segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

50 Anos de Silvio Campos

Silvio com a Maquina Blues
Era uma vez um moleque de 16 anos meio deslocado e perdido no mundo que odiava o lugar onde morava e quase tudo o que via à sua volta, mas que não tinha muita noção de como colocar pra fora toda essa raiva. Até que ele entrou em contato com uma musica libertária e a adotou como sua forma de expressão – mesmo que não soubesse tocar nenhum instrumento e fosse um péssimo vocalista. O que restava? Escrever sobre. Mas ele também não era jornalista. Tinha, no entanto, o espírito que norteou o punk, do “faça você mesmo”, e resolver fazer uma “apostilha” para distribuir na cidade e, quem sabe, arrebanhar alguns companheiros naquela sua empreitada “roquística”. Ter alguém com quem conversar sobre o assunto, só isso ...

O que ele tinha feito era um fanzine – uma “revista de fã”, artesanal – mas ele não sabia disso. Soube quando recebeu um pacote recheado de material semelhante produzido por todo o Brasil, remetido da capital, Aracaju – o moleque era eu, e morava em Itabaiana – por Silvio “suburbano”, vocalista da karne Krua, banda pioneira do punk rock/Hard Core local. Ali ele entrou em contato com uma verdadeira rede subterrânea de informação que ele não fazia a menor idéia de que existisse ...

Este foi apenas o primeiro contato entre mim e essa grande figura, que eu conheci pessoalmente algum tempo depois ao finalmente visitar sua lojinha especializada, a Lokaos, que ficava na garagem de uma casa no Bairro Cirurgia. Ficamos amigos, e tenho orgulho em dizer que a amizade dura até hoje, passados quase 30 anos. Com ele aprendi muito, seja em conversas regadas a musica em suas lojas – agora é a Freedom, que fica na Rua Santa Luzia, numero 151, no centro de Aracaju – ou nas inúmeras viagens que fiz acompanhando a karne krua.

Hoje ele está completando 50 anos de vida. Ano passado fiz uma resenha do show – mais um! - que havia acabado de ver da Karne em Salvador, para marcar a data. Um “presente” pequeno, insignificante mesmo, já que Silvio é o tipo de cara com uma importância tão grande que qualquer coisa seria na verdade muito pouco para demonstrar o carinho que não apenas eu, mas todos os que estão, de alguma forma, envolvidos com o cenário musical independente local, temos por ele. Feliz Aniversário, “velho guerreiro”!

Por coinidência – ou não! – ontem fiz mais uma resenha de um show no qual ele estava à frente, como vocalista. Nem lembrava da data festiva – perdão, sou desligado desse tipo de coisa, datas e tal. Reproduzo-a abaixo, para repetir o gesto do ano passado – quem sabe, de repente vira uma “tradição” ...

Num cantinho do mundo esquecido pelos holofotes da mídia de massas, a curva da coroa do meio ao lado do farol onde fica o Capitão Cook, de onde podemos sentir a brisa marítima e o barulho das ondas quebrando nas pedras, a Maquina Blues lançou seu mais novo “single” virtual no dia primeiro do corrente mês. Num mundo mais justo, muito mais gente conheceria e reconheceria este excelente “combo” blueseiro que desfila com um feeling sobrenatural um repertório autoral impecável, conduzido pela perfomance sempre visceral do já imortal Silvio Campos, verdadeiro pilar da musica alternativa de nosso estado.

Conheço Silvio há mais de duas décadas e posso atestar que, mesmo do alto de sua militância “roqueira” atuando principalmente nas hostes punk e Hard Core, ele sempre foi um cara aberto aos “bons sons”, de uma forma geral, e sempre nutriu o desejo de ter uma banda de blues. O sonho se materializou a partir do encontro com Melcíades, guitarrista talentoso e dedicado, e evoluiu a partir das raízes do estilo até se lapidar em composições próprias cheias de malícia e muita personalidade, incorporando elementos regionais sem “forçação de barra”.

Escudados por uma cozinha poderosa comandada pelo baixista Paulinho e pelo baterista Junior “Riqueza”, promoveram naquela noite uma verdadeira celebração, com um repertório próprio intercalado por versões de músicas de suas principais influencias confessas: Santana, John Lee Hooker e Celso Blues Boy, dentre outros. Executadas com maestria e arranjos diferenciados, com a cara da banda, sem, contudo, descaracterizar a melodia original.

Destaque para a execução de “Blues triste”, a excelente música título do single que estavam lançando, e para a participação de Adriano, ex-baterista e membro fundador, em uma das canções. Destaque também para o fato de que todos os que estavam presentes, num numero razoável, de acordo com o porte da apresentação, estavam REALMENTE presentes - lá dentro, vendo o show. Isso mesmo: não havia praticamente ninguém fora do bar, na já tradicional “Balada de porta” tão característica do local.

Outro tipo de público, certamente.

Um feito!

A.

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