segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Hardcore no cinema em Aracaju



Confirmado para 05 de setembro próximo a exibição do filme GUIDABLE, um documentário sobre o Ratos de Porão, no Cinemark, em Aracaju. Maiores informações em breve.

Abaixo, texto publicado no blog churrasconalage

Conheci o Ratos de Porão na oitava série, em 1993. Tinha 14 anos e era o típico headbanger de interior: preto da cabeça aos pés, madrugada de sábado sentado com os amigos no bar que vendia cerveja pra menor de idade, xingando os “boys” (play e agro) e discutindo qual era o melhor disco do Metallica e do Slayer, ou porque o metal melódico era uma bosta. Ainda não tinha descoberto Muddy Waters e o blues, e Ramones, Nirvana e Faith No More eram as únicas bandas “não extremas” que gostava. Tirando o mainstream do rock nacional, o qual não me agradava em nada, as únicas bandas brasileiras que conhecia eram o Sepultura, o Dorsal Atlantica e as bandas de metal da região.

Um colega de classe, extremamente gordo e sebento, tinha um walkman - artigo de luxo na época pra mim - e sempre levava os “déti metal”. Às vezes eu até levava umas fitas na escola, só pra ficar ouvindo música no intervalo com o walkman emprestado. Até que um dia esse cara levou uma fita de uma banda chamada Ratos de Porão. Não faço idéia de qual disco era, provavelmente o Brasil ou o Anarkophobia. Ouvi e de cara perguntei se aquelas letras eram em português ou em inglês. O colega respondeu que era português, que aquela banda era uma banda punk de São Paulo que seu irmão gostava e que (lembro perfeitamente das palavras) era tão pesado que até derretia a cera do ouvido. E acreditem, esse gordo tinha MUITA cera no ouvido.

Eu só não entendia como aquilo podia ser punk. Punk pra mim eram Ramones e Sex Pistols. E só. Nunca tinha ouvido falar em hardcore, muito menos em crossover. A fúria e a velocidade daquela fita não encontrava parâmetros nem no thrash metal que eu já conhecia e gostava. Ratos de Porão era muito mais sujo e agressivo.

Pouco tempo depois, vi umas imagens da banda tocando na tv. A figura do João Gordo só impressionou mais ainda. Essa matéria ainda comentava que a banda era bastante conhecida na Europa, onde já tinha até tocado. Pedi pra esse colega me gravar o som, e ganhei duas k7 com o Brasil e o Anarkophobia. Tenho ambos em vinil até hoje, e Brasil é um dos maiores registros de rock (pesado ou não) desse paísinho. Ponto final.

Tudo isso só pra dizer que foi foda assistir ontem, numa sessão completamente lotada no Cine Olido no coração do centro de SP, ao documentário do meu amigo Fernando Rick: Guidable - A Verdadeira História do Ratos de Porão. O Gordo deu ao Rick acesso absoluto às histórias da banda e ao vasto registro em vídeo de shows, turnês, participações em programas de TV e o caralho a quatro da banda. Todos os momentos principais da história do Ratos são contados por integrantes e ex-integrantes, como o Betinho, Jabá, Mingau e o insuportável Fralda (tão insuportável que trocou o Ratos pelo Forgotten Boys).

As histórias da banda com o uso (e abuso) de drogas é falado de forma tão livre e despojada que creio nunca ter visto algo parecido em documentário musical algum (e eu vi vários). Gordo, Jão e Boka, os atuais Ratos e que mais aparecem no filme, não apenas contam histórias pavorosas (como a época da primeira turnê européia, onde conheceram um traficante italiano que era o Scarface em pessoa, jogando quilos de farinha na cara da banda), mas também em imagens inacreditáveis, como a banda fumando crack em lata de cerveja nos camarins e estúdio.

Foi unânime, pela reação do público, que as histórias mais divertidas são contadas pelo Jão. Figuraça, muito carismático, é impossível não rachar o bico quando o cara conta da participação do Andreas Kisser do Sepultura num disco de estúdio do Ratos: “pô, o cara fez aquele puta solo na música, aí depois eu fiquei com vergonha de tocar, todo tosco… pedi pra alguém, ‘pô, leva o cara pra dar um rolê, senão não vou conseguir gravar com ele olhando’”.

O doc. ficou com uma versão final de duas horas. Pensando agora, dava pra ter dado uma enxugada, principalmente depois do depoimento do ex-baixista Pica-Pau e pouco antes do final (nesses dois momentos o filme dá uma esfriada). Mas isso é coisa de editor chato. Os punks e bangers presentes na sessão nem devem ter percebido o tempo passar, pois o que está na tela um documentário forte, vigoroso, cru, gravado em mini-DV e sem as firulas estéticas do filme do Gastão sobre o punk nacional que tanto me desagradaram. Guidable é um dos melhores registros de uma banda que já vi, feito por um fã da banda, com dinheiro do bolso e durante dois anos de penosa produção. E esse é o espírito underground que faz a maior diferença da música extrema para todas as outras. E reafirma o fato que sei desde a oitava série: o RxDxP é, junto ao Sepultura, a banda brasileira mais importante e reconhecida lá fora. Isso pra quem gosta de rock, claro. Porque CSS não é rock e todo mundo sabe disso.

Aliás, cadê o CSS?

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