Zibabu é um grupo de rock da Holanda que está em turnê pelo Brasil e se apresenta hoje no centro da cidade, na Caverna do Jimi Lennon.
Anarquistas de Amsterdã, o guitarrista Berk Uhm, o baterista Kris e o baixista Daan estudaram rotas marítimas, arrumaram um barco emprestado, navegaram pelo litoral africano e atravessaram o Atlântico para aportar no Brasil.
O power trio tem dois álbuns independentes, "Unplug Your Brain" de 2009 e "Monetary Cemetery", lançado ano passado. "Nós estamos em tour desde novembro, primeiro pela Europa - Holanda, Bélgica, França, Espanha, Portugal - e depois fomos para as Ilhas Canárias, próximas à costa do Marrocos. Lá, conseguimos com um casal russo um veleiro de 13 metros, bastante espaço pra nós três", conta Berk.
Passaram mais de um mês em alto-mar. "Partimos via Cabo Verde com destino a Belém, numa viagem que durou 36 dias. Chegamos em 03 de fevereiro e já passamos por Bacabal, São Luís, Fortaleza, Teresina, Mossoró, Natal, Recife, Delmiro Gouveia, Arapiraca e Maceió. Tá demais, o povo é amigável, a cena é forte e nós adoramos arroz com feijão."
Agora é a vez de Sergipe conhecer o "freak punk", rótulo que inventaram para definir seu som experimental, que vai do jazz fusion ao ska suingado e hardcore gritado. São dos países baixos, mas gostam de tocar alto.
Daqui, descem pela costa brasileira até Uruguai, Argentina e Chile. O objetivo final é chegar aos EUA percorrendo toda América Latina. Sem nenhuma gravadora por trás, ganhando apenas o suficiente para cobrir os custos.
"É um processo inverso das antigas colonizações, uma descolonização, estabelecendo relações de ruptura, laços apertados de fraternidade, simplicidade em oposição às instituições", dizem os integrantes do Zibabu.
A Caverna do Jimmy Lennon fica na Rua de Lagarto, 1140, entre as ruas Boquim e Estancia, ao lado do prédio da Oi, no centro de Aracaju. A banda baiana The Honkers abre a noite, a partir das 22 horas.
por Adolfo Sá
#
sexta-feira, 28 de março de 2014
segunda-feira, 24 de março de 2014
Metallica em sp
Estava na dúvida se depois de dois dias eu já tinha perdido o timing pra falar do show do Metallica, aí lembrei que a porra do blog é meu e eu faço o que quiser (libertador, gente, recomendo).
Antes que a gente se estresse peço para que os jornalistões ranzinzas e gente que se acha muito mais cool e indie por odiar o Metallica parem de ler o texto aqui pra gente não desgastar a amizade e vocês não terem (mais uma) crise de gastrite.
As fotos estão uma porqueira, mas paciência, da próxima vez vocês que organizem um abaixo assinado pra me arranjarem uma credencial decente. Mas vamos lá.
Não sei se vocês lembram, mas na cobertura do show do Rock in Rio eu estava morta arrasada sem dormir e acabei indo embora no meio do show prometendo nos encontrar outra vez, pois tínhamos unfinished business.
Pois então, a hora era agora. Claro que comprei ingresso de última hora e acabei tendo que ir na arquibancada superior, que deveria ser chamada Arquibancada Paz de Cristo. Ela é coberta, tem assentos confortáveis, banheiros limpos e próximos, atrai tiozões, famílias com crianças menores, rockeiros que buscam conforto e boa visão. O lado ruim é que a porra da caixa de som fica bem na frente do telão, o som -que na pista é um arregaço- chega mais ~suave~ e se você se mexer demais acaba incomodando os outros (que deviam ter assistido de casa).
Chegar no Morumbi foi aquele inferno na terra de sempre, mas deu tempo de pegar o show inteiro do Raven, banda de abertura que não só foi influência pro Metallica, como botou eles pra abrirem seus shows em 83, época do Kill ‘Em All. A banda chegou esforçada,fazendo um balé performática, porém foi super prejudicada pelo som desregulado e oscilante. A impressão que dava é que James largou as filhas brincando na mesa de som, ou que a equipe técnica toda tava de ressaca. Eles até tentaram emendar uns riffs de Black Sabbath pra ganhar a galera, mas o que chamou a atenção mesmo foi o guitarrista no chão solando enquanto a câmera do telão tava no baterista, de boa. Mas a banda seguiu inabalável até o final, terminando o show quebrando tudo, jogando os tripé pra cima, dando umas voadora loca uns nos outros.
Ah, sim, a chuva. Não tinha percebido a garoa até reparar que a pista premium estava parecendo o episódio do pica-pau nas cataratas (até capa de chuva na área vip é ostentação).
Tá, o show. Vocês já devem saber melhor que eu como funcionava o lance da votação, e os fãs no palco do meet & greet e como eles foram fofos, e faladeiros etc. Vamos pular essa parte.
O Metallica entrou no palco com uma hora de atraso, refletindo o atraso do Raven (e não por frescura como é o caso do Axl). Bem quando inventei de ir ao banheiro começou um filme no telão explicando como rolava o lance de votação da turnê By Request e eu voltei louca correndo atropelando todo mundo nos assentos. Deu tempo de pegar aquele filminho do faroeste de abertura (desculpa, gente, não entendo um caralho de faroeste, não sei de qual filme era), e eles entrando pelo fundo do palco, mas preferi gritar ao invés de tirar foto.
Eles abriram com a cacetada de Battery, mas o estádio veio abaixo em seguida com Master of Puppets. Como já era sabido, eles tocaram todos, repito todos os sucessos da ~ geração MTV~ com direito a isqueiro aceso em Nothing Else Matters (desculpa gente, todo mundo aqui já teve 15 anos), bis com a inédita nos palcos brasileiros Whiskey in the Jar (o mais próximo que a gente vai conseguir chegar de um show do Thin Lizzy), e bola preta na platéia com o final esperado, porém incrível de Seek and Destroy.
Ah sim, teve as músicas novas que são ótimas para ir ao banheiro correndo (e comprovar que a acústica do banheiro do Morumbi tava melhor que a do Setor 2), ou sentar um pouquinho.
Vocês já devem ter lido por aí, mas corroboro. Por causa da chuvarada, os efeitos, fogos, e firulas não rolaram e, o que seria um problema de ter que segurar um show só com a banda e seu som debaixo de uma chuva do cacete, acabou sendo a melhor coisa que poderia ter acontecido para a banda e pro público. O perrengue, de fato, tirou os caras da zona de conforto, e fizeram eles tocar com mais força e entrega. Aliás, alguém me tira uma dúvida.
A bateria do Lars ficou no cantinho do palco pra:
( ) não molhar tanto a bateria
( ) não molhar a farinha
( ) ficar mais perto das groupies
Aquele baixista caranguejo do Ozzy pode ser excelente, pode dançar capoeira enquanto toca, mas eu continuo achando o FIM DO MUNDO ele fazer parte da banda #voltajason.
Não falo nada do James ou do Kirk porque em perfeição a gente não dá pitaco.
O show acabou, os roadies já estavam desmontando os equipamentos, e a banda, que não fazia um show cru assim há tempos, não queria sair do palco de jeito nenhum. Eu, inclusive, saí antes deles pra disputar um táxi no tapa.
Acordei no dia seguinte com dor no pescoço achando que tava com meningite, mas era só o day after de um show de headbang intenso. E sim, um roxo imenso na perna de lembrança de uma das minhas tentativas frustradas de pular a fileira da arquibancada. E apesar do som não ter me deixado surda como eu queria, fiquei na certeza que em matéria de consistência, presença de palco, fãs, tempo de banda, e legado, o Metallica é o próximo Rolling Stones.
Por @debbiehell. Mais projetos sobre música em: deboracassolatto.tumblr.com
NOTA DO BLOG: Um fato curioso: muitos fãs do Metallica foram hostilizados por membros da Marchinha do retrocesso sem Deus pela puta que os pariu - com o perdão à nobre classe das prostitutas pela ofensa - porque foram confundidos com Black Blocks! Fim da Nota. Nos comentários, leia as já meio manjadas mas sempre cômicas mensagens enfurecidas do "patriotinha", nosso leitor mais fiel ...
p.s. sabia que tava esquecendo alguma coisa. Lá vai o setlist:
"Battery"
"Master of Puppets"
"Welcome Home (Sanitarium)"
"Fuel"
"The Unforgiven"
"Lords of Summer"
"Wherever I May Roam"
"Sad But True"
"Fade to Black"
"…And Justice for All"
"One"
"For Whom the Bell Tolls"
"Creeping Death"
"Nothing Else Matters"
"Enter Sandman"
bis
"Whiskey in the Jar"
"The Day that Never Comes"
"Seek & Destroy"
#
Antes que a gente se estresse peço para que os jornalistões ranzinzas e gente que se acha muito mais cool e indie por odiar o Metallica parem de ler o texto aqui pra gente não desgastar a amizade e vocês não terem (mais uma) crise de gastrite.
As fotos estão uma porqueira, mas paciência, da próxima vez vocês que organizem um abaixo assinado pra me arranjarem uma credencial decente. Mas vamos lá.
Não sei se vocês lembram, mas na cobertura do show do Rock in Rio eu estava morta arrasada sem dormir e acabei indo embora no meio do show prometendo nos encontrar outra vez, pois tínhamos unfinished business.
Chegar no Morumbi foi aquele inferno na terra de sempre, mas deu tempo de pegar o show inteiro do Raven, banda de abertura que não só foi influência pro Metallica, como botou eles pra abrirem seus shows em 83, época do Kill ‘Em All. A banda chegou esforçada,
Ah, sim, a chuva. Não tinha percebido a garoa até reparar que a pista premium estava parecendo o episódio do pica-pau nas cataratas (até capa de chuva na área vip é ostentação).
Tá, o show. Vocês já devem saber melhor que eu como funcionava o lance da votação, e os fãs no palco do meet & greet e como eles foram fofos, e faladeiros etc. Vamos pular essa parte.
O Metallica entrou no palco com uma hora de atraso, refletindo o atraso do Raven (e não por frescura como é o caso do Axl). Bem quando inventei de ir ao banheiro começou um filme no telão explicando como rolava o lance de votação da turnê By Request e eu voltei louca correndo atropelando todo mundo nos assentos. Deu tempo de pegar aquele filminho do faroeste de abertura (desculpa, gente, não entendo um caralho de faroeste, não sei de qual filme era), e eles entrando pelo fundo do palco, mas preferi gritar ao invés de tirar foto.
Eles abriram com a cacetada de Battery, mas o estádio veio abaixo em seguida com Master of Puppets. Como já era sabido, eles tocaram todos, repito todos os sucessos da ~ geração MTV~ com direito a isqueiro aceso em Nothing Else Matters (desculpa gente, todo mundo aqui já teve 15 anos), bis com a inédita nos palcos brasileiros Whiskey in the Jar (o mais próximo que a gente vai conseguir chegar de um show do Thin Lizzy), e bola preta na platéia com o final esperado, porém incrível de Seek and Destroy.
Ah sim, teve as músicas novas que são ótimas para ir ao banheiro correndo (e comprovar que a acústica do banheiro do Morumbi tava melhor que a do Setor 2), ou sentar um pouquinho.
Vocês já devem ter lido por aí, mas corroboro. Por causa da chuvarada, os efeitos, fogos, e firulas não rolaram e, o que seria um problema de ter que segurar um show só com a banda e seu som debaixo de uma chuva do cacete, acabou sendo a melhor coisa que poderia ter acontecido para a banda e pro público. O perrengue, de fato, tirou os caras da zona de conforto, e fizeram eles tocar com mais força e entrega. Aliás, alguém me tira uma dúvida.
A bateria do Lars ficou no cantinho do palco pra:
( ) não molhar tanto a bateria
( ) não molhar a farinha
( ) ficar mais perto das groupies
Aquele baixista caranguejo do Ozzy pode ser excelente, pode dançar capoeira enquanto toca, mas eu continuo achando o FIM DO MUNDO ele fazer parte da banda #voltajason.
Não falo nada do James ou do Kirk porque em perfeição a gente não dá pitaco.
O show acabou, os roadies já estavam desmontando os equipamentos, e a banda, que não fazia um show cru assim há tempos, não queria sair do palco de jeito nenhum. Eu, inclusive, saí antes deles pra disputar um táxi no tapa.
Acordei no dia seguinte com dor no pescoço achando que tava com meningite, mas era só o day after de um show de headbang intenso. E sim, um roxo imenso na perna de lembrança de uma das minhas tentativas frustradas de pular a fileira da arquibancada. E apesar do som não ter me deixado surda como eu queria, fiquei na certeza que em matéria de consistência, presença de palco, fãs, tempo de banda, e legado, o Metallica é o próximo Rolling Stones.
Por @debbiehell. Mais projetos sobre música em: deboracassolatto.tumblr.com
NOTA DO BLOG: Um fato curioso: muitos fãs do Metallica foram hostilizados por membros da Marchinha do retrocesso sem Deus pela puta que os pariu - com o perdão à nobre classe das prostitutas pela ofensa - porque foram confundidos com Black Blocks! Fim da Nota. Nos comentários, leia as já meio manjadas mas sempre cômicas mensagens enfurecidas do "patriotinha", nosso leitor mais fiel ...
p.s. sabia que tava esquecendo alguma coisa. Lá vai o setlist:
"Battery"
"Master of Puppets"
"Welcome Home (Sanitarium)"
"Fuel"
"The Unforgiven"
"Lords of Summer"
"Wherever I May Roam"
"Sad But True"
"Fade to Black"
"…And Justice for All"
"One"
"For Whom the Bell Tolls"
"Creeping Death"
"Nothing Else Matters"
"Enter Sandman"
bis
"Whiskey in the Jar"
"The Day that Never Comes"
"Seek & Destroy"
#
domingo, 23 de março de 2014
KARNE KRUA
Karne Krua, de Aracaju, Sergipe, é, muito provavelmente, uma das bandas
punk mais antigas em atividade ininterrupta no norte e nordeste do
Brasil. Nunca pararam! Posso atestar
isso, já que os acompanho desde 1987, quando fui ao meu primeiro show de
rock “underground”. Sobrevive às idas e vindas de componentes graças à
persistência de Silvio, o vocalista e único membro original
remanescente.
Idas e vindas que, felizmente, já cessaram há um bom tempo: a formação mais recente, com Adriano na bateria, Alexandre na guitarra, Ivo Delmondes no baixo e Silvio nos vocais, é uma das mais estáveis e duradouras. E, provavelmente, também a melhor, conseguindo o feito de superar a “clássica”, com Silvio, Marlio, Marcelo e Almada - aquela que definiu a sonoridade da banda e compôs verdadeiros hinos do Hard Core undergound nacional.
A Karne Krua existe desde 1985. Havia na época um cenário “roqueiro” pulsando nos submundos da cidade, herdeiro direto da nova onda do rock nacional que tomava conta do país. Vieram, no entanto, com uma proposta ousada para a provinciana capital do menor estado do país: radicalizar na postura e na sonoridade. Fazer punk rock e Hard Core cru, bruto e engajado. Fizeram barulho e chamaram a atenção, aglutinando ao seu redor toda uma nova cena com nomes como Manicômio, Condenados, Cleptomania, Logorreia, Forcas Armadas e Sublevação. Dessas, algumas tiveram vida curta e sumiram na poeira do tempo, deixando pouco ou nada para trás. Outras sobrevivem até hoje. Mas nenhuma com a força e a capacidade de se renovar e renovar seu público, de geração a geração, que a Karne Krua tem.
Como toda banda que dura tanto, passaram por várias fases e diferentes variações de sonoridade. Tudo devidamente registrado na farta discografia e “demografia”, que começou com a tosca “As Merdas do sistema”, alcançou uma certa maturidade com a clássica – embora ainda tosca – “labor Operário”, experimentou o primeiro gosto do profissionalismo com “Suicídio”, a primeira gravada em estúdio, no Recife, e se “consagrou” – na medida do possível para uma banda totalmente independente – com o primeiro registro em vinil, o LP auto-intitulado, de 1994.
O primeiro disco da Karne Krua está fazendo 20 anos de lançado e, apesar de seus defeitos gritantes – de gravação e mixagem, principalmente – é um clássico. Principalmente porque foi gravado ainda com a formação mais célebre - que logo depois se dissolveu definitivamente – e tem um repertório impecável, fruto da excelente fase pela qual passavam na época e que rendeu pérolas do quilate de “O vinho da História” e “A Noite do Deus morto”. Além disso, havia a bagagem que já vinham acumulando em quase 10 anos de atuação nos porões do punk rock nordestino, período no qual compuseram alguns clássicos que até hoje são cantados em coro nos shows: “America latina now”, “cenas de ódio e revolta” e “Sindicato”, dentre outras. Músicas que, para além da simplicidade dos acordes primários típicos do estilo, carregavam uma poesia improvável em suas letras, como na de “política da seca” - um lamento que, a meu ver, poderia constar tranquilamento ao lado de grandes canções icônicas sobre a tragédia do sofrimento do povo do nordeste, como “Asa Branca” e “A Triste partida”. Seus versos são um verdadeiro soco no estômago do conformismo e não me deixam mentir: falam de “pessoas castigadas pelo sol e pela fome” que “lamentam a dor de mais um ano que passou”. Porque “os miseráveis são fonte de renda, mão de obra barata. Voto Comprado. Essa é a grande armadilha, e deverá ser cultivada”.
O disco foi lançado tardiamente, numa época de transição para a industria da musica, do analógico para o digital. Não teve versão em CD e, muito por conta disso, teve uma repercussão reduzida. Hoje, no entanto, a situação se inverteu: é cultuado justamente por ser, além do primeiro registro “oficial” de uma banda clássica do cenário local e nacional, um dos poucos discos sergipanos a ter tido uma edição em vinil.
Seguiram em frente: ao longo das décadas de 1990 e 2000 foram absorvendo novos membros e novas influências, notadamente do Hard Core novaiorquino - Biohazard, Agnostic Front - e da música regional – o repente e o “aboio”, principalmente. Novas fitas demo foram lançadas – “Máscaras para o caos”, de 1997, e “Instantes Irreversíveis”, de 1999 – e finalmente, em 2002, o segundo disco, agora em CD: “Em Carne viva”. O lançamento aconteceu numa noite inesquecível daquele início de século, quando conseguiram o feito de lotar o Espaço Emes, maior arena de shows local, que já serviu de palco para nomes consagrados da música popular e do rock, como Roberto Carlos, Sepultura e Ana Carolina. Tudo registrado em vídeo e disponível em DVD.
O maior triunfo da banda, no entanto, ainda estava por vir: o álbum “Inanição”, uma verdadeira obra-prima do gênero em terras brasilis. Gravado num momento de transição, ainda com o grande baterista Thiago “Babalu”, que se mudou para São Paulo e hoje toca com Siba, ex-Mestre Ambrosio, e Alexandre, o guitarrista, fazendo também o papel de baixista, demorou uma eternidade para ser lançado. Só veio ao mundo em 2012, exatos dez anos depois do segundo. Mas valeu a pena a espera: trata-se de uma impecável coleção de canções que, alinhadas, traçam um impressionante painel de angustia e revolta diante das injustiças do mundo, do drama dos retirantes ao sofrimento dos animais usados em testes de laboratório. E tem, pelo menos, um novo clássico: a música título, “inanição”. Nele a banda consegue finalmente registrar todo o potencial que, até então, só se revelava em toda a sua plenitude em cima do palco. É um registro que não pode faltar na coleção de ninguém que se diga apreciador do combativo e altivo punk rock nacional.
Hoje, prestes a completar 30 anos de carreira ininterrupta, continuam tocando principalmente em sua cidade e regiões circunvizinhas, porque não têm estrutura nem suporte financeiro para vôos mais altos. Mas seguem vivo e ativos. Acabam de lançar um EP 7 polegadas - formato outrora popularmente conhecido no Brasil como "compacto" - em parceria com o "Besthoven", de Brasília. Trata-se de um verdadeiro soco sonoro em forma de 4 músicas emendadas, uma espécie de "suíte" Hard Core versando sobre os horrores da guerra. A edição é caprichada, com prensagem de qualidade a cargo da renascida polyson, única fábrica de discos de vinil ainda em atividade no país, e uma excelente arte de capa de autoria de Thiago Neumman, o popular "Cachorrão".
Às vezes eu tenho a impressão que a Karne Krua nunca vai acabar. Sei que sim – porque tudo, um dia, acaba. Mas torço para que não.
Que seja eterna enquanto dure, como dizia o poeta.
por Adelvan
#
Idas e vindas que, felizmente, já cessaram há um bom tempo: a formação mais recente, com Adriano na bateria, Alexandre na guitarra, Ivo Delmondes no baixo e Silvio nos vocais, é uma das mais estáveis e duradouras. E, provavelmente, também a melhor, conseguindo o feito de superar a “clássica”, com Silvio, Marlio, Marcelo e Almada - aquela que definiu a sonoridade da banda e compôs verdadeiros hinos do Hard Core undergound nacional.
A Karne Krua existe desde 1985. Havia na época um cenário “roqueiro” pulsando nos submundos da cidade, herdeiro direto da nova onda do rock nacional que tomava conta do país. Vieram, no entanto, com uma proposta ousada para a provinciana capital do menor estado do país: radicalizar na postura e na sonoridade. Fazer punk rock e Hard Core cru, bruto e engajado. Fizeram barulho e chamaram a atenção, aglutinando ao seu redor toda uma nova cena com nomes como Manicômio, Condenados, Cleptomania, Logorreia, Forcas Armadas e Sublevação. Dessas, algumas tiveram vida curta e sumiram na poeira do tempo, deixando pouco ou nada para trás. Outras sobrevivem até hoje. Mas nenhuma com a força e a capacidade de se renovar e renovar seu público, de geração a geração, que a Karne Krua tem.
Como toda banda que dura tanto, passaram por várias fases e diferentes variações de sonoridade. Tudo devidamente registrado na farta discografia e “demografia”, que começou com a tosca “As Merdas do sistema”, alcançou uma certa maturidade com a clássica – embora ainda tosca – “labor Operário”, experimentou o primeiro gosto do profissionalismo com “Suicídio”, a primeira gravada em estúdio, no Recife, e se “consagrou” – na medida do possível para uma banda totalmente independente – com o primeiro registro em vinil, o LP auto-intitulado, de 1994.
O primeiro disco da Karne Krua está fazendo 20 anos de lançado e, apesar de seus defeitos gritantes – de gravação e mixagem, principalmente – é um clássico. Principalmente porque foi gravado ainda com a formação mais célebre - que logo depois se dissolveu definitivamente – e tem um repertório impecável, fruto da excelente fase pela qual passavam na época e que rendeu pérolas do quilate de “O vinho da História” e “A Noite do Deus morto”. Além disso, havia a bagagem que já vinham acumulando em quase 10 anos de atuação nos porões do punk rock nordestino, período no qual compuseram alguns clássicos que até hoje são cantados em coro nos shows: “America latina now”, “cenas de ódio e revolta” e “Sindicato”, dentre outras. Músicas que, para além da simplicidade dos acordes primários típicos do estilo, carregavam uma poesia improvável em suas letras, como na de “política da seca” - um lamento que, a meu ver, poderia constar tranquilamento ao lado de grandes canções icônicas sobre a tragédia do sofrimento do povo do nordeste, como “Asa Branca” e “A Triste partida”. Seus versos são um verdadeiro soco no estômago do conformismo e não me deixam mentir: falam de “pessoas castigadas pelo sol e pela fome” que “lamentam a dor de mais um ano que passou”. Porque “os miseráveis são fonte de renda, mão de obra barata. Voto Comprado. Essa é a grande armadilha, e deverá ser cultivada”.
O disco foi lançado tardiamente, numa época de transição para a industria da musica, do analógico para o digital. Não teve versão em CD e, muito por conta disso, teve uma repercussão reduzida. Hoje, no entanto, a situação se inverteu: é cultuado justamente por ser, além do primeiro registro “oficial” de uma banda clássica do cenário local e nacional, um dos poucos discos sergipanos a ter tido uma edição em vinil.
Seguiram em frente: ao longo das décadas de 1990 e 2000 foram absorvendo novos membros e novas influências, notadamente do Hard Core novaiorquino - Biohazard, Agnostic Front - e da música regional – o repente e o “aboio”, principalmente. Novas fitas demo foram lançadas – “Máscaras para o caos”, de 1997, e “Instantes Irreversíveis”, de 1999 – e finalmente, em 2002, o segundo disco, agora em CD: “Em Carne viva”. O lançamento aconteceu numa noite inesquecível daquele início de século, quando conseguiram o feito de lotar o Espaço Emes, maior arena de shows local, que já serviu de palco para nomes consagrados da música popular e do rock, como Roberto Carlos, Sepultura e Ana Carolina. Tudo registrado em vídeo e disponível em DVD.
O maior triunfo da banda, no entanto, ainda estava por vir: o álbum “Inanição”, uma verdadeira obra-prima do gênero em terras brasilis. Gravado num momento de transição, ainda com o grande baterista Thiago “Babalu”, que se mudou para São Paulo e hoje toca com Siba, ex-Mestre Ambrosio, e Alexandre, o guitarrista, fazendo também o papel de baixista, demorou uma eternidade para ser lançado. Só veio ao mundo em 2012, exatos dez anos depois do segundo. Mas valeu a pena a espera: trata-se de uma impecável coleção de canções que, alinhadas, traçam um impressionante painel de angustia e revolta diante das injustiças do mundo, do drama dos retirantes ao sofrimento dos animais usados em testes de laboratório. E tem, pelo menos, um novo clássico: a música título, “inanição”. Nele a banda consegue finalmente registrar todo o potencial que, até então, só se revelava em toda a sua plenitude em cima do palco. É um registro que não pode faltar na coleção de ninguém que se diga apreciador do combativo e altivo punk rock nacional.
Hoje, prestes a completar 30 anos de carreira ininterrupta, continuam tocando principalmente em sua cidade e regiões circunvizinhas, porque não têm estrutura nem suporte financeiro para vôos mais altos. Mas seguem vivo e ativos. Acabam de lançar um EP 7 polegadas - formato outrora popularmente conhecido no Brasil como "compacto" - em parceria com o "Besthoven", de Brasília. Trata-se de um verdadeiro soco sonoro em forma de 4 músicas emendadas, uma espécie de "suíte" Hard Core versando sobre os horrores da guerra. A edição é caprichada, com prensagem de qualidade a cargo da renascida polyson, única fábrica de discos de vinil ainda em atividade no país, e uma excelente arte de capa de autoria de Thiago Neumman, o popular "Cachorrão".
Às vezes eu tenho a impressão que a Karne Krua nunca vai acabar. Sei que sim – porque tudo, um dia, acaba. Mas torço para que não.
Que seja eterna enquanto dure, como dizia o poeta.
por Adelvan
#
quarta-feira, 19 de março de 2014
Venho me apegando ao passado ...
LOKI? 40 Anos este ano ...
Arnaldo nos mutantes |
O final dos Mutantes marca um período extremamente doloroso
para Arnaldo Baptista. Ele rompia um casamento com Rita Lee e mergulhava em uma
viagem de depressões, paranóia e incertezas. E Arnaldo era ainda muito jovem
para poder lidar com tantas coisas. Nascido no dia 6 de julho de 1948, o músico
tinha pouco mais de 25 anos quando deu adeus a sua banda, trio (e depois
quinteto) que havia sido a extensão de sua personalidade.
Após ter gravado o disco O A E O Z, em 1973 - que só foi
lançado quase 20 anos depois - Arnaldo
vivia amargurado. O álbum registrava uma guinada ao rock progressivo e os
Mutantes já eram um quarteto (além de Arnaldo, estavam seu irmão Sérgio, o
baixista Liminha e o baterista Dinho), mas já sem Rita Lee. Rita e Arnaldo,
aliás, já estavam se separando, o que serviu para aumentar ainda mais seu
desespero. Ele já era um mito do rock brasileiro, e um mito com enormes
problemas, incluindo falta de dinheiro, drogas e várias brigas.
Foi esse Arnaldo que resolveu romper com tudo e quis
registrar um dos discos mais emblemáticos não apenas do rock nacional, como
também de toda a história da música. Ele havia feito algumas canções e resolveu
que era hora de registrá-las. Primeiro, tentou falar com o presidente da
Philips, André Midani, mas acabou mesmo convencendo o produtor da casa, Roberto
Menescal, que junto com Mazola, topou a empreitada, intrigados com o que tinham
ouvido. Arnaldo resolveu então chamar seus velhos companheiros - o baixista
Liminha, o baterista Dinho, a própria Rita Lee e o maestro Rogério Duprat. O
que ninguém podeira imaginar era o resultado final...
Gravado no estúdio Eldorado e registrado em 16 canais, Loki?
marca, dentre outras coisas, pela ausência de guitarra (exceção feita à faixa
final, "É Fácil", com um violão de 12 cordas, tocado pelo próprio
Arnaldo), a exuberância do piano e por letras extremamente pessoais e, em
certos momentos, embaraçosas.
Arnaldo queria gravar o disco com uma grande urgência,
urgência essa que só encontrou paralelo no álbum Plastic Ono Band, de John
Lennon, de 1971. Com a "cozinha" dos Mutantes, ele ia gravando
rapidamente, com grande sofreguidão e arranjando confusão com os dois músicos, que
se recusaram a refazer algumas faixas.
Arnaldo mostrava um eclestimo impressionante, mesclando o
glam rock, o boogie-woogie, o rock and roll e o progressivo, com os arranjos de
Duprat, resultando numa mistura até hoje inigualável. O disco abre com
"Será Que Eu Vou Virar Bolor?", tocada no melhor estilo dos anos 50 -
Jerry Lee Lewis, Little Richard - e misturando Alice Cooper, Nasa e o medo de
ser esquecido em um texto permeado de humor e medo. A segunda faixa, "Uma
Pessoa Só", traz um belo arranjo de cordas de Duprat e um dos versos mais
bonitos já escritos na música: "Estamos numa boa pescando pessoas no
mar/Aqui/Numa pessoa Só".
O disco continua com "Não Estou Nem Aí", que tem
Rita Lee nos vocais de apoio e é um tantinho auto-biográfica - "Ontem me
disseram que um dia eu vou morrer/Mas até lá eu não vou me esconder/Porque eu
não estou nem aí pra morte/Não estou nem aí pra sorte/Eu quero mais é decolar
toda manhã." A quarta faixa, "Vou Me Afundar Na Lingerie", é um
dos grandes momentos de sua carreira, com uma letra muito bem humorada, com
gírias da época. "Honky Tonky" é uma faixa instrumental, onde Arnaldo
passeia por vários estilos no piano.
"Ce Tá Pensando Que Sou Loki?" abre com um arranjo
que remete ao disco de Tom Jobim com Frank Sinatra (Francis Albert Sinatra
& Antonio Carlos Jobim, com orquestrações de Claus Ogerman) - meio
bossa-nova, meio samba, e com várias referências na letra sobre suas viagens
com as drogas, seu passado e, claro, Rita Lee, especialmente quando se refere à
cilibrina. Isso porque Rita Lee havia montado com Lúcia Turnbull o duo
Cilibrinas do Éden.
"Desculpe" é uma das baladas mais corta-pulsos da
história, de assustar um Iggy Pop ou Ian Curtis: "Desculpe/Se eu fiz você
chorar/Te esqueça/Olhe, o sol chegou/Diga-me o meu nome/Diga-me que você me
quer/Sinta o pulso de todos os tempos/Comigo/Até quando, eu não sei/Mas
desculpe/Mas eu vou me fechar/Não sou perfeito/Nem mesmo você é/Me abrace,
diga-me o meu nome/Diga-me que você me quer/Sinta o pulso de todos os
tempos/Comigo, até quando não sei/Sinta o barato de ser ser humano/Comigo/Até
quando Deus quiser." Recado para Rita? Provavelmente...
"Navegar de Novo" é um dos primeiros ataques à
sociedade de consumo que se criava no Brasil, criticando a superficialidade das
pessoas e lançando um olhar esperançoso ao Brasil do futuro. Já "Te Amo
Podes Crer" mais parece um outro recado para a ex-parceira. O disco fecha
com "É Fácil", a única com violão e com a letra "Eu me amo/Como
eu amo você/É fácil", em rápidos 1 minuto e 55 segundos.
O disco mostra um Arnaldo Baptista tentando erradicar e
entender seus demônios. Logo após o lançamento, ele sofreria uma de suas
primeiras internações, por causa da violência, potencializada pelas drogas. Sérgio
Dias, guitarrista dos Mutantes, conta que o irmão odiou o título do disco,
então imposto pela gravadora, assim como a capa, totalmente distante do que ele
havia imaginado (NOTA DO BLOG: Também não gosto da capa. O título eu acho legal, mas dá pra entender os motivos de Arnaldo não ter gostado). O trabalho teve uma vendagem pífia, aumentando ainda mais sua
dor.
Em uma entrevista histórica concedida à jornalista Ana Maria
Bahiana e publicada no jornal O Globo, no dia 28/04/1978, Arnaldo faz um grande
desabafo. Confira alguns momentos: Sobre música: "Rock eu gosto porque é
meu sangue. É minha vida, desde que nasci." Sobre Rita Lee: "Quando
eu ouvia a Rita, gostava. Não ouço nem vejo a Rita há muito tempo. Me faz muito
mal. Más vibrações. Para baixo. Marta não deixa porque me faz mal. Os Mutantes
do Sérgio eu operei som para eles, uma vez. O Sérgio vem tocar aqui com a gente
no domingo, dar uma força." Sobre os Mutantes: "Era bom. Não, não
tenho saudades. A agressividade, naquele tempo, era quase nula."
Sobre os anos pós-Loki até o então atual momento, como Arnaldo
& Patrulha do Espaço: "Passei quatro anos num ostracismo. Não tinha
ninguém, mulher nenhuma. Ninguém me queria. Não tinha amor. Aí me internaram,
porque parece que fiquei uma pessoa violenta. E eu não quero ser uma pessoa
violenta. Diziam que eu era. Me internaram. Agora estou bem. Cortei as drogas.
Tenho um psiquiatra. Tomo uns remédios. Estou bem. Logo que saí de ser
internado eu comecei a fazer esse grupo, a Space Patrol. Ia chamar assim, mas
por razões de... evolução... não... Chama Patrulha do Espaço. Estamos
trabalhando há um ano. É um bom trabalho. Eu trabalho muito. Não sou violento.
A bateria é. O piano não consegue, por causa da amplificação."
Em um dos momentos mais lindos do texto, Ana Maria relata:
"Subitamente pede licença, vai correndo ao palco cuidar, pessoalmente, das
ligações elétricas de seu teclado Hohner. Se é possível ter certeza de algo, de
uma coisa eu sei: ele não está brincando de pirado. Todo seu corpo, todo seu
rosto está empenhado numa batalha surda e intensa, digna, que não tem nada a
ver com as possíveis fantasias de sua ex ou atual platéia. Agachado atrás dos
amplificadores, metodicamente checando fios e plugs, sobrancelhas cerradas, ele
não parece um herói: está lutando por sua vida. Com todas as forças."
É por tudo isso, que Loki? é (em minha modesta opinião), o
mais belo registro feito no Brasil. Passados 40 anos (foi lançado em 1974), ele
se mostra assustadoramente atual, apesar de alguns erros técnicos. Talvez
Arnaldo quisesse mostrar nos erros técnicos os erros pessoais, ou talvez não
tivesse mais cabeça para mexer em algo que lhe tinha sido tão caro. Sua vida
seguiria num limbo, até o mal explicado acidente do hospital psiquiátrico, em
1981, quando se jogou do terceiro andar e ficou um tempo em coma. Para alguns,
uma tentativa de suicídio. Para Arnaldo, apenas uma maneira de tentar fugir
daquele lugar horrível.
por Rubens Leme da Costa
mofo
#
por Rubens Leme da Costa
mofo
#
segunda-feira, 10 de março de 2014
Woman is the nigger of the world ...
renegades |
Útero Kaos |
Old Scratch |
BRINCADEIRINHA ...
A
#
sexta-feira, 7 de março de 2014
Laibach - The Whistleblowers
O Laibach nasceu em 1980 na pequena cidade mineira de Trbovlje, da Eslovénia, então uma república da Jugoslávia, algo que desde logo não agradava ao colectivo. Desde cedo provocaram o Estado com as suas aspirações de independência, o que originou a proibição do uso do seu nome e a expulsão do país. Esta interdição do uso do nome Laibach obrigou a que a capa do primeiro álbum do grupo não ostentasse nenhuma inscrição mas apenas uma cruz negra, símbolo que se tornou na imagem de marca da banda.
A sua primeira turnê europeia, “Occupied Europe Tour”, surgiu em 1983 acompanhada pela banda britânica Last Few Days e foi um autêntico sucesso, abrangendo 16 cidades em 8 países. Em 1984 fundaram a Neue Slowenische Kunst (Nova Arte Eslovena), um colectivo de guerrilha artística que mais tarde (1994) se viria a transformar num novo Estado mundial, reconhecido e anunciado, através de celebrações oficiais em Moscovo e Berlim. O Estado NSK emite passaportes, selos, e tem moeda e bandeira próprias, apesar de não ser um Estado físico com as tradicionais fronteiras em termos geográficos, mas sim um Estado extraterritorial que coexiste pacificamente dentro e fora de qualquer outro país.
Esta vontade de agitar as águas e de contestação não tem tornado a vida mais fácil à banda. Na Polónia eram apelidados de comunistas, nos Estados Unidos da América (onde também estavam proibidos de entrar) de comunistas radicais, e noutras partes da Europa, de fascistas. Parecia não haver consenso na catalogação da banda. Em "Volk", seu disco de 2006, composto por versões dos Hinos nacionais de vários países, há um conceito dúbio: em alemão, "volk" significa "povo", ao passo que em esloveno e russo quer dizer "lobo". Em 1987, a reprodução de uma suástica feita com machados no álbum “Opus Dei”, causou escândalo nos círculos politicamente corretos, até que os mais atentos divulgaram a informação de que este símbolo impresso no disco foi retirado do trabalho de um artista dadaísta, ativista anti-nazi, chamado John Heartfield. Foram estas e outras polémicas que levaram a banda a regressar apenas à sua terra natal a 26 de Dezembro de 1990, data em que atuaram numa estação de energia termoeléctrica.
Há quase 20 anos que o LAIBACH edita pela britânica Mute Records, editora de artistas como Depeche Mode, Nick Cave And The Bad Seeds, Einstürzende Neubauten, Moby ou Diamanda Galás. O espólio musical dos LAIBACH é muito extenso, contando-se mais de três dezenas de álbuns e EP’s, para não falar das inúmeras edições não oficiais que circulam por esse mundo fora.
O Laibach também é conhecido por se apropriar e de subverter a música pop-rock contemporânea. Um dos seus álbuns mais famosos é precisamente “Let It Be”, inteiramente composto por versões de Beatles. Dentre as outras versões que "cometeram" estão ou as versões industriais, ou épicas, ou electrónicas, ou heavy, ou militaristas, de “Life Is Life (Opus), “In The Army Now” (Status Quo), “The Final Countdown” (Europe), “Jesus Christ Superstar” (Adrew Lloyd Weber), “Alle Gegen Alle” (DAF), “Under One Nation” (Queen), ou “Sympathy For The Devil” (Rolling Stones).
Acabam de lançar um novo disco, Spectre, cuja faixa de abertura é a do belíssimo clip acima.
“A música pop é para cordeiros, e nós somos os pastores disfarçados de lobos…
Ouça no rádio amanhã, no programa de rock.
19H, 104,9FM em Aracaju e região
The Whistleblowers
We rise, we grow.
We walk and we stand tall,
we never fall,
as big as the sky,
as high as the dawn.
We walk and we stand tall,
we never fall,
as big as the sky,
as high as the dawn.
We walk and we do not fall.
We sleep, we dream,
with no time in between.
We never stop,
listening our chant in the heat of the nights.
with no time in between.
We never stop,
listening our chant in the heat of the nights.
We see, the spirit is clean.
From north and south,
we come from east and west.
Breathing as one,
living in fame or dying in flame.
we come from east and west.
Breathing as one,
living in fame or dying in flame.
We love, our mission is blessed.
We fight for you,
for freedom and for sin.
Thinking as one,
rolling along to the beat of the drum,
for freedom and for sin.
Thinking as one,
rolling along to the beat of the drum,
We watch,
to red cross machine
to red cross machine
We rise, we grow,
we walk and we stand tall.
We never fall,
as big as the sky, as strong as the dawn.
we walk and we stand tall.
We never fall,
as big as the sky, as strong as the dawn.
We walk and we never fall.
We stand alone,
but soon the day will come ,
When freedom reach,
we meet again and we take the lead.
but soon the day will come ,
When freedom reach,
we meet again and we take the lead.
And walk, once more as one.
terça-feira, 4 de março de 2014
Motorhead, uma biografia ...
Sem muito alarde, um livro sobre a história do Motorhead está abarrotando as prateleiras da seção de músicas das principais megalivrarias. E ainda assim está vendendo bastante, mesmo que seja da série “não entrega totalmente o que promete''. “A História Não Contada do Motorhead'' (Edições Ideal), do experiente jornalista inglês Joel McIver, escritor de livros importantes sobre Black Sabbath e Slayer, entre outros, foi escrito em 2011, mas só agora ganhou uma tradução em português. Já adianto que é uma leitura interessante, que vale a pena, mas não espere grandes revelações ou segredos desvendados, como sugere o título.
A história da banda e de seu líder, Lemmy Kilmister já vale a pena, de qualquer forma, mas o livro deixa no ar uma certa desconfiança de “malandragem'', já que se baseia em três entrevistas com Lemmy e mais algumas com meia dúzia de personagens, enquanto o resto das informações é retirada de reportagens de jornal, revistas e sites. Não se trata de mero detalhe, já que, por se tratar de McIver, esperava-se algo com mais pesquisa, como ótimo “Sabbath Bloody Sabbath'', já lançado no Brasil sobre a história do Black Sabbath. No entanto, é um livro de verdade, não uma grande reportagem, como no caso de “Bruce Dickinson'', de Joe Shooman, que não traz uma única entrevista feita pelo autor com o cantor do Iron Maiden ou outros integrantes da banda.
Justamente por não ter tantas opções de fontes próprias ou mais entrevistas pessoais, o livro seja tão fino – confinar 40 anos de história de uma das bandas mais interessantes e importantes do rock pesado em 253 páginas é algo complicado e, de certa forma, frustrante. No entanto, é um a obra honesta e informativa, enfatizando muito mais as declarações de Lemmy e alguns de seus “pensamentos'' do que os fatos históricos em si e a análise dos álbuns, o que é uma pena. McIver dá espaço demais para as declarações do baixista e vocalista, às vezes desnecessárias e redundantes sobre assuntos que talvez desviem o foco, que nada têm a ver com a música.
O autor do livro se esforça por mostrar Lemmy como um artista inteligente, engajado, muito bem informado e com sólida formação intelectual que o permite discorrer sobre muitos assuntos, mesmo com a fuga da escola ainda na adolescência. McIver demonstra tais coisas com muita propriedade, mas torna o texto cansativo ao insistir demais na questão, como se não fosse suficiente demonstrar que Lemmy é realmente versátil e articulado, com opiniões comuns e nem um pouco complexas sobre a política norte-americana, a decadência econômica da Inglaterra ou de como os seres humanos fazem questão de destruir o planeta.
Quando McIver decide falar sobre o Motorhead, o livro melhora bastante, mostrando a infância, a adolescência e a juventude de Lemmy, com boas histórias e detalhes de passagens importantes, como a fase em que foi roadie de Jimi Hendrix, seu começo na arte de usar drogas ou de como teve de aguentar as esquisitices dos membros do Hawkwind, no início dos anos 70. E ainda narra como o cantor e guitarrista ganhou muito dinheiro mesmo em uma banda desconhecida do interior da Inglaterra entre 1964 e 1966. Entretanto, frustra os leitores ao desmistificar a origem do apelido Lemmy (o nome verdadeiro é Ian Kilmister, nascido em Stoke-On-Trent em 1945).
A lenda é que na segunda metade dos anos 60 Ian Kilmister vivia tão duro que sempre que se aproximava de um amigo, antes de cumprimentar, sempre disparava um “lend me a five'' (“me empresta cinquinho aí'') ou “lend me a money'' (“me empresta alguma grana''). Isso seria tão recorrente que os amigos começaram a chamá-lo de Lemmy, uma corruptela das duas expressões. No livro o vocalista e baixista desmistifica a questão, dizendo que foi ele quem inventou essa história. A origem na verdade nem o próprio Lemmy sabe, segundo McIver. Começou a ser chamado assim quando estava na escola, quando tinha dez anos, em uma cidade do interior do País de Gales, para onde se mudou depois que o pai abandonou a família. Só que Lemmy encerra o assunto dizendo não saber ao certo quando surgiu a alcunha e o motivo…
De qualquer forma, o livro acerta bastante quando traz declarações de ex-membros do Motorhead, como Eddie Clarke (guitarra) e Phil “Philty Animal'' Taylor (bateria), que formaram a banda clássica entre 1976 e 1982. Francos e honestos, deram informações interessantes sobre suas passagens pelo grupo e os motivos da saída, além de opiniões não muito boas a respeito do líder do grupo. Há também algumas poucas declarações de Wurzel, o guitarrista que abandonou a banda em 1994, e que morreu em 2012.
O prato cheio para os fãs e curiosos, entretanto, são as declarações a respeito do “estilo de vida saudável'' na estrada, repleto de bebida, drogas, mulheres e histórias bizarras, tudo temperado com uma bem humorada visão sobre a crônica falta de dinheiro que acompanha o Motorhead até hoje – segundo Lemmy, possui atualmente o imóvel onde mora e uma famosa coleção de memorabilia nazista (capacetes, uniformes, medalhas, mapas, etc) que vale perto de US$ 300 mil em valores atualizados. “Sempre fomos roubados pelas gravadoras e nunca tivemos sorte com empresários. Não ficaríamos multimilionários, mas com certeza eu, Phil (Campbell, guitarrista) e Mikkey (Dee, baterista) estaríamos um pouco mais confortáveis se não tivéssemos sido tão roubados.''
Mesmo com algumas lacunas e com um material que poderia ser melhor explorado, “A História Não Contada do Motorhead'' é um entretenimento interessante a respeito de uma das bandas mais cultuadas e originais do rock, com seu líder insano, engraçado e extremamente carismático.
por Marcelo Moreira
Combate rock
#
A história da banda e de seu líder, Lemmy Kilmister já vale a pena, de qualquer forma, mas o livro deixa no ar uma certa desconfiança de “malandragem'', já que se baseia em três entrevistas com Lemmy e mais algumas com meia dúzia de personagens, enquanto o resto das informações é retirada de reportagens de jornal, revistas e sites. Não se trata de mero detalhe, já que, por se tratar de McIver, esperava-se algo com mais pesquisa, como ótimo “Sabbath Bloody Sabbath'', já lançado no Brasil sobre a história do Black Sabbath. No entanto, é um livro de verdade, não uma grande reportagem, como no caso de “Bruce Dickinson'', de Joe Shooman, que não traz uma única entrevista feita pelo autor com o cantor do Iron Maiden ou outros integrantes da banda.
O autor do livro se esforça por mostrar Lemmy como um artista inteligente, engajado, muito bem informado e com sólida formação intelectual que o permite discorrer sobre muitos assuntos, mesmo com a fuga da escola ainda na adolescência. McIver demonstra tais coisas com muita propriedade, mas torna o texto cansativo ao insistir demais na questão, como se não fosse suficiente demonstrar que Lemmy é realmente versátil e articulado, com opiniões comuns e nem um pouco complexas sobre a política norte-americana, a decadência econômica da Inglaterra ou de como os seres humanos fazem questão de destruir o planeta.
Quando McIver decide falar sobre o Motorhead, o livro melhora bastante, mostrando a infância, a adolescência e a juventude de Lemmy, com boas histórias e detalhes de passagens importantes, como a fase em que foi roadie de Jimi Hendrix, seu começo na arte de usar drogas ou de como teve de aguentar as esquisitices dos membros do Hawkwind, no início dos anos 70. E ainda narra como o cantor e guitarrista ganhou muito dinheiro mesmo em uma banda desconhecida do interior da Inglaterra entre 1964 e 1966. Entretanto, frustra os leitores ao desmistificar a origem do apelido Lemmy (o nome verdadeiro é Ian Kilmister, nascido em Stoke-On-Trent em 1945).
A lenda é que na segunda metade dos anos 60 Ian Kilmister vivia tão duro que sempre que se aproximava de um amigo, antes de cumprimentar, sempre disparava um “lend me a five'' (“me empresta cinquinho aí'') ou “lend me a money'' (“me empresta alguma grana''). Isso seria tão recorrente que os amigos começaram a chamá-lo de Lemmy, uma corruptela das duas expressões. No livro o vocalista e baixista desmistifica a questão, dizendo que foi ele quem inventou essa história. A origem na verdade nem o próprio Lemmy sabe, segundo McIver. Começou a ser chamado assim quando estava na escola, quando tinha dez anos, em uma cidade do interior do País de Gales, para onde se mudou depois que o pai abandonou a família. Só que Lemmy encerra o assunto dizendo não saber ao certo quando surgiu a alcunha e o motivo…
De qualquer forma, o livro acerta bastante quando traz declarações de ex-membros do Motorhead, como Eddie Clarke (guitarra) e Phil “Philty Animal'' Taylor (bateria), que formaram a banda clássica entre 1976 e 1982. Francos e honestos, deram informações interessantes sobre suas passagens pelo grupo e os motivos da saída, além de opiniões não muito boas a respeito do líder do grupo. Há também algumas poucas declarações de Wurzel, o guitarrista que abandonou a banda em 1994, e que morreu em 2012.
O prato cheio para os fãs e curiosos, entretanto, são as declarações a respeito do “estilo de vida saudável'' na estrada, repleto de bebida, drogas, mulheres e histórias bizarras, tudo temperado com uma bem humorada visão sobre a crônica falta de dinheiro que acompanha o Motorhead até hoje – segundo Lemmy, possui atualmente o imóvel onde mora e uma famosa coleção de memorabilia nazista (capacetes, uniformes, medalhas, mapas, etc) que vale perto de US$ 300 mil em valores atualizados. “Sempre fomos roubados pelas gravadoras e nunca tivemos sorte com empresários. Não ficaríamos multimilionários, mas com certeza eu, Phil (Campbell, guitarrista) e Mikkey (Dee, baterista) estaríamos um pouco mais confortáveis se não tivéssemos sido tão roubados.''
Mesmo com algumas lacunas e com um material que poderia ser melhor explorado, “A História Não Contada do Motorhead'' é um entretenimento interessante a respeito de uma das bandas mais cultuadas e originais do rock, com seu líder insano, engraçado e extremamente carismático.
por Marcelo Moreira
Combate rock
#
Assinar:
Postagens (Atom)