segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Farto de rock and roll

por Adelvan Kenobi

Setembro de 2009 está sendo um dos meses mais movimentados do ano no cenário do rock sergipano. A efervescência começou dia 07, feriando nacional, na Rua da Cultura, que recebeu a banda O Murro para a gravação de seu primeiro CD Demo, ao vivo. Já no sábado seguinte, dia 12, aconteceram 2 eventos de peso (literal e metaforicamente falando) na mesma noite: O anunciadíssimo show de lançamento do vídeo-clipe “The drugs and Ricky”, da Snake of Boot, e a segunda vinda do Wry a Aracaju.

A Snake of Boot é uma banda única na cidade. Nunca tivemos, por aqui, nada parecido: um grupo que se propõe a fazer o Hard rock/Metal “glam” a la anos 80 (também chamado de “Hair metal”, “rock de arena” ou “rock farofa”, num tom mais pejorativo). Influências de Poison, Motley Crue e Guns and Roses, dentre outros. Já os vi uma vez, no Gonzaguinha. Fazem razoavelmente bem o que se propõem a fazer. Na ocasião me chamou especialmente a atenção o guitarrista, Danesh, mandando bem nos riffs e solos, escudado pelos competentes vocais de Neil Corabi. As composições são simples e descompromissadas, rock para beber, farrear e fazer sexo – mas na verdade não saberia fazer uma avaliação precisa, já que não sou exatamente um apreciador desse tipo de som. Na época em que os vi ao vivo tinham apenas algumas deficiências que, caso superadas, poderiam fazê-los deslanchar e despontar como um nome de referência além das fronteiras de Sergipe (o que, ao que parece, é o objetivo deles), a saber o baterista, muito fraco, e um segundo vocalista desnecessário. Surgiram meio que do nada, e já com um CD solo – Um CD mesmo, “prensado”, não um CD demo – na bagagem, algo que bandas veteranas com historia na cena local, como a Karne Krua, Scarlet Peace e Plástico Lunar, penaram para fazer. Outras, como o Warlord, nem conseguiram chegar lá. Isto, por si só, já seria o suficiente para chamar a atenção, mas salta aos olhos o fato de que a Snake é provavelmente a banda que mais investe em sua carreira por estas paragens - eles têm um "rock and roll dream" e correm atrás para que ele se torne realidade. A prova disso é a expectativa que criaram em torno do lançamento de seu primeiro videoclipe, anunciado há meses (inclusive em outdoors, algo raríssimo, em se tratando de shows de rock) como o show do ano na cidade. E, de certa forma, foi – não pude conferir (preferi ir no Wry), mas os relatos foram os melhores possíveis. Tudo muito bem produzido, como poucas vezes se vê por aqui. O clipe está disponível no youtube e é bacana – um tanto quanto clicheroso e caricato, mas competente e bem-feito, e totalmente dentro da estética que a banda adotou. O show contou ainda com a participação de três das principais formações do cenário, a Plástico Lunar, o Mamutes e a Máquina Blues. Desejo boa sorte nessa cruzada da snake, pois sua estrada é árdua mas eu admiro quem mete a cara e faz, do jeito que der e da melhor forma possível. Afinal, como já dizia o AC/DC, “It´s a long way to the top if you wanna rock and roll”. A tarefa é ainda mais árdua nestes tempos confusos em que vivemos, pois a revolução das comunicações está mudando radicalmente a forma com que o artista se relaciona com seu público. A Snake, ao que parece, prefere usar as táticas tradicionais, lançando um CD, quando pouca gente compra CD, e um videoclipe, que hoje em dia tem que disputar espaço na selva de imagens do Youtube, pois a própria MTV (que nem existe em sinal aberto em Aracaju, diga-se de passagem) aposta mais em programas de auditório do que no formato que a consagrou naqueles longinquos anos 80 - onde os caras, aliás, parecem ainda viver, e com orgulho. Espero que, caso não atinjam seus objetivos, que se divirtam no processo e possam chegar à conclusão de que valeu a pena, de qualquer modo. Long Live rock !!!!!!

Como mencionei anteriormente, naquela noite de sábado eu fui no Wry, no Capitão Cook. Segunda vez deles em Aracaju – a primeira foi há bastante tempo, ainda nos anos 90, se não me falha a memória, e no extinto Tequila Café. Chegaram a aparecer por aqui há uns 4 anos para um show que não aconteceu (e para o qual não haviam sido avisados do cancelamento). Logo de cara me surpreendi com a quantidade de carros na frente do bar. Bom sinal, mas poderia ser alarme falso – afinal, há o bizarro costume de se aparecer por lá apenas pra ficar bebendo na porta. Fiquei feliz em ver que dentro também estava cheio. Tão cheio, aliás, que praticamente não consegui VER o show das Jezebels, que abriram a noite lançando seu primeiro CD demo. Pelo que pude OUVIR, foi um bom show, como de praxe, já que as meninas sempre mandam bem. Como não gosto de muito aperto fiquei ouvindo a Snooze de fora mesmo. Consta que perdi um dos melhores shows da banda, algo que lamento, mas é a vida, ganha-se umas, perde-se outras, e seguimos em frente. De fora, em todo caso, me chamou a atenção um cover que fizeram para uma de minhas musicas preferidas do Second Come, “I Feel like I don´t know what I´m doing”. Grande som, grande interpretação. Grande Snooze.

O Wry eu fiz um esforço pra ver, além de apenas ouvir, claro – afinal, não é toda noite que temos em solo sergipano uma das mais importantes formações do rock independente nacional. Me postei ao lado do palco, com uma visão privilegiada do estupendo baterista Renato Bizar. E ele não nos decepcionou. Espancou as peles com a costumeira entrega e entusiasmo, numa perfomance bonita de se ver, enriquecida pelos belos slides que eram projetados num telão. Lamentei a ausência dos fotógrafos da Snapic (que estavam acompanhando os Baggios em Salvador), eles poderiam ter registrado o interessante efeito colorido que o movimento das baquetas produzia ao ser iluminado pelos slides. Para minha surpresa, no decorrer da apresentação, o recinto foi se esvaziando, o que me proporcionou a possibilidade de ver mais da metade do show de frente para a banda, praticamente sentido a respiração do vocalista Mario Bross. Foi um show totalmente “british”, “shoegazzer”, viajante e barulhento, regado a dissonâncias e microfonias e guitarras distorcidas emoldurando melodias belas e etéreas. Parece não ter agradado boa parte do publico, mas foi uma festa para a galera “indie” local – galera que, por sinal, fazia questão de demonstrar sua alegria, projetando sombras engraçadas na parede sobre os slides e levantando coros como o que saudava um dos responsáveis pelo fiasco do já citado show que não aconteceu. Mario Bross nos informa que, no entanto, aquela noite de bobeira em Aracaju não havia sido em vão, pois havia dado a ele inspiração para uma de suas melhores músicas, composta durante um mergulho nas águas mornas do mar da praia de Atalaia.

Missão cumprida, pra casa dormir porque no domingo receberia a visita de nosso amigo Leonardo Panço, guitarrista do Jason, que viria à cidade para o lançamento de seu mais novo livro, “Caras dessa idade já não lêem manuais”. Acordo com um telefonema de Fabinho da Snooze avisando que tinha encontrado por acaso com o escritor errante na rodoviária, para a qual havia se dirigido para levar o pessoal da Wry. Um verdadeiro encontro de titãs do rock underground em pleno Terminal. Fui encontrá-los na casa de Fabinho, onde passamos uma tarde agradável na companhia de um DVD do The Cure safra anos 80. De lá nos dirigimos para a Orlinha do Bairro Industrial, onde a Maquina Blues se apresentaria no “Projeto Freguesia”, da prefeitura. Poucos “rockers”, muitas crianças brincando no parquinho na frente do qual foi armado o palco, para a alegria de Julinha, filha de Fabinho e Maira. Um belo visual, um show de blues “só para baixinhos” às margens do Rio Sergipe, ao lado da faraônica ponte que lembra a ponte do Brooklin mas que não leva a Manhattan, e sim à Barra dos Coqueiros.

Demos um tempo por lá e nos dirigimos, eu e Panço, ao local do evento, no Inácio Barbosa. Tratava-se de uma edição do “Cineveggie” especialmente moldada para abrigar o lançamento do livro. Pouca gente, cerca de 20 pessoas. Assistimos num telão o “Botinada” (tava esquecido que era tão divertido), comemos um lanche vegetariano e ouvimos trechos do livro declamados por alguns dos presentes (eu, inclusive). Foi divertido – inclusive o pai de Ivo, baixista da karne, baterista da Renegades e anfitrião do Cineveggie, se empolgou e participou do “happening”. De quebra adquiri o recém-lançado disco da Jezebels, chique que só.

A próxima parada dessa verdadeira maratona cultural foi na quinta-feira, na abertura da exposição do artista plástico Vicente “Coda”, intitulada “O Encanto das Possibilidades”. Aconteceu na Galeria de Arte J. Inácio, dentro da Biblioteca Pública Epiphanio Dorea. Foi um verdadeiro “encontro paleozóico” – apareceram por lá alguns dos fundadores do rock sergipano, como Tony “Almada”, ex-baterista da Karne Krua, Mercinho e Eduardo, da Crove Horrorshow, e Marcelo Gaspar, também ex-Karne Krua. Além de Silvio, claro. Todos foram prestigiar o artista, que participou ativamente de toda aquela movimentação embrionária dos anos 80, tendo sido inclusive um dos fundadores da Karne. Seu trabalho atual está bastante inovador e interessante. Me chamou a atenção o trabalho com fotografias, excelente, tanto em termos de concepção como na realização. Gostei especialmente de algumas reproduções de fotos em telas, como se fossem quadros pintados. Toda a idéia das obras, girando em torno da imagem de pregos, é bastante inspiradora. Isso sem falar na diversidade, já que haviam também pinturas a óleo e uma instalação com vídeo que ocupava toda uma sala. Foi uma bela noite de celebração da arte e das memórias dos bons tempos, regada a vinhos e salgadinhos. De quebra fiquei sabendo, através dos papos dos dinossauros, de coisas que nem sabia que tinham existido, como alguns fanzines e eventos que circularam e aconteceram em épocas remotas, circa 1983/84. Vou precisar reescrever alguns trechos do meu eternamente inacabado “Dossiê do Rock Sergipano” ...

Sábado, 19 de setembro. Mais dois eventos numa mesma noite. Escolhi ir na Cebolada, em Itabaiana, em detrimento do Tributo a Raul Seixas que ocorreria no Capitão Cook. Uma pena, pois pelo aperitivo que Julico, Leo Airplane e Plástico jr. apresentaram na edição # 121 do programa de rock, a noite prometia. A vida é feita de escolhas, no entanto, e desta eu não me arrependi. Foi divertido viajar e passar uma noite regada a rock barulhento e underground na companhia de velhos camaradas. Se apresentaram na Cebolada desta noite, na Associação Atlética de Itabaiana, a Logorreia e a Putrefação Humana, de Aracaju, e uma banda de Lagarto cujo nome não lembro, mas lembro que tocaram covers de clássicos do metal. Não gosto de banda cover, por isso fui dar um role. Mesmo prejudicados pela qualidade precária da aparelhagem, os dois membros presentes da PH mandaram muito bem. Se garantem na energia de sua perfomance e com isso sempre fazem um bom show e foi o que aconteceu, mesmo que desfalcados do guitarrista Salsichão. Cícero Mago, o baterista das duas bandas, PH e Logorreia, é uma verdadeira instituição do noise sergipano e conduziu a noitada com sua batida rápida e vigorosa repleta de viradas e quebradas. Ressaltou a importância de estarem tocando de novo em Itabaiana, já que foi lá que conheceu Ricardo Core, o fundador da PH, e era para lá que se dirigia frequentemente, nos anos 90, para ensaiar.

O show da Logorreia foi mais prejudicado pela péssima qualidade do som, já que é um pouco mais trabalhado e baseado nos riffs de guitarra de Silvio. Começou como uma verdadeira massaroca sonora indistinguível, mas com o decorrer da apresentação, que foi relativamente longa, foi melhorando (ou foi o som que melhorou ou foram meus ouvidos que foram ficando calejados). Mesmo assim deu pra notar que a banda ganhou bastante com a entrada de Nininho no baixo. Continuam fazendo um som “duro” e pesado, mas mais criativo e com um interessante revezamento nos vocais. Os novos sons parecem bons, mas só poderei dar uma opinião definitiva quando conseguir ouvir de forma mais clara.

Vale ressaltar que, apesar das deficiências estruturais e técnicas, o evento transcorreu num clima muito positivo, com uma boa presença de publico e uma impressionante variedade de atrações, como venda de discos, camisetas, exposição de obras de arte e até um estúdio onde Ferdinando riscou o sortudo ganhador de uma tatuagem ao vivo, na hora. Foi divertido.

Pego a estrada de madrugada para acordar às 10 da manhã de domingo e assistir à exibição, no Cinemark, do documentário “Recife Beat”, que não pôde ser exibido na última sessão Notívagos, segundo nos relatou o produtor Roberto Nunes, por conta da incompetência dos Correios (imaginem vocês que as encomendas em Sedex não chegam mais a Aracaju por via aérea, param em Salvador e precisam ser buscadas lá por um caminhão, que estava quebrado na ocasião, o que causou o atraso que inviabilizou sua estréia na data marcada). O filme é ótimo. É praticamente narrado a partir de uma apresentação Ao Vivo, no Festival Rec Beat, do carioca insano Rogério Skylab. Partindo da Historia do festival, que acontece todos os anos no Recife antigo durante o carnaval, dá uma geral na cena local e em alguns dos artistas “de fora” que se apresentaram por lá, com um enfoque especial no Movimento Mangue Beat, contando inclusive com imagens de arquivo de entrevistas com Chico Science. Os principais representantes do movimento aparecem em trechos de shows e depoimentos, alguns comoventes: Fred 04 e o Mundo Livre S/A, Fabinho do Eddie, Lirinha (o cara que dorme todas as noites e acorda todos os dias com Leandra Leal ao seu lado) e seu Cordel do Fogo encantado e Cannibal do Devotos, entre (muitos) outros. Nem todos músicos, diga-se de passagem: temos também a presença de Renato L., jornalista e atualmente Secretário de Cultura do Recife, o prefeito da época, João Paulo, Rogê da soparia, velho arroz de festa da cena recifense, e Guttie, o idealizador do festival. Senti falta apenas da presença de Paulo André e de menções a outros grandes festivais que acontecem por lá, como o PE no Rock, o Coquetel Molotov e o Abril pro rock. Por conta disso pode-se dizer que o documentário é mais um registro do Festival Rec Beat, em si, do que da cena mangue em geral, simplesmente porque não existiria o movimento mangue sem o Abril pro rock, já que foi lá que ele cresceu e apareceu para o mundo.

Descanso um pouco no sofá em frente à modorrenta programação de domingo da TV brasileira para, ao anoitecer, por volta das 18:00h, me dirigir à área externa do Teatro Lourival Baptista e prestigiar mais um evento idealizado por nosso camarada Estranho, o “EU SOU DO ROCK”. Pensei que chegaria pra lá de atrasado, já que estava marcado para as 15:00h, mas perdi apenas a apresentação da primeira banda, a INRISÓRIO. Vi Dark Visions, de Tobias Barreto. Pesado. One Last Sunset. Pesado também. Minhas pálpebras também estavam pesadas, insistiam em querer cair sobre meus olhos e me fazer descansar, mas uma súbita companhia feminina embalada num charmoso corpete me fez ter ânimo para ficar até o fim da apresentação da karne Krua – que foi bem legal, diga-se de passagem. Destaque para alguns sons novos muito bons, como a faixa titulo do esperado (e eternamente adiado) novo disco, “inanição”.

É isso. Chega de rock por um tempo. Próximo final de semana vou desligar todos os telefones e ficar em casa. Dormindo, lendo, assistindo, ouvindo e ...

Deixa pra lá.

4 comentários:

  1. o nome da banda de lagarto TRIBAL ENGINE,SOBRE O SOM,concordo com vc que não esrava muito bom,mas dava pra fazer som tranquilo, porem o "muciso" tem que a noção do seu instrumento, e sua qualidade musical, e ter certa noção do que ele estar fazendo... Valeu... É so uma diga.

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  2. Não entendi. É uma dica ? é pra mim ? Pro "Muciso" ? Quem é Muciso ? Realmente não entendi. A banda de Lagarto não lembrei o nome pq não tava no cartaz, só fui saber lá. E eu falei que o evento deu pra rolar tranquilo sim, num clima bom. Mas o som não esta muito bom não, tava ruim pra caralho. Se der pra melhorar, seria ótimo, senão, por mim, rola assim mesmo. Espero que continue rolando. Entendo perfeitamente as dificuldades, mas não adianta tapar o sol com a peneira e ignorar as deficiências, pelo contrario: apontar as deficiências é, a meu ver, uma forma de colaborar para que os eventos melhorem sempre.

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  3. "Mas o som não esta muito bom não, tava ruim pra caralho". kkkkkkkkkkkkk. Adelvan é gente que faz!

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  4. Entendir Adelvan sua colocação e sou grato, por obeserva e analiasr todos os fatos, e sei da importancia do movimento Rock em Itabaiana, tanto pra nos como pra vc, em Relaçao no que eu disse, não foi pra vc... e la no dia do evento tinha o cartaz das bandas, mais isso é bestera, temos que ver o evento como todo e tenho certeza que foi do Caralho, muitas pessoas que vieram de Aracaju com vc, e outros elogiaram bastante, e comparam com as casas de show em Aracaju, não gosto de comparaçoes, cada um tem seu espaço e nos do CEBOLADA estamos lutando para manter vivo o rock em Itabaiana e vc é pessa fundamental, vamos sim melhorar no som em outras coisas, é só uma questão de tempo valeu e obrigado mais uma vez. valeu abraço

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