quinta-feira, 13 de agosto de 2015

+ Alec Empire

Infelizmente não poderei ir ao show do Atari Teenage Riot próximo dia 19, em São Paulo. Mas eu e você, que também não vai, podemos colher pelo menos um fruto positivo da nova vinda do grupo ao Brasil, com o renovado interesse da mídia que, aliada à disposição de sempre do vocalista e mentor Alec, tem produzido uma série de entrevistas antológicas. Abaixo, mais uma, desta vez publicada originalmente no site Zona punk ...

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Os alemães do Atari Teenage Riot ajudaram a criar uma nova roupagem para o punk quando o trouxeram à era digital. Esse foi, inclusive, o objetivo de Alec Empire, idealizador, compositor, vocalista e força criativa do trio. A ideia de se expressar por meio de um som nervoso e minimalista tomou corpo e, hoje, 23 anos após sua concepção, transformou-se em uma máquina de beats velozes e discurso contundente.

Quando estava ficando cada vez mais reconhecido, no fim dos anos 1990, o caos sonoro deu lugar a um turbilhão de problemas que culminaram em uma parada de quase dez anos. Mesmo sem produzir material ou fazer shows, a obra do grupo seguiu conquistando novos adeptos. Em 2010, Alec achou por bem retomar as atividades com a antiga parceira Nic Endo e o novo companheiro CX KiDTRONiK. Desde então, o ATR fez barulho com dois discos de estúdios e performances intensas.

Um pouco dessa energia viva criada milimetricamente entre os músicos e um velho computador será mostrada no Brasil em agosto, em uma única apresentação, dia 19, no Cine Jóia, em São Paulo. Aproveitando o gancho da nova passagem pelo país, descolei uma entrevista virtual com Alec Empire. Sempre solicito, ele mostrou-se disposto a responder um catatau de perguntas que vão desde a história da banda até o processo criativo, passando pela luta antifascista e pelo engajamento com o ciberativismo. Tudo isso, na longa transcrição a seguir. 

O Atari Teenage Riot tem uma ligação com o punk, tanto musical quanto liricamente. De onde vem esse interesse por uma sonoridade mais agressiva e por temas contestadores? Vocês estiveram envolvidos com a cena punk da Alemanha antes de começar o ATR?
Alec Empire – Eu divido o mundo da música em duas partes. Uma é só entretenimento, sem nenhum propósito além de vender um produto. É algo baseado no contexto do escapismo, de fugir da realidade. A outra é a música sobre assuntos que interessam às pessoas, que revela verdades e tem significado. Ao invés de tirar o ouvinte da realidade, isso os ajuda a confrontá-la, a lidar com ela e superá-la, a criar um futuro melhor. Quando eu cresci na Berlim ocidental dos anos 1980, a cidade estava dividida pelo muro, uma consequência da Segunda Guerra Mundial. Estávamos em meio a Guerra Fria naquele tempo. O punk era muito politizado, assim como a cena de vanguarda. A ideia de diversão pura não desafiava o ouvinte, era considerada chata. O punk e os primórdios da música eletrônica foram muito importantes porque sua mera existência questionava o status quo. Fomos capazes de expressar nossos sentimentos e ideais de uma forma bem crua e sem filtros, o que mudou a direção da música popular. Sem essa era musical, não teríamos um cenário tão diversificado no mundo hoje em dia.

Berlim é uma cidade com vários squats, como o Kopi, um dos mais conhecidos. Essa cultura de ocupações underground ajudou o ATR durante a carreira ou seu desenvolvimento como artista?
Alec Empire
– Sim, certamente. Esses foram os primeiros locais onde pudemos fazer shows, embora houvesse certa resistência em relação à música eletrônica no começo. Usar um “computador” para programar músicas que uniriam pessoas por meio de objetivos políticos era algo estranho para muitos na época. O computador era considerado uma ferramenta capitalista que substituiria os humanos. Levou um tempo para convencer a galera de que o punk podia ser transportado para a era digital.

Quais bandas você costumava escutar e hoje cita como influência? E fora da música, o que o inspira?
Alec Empire
– Sempre tive um gosto musical bem amplo. O começo do hip hop, de Grandmaster Flash e Africa Bambaataa ao Public Enemy, por exemplo. Teve também o punk dos anos 70, da era CBGB. Dead Boys, Richard Hell, Ramones, Velvet Underground e o Suicide, que foi uma banda chave pra gente, claro. Embora seu som não tenha nos influenciado tanto, eles abriram portas. Eu curtia muito dub dos anos 1970 e ska jamaicano da década de 1960. Além disso, o jazz de nomes como Charlie Parker, Miles Davis e John Coltrane. Compositores como Stockhausen, Bach, Wagner, Schönberg e outros foram muito importantes para mim quando adolescente. Eu ficava um bom tempo ouvindo música clássica. Fora da música, sempre fui interessado em filosofia (Gilles Deleuze, Foucault etc).

Foi natural juntar música eletrônica e hardcore quando o ATR nasceu? E sobre os elementos do rap, por que a ideia de também incorporá-los?
Alec Empire
– A única razão pela qual nós começamos o Atari Teenage Riot foi porque eu queria achar um jeito de transportar o espírito punk para a era digital. Comecei a trabalhar nessa ideia antes de recrutar os outros membros. Não foi fácil, num primeiro momento. Eu não queria apenas combinar dois estilos, queria que o digital hardcore se tornasse uma sonoridade única, um gênero. O ATR foi baseado em um conceito de colagem. Meu objetivo era juntar muitas referências musicais que tinham alguma “energia revolucionária”. Samplear a tecnologia fez isso possível naquela época. Eu continuo acreditando que uma gravação captura muitas informações que são complicadas de se recriar. Por que os músicos tocam de um jeito em um dia e de forma diferente em outro? Executar as notas é fácil, mas há muito mais coisa envolvida no processo.

O ATR sempre levantou a bandeira antinazista, desde os primórdios. É verdade que a banda foi criada justamente para confrontar a idiotice conhecida como neonazismo?
Alec Empire
– Isso mesmo, o Atari Teenage Riot começou a combater a ideologia neozista com música. Naquele tempo, a gente esteve envolvido em várias brigas de rua com neonazis. Em certo ponto, percebi que isso era perda de tempo, que tínhamos de ter conceitos mais firmes. Foi então que me voltei à música e à não violência. O som pode transportar ideias bem embasadas e fortes. Por isso eu optei pela música.

Por que escolher um velho Atari para ser elemento tão importante no estilo de arte que desenvolvem?
Alec Empire
– O computador Atari era o Mac, da Apple, daquele tempo. A diferença é que ele é mais estável em se tratando de MIDI. Acabou virando nossa assinatura sonora e foi por isso que permanecemos usando. Ele é o Stradivari (famoso luthier italiano) do techno-punk.

Poderia nos dizer como as músicas do ATR são criadas? Uma curiosidade: alguém toca guitarra nos discos ou o som do instrumento é sampleado/programado? Já pensaram em adicionar um guitarrista ao vivo?
Alec Empire
– Depende da música. Geralmente, eu mesmo toco guitarra. Mas, obviamente, há outros guitarristas envolvidos. Tom Morello (Rage Against the Machine) e Dino Cazares (Fear Factory), por exemplo, já participaram em músicas nossas. Também fizemos um som com o Slayer. Todas as guitarras devem ser sampleadas, pois elas não têm espaço ao vivo. Talvez mudemos isso em algum ponto, mas gostamos de usar o mínimo de equipamento no palco.

Além da música, algo mais é programado na banda? Digo: você pensa sobre tudo que será executado ou apenas deixa rolar para ver como termina?
Alec Empire
– Tudo é programado. Às vezes, rolam acidentes e são criados sons que acabamos usando mais tarde nas músicas. O Atari Teenage Riot nunca foi um bando de gente curtindo e fazendo jams para ver o que rola. Não é assim que procedemos. Existe um objetivo e corremos atrás dele. Isso vem com a natureza da programação musical. Para criar um beat, primeiro o visualizamos, depois, sentamos e programamos. É um processo bem diferente de uma banda tradicional de rock, na qual os músicos tocam juntos para ver qual é a vibe.

O ATR tem uma mensagem para passar. Então, acredito que seja importante atingir o maior número possível de pessoas. Espalhar a palavra ao máximo! Vocês pensam nisso quando estão criando as composições? A música é elaborada para atingir as massas?
Alec Empire
– Não nos comprometemos com o que você chama de massa. Mas, sim, nós pensamos sobre como simplificar a mensagem. É importante que o ouvinte sinta isso.

Acredita que as pessoas prestam atenção ao recado do ATR?
Alec Empire
– Muitas sim, outras não. É escolha de cada um. As pessoas podem usar nossa música como uma ferramenta, mas isso depende delas. Muitos ativistas políticos e hackers que conheço escutam o Atari Teenage Riot e dizem que são inspirados pela banda. O que é ótimo! O que não queremos é manipular quem nos ouve. Isso é o que o pop faz. Nossa abordagem é diferente.

Lembro-me de escutar o ATR pela primeira vez na segunda metade da década de 1990. Ao menos no Brasil, foi um período no qual a internet começou a ganhar força e ficar mais acessível. Qual a importância da web para a banda divulgar suas ideias? E qual o valor dela para a sociedade como um todo durante os últimos 20 anos?
Alec Empire
– Penso que entramos em uma nova era. Muitas visões que tínhamos sobre a internet e como ela poderia melhorar o mundo – no meu caso, levando mais música para educar as pessoas –, forçando o público na direção de sons mais desafiadores, não se tornaram realidade. Na indústria musical os independentes foram quase aniquilados, enquanto a hierarquia que impede avanços ficou ainda pior.

Enquanto o mundo online ia ganhando espaço, ainda era interessante ter uma boa gravadora. O ATR trabalhou com a Grand Royal, capitaneada pelos Beastie Boys. Isso ajudou vocês a conquistar um público maior? Ficaram amigos dos BB?
Alec Empire
– Depois que Carl Crack morreu nós perdemos contato. A gravadora deles quebrou e nós fomos em direções diferentes. Porém, claro que eles nos ajudaram muito naquela época. Fomos colocados no contexto certo. As pessoas estão erradas quando pensam em nos deixar ao lado de nomes como Nine Inch Nails e similares. Nossas raízes são o hip hop e o techno – que eu vejo como uma evolução do hip hop. Os Beastie Boys nos deram força antes de muita gente saber sobre a gente. Alguns críticos dizem que eles pularam no trem quando ele já estava em movimento, mas isso não é bem verdade. O trem poderia estar se andando, mas penso que quando os BB vieram a bordo, estávamos aptos a aumentar a velocidade.

No fim do século passado, quando o ATR estava em evidência, Hanin Elias deixou a banda. Poucos anos depois, Carl morreu. Pode-se dizer que, após esses acontecimentos, uma parada foi necessária?
Alec Empire
– Hanin deixou a banda várias vezes e pediu para voltar. Ela não é muito confiável. Isso não é algo completamente ruim. Precisamos de músicos imprevisíveis. Os piores são os cachorrinhos de estimação das boy bands. Muitos artistas pop são construídos, não há integridade nem autenticidade, são artistas substituíveis. Aí, óbvio que a música fica comprometida. Acredito que muita gente está frustrada com o pop hoje em dia. Por isso o estilo está encolhendo. Sobre a morte do Carl, foi algo que nos devastou. O cara não estava numa boa há um tempo e, pelo que sabemos, ele não via jeito de melhorar. Ainda não está claro o que aconteceu na noite em que ele morreu no próprio apartamento, em Berlim. Eu e Nic Endo começamos uma banda com meu nome na época, que também contava com Gabe Serbian (The Locust) e Charlie Clouser (ex-Nine Inch Nails). Com morte do Carl nós simplesmente não sentimos que era possível continuar com o ATR. Houve quem dissesse que a banda separou-se, o que não é verdade. O Atari Teenage Riot não é uma banda de rock com membros constantes. Viemos da cena techno underground e operamos mais como um Wu Tang Clan ou algum coletivo hip hop. Apesar disso, a imprensa sempre nos vendeu como uma banda.

Durante o tempo em que o ATR esteve inativo você lançou alguns discos solos e fez interessantes parcerias musicais – uma delas com o rei do noise Merzbow. Da perspectiva artística, como foram esses anos?
Alec Empire
– Sempre lancei mais trabalhos como artista solo do que com o ATR. Durante toda a década de 1990, fiz vários discos. De The Destroyer a todo o trabalho como Mille Plateaux. Eu apenas segui fazendo a minha. Não é porque o ATR parou que eu precisei achar uma alternativa. Apenas fiquei mais apto a tocar projetos que havia construído anteriormente.

Qual foi a motivação para reunir novamente a banda, fazer shows e gravar?
Alec Empire
– Apenas me senti bem. Mais e mais pessoas se tornaram interessadas no Atari Teenage Riot e no significado das músicas. A temática cyperpunk que usávamos nos anos 1990 era ficção científica para muita gente. Mas, e em 2010? Aí, o cenário era outro. Qualquer um tem computador, ou até mesmo um smartphone, e está ativamente online. Então, assuntos como vigilância, libertarianismo e techno-anarquismo ficaram mais fáceis de entender.

O trabalho de retorno foi Is This Hyperreal, primeiro disco em mais de uma década, que contou com o novo colaborador CX KiDTRONiK. Vocês são velhos amigos? A banda ficou satisfeita com o álbum?
Alec Empire
– A gente colaborou com CX antes de o Atari voltar. Essa parceria nos fez pensar ser possível uma nova formação. Novamente, as coisas rolaram no momento certo. Is This Hyperreal é, provavelmente, o disco mais importante do Atari Teenage Riot, pois conectou o grupo a uma nova geração de hackers, ativistas anônimos, Wikileaks e muitos outros. Olhando para trás, o registro realmente se destaca. O vídeo viral para ‘Black Flags’ é um pequeno documentário do ativismo de 2010 e 2011. Acho que o vídeo Live at Fusion 2010 é, disparado, o melhor registro visual do Atari Teenage Riot. Zan Lyons (diretor e músico alemão) filmou o material.

O disco em questão tem o som ‘Codebreaker’, com participação de Steve Aoki, que já colaborou com LMFAO, will.i.am and Iggy Azalea. É, de algum modo, algo parecido com o que fez o Refused recentemente, ao trabalhar com o conterrâneo sueco Shellback, conhecido por seus préstimos ao lado de nomes como Taylor Swift, Pink and Maroon 5. Era a ideia tentar uma aproximação com o pop – ainda que a música seja rápida e raivosa?
Alec Empire
– Em 2010, o selo Dim Mak, do Steve Aoki, foi um bom parceiro para lançar o álbum nos Estados Unidos. Eles foram, provavelmente, os únicos do meio eletrônico a se conectar com o hardcore. Não tão radicalmente quanto o DHR (Digital Hardcore Recordings, selo capitaneado por Alec dedicado às barulheiras eletrônicas), mas nem precisaria ser. Steve ouviu ATR quando era jovem e queríamos trabalhar juntos em uma faixa de hardcore eletrônico. Foi nessa época que o Skrillex abriu para o Atari Teenage Riot em Nova York. Um ano depois o EDM (eletronic dance music) estourou e esses caras, repentinamente, tornaram-se mainstream.

O ATR, principalmente você, sempre apoiou o ativismo hacker. Como parte desse engajamento, em fevereiro de 2015, rolou um discurso no maior congresso hacker do mundo, o 31c3, sobre usar essa cultura como arma. Por que o ciberativismo é tão importante?
Alec Empire
– O ativismo não violento irá trazer mudanças e a ação hacker é peça chave para isso acontecer. Espalhar informação, fazer os governos serem transparentes e criptografia são alguns exemplos.

Como o cidadão comum pode usar a criatividade e a tecnologia em seu próprio benefício?
Alec Empire
– A tecnologia está se movendo muito rápido. Qualquer coisa que eu diga agora pode ser absurda em algumas semanas. A única dica que posso dar é para as pessoas pensarem em como usar as ferramentas modernas, não seguir o hype. Só porque todos seus amigos estão em uma rede social e deixam seus dados pessoais lá, você não precisa fazer isso. Quem controla sua vida é você. E você é responsável pelas ações que realiza.

Falando em ciberativismo, isso me remete ao caso Wikileaks, que parece ter tido um impacto forte no disco novo, Reset (2015), considerando que a cultura da vigilância é tema de algumas letras. Isso procede? Você acredita que a maioria das pessoas tem noção sobre essa invasão de privacidade que vivemos?
Alec Empire
– O álbum principal sobre esse assunto é o Is This Hyperreal. Acredito que as pessoas deveriam saber, a essa altura, sobre o que está em jogo. O problema é que a indústria da música tenta evitar que se fale sobre o assunto. Tem muito a ver com quem detém o poder. Inúmeros músicos ficam em silêncio e isso nos assombrará no futuro. Vivemos um tempo importante, parecido com o do final dos anos 1960, quando a música teve papel fundamental no fim da Guerra do Vietnã. Um músico que não fala verdades tem papel irrelevante.

Edward Snowden denunciou que a agência estadunidense NSA estava espionando o governo brasileiro. Você sabia disso? Na sua opinião, porque grandes nações vigiam países emergentes? Seria parte de um novo modelo de colonialismo ou algo do tipo?
Alec Empire
– Acho que essa é a natureza dos governantes. Sempre foi. Às vezes, não há nem mesmo uma má intenção por trás disso. É uma corrida. Se a tecnologia possibilita atitudes assim, eles a usarão antes que outros utilizem.

Mesmo explorando verdades não muito positivas nas letras de Reset, o álbum parece passar sinais de esperança no futuro. Não sei se a expressão se aplica, mas seria algo menos negativo. Essa visão um tanto otimista é intencional?
Alec Empire
– O futuro está em nossas mãos, mas temos de nos importar com ele. Não apenas reagir.

As partes instrumentais de Reset parecem conduzir o ouvinte por ritmos menos pesados do que em seus outros álbuns, embora a agressividade esteja presente nas faixas. São beats mais acessíveis. É algo como disse Emma Goldman disse: “se eu não posso dançar, não é minha revolução”?
Alec Empire
– As pessoas sempre dançaram com nosso som. Quanto mais o tempo passa, mais elas entendem nossa música. Não pensamos em ser mais acessíveis quando compomos, apenas criamos a música que amamos. Não há rótulos envolvidos, nós controlamos o Atari Teenage Riot e somos livres para fazer o que bem entendermos.

Sendo classificado de digital hardcore – um dos pioneiros do gênero, inclusive –, gostaria de saber como vocês percebem que a comunidade punk reage à postura do ATR hoje em dia e no passado?
Alec Empire
– Realmente não sei. Os punks que ouvem nosso som obviamente gostam, mas existem alguns que simplesmente não curtem música eletrônica e preferem coisas mais tradicionais do estilo. O que é normal.

Já tiveram alguma encrenca por estar tanto tempo alertando sobre o autoritarismo e engajados com algumas verdades? Tipo algum tipo de violência, perseguição política ou censura?
Alec Empire
– Nosso disco Future of War (1997) foi censurado na Alemanha. Desde então, sou tratado como um radical extremista. Quem me conhece e segue o que estou dizendo sabe que não me enquadro nessa categoria. Acho que as autoridades germânicas cometeram um erro nesse caso. Criamos músicas que fazem as pessoas pensar e que nunca manipulou ninguém para agir de forma violenta. Quando os fãs ouvem nosso som eles aprendem a lidar com a raiva. Todos que frequentam shows do ATR sabem disso.

Vemos muitas bandas falar sobre revolução, amaldiçoar o capitalismo e reclamar sobre a situação em que vivemos. Mas, muitas delas apenas na teoria. Como você diria que é possível trazer isso para a vida real e agir contra aquilo nos oprime? Vocês participam de ações diretas?
Alec Empire
– Em primeiro lugar, é preciso pensar antes de agir. Por isso a música é importante. Tocamos em festivais antifascistas e até mesmo em protestos. O ativismo pessoal á algo que não gostamos de nos gabar em público. É um lance que fazemos como cidadãos, e não como artistas. Determine sua própria vida e não deixe ninguém controlar você.

Há um trecho na letra da música ‘Amerika’, do Rammstein, que diz: “coca-cola, sometimes war”. Pode parecer bobo, mas isso me faz pensar sobre como o imperialismo cria distrações para a população enquanto grandes corporações escravizam nossas mentes para pensar de acordo com o que elas querem. Minha pergunta é: o quão importante é usar da visibilidade para fazer as pessoas refletirem sobre o mundo que nos cerca, principalmente no que há de errado no planeta?
Alec Empire
– Penso que todo artista tem a responsabilidade de usar sua voz e fazer as pessoas pensarem. Não creio que há um emburrecimento das massas, no entanto. Permaneça leal a você mesmo e não se comprometa com a audiência. É preciso encontrar o balanço ideal. Claro que queremos novos admiradores, mas, muitas vezes, é preciso fazer o que se acha correto. Não se tornar um escravo do público. Isso geralmente resulta em suicídio, abuso de drogas e outras coisas destrutivas.

Aproveitando o gancho da pergunta anterior: você curte a cena eletrônica/industrial alemã que tem bandas como Rammstein, Wumpscut, Oomph, KMFDM e Die Krupps? Quais artistas da Alemanha recomendaria?
Alec Empire
– Eu curto mais o velho krautrock. Bandas como Neu!, Cluster, Faust e Harmonia. Também recomendaria o new wave alemão dos anos 1980. Tudo de D.A.F a Der Plan.

Se você pudesse apertar o reset e programar um restart na humanidade, como seria?
Alec Empire
– Isso é, às vezes, um mal-entendido. Não usamos a palavra ‘reset’ no sentido de começar tudo novamente após uma bomba atômica. Nossa ideia é de que precisamos focar no futuro ao invés de compreender e se desculpar por conflitos de muitos anos atrás. Reset é um interruptor que todos podemos acionar. Veja o ser humano em primeiro lugar e, então, tente construir um futuro melhor trabalhando em conjunto. Todos devemos ter liberdade.

por Homero Pivotto Jr.

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