quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Entrevista com Black Drawing Chalks
por Marcos Bragatto
Fonte: Rock em geral
Black Drawing Chalks: ‘somos uma banda de música fútil’
Grupo goiano, formado por designers, aposta na fusão de um som garageiro com imagens viajandonas que têm chamado a atenção no meio independente nacional.
Victor Rocha, Denis Castro, Renato Cunha e Douglas Castro querem é tocar por aí
Existem milhares de histórias de garotos prodígios que gostam de ser chamados pelo nome deste ou aquele jogador de futebol, um herói do seriado da TV ou mesmo um popstar. Para quatro goianos a coisa aconteceu mais ou menos assim, embora eles já não fossem tão novinhos. Já faziam faculdade de design gráfico em 2004 e, ao olhar para uma caixa de lápis carvão importada, na mesa de uma colega, não tiveram dúvida: deram à banda o nome de Black Drawing Chalks. Mas que banda, se nem a intenção de montar uma havia?
Ela só foi aparecer um ano depois, e em 2006 é que Victor Rocha (guitarra e vocais) e Douglas Castro (bateria) se juntaram a Denis de Castro (irmão de Douglas, baixo) e a Marco Bauer (guitarra) para tocar de verdade. Em 2007, Renato Cunha entrou no lugar de Marco para consolidar a formação do Black Drawing Chalks. A interseção do grupo com o desenho não pára por aí. Também na faculdade (estudar que é bom, nada) Victor e Douglas criaram o estúdio de design Bicicleta Sem Freio, que trabalha com bandas independentes e festivais. Não por acaso os dois álbuns do grupo, “Big Deal” (2007) e “Life is a Big Holiday for Us” (2009), têm capas viajandonas desenhadas por eles mesmos. Assim como também é o clipe para a música “My Favourite Way”, que deu um trabalhão danado para fazer, mas ficou supimpa.
O “viajandonas” ali em cima se justifica porque o Black Drawing Chalks é adepto do stoner rock garageiro e viajante, com altas doses de guitarras, e pede exatamente o visual que os caras inventam (www.flickr.com/bicicletasemfreio). Como se vê, poucas vezes numa banda de rock imagem e som estiveram tão relacionados entre si. Aproveitando a segunda visita do grupo ao Rio (a primeira ninguém sabe, ninguém viu) para a festival A Grande Roubada, batemos um papo rápido – via e-mail – com o guitarrista Victor Rocha, que usa do bom humor para falar de como o BDC virou o queridinho da mídia via MTV, da verdadeira obsessão do quarteto pelo palco e outras aventuras dos nossos rockers desenhistas.
Rock em Geral: A que você atribui o crescimento considerável da exposição de vocês na mídia entre o lançamento do primeiro e do segundo disco?
Victor Rocha: Nós tivemos a sorte de as pessoas certas gostarem da banda, mas não foi só isso. Tocamos muito no ano passado, mas muito mesmo, cerca de 70 shows, a maioria em outros estados. Topávamos qualquer parada, simplesmente para mostrar que a banda existe. Isso aumentou aos poucos as visitas no myspace, os comentários, e aos poucos percebemos que essa ralação estava rendendo. Daí fizemos a parceria com a Tronco, produtora de São Paulo, e eles começaram a ser a nossa ponte para a cidade e regiões próximas. Isso nos trouxe para mais perto da grande mídia. Mas ainda não nos sentimos muito expostos, ninguém se sente famoso, a intenção é continuar tocando.
REG: Vocês foram indicados em duas categorias no VMB do ano passado, “Aposta MTV” e “Rock Alternativo”. O que isso mudou na carreira da banda?
Victor: Mudou mais na internet, nossas visitas (aos sites e mídias sociais), plays e comentários aumentaram. Hoje somos conhecidos por um número de pessoas que sem o VMB acho que ainda levaríamos um tempinho para chegar. Mas o melhor foi a festa, bebemos pra caramba, e de graça!
REG: Vocês são uma banda de stoner rock, certo? Cite a referências que vocês usaram para chegar a este som:
Victor: Não, somos stoner universitário! O AMP, de Recife, e o MQN é que são stoner pé de serra! Brincadeira! Não nos intitulamos stoner rock, mas sim rock simples, pois isso não nos limita, e sempre que temos vontade de fazer algo diferente, fazemos e não nos prendemos ao estilo que a banda tem que seguir.
REG: Falando do clipe de “My Favourite Way”, ele parece inspirado no de “Go With The Flow”, do Queens Of The Sone Age. Tem a ver?
Victor: Não foi inspirado, mas curtimos muito o clipe, e é lógico que indiretamente ele exerceu influência sobre o nosso. Assim como o “Do The Evolution”, do Pearl Jam, e outras milhões de animações que adoramos.
REG: Conte como vocês bolaram esse clipe, como ele foi feito e qual o custo envolvido:
Victor: O principal fato de termos feito animação dessa maneira foi o custo. Nós buscamos algo que daríamos conta de fazer sem ter que gastar nenhuma grana, porque não tínhamos. Eu e o Douglas trabalhamos com edição e animação, essa foi a nossa única arma. Acabou que desenhamos oitenta por cento do clipe, quadro a quadro. Isso nos rendeu muitos calos, bolhas de sangue. Mas ficamos muito felizes com o resultado, e temos planos de fazer um ainda melhor este ano. Levamos em torno de três a quatro meses ralando para fazer esse clipe, cheguei a levar mesa digital para algumas turnês, para não perder o prazo.
REG: Vocês já fizeram turnês pelo exterior, certo? Fale sobre esses shows:
Victor: Viajamos para o Canadá, no ano passado, em março. Passamos três semanas lá. Tocamos em Toronto, no festival Canadian Music Week, e depois fomos para Montreal, fizemos uns shows lá e continuamos para o norte, abrindo para um banda grande chamada GrimSkunk. Os caras nos ensinaram muito, são muito experientes, lotam qualquer casa de show, não importa o tamanho. Isso nos ajudou para sempre a tocarmos para um público de bom número. Os shows foram sempre insanos, o povo lá bebe muito e ninguém bebe cerveja. Quando eu pedi um chope, a mulher do bar - gata por sinal - olhou para mim com cara de quem olha para uma criancinha pedindo leite.
REG: Dá para comparar a cena independente de lá com a brasileira?
Victor: Não acho que tem propósito essa comparação, são realidades bem distintas. As bandas aqui estão procurando tocar; as bandas de lá estão em outras discussões. Ninguém discute estilo, como tocar, o que fazer no palco, e essas inutilidades que não levam a nada, mas sim o propósito de uma turnê, como se portar, fazer contatos, entrar para grandes festivais, conseguir se promover. Essa é a nossa mera percepção, talvez estejamos errados.
REG: Também rolaram shows com bandas internacionais pelo Brasil. Como foi o contato com esses artistas?
Victor: Tocamos com Motörhead e The Datsuns, por exemplo, duas das nossas bandas preferidas. Além de ser a realização de sonho de fãs, foi também um grande aprendizado, profissionalmente. Depois que vimos do show do Datsuns, nos sentimos tão amebinhas, tão no comecinho que a nossa postura de palco mudou completamente. Hoje somos o que somos graças aos shows a que assistimos.
REG: De onde saiu o lema “music to drink and fuck”? Vocês são assim na prática o é mais uma questão estética?
Victor: Saiu na farra, bebendo com os amigos nas noites entre as gravações, porque afinal nós tocamos para fazer um bom background para uma boa festa, e não para mudar a cabeça ou passar mensagens. Somos uma banda de música fútil, sexo e companhia. Mas isso não tira o nosso profissionalismo, só acrescenta diversão! Se é na pratica, aí é uma questão que poucos poderão saber, ahahaha!
REG: Depois de MQN e Mechanics, há uma segunda geração de bandas de Goiânia?
Victor: Sim, tem Bang Bang Babies, Diego de Moraes, Mugo, Hellbenders e muitas outras, todas muito boas. É uma questão de tempo para o Brasil conhecer melhor. Por isso Goiânia está ficando cada vez mais famosa no quesito rock, o nível é tão bom quanto o volume de bandas!
REG: Concordam que Goiânia é a “cidade do rock”? Ou preferem “Seattle brasileira”?
Victor: Prefiro cidade do rock mesmo. Seattle já foi! E Goiânia é, tá crescendo. Lá sempre foi foda, sempre tem show de rock para se ver, todo santo final de semana. O único problema é a mídia, que não espalha a notícia. Mas aos poucos isso está mudando, os jornais estão apoiando mais, as mídias especializadas das grandes cidades estão se voltando mais para lá.
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