Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Fonte: Spleen e Charutos
Parece absurdo, mas ainda há quem acredite no espírito viciado do Rock’n Roll. Aqui mesmo em Aracaju, meia dúzia de malucos, românticos degenerados e extemporâneos, cultivam acordes envenenados como se entregassem suas vidas a uma nova religião. Sob o pretexto de cobrar um trabalho prometido em nossa última entrevista, eu conversei mais uma vez com os caras da Mamutes. Foi a maneira que encontrei de me aproximar da energia mencionada. Por algum motivo obscuro, ela já não pode ser encontrada com facilidade nas ranhuras cada vez mais rasas dos discos.
Jornal do Dia – Ano passado, no distante 2009, vocês prometeram que colocariam um novo trabalho no mercado. Como é que anda esse projeto? Além da ausência de uma guitarra (que, dada a competência de Rick Maia, não é nem tão sentida quanto deveria), quais as principais diferenças desse trabalho em relação à estréia da banda?
Karl de Lyon – Então, meu chapa, nós teremos que adiar o lançamento um pouquinho. Já estamos trabalhando na pré-produção de algumas músicas e ficvamos satisfeitos com os primeiros resultados. Com a pré-produção conseguimos nos entender melhor musicalmente. Nem só da efervescência do palco vive uma banda de rock’n roll. O que queremos é justamente surpreender também dentro do estúdio, e sabemos que chegaremos lá.
Quanto à ausência de guitarra, não é a primeira vez que passamos por isso. Outros guitarristas resolveram partir em novas direções no momento exato da decolada. Como você já deve saber, o Julio Dodge, que gravou as guita em nosso primeiro EP, saiu da banda logo depois da gravação e botou para frente um projeto extraordinário na The Baggios, além da fazer as guita na Plástico Lunar (os caras são menos peludos que a gente). Logo depois veio o Marcio Navas, Ex-Pupilas de Quartzo, que foi o auge para as guitarras da banda. O Navas e o Maia se completavam cosmicamente, mas chegou a hora de seguir a sua nova caminhada e tínhamos que respeitar o ciclo natural das coisas. A gente espera que a nave espacial que levou Navas possa trazer ele de volta, qualquer dia destes, mas sempre direi que a participação deles em nossa trajetória foi grandiosa. Só nos resta a felicidade de ter revelado os melhores guitarrista da city, e saber que temos um guitarrista que vale por mil. Então, partindo deste princípio, estamos no crédito, totalmente seguros do que fazemos.
O instinto é o mesmo desde a nossa estréia. O som que fazemos tende a ficar cada vez melhor. O rock que fazemos é literalmente valvulado: À proporção que vai esquentando, vai ficando mais encorpado, e é aí que o pau quebra.
JD – Às vezes, dadas as condições adversas do mercado local – a ausência de uma indústria e de uma política cultural maltrata os que mais se preocupam com o amadurecimento do meio – parece que montar uma banda é uma empresa para loucos. Apesar disso, a Mamutes vem crescendo a olhos vistos, e pelo que já conversamos, alimenta pretensões bem ousadas. Como foi que vocês se meteram nessa labuta ingrata? Já bateu alguma espécie de descontentamento?
Rick Maia – Hoje em dia, infelizmente, não dá pra ter uma banda e se preocupar somente com a música em si. O profissional atual tem que ser músico, produtor e empreendedor porque existem inúmeras bandas e muitas delas são realmente boas, contudo, organização demais no rock às vezes acaba fazendo com que as bandas percam a “magia” da coisa toda. Atualmente as gravadoras só trabalham com bandas já prontas para o mercado com disco lançado, DVD e alguns anos de estrada. Acredito que quem irá se destacar será aquele que tiver um bom disco, uma boa apresentação ao vivo, conhecer melhor o seu nicho e o que melhor trabalhar bem nos bastidores, enfim, quem conseguir achar um meio termo entre a organização de uma empresa e a anarquia do rock’n roll.
Nós entramos nessa com o simples intuito de se divertir e tocar, porém, desde a primeira apresentação percebemos que poderíamos fazer a diferença porque é muito fácil tocar junto quando as peças realmente se encaixam.
Com relação ao descontentamento, é normal bater sim. Uma banda é como um casamento ou uma família, às vezes está tudo lindo, às vezes ficamos desapontados uns com os outros ou com fatores externos e com as dificuldades de ser um rocker em Sergipe, mas no final sempre seguimos em frente porque ao contrário de alguns roqueiros brasileiros que vão ficando mais “mansos” com os anos, nós da Mamutes vamos ficando mais selvagens. Quanto mais difícil fica, mais aumenta o nosso tesão em mostrar pra todo o mundo a nossa paudurecência.
JD – Outro dia, conversando com um amigo músico, ele fez uma observação interessante. Para ele, ao contrário das influências declaradas da banda, o timbre da Mamutes remete diretamente aos 80’s. A observação faz sentido? Até que ponto isso é importante para a identidade da banda?
Karl de Lyon – Não, a Mamutes não tem nada a ver com os anos 80. Temos total noção da influência que determinadas bandas dos anos 80 possui sobre a gente, mas o som da Mamutes sempre foi elaborado olhando para os anos 70. A identidade da banda está toda no hard rock 70. O resto a gente vai deixar para a turma da Armação Ilimitada, do Evandro Mesquita, e para as bandas que se afinam com este som.
JD – Eu não sei como vocês acompanham a discussão, mas algumas vacas sagradas da música sergipana vêm se mobilizando num levante reacionário, exigindo na cara dura o retorno a um estado de coisas que, aparentemente, não foi capaz de criar uma cadeia produtiva para a música sergipana. Na opinião de vocês, o Estado tem que atuar como um mecenas, como querem alguns, ou é preciso construir uma indústria, capaz de proporcionar ao artista que ele caminhe com as próprias pernas?
Rick Maia – Estou participando do Fórum de Música e fui a quase todas as reuniões até agora. Pelo que posso sentir, existe uma maior organização e respeito entre os músicos hoje em dia e isso, antes de tudo, é fator fundamental para que se possa construir uma cadeia produtiva. No entanto, acho que o poder público deve ter um papel fundamental na construção dessa cadeia, atuando como articulador entre os profissionais da música e os meios de comunicação locais, entidades que ofereçam cursos de capacitação ou linhas de crédito e criando canais de divulgação de fácil acesso para o público local que é o principal combustível para o funcionamento sustentável dessa cadeia.
JD – Pra encerrar, já que o pretexto é o disco novo. Ele tem data de lançamento? Qual o nome da criança? O que agente pode esperar desse novo trabalho e o que a Mamutes espera conquistar em 2010?
Rick Maia – O bebê está programado para ser lançado agora em meados do primeiro semestre e vai se chamar Fora de Controle. O disco vai contar com duas ou três músicas do EP Demo e as demais são faixas ainda não gravadas, totalizando onze músicas.
Ao contrário de 2009, quando a estratégia foi se tornar bem conhecido localmente, este ano investiremos no mercado nacional. Para isso, já estamos agendando as datas para a turnê que terá o mesmo nome do disco. O que podemos adiantar é que provavelmente iremos aproveitar a época dos festejos juninos e em junho e julho faremos apresentações no Sul e Sudeste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário