa até hoje. Ele compôs uma música com a letra de minha
autoria, e eu não esperava criar uma letra quando compus uma poesia,
que era a poesia de Ars, que na obra “Géa” é o maior poeta do universo.
Ars morava num planeta onde o povo vivia na idade dos gregos, só que não
valorizava a arte como ele, Ars, valorizava. Quando ele cantou seus
versos, escrito em folhas de papiros, ao povo, o povo não compreendeu, e
ele, muito triste, de cima de um rochedo, dobrou essas folhas de papel e
lançou no mar como se fossem pequenos aviões de papel. Ao lançar a
última ele se atirou, morreu nas pedras e foi levado pelas ondas. E o
povo então o aclamou, mas não como o maior poeta do universo, como ele
veio ser assim reconhecido por seres superiores de outros planetas, mas
sim como o inventor do avião. Uma das poesias de Ars aparece colhida por
um povo de outro planeta, e essa poesia eu compus com esse amigo meu,
que leu “Géa”, gostou da poesia e criou a composição, que se chama “Uma
Canção Para Ars”, a letra é minha. De repente, sem pretender, eu virei
compositor de letra de canção. Eu pedi ao Sérgio que pusesse uma canção,
porque eu não acredito em revival de grupo nenhum que apenas apresente
música velha. É óbvio que eu não tô dizendo a grande besteira que seria a
seguinte: só toquem músicas novas. Devem tocar as velhas, pedi a ele
que tocassem, sim, as velhas, mas que tocassem algo de novo, senão o
surgimento dos novos Mutantes ou dos pseudo Mutantes seria comentário,
sem música nova a coisa não vai, e parece que ele entendeu, e tá fazendo
música nova, só que não com as composições minhas. Eu não via isso como
uma tábua de salvação para os meus livros, uma grande ajuda, eu sempre
pensei e continuo pensando que é o contrário, eu acho que a minha vida
atual, como escritor, é mais importante que a minha vida como luthier,
técnico e tudo o mais. Se o meu nome tá gravado e vai perdurar como
aquele Mutante oculto e tudo o mais, a minha obra escrita vai durar
muito mais do que isso, porque tem uma importância muito maior.
REG: Tinha outras exigências?
CCDB: Uma era essa, no intuito de beneficiar, e não
de me aproveitar de coisa nenhuma. A outra foi, como eu suspeitava, e
que realmente aconteceu, que ele ia levar a mulher e a filha na
excursão. Eu disse que eu queria levar minha mulher e meu filho, senão
não iria. Outra era que eu fosse tratado sempre no mesmo status dos
outros Mutantes, independente de eu estar tocando ou não no palco,
embora eu já tivesse tocado com Os Mutantes e o resto d’Os Mutantes, e
até ter sido acompanhado por eles em alguns espetáculos. Ele não aceitou
nenhuma das exigências. Tudo bem, continua ele lá e eu aqui, eu
escrevendo e ele com as músicas.
REG: Você chegou a ver um show dessa nova fase?
CCDB: Não, eu não fui aos shows, eu vi na televisão.
Eu me lembro muito bem o que eram Os Mutantes antigos nos espetáculos
onde eu sonorizei, ensaiei junto, participei das gravações… Embora a
substituta da Rita (Zélia Duncan, que já saiu) seja uma grande cantora,
talvez maior que ela como cantora, ela não é a Rita, nunca ninguém vai
ser a Rita, a não ser se a Rita passar pela transição, poderia haver uma
substituição que justificasse que Mutantes atuais ou pseudo Mutantes se
chamasse Mutantes. E a minha presença não tem que ser no palco, tem que
ser “estar com”, participando da criação como eu participava
antigamente, não só da criação dos instrumentos mas também de muitas
músicas. Isso não foi aceito e ficou assim, e a minha opinião sobre
aquilo que eu ouvi, é que não chega a ser o que era. O Arnaldo não é
mais aquele Arnaldo antigo que eu sempre pedia aos jornalistas e
repórteres que vinham me procurar, para descobrir onde estava o Arnaldo,
isso há algum tempo, quando ele não estava tão falado assim. Pedia que
por favor não reconstituíssem o Arnaldo antigo, que isso o fazia sofrer,
e sim procurassem o que ele estivesse fazendo de novo. Eu não sabia
muito bem o que ele estava fazendo porque nas minhas tentativas de
reaproximação - eu fiz várias -, ele passou a ter uma idéia fixa depois
que se atirou daquela janela de hospital quanto a mim, achando que eu me
tornara uma pessoa maligna por passar a fazer equipamento
transistorizado e não mais valvulado. Não fui eu que escolhi; foi o
mercado. Eu comecei fazendo amplificadores valvulados, passei uma semana
em cima de um esquema de um amplificador simples, para conseguir
entender o que era uma válvula inversora de fase. Hoje todo esse sistema
de som eu enxergo inteiro, assim como enxergava uma guitarra antes de
projetá-la no papel, com todo o circuito, todas as medidas prontas
porque tava muito envolvido com aquilo, não por genialidade nenhuma, é
um trabalho profundamente dedicado que leva a essa visão. Essas foram as
exigências que não foram atendidas.
REG: E essa oficina?
CCDB: Não tem mais oficina, aquela mesa é a mesa
onde eu montava as mesas de som e hoje ela faz parte, como fazia antes,
do sistema de som com painel acústico, se você abrir as gavetas ainda
vai ver as ferramentas do tempo em que eu usava, algum aparelho
eletrônico… Esse equipamento eu fiz em 1972 e como tá escrito ali no
painel do equalizador gráfico, mas vale para o equipamento todo, nunca
deu defeito desde aquela época, e hoje funciona com o mp3 do computador.
REG: E a história da maldição da guitarra?
CCDB: Foi a primeira guitarra de ouro. A história
dos meus instrumentos é a seguinte. Eu fazia aeromodelismo com o Rafael
Vilardi, foi quem comigo começou o conjunto que mais tarde se tornou os
mutantes, o The Thunders. Isso começou quando nós, na garagem dele,
assistimos a dois amigos tocando guitarra, foi a primeira vez que eu
ouvi guitarra, assim, de perto, com um amplificadorzinho muito ruim. A
gente gostou muito, e como eu fazia aeromodelos, fazia telescópios
ópticos no porão do planetário do Ibirapuera, ali havia cursos dados
pela Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, que era quem
operava o planetário, eu tinha desenvolvido uma boa habilidade manual.
Eu não gostei das guitarras daquele tempo, então resolvi fazer eu mesmo
as guitarras. Um amigo meu que trabalha num canal de televisão, o canal 5
naquele tempo, fotografava, fazia slide de todas as páginas do catálogo
da Fender e eu projetava na parede, no escuro, no porão da casa dos
meus pais. Com um erro de não mais que 3 mm de cima a baixo eu fiz
guitarras idênticas. Depois de aprender a fazer guitarras sólidas,
copiando essas guitarras, que eu distribuí aos amigos por preço de
banana, eu passei a fazer meus próprios modelos, cheguei a fazer mais
150 guitarras sólidas e umas 30 guitarras acústicas, essas de ouro. A
guitarra de ouro eu concebi inteira na minha cabeça, o circuito
inclusive já era dotado de circuito memória. A primeira chave em cima
era liga/desliga mecanicamente, não com circuito eletrônico, partes
diferentes do circuito. São varias operações, com uma chave só na
guitarra de ouro ele faz tudo isso e pode fazer muito mais porque essa
chave abre-se para dois circuitos separados e cada circuito tem sua
programação, então você pode deixar ligado num deles aquilo que faz o
som de base e no outro aquilo que faz o som de solo, e de um para o
outro você vai com uma chave só. E assim cada chave com seus
subcircuitos vão fazendo a mesma coisa, com uma hierarquia, a guitarra
de ouro é assim. Essa segunda guitarra de outro tem o captador
hexafônico, além do distorcedor convencional, ela tem mais seis, um para
cada corda. E mais um montão de outros recursos. O Rafael Vilardi me
pagou o material quando ele me disse: eu quero a melhor guitarra do
mundo. Eu disse: eu posso fazer, mas não tenho dinheiro, você financia?
Eu fiz duas guitarras e tenho foto delas sendo feitas, tudo que eu
experimentava num exemplar e dava certo, e foi dando tudo certo, eu
reproduzia no outro. Uma ia ficando pronta mais à frente que a outra.
Essa que ficou pronta, onde eu fiz uns testes, só teve um defeitinho de
colagem, e é a guitarra de ouro número 1 do Sergio, essa guitarra ficou
pronta e também a do Rafael, sem defeito nenhum. A do Rafael é preta, e
essa que eu dei ao Sérgio é branca, cor de marfim, básica.
REG: E a maldição da guitarra?
CCDB: Eu já me interessava por misticismo naquele
tempo e lia alguma coisa de livros místicos que encontrava na biblioteca
do meu pai, do Ademar de Barros. Um dos livros que eu tinha em casa era
de magia telúrica – isso não significa que eu concorde com o que está
escrito no livro. Eu, por brincadeira mesmo, tinha a consciência que
serviria de publicidade, e colei ali uma maldição pronta e acabada que
não é de minha autoria, uma invocação a espíritos, e transcrevi para uma
parte da placa de ouro que fecha a guitarra, por de trás. Não é uma
placa muito grande, é sobre um buraco por onde apenas passa a minha mão
pra montar os circuitos lá dentro. E na outra face da placa eu coloquei a
maldição. Ela foi transcrita numa reportagem do jornal A Folha de São
Paulo, página inteira e mais alguma coisa sobre as minhas guitarras. O
texto dizia que a guitarra retornaria a seu legítimo possuidor, caso
fosse furtada, designado por aquele que a construiu. A guitarra foi
furtada, e tal como previa essa parte da maldição, nesse sentido foi uma
profecia, porque tinha a maldição para quem copiasse a guitarra. Porque
muita gente naquele tempo vivia especulando sobre o que eu fazia, e eu
patenteando tudo. Essa reportagem que saiu na Folha São Paulo porque eu
estava a fim de produzir em quantidade com um amigo, ele era um grande
artesão em mecânica, fazia moldes para injeção de plástico e atendia a
grandes empresas, todos as peças plásticas de carros que estavam sendo
lançados pela Volkswagen eram feitas nas indústrias dele. Ele se
apaixonou pelas guitarras e resolveu fabricar comigo em quantidade pra
vender no mundo todo. Estávamos fazendo estudos muito bonitos dentro da
fábrica dele para fazer a guitarra em madeira tradicional, e outra em
plástico nobre. Muito antes de fazerem violão ovation com fibra de
vidro, a gente ia fazer uma guitarra inteira de plástico. Nós fizemos
pedais e vendemos no Brasil todo, formalmente, com nota fiscal e tudo,
tudo injetado em plástico e o molde feito por ele. Essa reportagem foi
promovida pela Cassex, o órgão que regulava importação e exportação. A
Cassex contatou um representante europeu na Alemanha, que queria 1900
exemplares para colocar em todas as lojas do império dele. A gente se
preparado para grandes investimentos, quando esse amigo sofreu um
acidente terrível. Ele tava ensinando um funcionário novo a trabalhar na
máquina de plástico, enfiou a mão na abertura de um molde de injeção e
alguém acionou a máquina e ela esmagou os quatro dedos da mão, não teve
reconstituição possível e ele foi obrigado a parar. Mas foi um sujeito
exemplar, comprou tudo que eu tinha levado pra fábrica dele, pagou tudo.
Eu parei com os instrumentos musicais nessa época e continuei com os
eletrônicos, que era muito mais fácil de fazer.
REG: Voltando à guitarra roubada…
CCDB: A guitarra foi furtada, e a pessoa que furtou
vendeu para uma guitarrista que não sabia de quem era, comprou por
comprar. Quando ele viu a maldição e ouviu dizer da história, correu e
devolveu em perfeito estado ao Sérgio, fechando o ciclo previsto na
placa de ouro.