quinta-feira, 30 de junho de 2011

Amanhã, no programa de rock ...

O Anthrax liberou na internet a primeira faixa do seu novo álbum “Worship Music”, que tem data de lançamento agendada para o dia 13 de setembro, pela Megaforce Records nos Estados Unidos e pela Nuclear Blast no restante do mundo. A música ”Fight ‘em’ til You Can’t”, cuja ilustração do single você pode ver ao lado, pode ser ouvida nos links gerados pelas gravadoras, que também disponibilizaram a faixa para download gratuito.

O álbum novo marcará o retorno do vocalista Joey Belladonna ao grupo em estúdio. Ele, que participou da maioria dos discos clássicos do Anthrax, não gravava um álbum com a banda desde 1990, quando foi lançado o bom disco “Persistence of Time”.

Também será o primeiro disco do Anthrax desde 2003, quando foi lançado o álbum “We’ve Come for You All”, que ainda contava com o ótimo vocalista John Bush nos vocais.

Apesar de Bush ter substituído brilhantemente Belladonna a partir de 1992 e ter contribuído com o ótimo disco “Sound of White Noise”, Belladonna é a cara da banda. Isso já podia ser constatado nas performances ao vivo do vocalista clássico na turnê recente do Big Four do thrash metal (Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax) e, agora, nesta nova faixa.

A música é matadora e parece trazer o grupo aos seus melhores momentos da década de 80. Desde a guitarra espetacular de Scott Ian até a bateria matadora de Charlie Benante, passando pelo baixo de Frank Bello, fica bastante claro que a banda está voltando com tudo. Da formação clássica, apenas o guitarista Dan Spitz está ausente, mas ele é substituído muito bem por Rob Caggiano, que também fez parte da produção do novo álbum, ao lado de Jay Ruston, que foi responsável pela mixagem do DVD ao vivo “The Big 4 Live in Sofia”.

O novo álbum do Anthrax teve seu processo de gravação realizado por longos quatro anos, em estúdios de Nova York, Los Angeles e Chicago. A volta de Belladona fez com que as músicas já definidas fossem alteradas, inclusiva com a mudança em algumas letras.

por Flávio Leonel

Roque Reverso

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Lemmy, sempre.

Incomoda-lhe o fato de que o Metallica conseguiu fama e fortuna e o Motörhead não?

Lemmy: "É simplesmente uma questão de sorte marcada. Você tem que estar no lugar certo e na hora certa. Chegamos atrasados demais para a primeira invasão britânica e cedo demais para a segunda".

Você se tornou mais popular nos Estados Unidos por ser Lemmy do que pelo Motörhead em si.

Lemmy: "Sou grato pelo que tenho, não reclamo. Acho que me tornei mais popular por não decepcionar as pessoas. A pior coisa é você admirar alguém e essa pessoa lhe desapontar. Você vai conhecer alguém pensando que é uma pessoa excelente e ela se revela como alguém completamente idiota, isso é horrível".

Nem Motörhead nem Lemmy fizeram concessões.

Lemmy: "Concessões são idiotas. A mais divertida foi quando tentaram fazer com que cortássemos o cabelo. Um empresário antigo achava que poderíamos alcançar uma audiência maior se fizéssemos isso. Disse 'então é isso, acho que não vamos alcançar uma audiência maior'".

Você acompanhou o início da Blizzard of Ozz.

Lemmy: "Foi a turnê em que conheci Ozzy. Eles eram uma banda melhor que o Sabbath. Sabia que seria assim, pois nunca gostei do Sabbath. Realmente gostei de Ozzy com a Blizzard of Ozz".

Você viu talento em Randy Rhoads?

Lemmy: "As pessoas se tornam melhores depois de mortas, essa é a verdade. Veja Buddy Holly e Stevie Ray Vaughan, ninguém dava a mínima pra eles quando estavam vivos. Eram apenas caras que tocavam guitarra. De repente eles morrem e tornam-se grandes influências. Isso é uma besteira. Não estou dizendo que Randy não era bom, pois ele era, mas a morte aumenta as coisas. Randy era um cara baixinho, direito e humilde".

Como você pode estar no mundo dos negócios musicais e não se importar com vendas e paradas de sucesso?

Lemmy: "Isso é o que está errado no rock n’ roll, cara. Há muitos músicos que se tornam homens de negócio. Se você é um músico deveria se preocupar em contratar advogados competentes para cuidar da burocracia e cuidar só da música".

Há algum tipo de música que você não suporta?

Lemmy: "Hip-hop. Acho que é a pior música que os negros já fizeram. Entrei nessa vida por causa dos discos feitos por negros. Comecei com o blues, passei para Chuck Berry e depois os discos da Stax Records e da Motown. Hip-hop é uma continuação dessa tradição? Acho que não. Mataria por Little Richard, ele fez o melhor rock de todos os tempos".

Você se deu bem com o sexo oposto. Qual o segredo?

Lemmy: "Não pare de falar, envolva-as e seja cavalheiro. Seja um cara correto, já que as garotas conhecem muitos caras errados. Sempre fui assim, Hendrix também. Ele sempre puxava as cadeiras para as garotas e eu também faço isso. Algumas feministas extremas consideram isso uma padronização, mas eu não vejo as coisas assim. São apenas boas maneiras. As que reclamam são barangas feiosas que não conseguem sequer um encontro".

Você veio da Inglaterra para a América. Isso lhe dá uma visão diferente das coisas. O que você pensa sobre a política nos Estados Unidos?

Lemmy: "Melhor não dar minha opinião ou serei preso amanhã. Acho o que você acha, o homem é um desastre e não há ninguém para substituí-lo. Não há uma aposta melhor. Acho que os americanos confiam demais. Confiaram que Bush faria um bom trabalho e ele não fez. Muitas pessoas não querem admitir que erraram. A América é controlada por extremos. Ou você é extremamente violento, ou extremamente liberal ou extremamente religioso. Esses diferentes lados nunca se relacionam. A América é muito certa de si, pois todo mundo vem pra cá dos mais variados lugares. É a nação mais poderosa do mundo e apenas um cara controla esse poder. Ir para o Iraque é como ir para o Vietnã. Dois mil garotos não vão mais voltar para casa porque Bush queria petróleo. Agora ele tem e o preço do gás subiu. Tenho certeza que ele está ganhando muita grana com isso. Acho que todos os políticos são uns idiotas. Lembro quando Harold Wilson foi eleito primeiro-ministro na Inglaterra em 1966. Fui vê-lo em uma audiência pública em Manchester e lembro de pensar 'que cara mentiroso!' enquanto ele falava. Notei que não havia em quem votar, apenas votar contra quem você não queria. Quando se tem que escolher o menos pior não é um bom sinal. Você precisa de alguém em quem possa acreditar e que irá justificar essa crença. Kennedy foi o último bom presidente. Olhando para trás, Clinton não era de todo ruim".

Minha grande decepção com Clinton foi que ele poderia ter pego algo melhor que Mônica Lewinsky.

Lemmy: "Exato. Kennedy pegou a Marylin Monroe. Isso diz tudo".

Classic Rock Revisited, janeiro de 2008

Traduzido por João Renato Alves

Fonte: Whiplash

terça-feira, 28 de junho de 2011

Morrissey, "Alive and Kicking"

Há duas semanas, Morrissey estreou três músicas inéditas na BBC Radio e contou que já tem músicas prontas para um novo álbum, mas não tem contrato com gravadora para lançá-lo. Em entrevista ao Pitchfork, o músico declarou que um lançamento independente, à la Radiohead, não está em seus planos.

"Não sinto necessidade de ser inovador neste sentido. Ainda estou preso no sonho de um disco que vende bem não por causa do marketing, mas porque as pessoas gostam das músicas", explicou o ex-vocalista do Smiths.

Morrissey admitiu que esperava que as novas músicas despertassem o interesse de um selo para lançar seu décimo disco solo e, consequentemente, arcar com os custos da gravação.

"Não há muito que eu possa fazer a respeito. Depois que vem a público que você não tem um contrato, espera-se que alguém venha e feche com você. [...] Acho que a maioria das gravadoras querem contratar novas descobertas, para que aquela gravadora seja vista como a responsável pela ascensão daquele artista. Não há muitos selos que queiram bandas que já deixaram sua marca, porque seu sucesso já está associado a algum outro selo, em outra época. A maioria dos artistas são lembrados pelos discos que os lançaram, ou que marcaram seu sucesso. Por esse motivo, a imprensa só me menciona quando estou relacionado à história do Smiths, e o fato de que eu já tive três álbuns solo que chegaram ao número um [nas listas de mais vendidos] - ou que eu tenho 25 anos de carreira solo -, nunca é mencionado", declarou.

Mesmo previsão de lançamento, Morrissey falou sobre seu novo trabalho. "Todas as músicas são muito fortes. Só não quero divulgar mais nenhuma ainda porque se não, antes que você perceba, o álbum passará a existir em vários formatos, exceto como gravação finalizada de estúdio".

Fonte: Omelete

IMMERSION


O site Rock em Geral teve acesso a cerca de 45 minutos do material do relançamento da série “Immersion” (a mais completa), do Pink Floyd. Clique aqui para ver todos os detalhes, incluindo os track lists de cada versão, e veja abaixo as impressões iniciais da audição:

The Dark Side Of The Moon (1973)

1- Concert Screen Film - North America Tour 1975 - Speak to Me
É o filme de abertura da turnê do álbum, com imagens semelhantes às das cenas de abertura do longa “The Wall”, o que mostra que as ideias do filme e do disco “The Wall” já rondavam a banda muito tempo antes do lançamento.

2- Speak to Me / Breathe (In The Air) (2011 Audio Remaster)
A qualidade do som surround é de impressionar, sobretudo nessas músicas, cheia de efeitos, que abrem o álbum. As versões são idênticas às originais, mas se ouve mais coisa com a atual remasterização.

3- The Great Gis In The Sky (1972 Original Mix)
A versão original da música que consagrou a cantora Clare Torry aparece aqui como curiosidade. Foi ouvindo esta versão demo, sem os vocais, que a banda decidiui contratar uma vocalista. Em 2006 Clare ganhou na justiça a co-autoria da música, uma vez que ela realmente criou uma melodia musical dentro da base existente;

4- Money (Live At Wembey 1974)
Essa versão e “Money” gravada ao vivo é tão pesada e crua que parece de uma banda cover. A nitidez dos instrumentos é impressionante, tão limpa que parece que o ouvinte está num ensaio ou passagem de som. O momento solo de David Gilmour é de fazer imaginar a cena dele tocando na beirada do palco, em frente à multidão. Esta gravação circula há anos, como bootleg, entre os fãs, e agora ganha versão com qualidade - a julgar por estes oito minutos e pouco - realmente excepcional

Wish You Were Here (1975)

1- Concert Screen Film - Shine On You Crazy Diamond
Dessa vez o filme de abertura dos shows remete mais diretamente aos desenhos do filme “The Wall”, já que a animação é assinada por ninguém menos que Gerald Scarfe, responsável também por “The Wall”. No lugar da luta do homem com a vagina e da ausência paterna, aqui o tema é a loucura. A faixa-título e o disco são homenagem ao genial Syd Barrett, ex-integrante da banda que mergulhou de cabeça na viagem das drogas lisérgicas e jamais voltou.

2- Wish You Were Here (alternative version with Stephane Grappelli)
Enquanto gravava o disco na sala 2 dos Estúdios Abbey Road, em Londres, na sala 1 uma orquestra fazia outro trabalho. Assim Waters e Gilmour conheceram dois integrantes e os convidaram para participar em uma das sessões. Foi assim que o violinista Stephane Grappelli gravou essa versão sensacional para “Wish You Were Here”, descartada na versão final do LP. Afora a adição do violino, que parece um trabalho atual, tamanha a clareza da gravação, se salienta o diálogo entre os violões base e solo, de Waters e Gilmour.

The Wall (1979)

1- Another Brick In The Wall Part 1 (demo)
Nessa versão crua da música, cuja segunda parte é que é a famosa, há timbres e letras diferentes os usados na versão final do LP. Como as versões das séries “Experience” e “Immersion” deste disco ainda estão em fase de seleção, esta amostra pode não ser significativa.

2- Comfortaby Numb (2011 Audiuo Remaster “Is There Anbody Out There? - The Wall Live”)
Espetacular versão gravada ao vivo em na turnê subsequente ao álbum, com remasterização de rara nitidez. O solo desta música certamente está entre os mais emblemáticos do mundo, além de ela ser uma das últimas grandes parcerias entre Roger Waters e David Gilmour.

por Marcos Bragatto

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Heavy Metal - A História Completa

Apesar do texto excessiva e desnecessariamente “épico” que, em alguns trechos, parece ter sido escrito por Joey DeMaio, do Manowar, ou por alguém do Massacration (o que, na verdade, não faria muita diferença), da tradução descuidada e da capa da edição brasileira, absolutamente horripilante, “Heavy Metal, a História Completa”, do norte-americano Ian Christe, é, provavelmente, a melhor e mais completa obra já escrita sobre este estilo musical que desperta sentimentos igualmente intensos de amor e ódio (nunca indiferença) ao redor do mundo.

Tudo começa, evidentemente, com o Black Sabbath, e é este o primeiro dos muitos acertos do autor: apesar de terem havido precursores, como o Blue Cheer e seu antológico “Vincebus eruption”, foi com o Black Sabbath que o metal deu seus primeiros passos. Outra sentença do livro com a qual eu concordo é a de que a maioridade do estilo foi alcançada no final dos anos 70, quando o Judas Priest deixou de ser “apenas” mais uma boa banda de Hard rock para se assumir, explicitamente, como Heavy metal, coisa que o Sabbath nunca fez. O Judas lapidou o estilo tanto musical quanto visualmente, com toda aquela já célebre iconografia repleta de tachinhas de metal ornamentando roupas de couro. Daí para a NWOBHM e a “festa” que foram os anos 80 foi um pulo ...

Christe dá um destaque especial para algumas bandas, notadamente o Metallica, cuja trajetória é praticamente esmiuçada e, a partir de determinado momento do livro, serve como fio condutor da narrativa. Narrativa que é rebuscada, detalhada e, mais importante, perfeitamente contextualizada – além de ser pontuada por infinitas listas, uma verdadeira obsessão do autor. Tem lista pra tudo: de maiores discos da história deste ou daquele subgênero (alguns bem obscuros) às músicas de maior duração.

Foi assim, com este apreço à analise e à contextualização, que fatos como a “corrida pela velocidade” deflagrada pelo “speed metal” são esmiuçados de forma extremamente competente - corrida ganha, diga-se de passagem, pelo Napalm Death, que com seu até hoje impressionante “From Slavement to obliteration” fez surgir um novo subgênero musical, o mais infame e extremo de todos, o “grindcore” (acho o segundo disco do Napalm mais emblemático para o estilo, já que “scum” ainda carrega fortemente a sonoridade do Hard Core “crust”). O mesmo acontece com o trecho que discorre sobre o flerte do metal com o rap, que começou com o Aerosmith e o Run DMC e desembocou na antológica colaboração entre o Anthrax e o Public Enemy, passando pelo “funk metal” do Faith No More e pelo furioso Body Count, de Ice T. - o livro reproduz, por sinal, muitas declarações de Chuck D., certamente uma das maiores cabeças pensantes da música contemporânea.

A narrativa é, ainda, pontuada por deliciosas histórias de bastidores, algumas bastante desconhecidas, outras de amplo conhecimento publico mas que acabam adquirindo uma nova dimensão ao serem inseridas numa linha de tempo que demonstra o quanto a história do Heavy Metal é rica em fatos e conceitos. Exemplo: eu não sabia, mas o Celtic Frost não foi mais uma das muitas bandas a simplesmente piratear uma imagem de HR Giger para reproduzi-la na capa de um de seus discos. Segundo Christe, eles entraram em contato com o artista plástico via carta e foram surpreendentemente bem recebidos pelo mesmo, ao ponto de se tornarem amigos de longa data. Outro exemplo: há uma engraçadíssima descrição de como o Manowar se aproveitou da suposta “traição” do Metallica para se promover - os membros da clássica banda thrash californiana haviam cortado os cabelos e recheado o encarte de seu último disco com fotos tiradas por um fotógrafo da moda, Anton Corbijn. Por conta disso, em seus shows da época os eternos guerreiros do metal, assim que identificavam alguém com uma camiseta da banda “rival” na platéia, o chamavam ao palco e o exortavam a abandonar aquele “caminho da perdição” e voltar ao seio do verdadeiro Heavy Metal. A “conversão” era coroada pela troca da camiseta por outra do Manowar, entre goles de Jack Daniels, para o delírio da audiência.

Um dos melhores capítulos de toda a obra, no entanto, é o que disseca a polêmica cena Black metal da Noruega com uma lucidez e apego aos detalhes poucas vezes vista. Sua análise, mais uma vez, é precisa, ao explicar, por exemplo, como o cristianismo foi imposto de forma violenta ao país dos vikings há cerca de mil anos atrás, o que gerou um descontentamento histórico que perdura até hoje em boa parte da população. A análise do autor vai além da abordagem simplista e sensacionalista focada apenas na queima de igrejas e no culto ao satanismo para explorar a inventividade de boa parte dos nomes mais célebres do cenário da época, cujo som ia do minimalismo extremo e selvagem a sofisticados climas “ambient” onde procuravam reproduzir a atmosfera lúgubre das florestas de sua terra – tudo isso, é claro, sem deixar de contar, em detalhes, toda a história do mais famoso epísódio ocorrido no período, o assassinato de Euronymous, do Mayhen, por Varg Vikernes, do Burzum.

O livro só não é mais completo porque foi publicado originalmente em 2003, o que nos deixa ávidos por colher as impressões do autor sobre alguns fatos recentes e marcantes na história do estilo, como o lançamento dos documentários de Sam Dunn (a quem ele indiretamente acusou de plágio recentemente em uma entrevista) e a impressionante “volta por cima” do Iron Maiden que, depois de uma longa fase de decadência nos anos 90, começou a se recuperar com a volta de Bruce Dickinson (devidamente registrada no livro), na virada do milênio, e hoje está novamente no topo, com direito a premiação no Grammy e tietagem explicita de Lady Gaga, a maior estrela pop da atualidade – tudo isso coroado pela antológica turnê “somewhere back in time world tour”, que levou a banda a incluir em seu roteiro de shows territórios ainda não exploradas, como a vizinha Recife, em Pernambuco.

Grande livro, enfim, ricamente ilustrado, impresso em papel de boa qualidade e com uma encadernação gostoso de se manusear. Recomendo a leitura, sem sombra de dúvidas.

por Adelvan kenobi

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Detalhes:

TÍTULO: HEAVY METAL: A HISTORIA COMPLETA
TÍTULO ORIGINAL: SOUND OF THE BEAST: THE COMPLETE HEADBANGING HISTORY OF HEAVY METAL
ISBN: 9788502085374
AUTOR: Ian Christe
TRADUTOR: Milena Durante | Augusto Zantoz

IDIOMA: Português
ENCADERNAÇÃO: Brochura
FORMATO: 16 x 23
PÁGINAS: 480
ANO DA OBRA/COPYRIGHT: 2003
ANO DE EDIÇÃO: 2010
EDIÇÃO:

FOO FIGHTERS 3D NO CINEMA EM ARACAJU

James Moll gostava da banda, mas nunca tinha ido a um concerto deles. Pianista de formação erudita, um dia teve de escolher entre a carreira de músico e a de cineasta. Optou pela segunda. Em 1998, ganhou um Oscar pelo documentário Os Últimos Dias (The Last Days, financiado pela Shoah-Foundation, de Steven Spielberg, fundação criada para manter viva a memória do extermínio de judeus na 2.ª Guerra).

Spielberg e Moll voltaram a se associar no ano 2000, reunindo um grupo de cineastas para fazer filmes sobre o Holocausto em cinco países. O projeto reuniu Andrzej Wajda, Luis Puenzo (de A História Oficial), Vojtech Jasny, Pavel Chukhraj (de O Ladrão) e Janos Szasz.

Com esse currículo, dificilmente alguém conseguiria adivinhar qual foi o passo seguinte de James Moll. Durante quatro meses, o documentarista seguiu o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Dave Grohl, que integrou a mais importante banda de rock dos anos 90, o trio Nirvana.

Em 1995, um ano após o suicídio do parceiro Kurt Cobain, Dave Grohl chacoalhou a poeira e recomeçou tudo com uma banda que logo se tornaria uma das maiores da América, o Foo Fighters – hoje integrada pelo baixista Nate Mendel, os guitarristas Pat Smear e Chris Shiflett e o baterista Taylor Hawkins. Back and Forth, o documentário, estreia sexta-feira no Brasil, acompanhado da exibição em 3D do novo show da banda, inédito no País.

Em geral, as bandas fazem filmes sobre a carreira para registrar seu legado, realçar sua importância histórica. Não é o caso do Foo Fighters, que está no auge. Então, por que fazer um documentário sobre a banda?

Você deve perguntar isso ao Dave (Grohl, líder do grupo). Da minha perspectiva, o que posso dizer é que me parece legal ver uma banda no auge de sua popularidade. É melhor do que uma banda à beira da aposentadoria. Para mim, trata-se de contar uma história narrada pelos seus protagonistas, essa foi minha preocupação central. Dave fala de maneira confortável sobre seu passado no Nirvana, assim como seus colegas das ex-bandas que integraram. E também ouvi ex-integrantes. É uma distinção importante: não é um filme sobre rumores, mas sobre o que se passou segundo as palavras de quem viveu aquilo.

Filmes sobre rock sempre trazem coisas picantes, sexo em limusines, quartos de hotel estourados. Seu filme não tem esse ritmo, examina a rotina, o dia a dia, com paciência…

Essas coisas de filmes de rock são quase uma fórmula, não? Eu foquei nos personagens. Da primeira vez que os encontrei, gostei deles e de sua banda. Durou três horas nosso primeiro encontro. E quis conhecê-los de verdade. Queria mostrar os integrantes da banda não como rock stars, mas como pessoas. Há uma diferença. A coisa do rock star é um tipo de fantasia, uma ilusão. Claro que comparece, mas eu não queria isso, queria ver o que havia por trás.

Muitos filmes sobre rock foram feitos por cineastas consagrados, como Martin Scorsese, que dirigiu documentário sobre os Rolling Stones. Você viu esses filmes antes de começar o seu trabalho?

Vi alguns, incidentalmente. Não tenho ídolos entre esses cineastas. Intencionalmente, eu me mantive afastado disso quando pensei em começar a filmar a história do Foo Fighters. Teve até um momento em que Taylor (Hawkins) me perguntou quais desses filmes eu tinha visto e eu não conseguia responder. Não me lembrava de nenhum. Até considerei assisti-los, mas decidi não ver. Pensei: vou deixar o material que tenho em mãos me dizer qual é o caminho que o filme vai seguir.

Você é pianista. Ainda toca piano?

Sim, toco de vez em quando. Estudei música clássica, minha mãe era cantora, aposentou-se há algum tempo. Também toquei música contemporânea. Mas Foo Fighters eu só acompanhei como fã, nunca teria a manha de tocar as músicas deles. Sempre gostei do que fazem. Um dia, fui chamado a conversar com Nigel Sinclair (produtor), e ficamos um tempão falando de amenidades. Ele me perguntou qual era meu sonho, o que eu queria fazer em meu próximo projeto. “Eu sempre sonhei em fazer um filme sobre rock”, eu disse. E ele: “Bom, então o que você acha do Foo Fighters?” Eles já estavam com o projeto. Eu achei o máximo, topei imediatamente. Poucos dias depois eu já estava reunido com a banda.

Você sabe, o Foo Fighters vem depois de um grupo lendário, o Nirvana. É como uma sombra que paira sobre um grupo, como o Joy Division sobre o New Order. Como você lidou com isso?

Não vi essa sombra… Depois de 16 anos excursionando, acho que eles não têm mais esse peso. Dave trata com grande naturalidade, é parte da história dele e ele não nega. No início, ele conta que queria muito separar o que era hoje do que tinha sido, mas depois viu que era uma bobagem. Sei que o Nirvana foi um grupo sem paralelos, mas eu apreciei a música dos dois grupos separadamente. E o grupo falou disso sem problemas. Há alguma reticência somente em abordar o assunto Courtney Love, porque eles enfrentaram algumas disputas. Ainda assim, eles falam sobre ela. Não explorei muito isso, porque meu objeto não era o Nirvana, se entrasse nessa área acabaria ficando mais um filme sobre o Nirvana e não havia necessidade disso.

Bom, você registrou quase integralmente os ensaios e a gravação do mais recente álbum dos Foo Fighters, Wasting Light. Tem gente dizendo que é o melhor da carreira deles, e que o Foo Fighters não tem tradição de fazer bons discos, mas sim shows memoráveis. O que você acha disso?

Quando comecei a fazer o filme, nunca tinha ido a um show deles. A primeira vez que estive lá, senti a energia. Pensei: cara, isso aqui soa bom demais, porque eles têm de ensaiar? Há uma espontaneidade, uma característica única desses caras tocando juntos. Mas acompanhei também o trabalho de pesquisa, em estúdio, que é um processo mais longo e, obviamente, sem paralelo de comparação. Também é uma atividade incrivelmente criativa. Houve momentos, dentro da garagem de Dave Grohl, que tive de operar câmeras por controle remoto do lado de fora, porque era tão apertado que não dava para entrar.

E o disco novo, o que acha dele?

Acompanhei todo o processo e ainda ouço o disco em casa. É um grande trabalho, e eu diria, sem medo de errar, que é um dos melhores da carreira deles. Quando acompanhei aquilo sendo gravado – é tudo fragmentado –, não dava para saber qual seria o resultado final. É uma experiência fascinante. Quando vi tudo junto, fiquei ainda mais vidrado.

pOR Jotabê Medeiros

Fonte: estadão

terça-feira, 21 de junho de 2011

The Baggios, o disco.

Os registros lançados até o momento não passaram de um aperitivo, aquela dose que a gente entorna pra limpar a garganta e preparar o palato para o que realmente interessa. O primeiro disco da banda The Baggios passa a história do duo formado por Julio Andrade e Gabriel Perninha a limpo e cristaliza, com o apuro e cuidado merecidos, o talento e vigor de uma das melhores bandas independentes em atividade no país. Ainda por cima, é coisa nossa!

Quatorze faixas costumam ser demais. Difícil encontrar alguém com paciência suficiente pra reservar uma hora do dia à audição de um disco inteiro, de cabo a rabo, sem pular nenhuma faixa. No caso da Baggios, contudo, as canções se sucedem numa espécie de vertigem barulhenta, como se um mantra pontuado por cortes de navalha e estilhaços de garrafas nos hipnotizasse e impusesse os riscos das madrugadas embriagadas. Hey, baby! Take a walk on the wild side.

Sim, em se tratando da Baggios, não consigo economizar adjetivos. Eu sou todo alegria e satisfação. Do material gráfico à energia impregnada nas patadas de Julico, um frontman sem paralelo, esse primeiro disco é primoroso. Do encarte repleto de momentos singulares, o cotidiano da banda eternizado pelas lentes da Snapic, à textura da gravação, que realça os timbres da guitarra sem desrespeitar a natureza visceral das composições, o disco não fica devendo nada às apresentações dos caras. É coisa fina, nascida nas entranhas.

Aqui e ali, em pequenos intervalos, algumas das influências (assumidas ou não) dos caras florescem. De Robertão (favor não confundir com a chatice mela cueca de Roberto Carlos) a White Stripes, passando pelo lamento rouco dos primeiros blueseiros, as canções da Baggios abraçam as melhores idéias que fazem parte da formação de seus músicos para retrabalhá-las de acordo com as próprias premissas e conveniências.

Diversos na unidade, os caras ainda contam com os auxílios luxuosos de gente como Léo Airplane, Matheus Santana e Hélio Flanders, além de encaixar um naipe de metais muito oportuno em “Quanto mais eu rezo” e na velha de guerra “Candango’s Bar”.Link

Difícil traduzir uma experiência por meio de um recurso tão limitado quanto a palavra. Aqui, talvez baste dizer que ouvir o primeiro disco da Baggios é justamente isso. Uma experiência sensorial comparável somente com uma aparição dos caras nos Cooks e festivais da vida. Você bebe feito um degenerado e transpira baldes, antes de voltar pra casa com a alma lavada – um trapo exausto e feliz.

por Rian - riansantos@jornaldodiase.com.br

Spleen e charutos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

prazeres revisitados

Celebração: No Rio de Janeiro, Peter Hook subtrai os conceitos do Joy Division e converte repertório sombrio em festa marcada por alegria fugaz.

Quem esperava entrar no túnel do tempo, viu celebração. Não que o repertório apresentado pela banda de Peter Hook, ontem, no Circo Voador, não tenha causado comoção e reflexão na caixola dos mais antigos – haviam os mais moços também -, mas o tom foi de festa, não de compenetrada tristeza. Explica-se que o conceito Joy Division, associado à morte precoce do vocalista Ian Curtis, em março de 1980, pautou todo o pós punk que teve ecos tardios por aqui e fazia as pessoas dançarem contra a parede no Crepúsculo de Cubatão e na Ilha dos Mortos. Pois quem esteve no Circo ontem viu tudo isso convertido em alegria fugaz. Porque Joy Division é – acredite - hit de pistas de dança, já sem as paredes.

Baixista dos mais inventivos, Peter Hook estava lá, na gênese de tudo, e tem a moral para festejar o que quiser. Daí, nada de luzes escuras, fumaça, clima soturno. Tudo é festa, com direito à jaqueta do Manchester United lançada ao palco por um fã e camisa 10 da seleção no último bis. Se Ian Curtis se remexe no túmulo não se sabe, mas a opção de deixar este mundo e entrar para a história antes dos outros foi dele. Seguindo esta linha, o show não é nada parecido com um cover ordinário. Não há, por parte dos músicos, grande esforço para soar igualzinho ao disco, embora isso aconteça. Não o tempo todo. “Day Of The Lords”, por exemplo, ganha um peso impossível de ser tirado na sombria Manchester do final dos anos 70. “New Dawn Fades”, com um vocal terrível, e dramática “Insight”, também têm arranjos sutilmente diferentes.

Na maior parte do tempo a banda tem dois baixos tocando juntos. O artifício serve para Hook não precisar tocar na hora de cantar, e aí é que o filhão Jack Bates segura a onda. A imagem que marca é a de Peter Hook na beirada do palco, com o instrumento nos joelhos, pernas arcadas e tocando como um garoto. A cena garante boa vibração por parte do público em “Insight”. Em “She’s Lost Control” é o guitarrista Nat Watson a se destacar, adicionando peso ao minimalismo de origem. A música, colada em “Shadowplay”, é um dos grandes momentos do show. “Killers é o caralho!”, grita um fã mais exaltado, que certamente não gostou da versão feita pelo grupo americano para o filme “Control”. Watson, que vai ser papai, seria homenageado por Hook em “Novelty”, que nem sempre é tocada nessa turnê, no bis.

O show tem a íntegra do álbum “Unknown Pleasures”, e “These Days” é mais uma intrusa, já no segundo bis, numa escolha das mais acertadas. A música segura o pique da dobradinha anterior – foi rápido o intervalo – com a épica “Atmosphere” e “Ceremony”; em festa do Joy Division não poderia mesmo faltar uma ponte com o New Order. E o tecladista Andy Pool, que bocejou durante quase toda a noite, enfim tem trabalho em “Love Will Tear Us Apart”, que carimba o clima de celebração, mais um registro contemporâneo do que um retrato em preto e branco dos dias de melancolia fundados pelo Joy Division. É assim que a humanidade caminha …

Fonte: Rock Em Geral
Texto: Marcos Bragatto
Foto: Divulgação

Set list completo:

1- Incubation
2- No Love Lost
3- Leaders Of Men
4- Digital
5- Disorder
6- Day Of The Lords
7- Candidate
8- Insight
9- New Dawn Fades
10- She’s Lost Control
11- Shadowplay
12- Wilderness
13- Interzone
14- I Remember Nothing
Bis
15- Atmosphere
16- Ceremony
Bis
17- These Days
18- Novelty
19- Transmission
20- Love Will Tear Us Apart

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O último suspiro de um cadáver ...

Sempre quis ver um show no Centro Cultural São Paulo – a configuração do palco é bem diferente, com parte do público vendo o espetáculo do alto, como se a apresentação acontecesse em um buraco. A oportunidade apareceu no último sábado, com o primeiro show de lançamento do último disco (último mesmo, finito, segundo ele divulga a anos) de Rogério Skylab, o Volume X.

Cheguei em cima da hora mas minha amiga (e ídola) Deborah já havia comprado meu ingresso e me esperava na fila com uma outra amiga (dela) muito simpática. Legal: show do maluco-mor do cenário independente brasileiro e em boa companhia, a noite prometia. E as promessas se cumpriram ...

Vimos a apresentação lá do alto. A banda entrou primeiro – três jovens (baixo, guitarra e bateria) e um coroa tocando violão. Grande banda, por sinal. Não tarda muito e lá vem ele, com seus trejeitos amalucados, ovacionado pelo público, especialmente por um maluco lá que encheu o saco de tanto pedir “câncer no cu”. Se posta no microfone e começa a emitir espasmos “poéticos” escatológicos acompanhados por uma dança MUITO esquisita. Canta uma estrofe, dança um pouco, sai do palco e dá uma volta pelo recinto. Volta ao palco e repete tudo de novo.

A primeira música é Corpo e membro sem cabeça. “O dedo mindinho do lula, o olho de Luís de Camões...”, ele canta. Em “tem um cigarro aí?”, cuja letra se resume a este apelo repetido das mais variadas formas, sempre imitando um tipo em especial, seja um mendigo de rua ou mesmo INRI Cristo (foi muito engraçado ver o cara perguntando isso imitando o INRI olhando pra mim!), o público joga cigarros no palco. Normal. Menos normal foi a perfomance de O Corvo, onde ele aparece com um objeto fálico enorme e vermelho, senta na borda do palco e coloca-o na boca. Juro que pensei o que vocês provavelmente estão pensando, mas era uma cenoura, que ele mastiga e cospe os pedaços no microfone durante o “refrão” que se limita a dizer o nome de um remédio para enjôo e vômito, “plasil”. Ao final, contemplando a meleca laranja espalhada pelo chão preto, ele comenta: “até que ficou plasticamente bonito, não?”. Risos. “Boa noite, repararam que eu não gosto de falar muito com a platéia, né?” sim, reparamos – era a primeira vez que ele se dirigia diretamente ao público.

As músicas vão se repetindo, todas com letras minimalistas e totalmente desconhecidas para mim e para minhas companheiras de show, mas ainda assim nos divertíamos muito com as sacadas geniais e, principalmente, com as perfomances esquizofrênicas do cara. A força de Rogerio Skylab reside, afinal, na forma absolutamente visceral com que ele recita os versos mais absurdos, que no final das contas, se reparamos bem, nem são tão absurdos assim: ele apenas ressalta, na maioria de suas letras, um lado mais bizarro da vida que faz parte do cotidiano mas para o qual geralmente não damos tanta atenção.

Fiquei sabendo depois, via internet, que as participações especiais de karine Alexandrino e Astronauta pingüim estavam sendo gravadas para um clipe! Que massa, eu estava presente na gravação de um clipe de Rogerio Skylab! As perfomances, especialmente a de Karine, foram, como direi ... esquizofrênicas: ao final de uma simulação de ataque epiléptico (lembrou a morte de Pris, a personagem de Daryl Hannah, em "Blade Runner") ela saudou o já cinqüentão músico carioca como seu mestre e guru. O publico não esboçou muita reação não, mas eu achei legal. A música escolhida foi “Eu roubei a gravata?” – fraquinha, por sinal.

Já perto do final do show, enfim, alguns “hits”. A que mais agitou a platéia foi “Carrocinha de cachorro-quente”, cuja letra inteira foi cantada por todos e faço questão de reproduzir, veja lá no final da resenha. Absolutamente genial. Outro grande momento foi “Fátima Bernardes experiência” e seu explosivo refrão: “Glóóória mariiiiiaaaaa”. Letra devidamente reproduzida também, vê lá.

Faltou “Matador de passarinho”, que para nós seria importante mas que ele deve estar, compreensivelmente, cansado de cantar (é a “Ana Julia” de Rogerio Sylab), mas não faltou “Música para paralítico”, “Herbert Viana” nem “Matadouro das almas”, o que deixou a “coisa” de bom tamanho. O grand finale foi com “Eu e minha ex” (“queremos amizade/Mas acho que eu não superei/Talvez ainda goste dela”), cover do sensacional Júpiter Maçã. Alguns casais presentes ficaram visivelmente constrangidos. Terminada a música, ele se despediu secamente e nem sequer se deu ao trabalho de apresentar a banda.

Para mim, foi uma grande despedida (ia viajar na manhã seguinte) e um excelente “bônus”, já que eu havia ido a São Paulo, originalmente, “apenas” para ver o show do Slayer. Muito obrigado, Deborah Fernandes, por ter me dado o toque sobre este show (“enquanto Freud explica as coisas o diabo fica dando os toques”), por ter me ligado perguntando se eu queria que você comprasse o ingresso antecipadamente, pela companhia, sua e de sua amiga, pela atenção, enfim.

Ah, Jô Soares? Tava lá. Deu inclusive um “mosh” no final da apresentação e morreu empalado no pedestal do microfone. Aquilo que vocês estão vendo todas as noites na tela da Globo não passa de um efeito especial ...

Veja AQUI a última entrevista de Rogerio no programa do jô.

AQUI toda a discografia, com a reprodução das letras.

Fotos por Edi Fortini/Rock Online

Texto por Adelvan K./pdrock

“Fátima Bernardes Experiência”

Fátima Bernardes fugiu de casa
Fátima Bernardes mandou um beijo
Fátima Bernardes foi baleada
Fátima Bernardes chupando dedo

Glória Maria

Fátima Bernardes pra presidente
Fátima Bernardes em carne e osso
Fátima Bernardes tem corrimento
Fátima Bernardes, William Bonner

Glória Maria

Fátima Bernardes investe tudo
Fátima Bernardes com arroz 'la grega'
Fátima Bernardes é vagabunda
Fátima Bernardes tem caderneta

Glória Maria

Fátima Bernardes cheirando cola
Fátima Bernardes com a pica dura
Fátima Bernardes experiência
Fátima Bernardes também é cultura

Glória Maria

“O corvo”

Entro numa farmácia,
O farmacêutico é fanho,
Pânico na madrugada.
Minha cabeça rodando,
Tomo mais um comprimido,
Se parar eu vomito.
Minha pílula dourada,
Egito que resplandece.
Vício, minha pátria amada.

Plasil, Plasil, Plasil.

Dentro das minhas entranhas
O câncer se desenvolvendo.
Ânsia, vômito, espasmo.
Os nervos à flor da pele,
Sinto um cheiro de ópio
Que bate e me conecta.
Olha só minha glande,
O pensamento é glande,
O meu desejo é glande.

Plasil, Plasil, Plasil.

Mais um pico na veia.
De noite eu quase não durmo,
Lexotan na cabeça.
Todo dia Prosac,
Um barulho no quarto,
Um susto, um rato.
Da minha cama eu avisto,
Livros, teias, traças,
O canto negro de um pássaro.

Plasil, Plasil, Plasil.

“Carrocinha de Cachorro quente”

Uma carrocinha de cachorro quente
Espia só o vendedor
Olha prum lado, olha pro outro,
Disfarça, não vem ninguém
A lá
Ele tá enfiando a mão dentro da calça
Aquela mão que segura o cachorro-quente
A lá
Ele tá coçando o cu com a mão
Moça, ô moça, num compra cachorro-quente não!

Nome: clarice
Altura: 1,80m
Esguia, magérrima, olhos de esfinge, pés pequenininhos
Mas tem uma trolha!

O elefante pergunta pra vaquinha:
Tomou?
No cu?
A colombina pergunta pro pierrot:
Tomou?
No cu?
A enfermeira pergunta pro defunto:
Tomou?
No cu?
E todo mundo começa a perguntar:
Tomou?
No cu?!

Calma
Se deve ter tomado alguma coisa
Relaxa
Respira fundo
Isso
Agora me fala:
-qual seu nome?
-buceta!
-de onde você vem?
-buceta!
-o nome da tua mãe.
-buceta!
-o que que você quer.
-buceta!

Desculpa
Esse meu jeito
Meio desesperado
De dizer as coisas
Mas o problema
É que nesse momento
Nesse exato momento
Um marimbondo
Tá dentro da minha calça
E tá picando
A minha bunda!

Eu bem que fiz tudo
Pra ser o que mamãe queria
Mas o tempo foi passando
O tempo foi passando
E tudo foi ficando
Meio escalafobético
"ele era tão quetinho"
Um idiota comentou
E tudo seria patético
Se não fosse
Pateta!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

MATADOR !

9 graus, o maior frio que já passei em minha vida. Só o Slayer mesmo pra me fazer ir a São Paulo em pleno inverno – e voltar feliz da vida! Não apenas eu, diga-se de passagem: pipocavam posts com as palavras mágicas “eu vou” a todo momento no Facebook, e não era papo-furado: a frente da Via Funchal estava lotada de headbangers de todo o Brasil naquela noite de 09 de junho (09/06!) de 2011 – digo isso por dedução, afinal, se haviam tantas criaturas oriundas do menor estado da federação, imagine ...

Vi o show cercado de amigos, o que foi ótimo: estava me sentindo em casa. Entramos a tempo de assistir a apresentação do Korzus, a banda de abertura. A primeira impressão, no entanto, não foi das melhores: o som estava péssimo! Abafado e saturado, precisei até tapar os ouvidos em determinados momentos, tamanha a saturação. Fora isso (como se fosse pouco), tudo ok: Korzus é do caralho e Marcelo Pompeu continua um grande frontman, apesar de viajar DEMAIS na conversa fiada entre uma musica e outra, com aqueles papos manjados a la Manowar de “o metal é eterno”, “ninguém nunca vai nos destruir” e coisas do tipo. O show foi curto, cerca de meia hora, e terminou com Pompeu levantando o coro da galera aos berros de “SLAYER!”.

Desce o gigantesco pano de fundo com o tradicional desenho da águia sustentando um pentagrama feito de espadas e o público vai à loucura. No som da casa, AC/DC, com direito a “Back in Black” em ritmo de funk! Ótimo. Um pouco mais de espera e lá estão eles, os quatro cavaleiros do apocalipse (ou melhor, 3, Gary Holt é “apenas” um convidado de luxo). Os trabalhos começam com os dois “hits” do (já não tão) novo álbum, “world painted blood” e “Hate worldwide”. Boas músicas, apesar de eu continuar não achando o disco em si tão bom quanto andam falando - é meio que “mais do mesmo”. Mas o público parece gostar e já começa cantando junto, o que gera uma expressão de satisfação estampada no rosto de Tom Araya – li uma entrevista em que eles falam que se sentiram mais seguros para colocar mais músicas do último disco nos shows justamente por conta do feedback positivo do público.

O som, no entanto, continuava ruim e não dava sinais de que iria melhorar, o que era preocupante. Na terceira música, a clássica “war ensamble”, uma pane! Ficou apenas o som do palco, o que fez com que os músicos demorassem um pouco a se dar conta do que estava acontecendo. Mas se saíram muito bem: continuaram tocando a musica até o fim, com Araya incentivando a platéia a cantar. Foi bonito, até porque o incidente ressaltou ainda mais o fato de que um Deus estava entre nós: Dave Lombardo, uma atração à parte. Absolutamente impressionante o que aquele cara faz com as baquetas!

“Via Funchal vai tomar no cu” era o coro entoado por todos. Lá com meus botões eu pensei: se fosse em Aracaju, evocariam logo a tal maldição do Cacique Serigy! Mas felizmente não demorou para que as coisas voltassem ao normal, e com uma sensível melhora na qualidade ao longo do processo até o final da apresentação, que engrenou de vez especialmente pra mim, já que eles voltaram com “postmorten”, uma de minhas favoritas do “Reign in blood” e um dos melhores riffs da história do metal. A partir daí começou a baixar o caboclo headbanger adolescente e foi só alegria. Dois pontos altos: a iluminação, muito bem utilizada, e a ironia de Araya em “Dead Skin mask”, apresentada como uma canção de amor (será que ele sabia que domingo era o Dia dos namorados no Brasil?) com seus versos românticos: "Como esperei você vir/ Estive aqui sozinho/ (...) Esfolando a pele com a ponta de meus dedos/ (...) Membros cortados, ornamentos do meu ser”.

Gary Holt segurou bem a onda, muito embora seu estilo seja um tanto quanto diferente, mais melódico, que o de Jeff Hanneman, o guitarrista original, que se ausentou devido a uma estranhíssima doença causada pela picada de uma aranha que é conhecida nos Estados Unidos como "bactéria comedora de carne" – o que deve render, sem dúvidas, uma boa letra, no futuro.

Um fato curioso foi o de que não houve pausa para o bis. Sapecaram sem intervalo e sem dó nem piedade a sequencia final, com direito a dois clássicos absolutos, ‘raining blood” e “Black Magic” (a primeira faixa do primeiro disco), emendadas. O encerramento foi com outra das “favoritas da casa”, “Angel of death”. E aí um abraço, fim de papo, thank you good night. Confesso que fiquei meio atordoado, mas gostei: pela primeira vez vi uma banda de grande porte dispensar aquele ritualzinho manjado. Estes não têm frescura, realmente!

Queríamos mais, evidentemente, afinal foram 25 anos de espera (no meu caso) e cerca de 2.000 km percorridos para estar ali, mas ok: 23 músicas em quase 2 horas de show, estava de bom tamanho. No telão, um aviso de que a responsabilidade pela pane no som não foi da casa, mas da produção do show.

E foi isso, amiguinhos. Baterias recarregadas, back to reality, bola pra frente.

SLAYER !

Fotos: Jorge Rosenberg/iG

Texto: Adelvan/pdrock

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A ideia de que vai “chover sangue” nesta quinta-feira (9) em São Paulo é uma metáfora que deixa muito roqueiro da cidade feliz. Para quem não conhece o grupo americano de thrash metal Slayer, entretanto, a frase, referência a um dos maiores clássicos do estilo, fica perdida e pode até assustar - desnecessariamente.

Para metaleiros, Slayer representa uma das maiores referências de som pesado de todos os tempos, com guitarras velozes, vocal rouco e agressivo, baixo e bateria em sincronia perfeita - tudo em alto volume e com muito barulho. São 30 anos de carreira, com mais de dez álbuns lançados e clássicos do thrash metal, que fazem da banda uma das “grandes 4” do estilo, junto a Metallica, Anthrax e Megadeth.

Para essas pessoas, talvez não haja muita novidade ao dizer que a banda volta a se apresentar em São Paulo nesta quinta-feira (9), com a turnê World Painted Blood - elas provavelmente já sabem, e vão ao show.

Para apresentar a banda que compôs “Raining Blood” aos não-iniciados na barulheira agressiva do metal, que deixa tantos fãs em êxtase, o G1 convidou três músicos eruditos para avaliar músicas que fazem parte do repertório que o Slayer apresenta na atual turnê.

A impressão deles ao ouvir ao som do grupo pela primeira vez é de que há muita “repetição” e “simplicidade”, uma música “primal”, com “caráter hipnótico” e tocada por “músicos muito competentes”.

O maestro Gil Jardim, a maestrina Claudia Feres e o violonista erudito Fabio Zanon deixaram claro que não costumam ouvir heavy metal e que não querem fazer juízo de valor do estilo de música de que outras pessoas gostam, nem disputar que estilo é melhor. A análise deles é propositalmente superficial, simples e distante, mostrando a impressão inicial de pessoas que conhecem música clássica ao escutar a banda pela primeira vez.

"Eles gostam de Mi bemol!" - Regente titular e diretora artística da orquestra municipal de Jundiaí, a paulistana Claudia Feres nunca tinha ouvido falar em Slayer até o convite do G1. Ela aceitou escutar duas músicas das mais famosas já gravadas pelo grupo: “Seasons in the abyss” e a já mencionada “Raining blood”, e não ficou muito convencida. “Meu mundo é bem distante desse do heavy metal. Não me atrai. Não me faz muito bem.”

Segundo ela, as músicas têm um perfil “muito repetitivo, monotônico". "Rítmica e melodicamente muito pobre”, disse. “A base das duas músicas é muito parecida. Parece que há um cuidado em encontrar essa sonoridade dura e árida, uma sonoridade pesada que traga sentimentos de dor e sofrimento. (Eles gostam de Mi bemol!)”, completou.

"Grande batera" - Fabio Zanon contou que já tinha ouvido falar da banda, mas nunca tinha escutado nenhuma das suas músicas. Após ouvir "World painted blood" e "Angel of death", ele fez elogios à bateria do Slayer e à “cozinha”, como costuma-se chamar o casamento sonoro dela com o baixo.
“A bateria é muito interessante. O cara é criativo, pois as duas músicas são em compasso binário, muito repetitivo, e o cara consegue fazer coisas diferentes, mudar muito os formatos. Se não fosse a bateria, o som ia ficar muito primário”, disse. Segundo ele, toda a produção é muito interessante e profissional, mas a sonoridade é “primal, lembrando música ritual, primitiva, com caráter hipnótico”, disse. “Música em compasso binario sempre lembra marcha.”

Segundo Zanon, “World painted blood” usa uma espécie de modo cigano que “é interessante, foge um pouco à expectativa de harmonia padrão que eu esperava nesse gênero e realça o caráter lúgubre da música.”

O violonista erudito fez questão de ressaltar que não é conhecedor do estilo. “Um gênero desses tem de ser julgado dentro de sua própria esfera sócio-cultural. Não dá pra se julgar tomando como parâmetro Beethoven ou com Tom Jobim, é outro departamento”, disse. “Não é que eu não tenha respeito e não admita qualidades musicais, simplesmente não tenho o componente antropológico pra me identificar”, completou.

Excentricidade planejada - Para o diretor artístico da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo e diretor artístico da Philarmonia Brasileira, o maestro Gil Jardim, o Slayer é um grupo muito profissional com ótimos músicos e que faz da personalidade radicalmente excêntrica um negócio competente e bem planejado.

“Poderia definir a música feita pelo Slayer, assim como grande parte do rock, como rudimentar se a compararmos com obras produzidas ao longo da história da música clássica ocidental, ou mesmo com a música popular brasileira ou pelo jazz americano”, disse, em texto enviado a pedido do G1.

“Suas músicas trazem letras elaboradas estritamente dentro da linha que caracteriza o grupo, com temas e expressões escolhidas em busca de ‘objetos de uma realidade pervertida, da obsessão além dos sonhos selvagens...’ Na verdade, jamais se perde de vista a busca por um “êxtase permanente”, seja qual for o tema: a morte, a guerra, o sexo, a droga.... E sob esse ponto de vista, o som que tende a ser sempre eletrizante em sua pulsação, em seus decibéis, é coerente esteticamente”, completou.

“Devemos ter claro que, para manter essa linha de ‘excentricidade infinitamente arrojada’ é necessário trabalhar com planejamento, com acuidade, com sagacidade. É um negócio. Esse é o produto da banda Slayer, construído, bem ensaiado (os músicos são muito bons) e, mais que vendido, comprado pela imensa multidão que os acompanham ‘enlouquecidamente’.

Naturalmente, o mise en scène é particular, assim como em cada um dos outros estilos musicais”, disse, defendendo o gosto alheio e alegando ser inútil gerar uma disputa sobre qual estilo é “melhor” de que o outro.

por Daniel Buarque

Fonte: G1

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"Não posso mais 'bater cabeça'". A afirmação foi feita pelo vocalista e baixista do Slayer, Tom Araya, na última segunda-feira (6), dia em que concedeu por telefone uma entrevista exclusiva ao Terra, direto do hotel onde estava hospedado em Buenos Aires. A banda norte-americana se apresentou ontem em Curitiba e faz show em São Paulo nesta quinta-feira (9).

A justificativa para a nova regra na vida do músico, há 30 anos acostumado a jogar para frente e para trás a longa cabeleira - o termo bete-cabeça vem da expressão "headbang", em inglês -, é médica, consequência de uma cirurgia nas costas a que foi submetido no ano passado. Infelizmente, não é só ele que vive um ano difícil no quarteto, o precursor do estilo thrash metal, conhecido por seu peso, velocidade e letras endiabradas.

Jeff Hanneman, guitarrista da banda, foi hospitalizado em fevereiro deste ano após ter uma séria infecção no braço direito causada pelo veneno de uma aranha venenosa que o picou. O fato o levou a ser substituído por Gary Holt, do Exodus, na turnê atual. "Não foi uma decisão fácil de ser tomada, mas ter um amigo para te ajudar e que ainda é um tremendo guitarrista deixou tudo mais simples. Não poderíamos fazer essa substituição com outra pessoa".

Bastante simpático e bem-humorado, Araya, que completou 50 anos de idade no dia da conversa, falou sobre os mais variados assuntos, inclusive alguns bastante espinhosos, como o processo judicial sofrido pelo Slayer em 2000, quando uma família acusou suas músicas de terem influenciado três jovens a assassinar brutalmente uma garota de 15 anos em um ritual macabro. "Aquilo nos fez perceber o quão perigoso pode ser o que fazemos. Foi um período bastante nervoso".

Confira a entrevista completa a seguir.

Terra - Primeiramente, feliz aniversário.

Tom Araya - Obrigado, muito obrigado. Você é o primeiro a me desejar isso sem contar a minha mulher (risos).

Terra - Como está Jeff Hanneman?
Tom - Ele está indo bem, tocando sua guitarra, cuidando de sua saúde. Vai demorar ainda um tempo para que volte a se juntar a nós, mas ele está melhorando.

Terra - Vocês só voltam a gravar com ele na guitarra?
Tom - Sim, quando ele estiver pronto, conseguir escrever músicas e voltar ao estúdio, nós voltaremos a gravar.

Terra - Como encara o fato de estar no palco sem ele?
Tom - Não é fácil fazer isso. Sabe, nós temos estado no palco juntos por 30 anos e não foi uma decisão fácil de ser tomada fazer a turnê sem ele. Mas nós estamos com Gary Holt (do Exodus), que é um tremendo guitarrista, e ele está tocando muito, muito bem. Fica mais fácil fazer isso quando você tem um amigo para te ajudar. Nós conhecemos o Gary há quase 30 anos, ele é um grande amigo do Jeff e eu não acho que nós poderíamos fazer essa substituição temporária com nenhuma outra pessoa que não fosse o Gary, sabe? Ele está indo muito bem, sua guitarra soa otimamente, então estamos conseguindo lidar com esse problema.

Terra - Você também teve um problema no início do ano, mas com tonturas que atrapalhavam sua performance no palco. Como está agora?
Tom - Há um ano e meio eu tive que passar por uma cirurgia nas costas. E, apesar de ter me recuperado muito bem, de não ter mais nenhum problema, eu estava com um nervo doendo demais, afetando todo o lado esquerdo do meu corpo, especialmente o meu braço e o peitoral. Agora estou bem melhor, não tenho mais isso, mas não posso mais "bater cabeça" (headbang). Isso chegou a ser um problema no início, mas não é mais.

Terra - Desde então, você nunca mais "bateu cabeça"?
Tom - Não, eu realmente não posso.

Terra - Sua cidade natal, Viña del Mar, no Chile, o homenageou no último fim de semana. Como você encarou isso?
Tom- Foi demais, uma grande honra. Foi um evento bem formal, com discursos e tudo o mais, e eu me senti muito honrado pelo fato de eles terem me homenageado por representar o Chile e por ter nascido em Viña del Mar. Fiquei muito orgulhoso.

Terra - Foi também a primeira vez que você tocou com o Slayer na cidade. Qual foi a sensação?
Tom - Foi um grande show, realmente demais. Foi tremendo! Eu senti o amor...senti o amor (diz em português e dá risada).

Terra - Qual é a sua relação com o Chile e com a América do Sul em geral? Você vem para cá com alguma frequência?
Tom - Sabe, eu só venho para cá quando o Slayer toca. Isso torna nossas turnês por aqui muito especiais, porque é muito raro virmos à América do Sul. Eu gostaria de vir para cá para apenas visitar, pois amo o continente. Faz parte do meu sangue, então todas as vezes que estamos na América do Sul é muito especial, pois ela é parte de mim.

Terra - Você é uma pessoa que se diz muito cristã. Qual é a sua relação com a religião?
Tom - Eu sinto que tenho uma relação muito próxima com Deus. Isso é entre mim e ele (risos). Mas, sabe, na verdade não vou à igreja. Eu rezo, rezo em casa, rezo com meu coração, rezo com a minha família, que também tem sua própria relação com Deus. Eu sempre digo que sou católico ou cristão, pois nasci nisso, fui criado para o catolicismo. Mas, na verdade, sou mais cristão, tento viver mais como cristo, sabe? "Faça com os outros o que gostaria que fizessem com você". Quero dizer, é tudo sobre amor. É assim que eu e minha família tentamos viver.

Terra - Você já recebeu críticas por sua relação com o cristianismo e o fato de as letras do Slayer falarem de temas totalmente opostos à religião?
Tom - Sim, eu recebo críticas, mas, quer saber, f...-se (gargalhadas). Eu sei que essa não é a forma cristã de dizer, mas essa é a minha maneira (risos).

Terra - Os assuntos pesados das canções do Slayer te aproximaram de alguma forma da religião?
Tom - Eu acho que a religião por si própria significa "eu faço o que faço". Eu tenho um entendimento diferente do que fazemos, de escrever sobre o demônio. Quero dizer, tenho um entendimento melhor dele, pois não é com a figura do diabo que me preocupo e sim com o demônio da humanidade, a sociedade, que é muito feio. Sim, ele é, e, sabe, isso fala por nós, às vezes de uma forma muito alta (risos).

Terra - No ano 2000, a família de uma menina assassinada aos 15 anos de idade por três garotos em um ritual macabro processou o Slayer alegando que a banda os havia influenciado na forma como a mataram. Como vocês encararam esse caso?
Tom - (pensativo) Bem, eu me senti açoitado, mas a verdade a ser dita é que o verdadeiro diabo não era aquele ao qual as pessoas se referem ou o Slayer. O verdadeiro diabo foi a humanidade naquele celeiro. Nós, como humanos, somos pessoas muito feias, podemos fazer coisas muito feias e más uns com os outros. Sabe, eu sempre soube que a verdade chegaria à tona (a banda foi inocentada no processo), mas por causa dos homens e de suas leis, às vezes esse não é o caso. Então eu estava um pouco receoso, muito nervoso com isso, pois as leis do homem podem não ser justas com as pessoas. Por isso, eu estava um pouco nervoso, todos nós estávamos. Eu não quero dizer o termo com medo, mas estávamos muito receosos com o rumo que as coisas poderiam tomar, pela forma como é o mundo e de como as leis da sociedade funcionam. Foi um período bem nervoso para nós.

Terra - Isso afetou o Slayer de alguma forma, como em sua música?
Tom - Não nos afetou musicalmente, mas espiritualmente. Nos fez perceber o quão perigoso pode ser o que fazemos. Quero dizer, não estou preocupado sobre como o que fazemos afeta as pessoas, é a responsabilidade do que as pessoas dão às coisas que as afeta. Esse é o perigo, pois as pessoas podem ser muito más. Elas querem acreditar e apontar o dedo culpando outras pessoas pelo que fazem e é aí que o perigo mora.

Terra - O fato de os integrantes do Slayer não acompanharem o Metallica e as outras bandas do Big Four (Anthrax e Megadeth) na execução de Am I Evil, do Diamond Head, de alguma forma criou um ambiente ruim entre vocês?
Tom - Não, de forma alguma. Sabe, eu provavelmente fiz isso só uma vez. Foi com o Soufly, de Max Cavalera, com quem escrevi uma música. Essa foi a única vez que eu me juntei a uma banda para fazer algo do tipo. Sabe, para mim, não é a música apropriada. Quero dizer, Am I Evil (serei eu mal?), nhé (som de desprezo), nós sabemos que somos (risos), não precisamos cantar uma música sobre isso. Para mim, a canção apropriada para esse encontro, aquela que me faria subir ao palco para tocar, seria The Four Horsemen (do primeiro disco do Metallica, Kill´Em All, de 1983), pois ela representa aquilo que estamos fazendo. É uma música que significa mais para mim, pois representa o que realmente é o Big Four, o que fazemos. Quero dizer, nós chegamos às cidades e trazemos doenças e vícios (gargalhadas).

Serviço:

São Paulo - 09/06/2011
Local: Via Funchal
Endereço: Rua Funchal, 65
Telefone: (11) 3846-2300
Horário: 22h

RIP Seth Putnam

Seth Putnam (Boston, 15 de Maio de 1968 - 11 de junho de 2011) foi um músico americano e fundador da banda de grindcore/noisecore Anal Cunt. Participava também dos seguintes projetos paralelos: Angry Hate, Impaled Northern Moonforest, Satan's Warriors, Shit Scum, Vaginal Jesus e You're Fired. Também tocou contra-baixo e fez backing vocals por dois anos (1986 - 1988) na banda de thrash metal Executioner.

Em outubro de 2004 Seth entrou em estado de coma por dois meses, devido a uma overdose (suficiente para dois meses de uso) de pilulas para dormir Ambien - há quem diga que foi uma tentativa de suicídio ou uma combinação de doses fortes de crack, cocaína, álcool e heroína. Após a saída do coma, estava debilitado nas áreas motoras e com dificuldades para raciocínios simples. Submeteu-se a fisioterapia e ficou consideravelmente recuperado.

No dia 11 de junho de 2011, o cantor morreu de um ataque cardíaco aos 43 anos. A notícia foi confirmada via twitter pela publicista do ANAL CUNT, Kim Kelly, da Catharsis Public Relations. Kelly comentou: "Sim, é verdade. Seth Putnam, um dos músicos mais infames que o metal extremo já viu, o GG Allin do grindcore, morreu por causa de um ataque cardíaco. Eu me encarregava de toda a promoção do último álbum do ANAL CUNT, 'Fuckin' A', e Seth sempre tinha um prazer em cumprir qualquer pedido que eu enviava. A banda estava trabalhando em um novo álbum antes da morte dele, então as chances são que a mensagem final da carreira musical dele ainda está para ser lançada."

Disse mais: "Eu quero lembrar a todos que não importa quão escandalosa e controversa a carreira musical dele foi, Seth era ainda assim um ser humano com amigos e família que o amavam. Espero que a Internet vá se lembrar disso. Este é um período muito triste e difícil para aqueles que o conheciam, e a última coisa que eles precisam ver é um dilúvio de mensagens de ódio. O homem viveu e morreu por suas próprias regras; no mínimo respeitem-no por isso."

Putnam era conhecido por seus gritos brutais e letras que ou chocavam, ofendiam ou invocavam humor mórbido. Durante sua carreira Putnam envolveu-se em muitos projetos, incluindo fazendo backing vocals no álbum "The Great Southern Trendkill" do PANTERA. Era filho de Edward R. Putnam e Barbara Ann Donohue - ambos divorciados.

Seis meses antes de sua morte, Seth Putnam deu uma longa entrevista ao hellbound.ca. Putnam discutiu seus pensamentos sobre a morte; porque ele ainda usava drogas e álcool após passar por um coma; e o que talvez pudesse ser escrito em sua lápide. Confira abaixo trechos da entrevista.

Hellbound.ca: Sua overdose e seu coma em 2004 foram bem documentados. Como sua vida mudou desde que você passou por isso e foi hospitalizado, ou sua vida mudou de alguma forma?

Seth Putnam: Eu acordei do coma e não conseguia mover nenhuma parte do meu corpo por um longo período de tempo. Eu não conseguia andar bem. Quando eu estava no hospital, os médicos descobriram que eu estava depressivo e me colocaram em anti-depressivos. Então talvez seja a melhor coisa que já me aconteceu, pois não estou mais depressivo sempre e não quero me matar o tempo todo. Neste momento, estou usando Celexa. Eles inicialmente me colocaram em Prozac e então me trocaram para o Celexa.

Hellbound.ca: Agora que você está sob anti-depressivos, você parou de usar drogas ou beber?

Seth Putnam: Não. Eu não posso ficar muito doido como eu ficava antes do coma porque eu não consigo aguentar. Mas eu ainda uso muito. Eu ainda posso me acabar com bebida e álcool. Mas eu não faço isso tanto assim. Então talvez possa ser uma dose de heroína ou de cocaína, ou uma dose de bebida alcóolica. Qualquer coisa possível.

Hellbound.ca: Depois que você saiu do coma e começou a se recuperar, você alguma vez já pensou em mudar a sua vida? Isso não estava no destino?

Seth Putnam: No minuto em que acordei, pedi a minha namorada para ir à loja de bebidas alcoólicas. Ela não queria ir e eu fiquei tipo, "Pare de ser um saco e vá para a loja de bebidas." Então eu disse, "Me tire da cama e eu mesmo irei," e eu percebi que não podia mover nenhuma parte do meu corpo. Depois de sair do hospital, meus amigos me levaram em uma cadeira de rodas para um bar. O dia mais legal desde então foi quando eu fumei um monte de crack. Foi a primeira vez que usei crack em quase um ano.

Hellbound.ca: Se você ouve alguém dizer que você é maluco ou idiota por continuar a usar drogas e a beber depois do que aconteceu, como você responde?

Seth Putnam: Bom, assim que eu saí, eu afundei em drogas novamente. Agora estou mais no controle de mim mesmo. Eu fui nessa coisa chamada administração da redução de danos. Aprendemos a não nos acabar toda hora. Acho que eu descobri como manter o controle de mim mesmo, coisa que eu não podia fazer antes do coma.

Hellbound.ca: Seus amigos se preocupam com você poder acabar como um G. G. Allin (que morreu de overdose), e com o fato de que talvez você não seja tão sortudo da próxima vez?

Seth Putnam: Metade dos meus amigos usam drogas e a outra metade anda na linha. Meus amigos corretos entendem o que eu sou. Eles se preocupam comigo, mas entendem que eu farei o que eu farei. Agora eu sei como me controlar então não vou chegar a uma overdose. Não vou me colocar nessa posição porque eu não quero que meu corpo fique f*dido novamente.

Hellbound.ca: Seu amigo John McCarthy do POST MORTEM se foi há alguns anos atrás. Você ficou surpreso que ele morreu e você ainda está aqui apesar do que fez?

Seth Putnam: Ele estava com problemas e ficando bêbado com Listerine e coisas deste tipo. Mas eu fiquei surpreso quando ele morreu. A coisa mais estranha era que ele era um avô aos 40 anos. Mesmo quando ele teve seu primeiro filho eu havia achado estranho. Ele foi um dos meus melhores amigos de todos os tempos. Eu poderia dizer coisas ruins sobre ele mas eu não vou porque as coisas boas predominam sobre as coisas ruins. Em 2008, tocamos em um show na Califórnia com o ANAL BLAST e THE MEAT SHITS. As pessoas estavam apostando em quem ia morrer primeiro, eu ou Don Decker do ANAL BLAST. Don morreu tipo um ano depois.

Hellbound.ca: Quando você morrer, o que estará escrito em sua lápide?

Seth Putnam: Eu não tenho idéia. Depende de quem escreverá. Espero que não seja alguém gay.

Traduzido por Andras Ellendersen

Fonte: Whiplash

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hoje tem programa de rock


Será uma edição especial, produzida e apresentada por Rosi Matos e Marcelo Larrosa

Vai abrir com Joy division. Por falar neles ...

O baixista britânico Peter Hook, 55 anos, não se abala com o clima triste que cerca Unknown Pleasures, álbum seminal lançado em 1979 pelo Joy Division (e que ajudou a definir o som do post-punk). Na turnê Unknown Pleasures: A Celebration of Joy Division by Peter Hook & The Light - que tem a participação de Jack Bates, filho do músico, também no baixo - ele repassa a íntegra da obra. Os shows passarão pelo Brasil em 16 e 17 de junho, no Estúdio Emme, em São Paulo. Falando por telefone, Hook revela que este é o momento certo para pisar novamente no território de sua antiga banda. "Agora eu me sinto bem tocando estas músicas", diz. "Elas remontam a dias de minha juventude, quando tudo era possível. Eu acho que se você quer manter a música viva, tem de tocá-la no palco. Nada contra todas estas reedições de luxo e caixas comemorativas, mas nada disso substitui a execução das músicas no palco."

Hook também se defende, negando que os shows sejam uma jogada para fazer um dinheiro fácil. "Não gosto de chamar isso de tributo. Prefiro dizer que é mais um testemunho de uma pessoa, no caso eu, que esteve no olho do furacão e ajudou a criar um pouco daquilo tudo. O mais legal sobre o Joy Division é que nós começamos sem um tostão e terminamos mais duros ainda", explica. "Bem, não temos mais o Ian [Curtis], é claro. Mas também achei que não seria nada honesto colocar um cara qualquer para imitar os vocais e a postura dele. Eu assumo os vocais e tivemos de fazer algumas adaptações nas canções."

Curtis, o vocalista do Joy Division (que se enforcou em 1980 depois de perder a batalha contra a depressão), tornou-se uma figura cult. Hook é reflexivo quando recorda o companheiro. "Não penso mais nele com tristeza. Ficaram as coisas legais. Pelo menos ele está lá congelado, jovem para sempre aos 23 anos." O que ainda causa desconforto no baixista é o fato de ser constantemente questionado sobre um retorno do New Order, que se separou oficialmente em 2007. "A esta altura da vida de todos os envolvidos, é praticamente impossível qualquer tipo de volta", decreta. "Foi um divórcio muito sangrento. Já não tenho mais contato com Bernard [Sumner, guitarrista e vocalista]. Pelo menos a última turnê que fiz com o New Order passou pelo Brasil, e fizemos os nossos últimos shows aí e na Argentina. O fim da banda foi amargo, mas aconteceu em locais agradáveis" , finaliza.

Peter Hook no Brasil
16 e 17 de junho, às 23h
Estúdio Emme (R. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros)
Ingressos: R$ 80 (1º lote), R$ 100 (2º lote), R$ 150 (3º lote)
Pontos de venda para pista: Bilheteria Estúdio Emme (de segunda-feira a sábado, das 15h às 20h); Lojas Emme: Shopping Ibirapuera, Shopping Market Place e Butantã (R. Raul Saddi, 18);
Lojas Accessorize: Shopping Iguatemi, Shopping Pátio Higienópolis e Jardins (R. Haddock Lobo, 1485).
Venda pela internet: www.compreingressos.com

Fonte: Rolling Stone Brasil

por Paulo Cavalcanti

terça-feira, 7 de junho de 2011

Max Cavalera, uma entrevista

MAX CAVALERA é um nome que você provavelmente ouviu recentemente. A banda dele, o CAVALERA CONSPIRACY tem provocado ondas no mundo do Metal com o último lançamento, Blunt Force Trauma, e está atualmente em turnê pelos EUA. Mas tem algo que você pode não saber: ele tem feito isso por décadas.

Junto com seu estimado colega e irmão, Iggor, fez algum do mais bestial e inovador thrash no meio dos anos 80 e 90, no altamente influente bastião do Metal, o SEPULTURA. Infelizmente, diferenças pessoais em 1996 o afastaram da banda. Ao transferir-se pros EUA, ele concentrou seus talentos em um novo projeto, o ainda vigente SOULFLY.

Por anos Max trabalhou incansavelmente com o grupo, lançando sete discos de estúdio e gradualmente construindo um séquito de adoradores no processo. Agora com uma nova banda e seu irmão de volta a seu lado, o mundo está finalmente começando a notar.

Eu recentemente tive a oportunidade de falar com o barbado de vozeirão para dissecar o novo disco e ver o que ele acha de seu recente sucesso.

Por Ben Shanbrom

Traduzido por Nacho Belgrande

Foto de Dirk Behlau

Onde você está agora?

Hoje estamos em Pittsburgh.

E como tem sido a turnê até agora?

A turnê tem ido muito bem, cara. Tem havido muitos grandes shows e muitas pessoas espremidas nos lugares e todo mundo está curtindo o lance novo. Estamos nos divertindo muito, e escolhemos o Lazarus A.D. como abertura – eles são uma banda de thrash muito boa. Os fãs estão pirando. Temos mosh pits enormes toda noite. Não poderia ser melhor, cara. Tá sendo fabuloso.

Ótimo. Então o novo disco do Cavalera Conspiracy é bem pesado, cara. Definitivamente nada parecido com aquele disco pop, Inflikted.

Sim, nós queríamos que Blunt Force Trauma fosse um disco mais pesado, mais brutal. Nós olhamos pra Inflikted como um primeiro disco muito bom, mas precisávamos entrar no peso e criar algo mais pesado. Decidimos fazer Blunt Force Trauma desse jeito. Eu realmente queria um toque de thrash nele. Algumas das faixas têm uma levada muito thrash metal, e algumas delas são mais hardcore, com Roger [Miret] do Agnostic Front cantando em “Lynch Mob” e fazendo um cover de “Six Pack” do Black Flag. Tem essa vibe meio hardcore no disco, mas é essencialmente um disco de metal. Eu estou realmente orgulhoso dele. Eu acho que é um ótimo disco pra se tocar ao vivo.

Eu ia falar dessa influência hardcore. “Torture”, eu devo dizer, é uma de minhas faixas favoritas.

“Torture” é muito legal, cara. É a segunda música da noite, e mantém a platéia acesa com uma baita roda de pogo. É muito boa. É muito a foder. É uma canção rápida. É pra ser uma música thrash. Só tem um minute e cinquenta segundos – menos de dois minutos. Não tem enrolação e é bem na sua cara. Um negócio meio direto. Eu estou muito animado com o disco.

Você e Iggor meio que compuseram essas músicas à distância, e deram o toque final nelas ou finalizaram muitas das faixas no estúdio. Isso meio que se tornou, para muitas bandas, uma coisa menos costumeira hoje em dia. Existe mais pressão ou raiva no estúdio quando você está montando tudo naquele momento?

A pressão em nós era para que fizéssemos um disco melhor que o primeiro. Inflikted foi muito bem recebido e recebeu grandes resenhas ao redor do mundo todo, e foi muito bem recebido pelos fãs. Havia um pouco de pressão para fazer um segundo disco melhor. Nós nos sentimos muito confiantes ao entrarmos no estúdio. Nós sabíamos que o material era bom. Eu tinha escrito muitas canções em minhas folgas. Eu escrevi “Warlord”, “Torture”, “Gengis Khan”, “Burn Waco”… e me sentia muito bem com elas. Elas eram canções muito boas, e eu estava confiante de que seria um disco mais pesado. Nós fomos com a idéia de fazer um disco mais pesado, então todo mundo se sentia muito confiante e excitado por fazer um disco mais pesado do que o outro. Eu queria mais brutalidade por parte da banda – guitarras muito pesadas, um som muito cru pro disco, e o produtor Logan Mader nos deu isso. Eu acho que o disco tem um som muito bom e cru. Ele soa mais pesado do que Inflikted. Eu estou feliz com isso.

Você se deu conta que eu não estava falando sério ao chamar Inflikted de disco pop, certo? Eu não esperava nada com AutoTune.

Eu acho que ambos são discos fortes. As pessoas acham que as canções em Inflikted são ótimas, como “Sanctuary” e a faixa título e “Doom of All Fires” e “Black Ark”, na qual temos Richie Cavalera do Incite cantando conosco toda noite. É ótimo. Nos dois primeiros shows eu tive a banda do meu filho, a Mold Breaker, abrindo o show na Califórnia, e eles se saíram muito bem. Estamos muito animados em tê-los conosco. É muito legal que a família esteja toda envolvida.

Uma coisa que me desperta curiosidade é que você manteve o Soufly na ativa ao longo de todo esse processo. Como você mantém projetos múltiplos com um monte de fatores em comum, como Marc Rizzo, soando distintos um do outro?

Eu amo o Soulfly. O Soulfly me deu muita integridade. Se não fosse pelo Soulfly, eu não estaria aqui agora. Eu amo muito meu trabalho com o Soulfly. Eu amo todos os discos. Eles todos têm um significado muito especial para mim, desde o primeiro. Eles são todos discos fabulosos para se fazer parte. Eu amo tocar com Iggor, também. Quando eu tive a chance de fazer o Cavalera Conspiracy, foi um momento do caralho. Eu tinha a chance de voltar a tocar com meu irmão com quem eu cresci tocando música. Essas são duas coisas musicais muito importantes que eu tenho na minha frente e que eu levo muito a sério. Eu amo a ambos e eu quero continuar fazendo as duas coisas. Elas não entram em conflito com minha programação. Eu tenho tempo pra ambas.

Nesse momento o Soulfly está de folga. Eu estou com o Cavalera Conspiracy e então eu vou me rejuntar ao Soulfly e lançar outro disco e sair em turnê. Vamos continuar fazendo isso desse jeito. Eu acho que é a melhor maneira. São excelentes válvulas de escape para mim e minha raiva, a agressividade sai diferentemente em ambas as bandas. O Cavalera Conspiracy é mais direto e mais metal. Eu fico sendo mais o Max dos anos 80 – o Max do Thrash Metal que as pessoas viram nos anos 80 e 90. Eu faço isso mais no Cavalera Conspiracy. E no Soulfly, eu sou mais o Max revolucionário com idéias diferentes e planejando guerras com música e gravando em lugares diferentes e indo a países diferentes. Eu amo isso com o Soulfly também aquele aspecto do Soulfly que viaja para luares diferentes. Eu curto as duas coisas. Elas são diferentes, mas eu curto fazer as duas.

Falando no Iggor, como é que ele se mantém ocupado entre suas pausas?

Ele passa muito tempo no computador dele. Ele fala com a esposa dele no Brasil, ele fala com os filhos dele e mantém contato com a família, e ele passa um tempo conosco. Ele sai com os membros da banda no ônibus. Ele troca idéia comigo e me mostra muita música nova que ele está ouvindo. A gente fica no fundo do ônibus. É uma relação ótima. Temos respeito um pelo outro. Amamos dividir o palco. A melhor parte do dia é quando estamos no palco fazendo o show e fazendo o que viemos aqui pra fazer. Ele bota pra fuder toda noite com sua bateria. Eu amo isso. Eu amo ouvir a força da bateria – ouví-la por detrás de mim quando estou no palco. Eu quero ser brutalizado pela bateria de Iggor toda noite. É ótimo.

Continuando com os membros da banda, seu ‘novo’ baixista Johny Chow não é de fato novo à banda, mas é o primeiro lançamento oficial com ele de membro permanente. Como ele entrou na banda?

Achamos Johny Chow através de um amigo. Vimos a foto dele e amamos. Ele tinha essa barba e parecia com um arroz doce. [risos] Ele parecia incrível. Eu pensei, “esse cara parece louco. Temos que tocar com esse cara!” – só de olhar pra foto. Então encontramos com ele, e ele foi muito legal. Começamos a tocar com ele, e ele se saiu muito bem. Ele é um baixista incrível. Ele se tornou uma grande parte da banda.

O primeiro disco que gravamos foi com Joe Duplantier do Gojira, guitarrista, mas que tocou baixo pra gente. Logo depois que o primeiro disco saiu, Johny Chow entrou no lance. Fico feliz que ele o tenha feito. Porque o Cavalera Conspiracy precisava de uma formação estável, e Johny é esse cara estável que nós precisávamos na banda. Agora está completa. Sou eu, Marc, Iggor e Johny, que é a formação ideal pra banda. Vamos crescer com essa formação e vamos fazer muitos discos com ela. Vai ter muito Metal saindo de dentro de nós nos próximos anos.

Eu acho que isso torna bem claro de onde a inspiração para a faixa “Rasputin” vem.

Ah sim. Exatamente. Vem diretamente de Johny Chow.

Muito engraçado. Você falou de trazer o Roger do Agnostic Front como convidado no disco. A meu ver, uma grande parte do som Max Cavalera vem do uso de músicos convidados e vocalistas convidados. Você meio que vê isso rolando tanto no Soulfly como no Cavalera Conspiracy. Você consegue pensar em algum músico no momento com os quais você ainda não trabalhou e que ficaria feliz por colaborar no futuro?

Ah sim, há muitas pessoas com as quais eu gostaria de fazer algo. Há gente como Lars Ulrich, James Hetfield, Lemmy do Motorhead…. da cena hardcore eu adoraria fazer algo com Joseph McGowan do Cromags…da cena punk tem Henry Rollins que era do Black Flag, eu amos os vocais dele. Tem muita gente que eu acho que possa fazer algo. Tenho orgulho de todas as colaborações que eu fiz até agora. Estou muito feliz por ter trabalhado com todas as pessoas incríveis desde Tom Araya até David Effelson passando pelo Morbid Angel até Greg Puciato do Dillinger Escape Plan, Tommy Victor do Prong e Chino Moreno do Deftones, Sean Lennon… é o meu lance favorito de estar no ramo da música, eu gravo com muitos de meus heróis e ídolos, como quando eu fiz “Terrorist” com Tom Araya Eu estava tão animado, porque o Slayer era uma puta duma banda pra mim. Eu cresci ouvindo o Slayer, e estar no estúdio com Tom foi ótimo. Foi realmente maravilhoso e eu me senti como um garotinho. Foi a realização de um sonho. Essa parte da música é muito boa. Eu amo essas jam sessions e gravar com pessoas diferentes. Eu acho que é algo que sempre vai ser parte de minha carreira.

Na mesma linha de raciocínio, você consegue pensar em alguma banda jovem e na ascendente nesse momento que você tenha se interessado ou que venha a ter respeitado ao longo dos anos?

Sim, tem muitas bandas que eu ouço que eu realmente curto. Eu curto Converge. Eu curto Trap Them. Eu curto Whitechapel, The Chariot, Black Death, Municipal Waste, Toxic Holocaust e algumas daquelas bandas thrash que estão revivendo o thrash metal. Eu gosto do Warbringer. Eu curto todas essas bandas. Tem muita música boa por aí. É bom saber que estão mantendo metal vivo e que as novas gerações estão abraçando. Eles sabem de onde veio tudo e estão dando continuidade. Eu ainda amo os clássicos como Megadeth, Slayer, e todas aquelas bandas que ainda estão tocando coisas a fuder depois de vinte ou trinta anos. É incrível que essas bandas ainda estejam tocando. Me deixa muito orgulhoso e me faz querer continuar tocando porque é uma inspiração que aquelas bandas ainda estejam nessa. Mesmo coisas como Ozzy e o Motörhead porque eles são mais velhos e você olha pra eles e pensa, “se eles podem fazer isso, eu posso fazer isso por muito tempo”. Então eu olho pra isso desse modo. É uma inspiração pra que eu faça música por muito tempo.

Ótimo. Então quais são seus planos pro future. Eu sei que você mencionou parar um pouco depois da turnê para tocar de novo com o Soulfly, mas o que você se vê fazendo depois desse giro de turnê?

Essa turnê vai até o fim do ano. Vamos pra Europa e daí voltamos pros EUA e faremos outra grande turnê pelos EUA e isso vai até Outubro ou Novembro. Depois, eu vou voltar pro Soulfly e compor o disco novo que vai sair em algum momento do ano que vem. Vai ser um grande disco de estúdio, o que é ótimo. Estou muito animado. Nem consigo acreditar que já são oito discos. Espanta-me que haja tantos assim. Vou tentar fazer um disco bom, forte e diferente, um disco vibrante. Eu tenho que ver quem vai tocar nele e tentar fazer algo assassino. Ano que vem eu volto com o Soulfly. Esse ano eu decidi fazer meu trabalho com o Cavalera Conspiracy e no ano que vem, é o Soulfly. Vamos voltar á estrada com o Soulfly ano que vem.

Beleza… então eu não tenho certeza que essa seja uma pergunta estranha. Eu não vou lhe perguntar sobre uma reunião do Sepultura. Eu sei que isso ta batido demais. Eles seguiram ao longo dos anos e Iggor continuou a tocar com eles por um tempo. Você escutou alguma coisa que eles lançaram recentemente?

Não, não tenho interesse e eu realmente não me importo com o que eles estejam fazendo. A banda não me preocupa. O Sepultura foi uma grande parte da minha vida quando eu estava com eles. Quando eu me separei deles em 1996 depois de Roots, foi a última vez que ouvi algo deles. Não me preocupa mais. Está bem por dizer morto pra mim.

Eu fiz um pouco de pesquisa. O Iggor, se não me engano, tem um projeto meio eletrônico no momento, certo?

Sim, no Brasil.

E como é? Vocês falam disso?

É algo que ele faz nas folgas dele. É realmente diferente das coisas que ele faz no Cavalera Conspiracy. No Cavalera Conspiracy, ele é um baterista de Metal tocando Metal e brutalizando a bateria toda noite. Não tenho certeza do que ele faz exatamente. Eu nunca o vi tocar ao vivo com o projeto dele, que se chama Mix Hell. Eu acho que ele algumas vezes traz a bateria pra tocar o lance eletrônico, o que é uma idéia boa. Eu nunca os assisti, então não tenho certeza do que eles fazem. Quando ele está com o Cavalera Conspiracy, ele fica ocupado com a banda. Ele faz tudo que pode com o Cavalera Conspiracy – passagem de som, autografar merchandise pra turnê nova, arrumando coisas pra fazer toda noite, novas canções pra tocar e trabalhar em coisas novas e pior aí vai. Ele se mantém ocupado com o Cavalera Conspiracy, o que é legal e tudo mais. É assim que tem que ser.

Exato. No momento você vive nos EUA, certo? Enquanto o Iggor mora no Brasil?

Qual é o principal meio de comunicação de vocês, especialmente entre um disco e outro? Há muito envio de riffs e coisas pra lá e pra cá como anexos de email?

Sim, mandamos coisas pra lá e pra cá. Com a internet, é realmente fácil mandar coisas. Enviamos arquivos um para o outro. Eu escrevo um monte de riffs e os envio pra ele, e ele os recebe no mesmo instante, o que é realmente ótimo. Conversamos pelo telefone e mantemos contato enquanto ele está no Brasil. Quando nos reunimos, fazemos discos. Daí saímos em turnê. É uma relação muito legal. Não nos vemos o tempo todo, mas quando o fazemos, é especial. Sair em turnê com Iggor é realmente divertido para mim e passar um tempo com ele e conversar e tocar e assistir a filmes com ele, ficar no fundo do ônibus falando de nossas vidas. É muito legal, Quando tudo acaba, a gente volta pra nossas próprias vidas – voltar ao Soulfly, e ele volta pro Brasil pro projeto dele. Nos veremos de novo em alguns meses e começaremos tudo de novo. É ótimo. É assim que tem que ser. Está funcionando desse jeito. É uma relação legal de se ter porque você nunca cansa um do outro. Quando nos vemos, é sempre de bom humor e prontos pra fazer algo. Estamos sempre prontos pra sair em turnê. Algumas bandas saem em turnê e odeiam estar ali, isso não acontece conosco. Amamos sair em turnê. Amamos tocar toda noite, e eu amo ver os fãs toda noite e tocar o inferno com eles. Essa é minha parte favorita do dia inteiro. Eu fico aguardando pelo show. O dia passa bem devagar e daí o show chega. É minha parte predileta do dia – estar ao vivo no palco tocando em frente dos fãs. É o que eu mais curto fazer.

Fonte: lokaos.net