Porque é uma coisa de louco aquilo. Uma maratona inacreditável uma média de 30 bandas por dia se revezando, às vezes ao mesmo tempo, entre 4 palcos, espalhados por galpões em uma rua fechada na área portuária de Natal. O rock começa cedo, às 16h, e segue até a madrugada. No sábado, 07/11, terminou mais de 4h da manhã, com o show lotadaço do novo fenômeno “indie universitário” Figueiroas. Eu não sei de onde a galera tirou energia pra dançar lambada àquela hora naquele calor. Eu estava em frangalhos.
Skabong |
Resolvi ir pro DoSol porque tive a chance de viajar junto
com a galera da Skabong, aqui de Aracaju, que foi escalada pra tocar. Saímos na
sexta à noite e chegamos no sábado. Portanto, perdemos a primeira noite do
festival. Uma pena. Perdi o show do Cigarettes que eu posso dizer que há
décadas que queria muito ver. Mas tudo bem.
No sábado, a maratona começava cedo e o Skabong(SE) era logo a segunda banda da programação. Tocaram ainda de tarde, pra uma plateia não muito numerosa, mas atenta, e fizeram o melhor show que puderam. Coeso, redondo e cheio de energia. A galera reagiu bem. Sou suspeita, mas gostei muito.
Depois disso, o que se segue é uma avalanche de
shows que são um teste pra memória estética e pra dignidade física de uma
roqueira desleixada e com problemas de saúde, como eu. Uma das primeiras bandas
que eu lembro de ter chamado minha atenção foi o Moloko Drive(RN). Show bacana,
maduro, composições instigantes. Impossível não relacionar o som deles ao
estilo stoner do QOTSA, mas isso não chega a ser um problema. Gosto muito desse
tipo de som. Me pegou de cheio. Acabaram de lançar disco pelo selo Mudernage.
Não vou listar os shows de um em um porque simplesmente não consigo me lembrar e/ou não prestei atenção. Então, faço a seguir uma seleção baseada na minha memória afetiva. Se lembro é porque curti. Ou quase isso.
Próxima da lista que me capturou os sentidos foi
uma banda de Goiânia chamada Carne Doce. Daquelas que você passa pra dar “um
saque” e se pega dizendo “UAU”. Impossível não me conquistar a mistura de vocal
feminino com um toque Elizabeth Frasier cantando em bom português e levadas
viajantes a la Tortoise ou Hurtmold, pra ficar nas referências nacionais. Tudo
muito bom, gostoso de ouvir, sem afetação, sincero. Certamente está no meu top
5.
Em seguida um show que eu há muito espero pra ver ao vivo. Acho que conheço o The Automatics(RN) há tanto tempo quanto conheço o Snooze (guitar band aqui de Aracaju que fez parte da minha vida por longos 13 anos), ou seja o tempo que devo ter nessa vida de indie rock. Como eu imaginava, não me decepcionaram. Guitar noise arrastado da melhor qualidade, fazendo jus a seus 14 anos de estrada. Showzaço.
Lembro de, ao menos, duas pessoas cantando no meu
ouvido: ‘não perca o show da Marrero(SP)’. Fui lá conferir. Rock de macho, até
nas caras e bocas do vocalista. Como diz na descrição do soundcloud deles: “Uma
banda com raiva.” Hehehehe, deu pra perceber. Mais daquela pegada stoner, que
apareceu muito pelo festival. Não estou reclamando. Gostei, só não entendi
porque eles tocaram de novo no domingo.
Aláfia foi realmente um diferencial em meio a tanto rock raivoso. Outro daqueles momentos ‘UAU’. Fazem um groove sensacional, flertando com sonoridades da black music setentista, funk, rythm’n’blues, soul e por aí vai... A vocalista maravilhosa tem uma baita voz e ótima presença de palco. Me ganhou muito. Estão lançando o segundo CD, Corpura. Fodástico. Recomendo muito.
Do show do Thiago Pethit eu me lembro de ter
tentando entrar pra dar aquele saque. Estava lotadaço e o público estava
ensandecido. Bem na hora que eu chego, sobe um(a) fã no palco e tasca um beijo
de língua na boca do cara. Nossa! Que susto. Já gostei. Nunca tinha sacado o
som dele, mea culpa. Vou chover no molhado aqui se disser que o som do maluco é
bacana. E o show? É insano. Prefiro me guardar pra outra vez que eu tiver visto
só ele em outra oportunidade.
A essa altura eu já nem enxergava as pessoas direito e já tinha falado com umas três pessoas estranhas achando que eram gente conhecida. Estava perdida, tentando entender como eu tinha me perdido da minha carona quando me deparei com o show do novo “mito universitário”.
“Fofinha, fofinha, fofinha...” (Gosto de pensar que
essa música é pra mim, hahaha). Figueiroas Lambada Quente! Mais de 3h da
madrugada e aqueles roqueiros ainda tinha energia pra dançar lambada quente...
não, infernal (calor da porra, hein, Natal?!).
O que eu entendo que rola ali é o seguinte: Dinho Zampier, meu brother alagoano de outros carnavais, é o talento musical que garante a precisão daquela estética que sai redonda, gorda, cheia de improvisos legais, enquanto isso o “Figueiroas” arrasa no personagem, dança mesmo, canta mesmo, se entrega. E a galera se entrega junto. Funciona demais. Fica constrangedor estar perto do palco e não se balançar ao menos. É sincero aquilo que rola ali. Não é apenas humor. Aquela música e aquela energia estão rolando ali de verdade. O público entende isso. Acho válido. Mas eu não sei dançar lambada.
No sábado, a maratona começava cedo e o Skabong(SE) era logo a segunda banda da programação. Tocaram ainda de tarde, pra uma plateia não muito numerosa, mas atenta, e fizeram o melhor show que puderam. Coeso, redondo e cheio de energia. A galera reagiu bem. Sou suspeita, mas gostei muito.
Moloko Drive |
Não vou listar os shows de um em um porque simplesmente não consigo me lembrar e/ou não prestei atenção. Então, faço a seguir uma seleção baseada na minha memória afetiva. Se lembro é porque curti. Ou quase isso.
Carne Doce |
Em seguida um show que eu há muito espero pra ver ao vivo. Acho que conheço o The Automatics(RN) há tanto tempo quanto conheço o Snooze (guitar band aqui de Aracaju que fez parte da minha vida por longos 13 anos), ou seja o tempo que devo ter nessa vida de indie rock. Como eu imaginava, não me decepcionaram. Guitar noise arrastado da melhor qualidade, fazendo jus a seus 14 anos de estrada. Showzaço.
The Automatics |
Aláfia foi realmente um diferencial em meio a tanto rock raivoso. Outro daqueles momentos ‘UAU’. Fazem um groove sensacional, flertando com sonoridades da black music setentista, funk, rythm’n’blues, soul e por aí vai... A vocalista maravilhosa tem uma baita voz e ótima presença de palco. Me ganhou muito. Estão lançando o segundo CD, Corpura. Fodástico. Recomendo muito.
Thiago Petit |
A essa altura eu já nem enxergava as pessoas direito e já tinha falado com umas três pessoas estranhas achando que eram gente conhecida. Estava perdida, tentando entender como eu tinha me perdido da minha carona quando me deparei com o show do novo “mito universitário”.
Figueroas "Lambada quente" |
O que eu entendo que rola ali é o seguinte: Dinho Zampier, meu brother alagoano de outros carnavais, é o talento musical que garante a precisão daquela estética que sai redonda, gorda, cheia de improvisos legais, enquanto isso o “Figueiroas” arrasa no personagem, dança mesmo, canta mesmo, se entrega. E a galera se entrega junto. Funciona demais. Fica constrangedor estar perto do palco e não se balançar ao menos. É sincero aquilo que rola ali. Não é apenas humor. Aquela música e aquela energia estão rolando ali de verdade. O público entende isso. Acho válido. Mas eu não sei dançar lambada.
Boys Bad News |
Provavelmente a que mais impressionou nesse dia, e não foi só a mim, foi a AK-47 (RN). O vocalista, Juão Nin, que também é ator, abriu o show com uma performance do lado de fora do galpão saindo de dentro de uma daquelas máquinas de fazer cimento em construção civil, gritando “índio viado, índio tóxico, índio trans”!
Dava pra entender uma sugestão de ativismo gay e ambiental aí, que logo se confirmou nas letras das músicas. Da betoneira ao palco, aquele homenzarrão imenso (e lindo!) soltou uma voz poderosíssima acompanhado por uma banda não menos de peso que deixou a mim e aos presentes de queixo no chão.
AK-47 |
Seguem-se mais dois shows de rock de responsa altamente recomendáveis. Monster Coyote é uma banda nervosíssima de Mossoró, interior desértico do RN. Fazem uma mistura de metal stoner pesadíssimo. Cacete, porrada, pauleira. Basicamente isso. Gostei muito.
Water Rats |
Os gringos da DOT LEGACY parecem ter agradado geral. Eu devo ter escutado meio atravessada. Achei som de gringo fazendo gringuice. Franceses com cabelo crespo, pulando alto e fazendo careta devem fazer um sucesso por lá. Pra mim, de cara já é um ponto a menos. Ainda mais quando eu ouço, nem que seja um indício de tentativa, da famigerada experimentação, ou “mistura de ritmos”. Ah não! De novo isso? Quantos a gente num já viu desses por aqui né? Desculpaí. Curti não. Altamente esquecível.
Mad Monkees |
Era a banda Mad Monkees , do Ceará. E o que chamava a atenção era o baterista super mega feeling virtuose dando um show à parte. Comentei: “Lembrei do Babalu”. Entendedores entenderão. Banda foda e baterista mais ainda. Vale dar um saque no trabalho dos caras.
O show do DEAD FISH OFICIAL conseguiu provocar um fenômeno: esvaziou completamente todos os outros ambientes do festival. Estava TODO MUNDO lá. Hardcore nunca foi totalmente minha praia e eu nunca tinha animado pra ver um show desses caras, mas já que tava no bolo e pelo precinho fui lá conferir. Sim, um ótimo show, como eu imaginei. Público pirando, festival de mosh, bonito de ver e tal. Mas continua não sendo o tipo de som que me instiga. E em um festival como esse, eu, sinceramente, prefiro dar atenção às bandas que eu sei que não vou ter outra chance de ver. Me parece meio lógico.
Girlie Hell |
O ultimíssimo show que eu vi, esse eu lembro bem, foi dos cariocas da Confronto. Banda de metal hardcore respeitada, com 14 anos nas costas, suas letras de resistência dos oprimidos vieram bem a calhar pra encerrar essa imersão roquística nos lembrando bem de onde nós, roqueiros velhos e resistentes, viemos e porque continuamos fiéis a essa merda toda, mesmo sem ganhar nenhum tostão.
Texto: Maíra Ezequiel
Fotos: Rafael Passos
Juão Nin, vocalista do Ak-47, mitando no domingo |
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