segunda-feira, 16 de novembro de 2015

DoSol 2015

Soubesse eu que meu ídolo e amado Adelvan Kenobi me concederia a honra de ocupar este nobre espaço com minhas impressões sobre o que vi no Festival DoSol no último fim de semana em Natal/RN, certamente eu teria ativado meu botão ‘repórter’ e teria pelo menos levado um bloquinho com caneta para facilitar essa tarefa hercúlea que tenho agora.

Porque é uma coisa de louco aquilo. Uma maratona inacreditável uma média de 30 bandas por dia se revezando, às vezes ao mesmo tempo, entre 4 palcos, espalhados por galpões em uma rua fechada na área portuária de Natal. O rock começa cedo, às 16h, e segue até a madrugada. No sábado, 07/11, terminou mais de 4h da manhã, com o show lotadaço do novo fenômeno “indie universitário” Figueiroas. Eu não sei de onde a galera tirou energia pra dançar lambada àquela hora naquele calor. Eu estava em frangalhos.

Skabong
Mas comecemos do começo...

Sábado – 07/11/2015 - Resolvi ir pro DoSol porque tive a chance de viajar junto com a galera da Skabong, aqui de Aracaju, que foi escalada pra tocar. Saímos na sexta à noite e chegamos no sábado. Portanto, perdemos a primeira noite do festival. Uma pena. Perdi o show do Cigarettes que eu posso dizer que há décadas que queria muito ver. Mas tudo bem.

No sábado, a maratona começava cedo e o Skabong(SE) era logo a segunda banda da programação. Tocaram ainda de tarde, pra uma plateia não muito numerosa, mas atenta, e fizeram o melhor show que puderam. Coeso, redondo e cheio de energia. A galera reagiu bem. Sou suspeita, mas gostei muito.

Moloko Drive
Depois disso, o que se segue é uma avalanche de shows que são um teste pra memória estética e pra dignidade física de uma roqueira desleixada e com problemas de saúde, como eu. Uma das primeiras bandas que eu lembro de ter chamado minha atenção foi o Moloko Drive(RN). Show bacana, maduro, composições instigantes. Impossível não relacionar o som deles ao estilo stoner do QOTSA, mas isso não chega a ser um problema. Gosto muito desse tipo de som. Me pegou de cheio. Acabaram de lançar disco pelo selo Mudernage.

Não vou listar os shows de um em um porque simplesmente não consigo me lembrar e/ou não prestei atenção. Então, faço a seguir uma seleção baseada na minha memória afetiva. Se lembro é porque curti. Ou quase isso.

Carne Doce
Próxima da lista que me capturou os sentidos foi uma banda de Goiânia chamada Carne Doce. Daquelas que você passa pra dar “um saque” e se pega dizendo “UAU”. Impossível não me conquistar a mistura de vocal feminino com um toque Elizabeth Frasier cantando em bom português e levadas viajantes a la Tortoise ou Hurtmold, pra ficar nas referências nacionais. Tudo muito bom, gostoso de ouvir, sem afetação, sincero. Certamente está no meu top 5.

Em seguida um show que eu há muito espero pra ver ao vivo. Acho que conheço o The Automatics(RN) há tanto tempo quanto conheço o Snooze (guitar band aqui de Aracaju que fez parte da minha vida por longos 13 anos), ou seja o tempo que devo ter nessa vida de indie rock. Como eu imaginava, não me decepcionaram. Guitar noise arrastado da melhor qualidade, fazendo jus a seus 14 anos de estrada. Showzaço.

The Automatics
Lembro de, ao menos, duas pessoas cantando no meu ouvido: ‘não perca o show da Marrero(SP)’. Fui lá conferir. Rock de macho, até nas caras e bocas do vocalista. Como diz na descrição do soundcloud deles: “Uma banda com raiva.” Hehehehe, deu pra perceber. Mais daquela pegada stoner, que apareceu muito pelo festival. Não estou reclamando. Gostei, só não entendi porque eles tocaram de novo no domingo.

Aláfia foi realmente um diferencial em meio a tanto rock raivoso. Outro daqueles momentos ‘UAU’. Fazem um groove sensacional, flertando com sonoridades da black music setentista, funk, rythm’n’blues, soul e por aí vai... A vocalista maravilhosa tem uma baita voz e ótima presença de palco. Me ganhou muito. Estão lançando o segundo CD, Corpura. Fodástico. Recomendo muito.

Thiago Petit
Do show do Thiago Pethit eu me lembro de ter tentando entrar pra dar aquele saque. Estava lotadaço e o público estava ensandecido. Bem na hora que eu chego, sobe um(a) fã no palco e tasca um beijo de língua na boca do cara. Nossa! Que susto. Já gostei. Nunca tinha sacado o som dele, mea culpa. Vou chover no molhado aqui se disser que o som do maluco é bacana. E o show? É insano. Prefiro me guardar pra outra vez que eu tiver visto só ele em outra oportunidade.

A essa altura eu já nem enxergava as pessoas direito e já tinha falado com umas três pessoas estranhas achando que eram gente conhecida. Estava perdida, tentando entender como eu tinha me perdido da minha carona quando me deparei com o show do novo “mito universitário”.

Figueroas "Lambada quente"
“Fofinha, fofinha, fofinha...” (Gosto de pensar que essa música é pra mim, hahaha). Figueiroas Lambada Quente! Mais de 3h da madrugada e aqueles roqueiros ainda tinha energia pra dançar lambada quente... não, infernal (calor da porra, hein, Natal?!).

O que eu entendo que rola ali é o seguinte: Dinho Zampier, meu brother alagoano de outros carnavais, é o talento musical que garante a precisão daquela estética que sai redonda, gorda, cheia de improvisos legais, enquanto isso o “Figueiroas” arrasa no personagem, dança mesmo, canta mesmo, se entrega. E a galera se entrega junto. Funciona demais. Fica constrangedor estar perto do palco e não se balançar ao menos. É sincero aquilo que rola ali. Não é apenas humor. Aquela música e aquela energia estão rolando ali de verdade. O público entende isso. Acho válido. Mas eu não sei dançar lambada.

Boys Bad News
Domingo – 08/11 - No domingo, uma outra banda tipo stoner sexy guitar rock fez um dos primeiros shows que eu consigo lembrar: Boys Bad News , do Maranhão. Nada muito inovador, mas foram bem no palco, pegada instigante, conquistaram o público, eu inclusa.

Provavelmente a que mais impressionou nesse dia, e não foi só a mim, foi a AK-47 (RN). O vocalista, Juão Nin, que também é ator, abriu o show com uma performance do lado de fora do galpão saindo de dentro de uma daquelas máquinas de fazer cimento em construção civil, gritando “índio viado, índio tóxico, índio trans”!

Dava pra entender uma sugestão de ativismo gay e ambiental aí, que logo se confirmou nas letras das músicas. Da betoneira ao palco, aquele homenzarrão imenso (e lindo!) soltou uma voz poderosíssima acompanhado por uma banda não menos de peso que deixou a mim e aos presentes de queixo no chão.

AK-47
O som da AK-47 é pesado, rasgado, gritado, ou “visceral”, como eles se descrevem na biografia do facebook. Aqui e acolá, há um flerte com batidas tribais. Bateria e percussão são bem pronunciadas, e as guitarras, óbvio, bem altas e com muita distorção. Difícil não associar ao que ficou conhecido como Nu Metal, mas o rótulo é pouco (como são todos) pra enquadrá-los. O disco novo, Anêmola, está disponível pra download na página da banda. Tem que conferir.

Seguem-se mais dois shows de rock de responsa altamente recomendáveis. Monster Coyote é uma banda nervosíssima de Mossoró, interior desértico do RN. Fazem uma mistura de metal stoner pesadíssimo. Cacete, porrada, pauleira. Basicamente isso. Gostei muito.

Water Rats
Os curitibanos do Water Rats mandam um punk de primeiríssima, meio setentão, ótimos vocais, ótimos riffs, impossível ficar parado. A galera tem bastante estrada e interage super bem com o público. Fizeram um show muito instigante.

Os gringos da DOT LEGACY parecem ter agradado geral. Eu devo ter escutado meio atravessada. Achei som de gringo fazendo gringuice. Franceses com cabelo crespo, pulando alto e fazendo careta devem fazer um sucesso por lá. Pra mim, de cara já é um ponto a menos. Ainda mais quando eu ouço, nem que seja um indício de tentativa, da famigerada experimentação, ou “mistura de ritmos”. Ah não! De novo isso? Quantos a gente num já viu desses por aqui né? Desculpaí. Curti não. Altamente esquecível.

Mad Monkees
Em um dado momento do domingo, Levi Marques (vocalista da Skabong) me chama pra ver o que tá rolando no palco “estúdio Petrobrás” – na verdade um container, do lado de fora dos galpões. Ele diz, meio chocado: “Você tem que ver isso!”

Era a banda Mad Monkees , do Ceará. E o que chamava a atenção era o baterista super mega feeling virtuose dando um show à parte. Comentei: “Lembrei do Babalu”. Entendedores entenderão. Banda foda e baterista mais ainda. Vale dar um saque no trabalho dos caras.

O show do DEAD FISH OFICIAL conseguiu provocar um fenômeno: esvaziou completamente todos os outros ambientes do festival. Estava TODO MUNDO lá. Hardcore nunca foi totalmente minha praia e eu nunca tinha animado pra ver um show desses caras, mas já que tava no bolo e pelo precinho fui lá conferir. Sim, um ótimo show, como eu imaginei. Público pirando, festival de mosh, bonito de ver e tal. Mas continua não sendo o tipo de som que me instiga. E em um festival como esse, eu, sinceramente, prefiro dar atenção às bandas que eu sei que não vou ter outra chance de ver. Me parece meio lógico.

Girlie Hell
Quase terminando a noite, sobem ao palco as roqueiras, super roqueiras, com muita pose de roqueiras, da Girlie Hell (GO). Não gosto da afetação que vejo em algumas bandas da safra goiana recente. Parecem, quase todas, muito preocupadas em ter a famosa “atitude roquenrol”. Torço um pouco o nariz quando vejo esse excesso (não são as primeiras), mas curti o som das meninas mesmo assim. Rockão clássico, composições legais, bom vocal. Se investirem mais na música e menos na pose tem futuro.

O ultimíssimo show que eu vi, esse eu lembro bem, foi dos cariocas da Confronto. Banda de metal hardcore respeitada, com 14 anos nas costas, suas letras de resistência dos oprimidos vieram bem a calhar pra encerrar essa imersão roquística nos lembrando bem de onde nós, roqueiros velhos e resistentes, viemos e porque continuamos fiéis a essa merda toda, mesmo sem ganhar nenhum tostão.

Texto: Maíra Ezequiel

Fotos: Rafael Passos

Juão Nin, vocalista do Ak-47, mitando no domingo


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