quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Necro, de volta ...

Black Sabbath é a principal influência e o novo disco da Necro, de Alagoas, já começa numa pegada “Hard” a la “Never say die”, com “Noite e dia” – que apresenta, também, as novidades mais perceptíveis em relação ao trabalho anterior: as letras em português e uma maior participação da guitarrista Lillian Lessa nos vocais – aqui, de apoio, mas em algumas faixas seguintes ela assume o vocal principal. Com um ótimo resultado! Banda boa é assim, tem talento sobrando ...

“Dark Redemption”, já conhecida – foi o primeiro single do álbum – vem na sequencia com mais um riff “sabbático” conduzindo a musica em toda a sua primeira parte. A letra é em inglês, mas o vocal é de Lillian. Um novo – e excelente – riff é apresentado na segunda parte, muito bem amarrada por solos de guitarra econômicos e precisos e com um refrão marcante.

“Creatures from the swamp”, a terceira faixa, já começa num clima mais sombrio, com uma bela linha de baixo logo acompanhada pela guitarra, que explode em mais um – isso mesmo, mais um! Que bom! – riff tipicamente “sabbático”. Novamente Lillian nos vocais, novamente mandando muito bem! A psicodelia dá as caras rapidamente no meio da musica, mas cede lugar a um solo de guitarra intercalado por um fraseado que deságua num excelente solo de ... bateria! Muito lindo ver uma banda nova incluir um solo de bateria em meio a uma gravação de um disco em pleno século XXI! Sem medo do "anacronismo"! Sem medo de ser feliz ...

O solo termina com – surpresa! – mais riffs diretamente inspirados na obra imortal de Sua Majestade "Antonio" Iommi, primeiro e único, e a musica segue até o final mesclando solos de guitarra e climas psicodélicos, com a providencial adição de teclados. Perfeita!

“Grito”, o segundo single, é cantada em perfeito português por Pedrinho, com uns backing vocais muito legais da Lillian. A terra natal é evocada na letra, que fala de canaviais – Alagoas é um dos maiores produtores nacionais de cana-de-açucar. E eis que na faixa seguinte, “17 Horas”, nos deparamos com a maior surpresa do disco: uma balada, belissimamente cantada por Lillian! O ritmo lento e naturalmente mais suave, no entanto, é intercalado com passagens mais rápidas e vigorosas, tudo amarrado por um arranjo rico, com cordas e teclados em perfeita sintonia.

A essa altura do campeonato torna-se evidente a grande evolução da banda em relação ao excelente disco anterior, “The Queen of Death” – o que é um feito e tanto! Mas há, também, uma linha de continuidade no trabalho do grupo, evidenciada pelo fato de que duas faixas, "Dark Redemption" e "Creatures from the swamp", são regravações do primeiro EP. E você ainda nem chegou ao fim da audição ...

O “grand finale” vem com “Mente profana”, que, apesar do título em português, é cantada em inglês. Mais climas psicodélicos pelo meio – de uma excelente composição, com bela melodia, grandes riffs e uma ótima introdução – cortesia do excelente baterista Thiago Alef - que, por sinal, entrega uma perfomance impressionante. Todos são ótimos, na verdade! Tudo é lindo, maravilhoso! “Necro” é sensacional! Minha “banda nova” favorita, ao lado – mas à frente – do Far From Alaska, de Natal, Rio Grande do Norte.

Estarão de volta a Sergipe neste final de semana para lançar o disco novo. Serão dois shows inusitados: tocarão no sábado em Itabaiana no bar do Eduardo “Insulto”, ao lado do Batalhão da Polícia Militar – na verdade será na casa do indivíduo, o que certamente garantirá, apesar do inevitável aperto, um clima mais aconchegante! Porque é sempre melhor assim, com todo mundo junto, em clima de confraternização ...

Já no domingo a situação se inverte, pois o show será ao ar livre, em mais uma edição do evento “Clandestino”. O clima de celebração, no entanto, está igualmente garantido, a julgar pelo que foi visto nas edições anteriores.  Dia 28, às 17 Horas - no crepúsculo, portanto. Horário pra lá de apropriado! O local é tradicionalmente informado via facebook apenas no dia marcado. Clique aqui para acessar a página – lembre-se que não é necessário estar conectado ao facebook para ter acesso às informações.

E aqui você ouve – e baixa – o disco.

IMPERDÍVEL !!!

A

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Interpol, a volta ...

Estou sentado em uma mesa de piquenique no terraço do Electric Lady Studios. O vocalista do Interpol, Paul Banks, senta à minha frente. Estamos em agosto. Está quente pra caralho. Ambos cometemos o erro de usar calças. Ambos apertamos os olhos. É um daqueles dias em que é difícil ver por conta do sol. Aquelas buzinas e barulhinhos típicos do caos nova-iorquino ecoam da 8th Street ali embaixo. Paul põe a mão no bolso e tira um maço de Camel Blues.

“Você tem um isqueiro aí?”, pergunta o homem de 36 anos.

Meneio com a cabeça e puxo um – por algum milagre aleatório tenho um isqueiro no bolso, então peço um cigarro, mesmo não fumando. Acho que fumar vai me deixar parecendo mais cool pro Paul. E eu quero mesmo parecer cool para Paul Banks.

É isso que o Interpol é. Eles são cool. Ou ao menos, talvez, era o que costumavam ser – e estão tentando novamente. No auge, esses caras faziam o tipo cool sem nenhum esforço, o lance de poder usar terno sem parecer um banqueiro. Com o lançamento de seu disco de estreia, Turn on the Bright Lights, eles basicamente definiram a última década no rock – tidos imediatamente como uma das Últimas Bandas de Rock’n’Roll que Vieram Nos Salvar de Nós Mesmos™, junto de outras como The Strokes ou The Killers.

Com Lights, o Interpol deu a uma geração de jovens uma imagem de Nova York com a qual sonhar, onde as pessoas usavam jeans apertados e fumavam e ouviam bandas como Interpol. O som era obscuro e sensual, mas de alguma forma vulnerável. A voz angustiante de Paul Banks ressoava sobre as guitarras avalassadoras de Daniel Kessler, o baixo pulsante de Carlos Dengler e a percussão afiada de Sam Fogarino. Era algo similar ao que havíamos ouvido antes – muita gente dizia, de cara, Joy Division – mas havia algo de novo no Interpol, a trilha sonora de um viciado triste sentado em um banco, fritando o cérebro ao pensar em como se chaparia de novo, já se arrependendo do erro antes de cometê-lo, então fazendo-o mesmo assim.

A estreia foi seguida de outro disco forte, Antics, lançado em 2004, com o maior sucesso de sua carreira, “Evil”, que os tirou da posição de líderes da cena e lançou-os ao posto de uma das maiores bandas do mundo. A fama cresceu de forma assustadora, e com ela, alguns conflitos internos. Os dois discos seguintes da banda – Our Love to Admire, de 2007 (o primeiro em uma major, na Capitol) e o disco autointitulado de 2010 (sua volta à Matador) – falharam em termos de crítica. Carlos saiu da banda em 2010. Surgiram relatos de um hiato. O Interpol deixou de ser uma das bandas mais cool e proclamadas da década e se tornou a piadinha de algum blogueiro de música (“tá mais pra Interpol, não é?”).

Agora, quatro anos depois e com um membro a menos, voltam com seu quinto álbum, El Pintor (via Matador), que significa “O Pintor” em espanhol, e pode ser o seu melhor disco desde a clássica estreia. Há algo na música feita agora que faltava – uma espécie de urgência. Renascido como um trio, o Interpol volta com um LP que soa como um dos primeiros discos do The Police, afiado e conciso, cheio das letras vagamente melancólicas de Paul. Faixas como “All the Rage Back Home” e “Same Town, New Story” carregam a atitude do começo da banda, mas com um pop maduro feito por integrantes confiantes em si mesmos, quem são e onde querem chegar. O disco exala autoconfiança.

 Na ausência de Carlos, Paul gravou o baixo neste álbum, uma experiência que adorou ter feito (por mais que ao vivo a banda vá contar com um baixista e tecladista). No terraço, pergunto a Paul sobre o novo disco e sua sonoridade, o que os levou até esse lugar para criarem algo novo. “[Carlos] estava presente no sentido de que eu sabia que temos uma tradição de dar importância ao baixo, então meio que tínhamos que fazer algo novo mesmo, só vamos nos certificar de que seja bacana”.

Coberto em preto, ele usa uma camiseta de estilista, calças, e sapatos brilhantes. No seu pescoço, uma corrente de ouro. Não sei dizer de que marca é seu relógio, mas parece caro. Ele diz que a banda nunca fez uma pausa oficial, apesar do que a imprensa diz, e que eles nunca tiveram a intenção de não gravar um novo disco. Só precisavam de um tempo.

“É um novo sentimento e sonoridade porque havia uma empolgação nova no estúdio pra gente”, diz Paul, cuidadoso e calculado quando e como fala, o que faz sentido levando em conta que ele passou sua carreira toda dando uma entrevista após a outra (dessa vez, eu sou o segundo em uma série de três entrevistas no dia). “O único disco que refletiu um tipo de registro psicológico dessa dimensão foi o primeiro porque ninguém sabia quem éramos na época. Agora somos desconhecidos enquanto trio, desconhecidos de si mesmos. Houve um processo de descoberta, empolgação, e adrenalina – como acabar de descobrir que você pode compor músicas e descobrir que você pode mesmo e então é, tipo, uau, um novo brinquedo. Temos um novo DNA enquanto banda”.

Então pergunto a Paul se ele tem algum relacionamento com Carlos, e seu cuidadoso comportamento se esvai. Ele responde, categoricamente.

“Não.”

Próxima pergunta.

*****

“Acho que só queremos tocar, no fim das contas; percebemos silenciosamente que queremos ser essa banda”, declara Sam enquanto tomamos um café, dias antes. “Digo, não se preocupar com nada além disso”.

Estamos no pátio do Bowery Hotel um mês antes do lançamento de El Pintor, e o baterista relembra como foi entrar no estúdio novamente pela primeira vez em quatro anos sob a égide do Interpol, com um integrante a menos, um que ajudou a estabelecer a banda. Aos 46 anos de idade, Sam é o membro mais velho do Interpol, mas o mais brilhantemente brusco com suas emoções. Hoje, ele traja roupas previsivelmente bacanas – casaco azul, camisa pólo pra dentro da calça, e calças escuras. Meias vermelhas escapam da barra da calça, e um maço amarelo de Yellow Spirits salta de seu bolso frontal. Ele também usa óculos escuros claros. “Não nos falamos há cinco anos ou mais. É uma separação”, diz. “Teve uma época em que eu não aguentava ele”.

Não há um motivo claro para a saída de Carlos – ao menos não um que o restante da banda queira compartilhar (não conseguimos falar diretamente com ele para esta matéria). Paul fala sobre como o começo do Interpol era vibrante musicalmente porque havia tanta criatividade rolando em um só lugar. Cada membro da banda tem uma personalidade dinâmica, mas Carlos, em especial, era o pavão. Possivelmente o rosto mais conhecido da banda, era ele o cara que sempre os levava além – o tipo de pessoa que tinha a audácia de usar um coldre junto de seu terno. Não é difícil ver como essa sua abrasividade levou-o a cair em desgraça dentro da própria banda.

Sam afirma ter superado a saída de Carlos, e caso o visse na rua, “com sorte” lhe daria um oi. Mas ao mesmo tempo, ele é sincero com seus sentimentos de traição, talvez porque tenha tocado com Carlos na parte rítmica da banda, literalmente o coração pulsante de qualquer grande banda de rock.

“Eu fiquei tipo ‘bicho, cê tá me largando ao relento’, sabe?”. Ele se inclina para trás, cruzando e descruzando as pernas com cada argumento apresentado. “Eu dizia ‘bem, como devo me sentir em relação a algo que ainda amo e me define, e você abandona?’ Aquilo machucou. Mesmo, mas aí você supera. Você fica triste, fica com raiva, aí passa”.

 Sam me fala sobre como os últimos meses têm sido uma loucura, com o Interpol passando o verão tocando em diversos festivais ao redor do mundo semanalmente, e como o fato de sentar ali comigo em Nova York parece um grande feito. Após uma carreira de quase duas décadas, a parte de negócios do grupo é tão forte que a imprensa de sua parte é levada como um evento por si só – sendo quase impossível para seu assessor conseguir juntar o trio para uma conversa. Antes de nossa entrevista, Sam lembra de como no final de semana anterior ele se viu acabado em sua cama no quarto do hotel em que ficou em Chicago, após um show no Lollapalooza, duvidando que seria possível até mesmo assistir algo no Netflix. Ele nem lembrava em que país estava.

Pergunto ao Sam se – após estar na banda há quase 15 anos – existe algo com o qual ele se sinta incompreendido. Ele cita a comparação com o Joy Division, algo com o qual já está acostumado, mas até hoje as pessoas supõem que o Interpol tentava personificar o Unknown Pleasures.

 “Eu ouvi o Joy Division por causa do Interpol”, digo a ele, que ri.

“Bom, se algum moleque de Iowa compra um disco do Interpol e diz ‘que que é esse tal de Joy Divison?’ vai lá e pega uma cópia do Unknown Pleasures por nossa causa, isso é bom”.

Nosso tempo acabou, ele então se levanta e faz uma pausa. Um último pensamento. “Não acho que todo mundo vá entender tudo, e não sei se quero que entendam”, ele sorri, e então se vai. Vem então Daniel, guitarrista da banda, com um terno inteiramente preto, com seu cabelo longo penteado para trás. Ele senta, cruza as pernas, e começamos a conversar. O homem de 39 anos ali presente tem basicamente a mesma mensagem a passar: “Não tenho como controlar se alguém dará uma chance a este disco. Tudo que posso controlar é o que quero dizer e como queremos apresentar a coisa e o que acontece entre um lance e outro”.

*****

Há algo na cidade de Nova York no começo de setembro. As ruas não têm mais aquele fedor de panela de pressão cheia de lixo. Ondas de moleques de olhos arregalados mudaram-se para a cidade prontos para gastar uma puta grana na faculdade. Há uma mistura esquisita entre verão e outono – ninguém sabe bem o que vestir mas tudo bem porque ficamos felizes com o calor de agosto que se foi. Ao lado do Bowery Ballroom, cinco dias antes do lançamento de El Pintor, diversas pessoas da cena ficam por ali esperando o momento certo para entrar, a maioria fumando cigarros – por mais que eu não saiba se são Camel Blues ou American Spirits. A idade varia, de 20 e poucos anos a 40 e tantos. Muitos chapéus. Muitos casacos. Ninguém usa shorts. Todos estão de preto. Em direção ao centro, sob a linha do horizonte, duas luzes iluminam o céu em honra às torres do World Trade Center. Mais alguma coisa de diferente na Nova York do começo de setembro.

Dois dias, antes, o Interpol fez um showzinho no Temple of Dendur no Museu Metropolitan, um evento chique e encharcado de vinho onde todo mundo se vestia bem e falava baixinho enquanto assistia à banda tocar músicas de sua discografia. Mas aqui no Bowery é diferente. As pessoas pagaram 40 dólares para assistir sua amada banda tomar o palco da pequena porém lendária casa de shows, um local que chamavam de lar quando estavam no começo de sua carreira como integrantes na cena do Lower East Side. Talvez os caras tenham resolvido voltar lá por nostalgia, ou porque queriam testar o “novo DNA” da banda. Hoje é a primeira vez que tocarão no Bowery Ballroom em sete anos, e parece uma noite típica de Nova York, que tem uma energia toda única. Talvez seja uma volta aos dias em que o Interpol – uma banda tão entrelaçada à atmosfera de sua cidade natal – estava canalizando o clima não muito confortável de uma cena central pós 11 de setembro em vez da mercantilização bizarra pré-recessão do que é cool ou a busca por uma identidade no centro pós-recessão. O Interpol voltou, mais maduro e polido, cercado por uma vizinhança que aguentou seu próprio crescimento e achou uma forma de se sentir como Nova York novamente. Todos nos sentimos como Nova York; cada um aqui usa o Interpol para definir o que é essa sensação para si.

 “Rosemary”, ecoa a voz de Paul Banks sobre o público. A banda começa seu set de 16 músicas com “Evil”. “Heaven restores you in life”. [O Paraíso te restaura em vida”, trecho de “Evil”].

As luzes mudam entre cada música, ajustando-se a cada disco. Vermelho para Turn on the Bright Lighs. Azul em Antics. Vermelho e azul para El Pintor. Verde para Interpol. Ao vivo, a banda está tocando bem como nunca, executando músicas de toda sua discografia. Ouvimos “PDA” e “Take You on a Cruise” e “Stella Was a Driver and She Was Always Down” e “Slow Hands” e “NYC”. Aqueles ali presentes, a maioria na casa dos 30 anos, cantava junto, seu comportamento uma combinação entre lembrar como foi ouvir estas músicas pela primeira vez e gratidão por verem a banda que amam nesta forma. As novas músicas – tocaram “All the Rage Back Home”, “Same Town”, “New Story”, “Anywhere” e “My Desire” de El Pintor – encaixam bem na discografia da banda, uma bizarra coleção de músicas que percebo, durante o set, soam praticamente as mesmas. Mas apesar disso, há uma beleza reconfortante no que aquela sensação repetitiva causa em você.

Fico com meu braço em torno de uma garota. Dançamos, de levinho, sem falar muito, mas isso porque ninguém está falando nada. Estamos todos lá, juntos, no mesmo transe esquisito. Após o show, ela e eu vamos a um bar em um porão do East Village. Bebemos um pouco e falamos de nossas vidas, o que significa crescer e envelhecer e ficar mais sábio e perceber que quanto mais velho ficamos, menos sabemos. Em determinado momento, num golpe de poesia cósmico, começa a tocar “NYC”, do Interpol. Ela me fala de sua família, e eu da minha. Vamos embora. Já passa das 2 da manhã. Estamos meio bêbados e tropeçando de leve um sobre o outro nas escadas ao sair do bar. Na beira da rua, o beijo. E beijo de novo. Então ela pega um táxi e vai pra longe, eu pego um táxi e volto ao Brooklyn. Quando passo pela Williamsburg Bridge, vejo a linha do horizonte da cidade escurecer, coloco meus fones, e boto pra tocar Turn on the Bright Lights.

Eric Sundermann

Noisey

Vice

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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Max & Igor, juntos e ao vivo ...

Demorou 23 anos, desde que os vi no Rock In Rio II, no Maracanã, lançando o disco “Arise”, mas aconteceu domingo, dia 7 de setembro, em Salvador, meu reencontro com os irmãos Cavalera juntos num palco. Já vi Sepultura algumas vezes desde então – uma delas aqui mesmo em Aracaju, ainda com Igor na bateria – mas é diferente. Não gosto de Sepultura com Derrick Green. Do meu ponto de vista, ver um show do Cavalera Conspiracy é, hoje em dia, o mais próximo que você pode chegar da experiência do Sepultura na formação clássica.

Chegamos no horário marcado no site apenas pra saber que o show havia sido adiado para duas horas depois. Má noticia, já que a idéia seria voltar para Aracaju ainda naquela noite de domingo, por conta de compromissos na segunda pela manhã, mas normal. Coisas do rock. Casa cheia, público razoável – cerca de 500 “cabeças”. Entramos a tempo de ver parte do show da banda de abertura, Capadócia. Competente.

Não teria despencado linha verde afora se o show tivesse sido do Soulfly, devo confessar, mas também não concordo com a opinião de minha querida amiga Maíra Ezequiel de que Max sem Igor não é nada. Ele é tosco pra cacete, rosna, não canta, toca guitarra de maneira primitiva – o que se reflete em suas composições, evidentemente – mas foda-se: o cara é foda. Emana uma aura meio inexplicável que faz com que você se identifique instantaneamente com sua energia e atitude. Deve ser o que chamam por aí de “carisma” ...

E foi essa aura que dominou o ambiente assim que ele adentrou o palco da casa de shows “The Hall”, na Pituba – no mesmo estilo mas bem melhor, mais espaçosa e elegante do que a “nossa” Infinity Club, onde uma semana antes eu havia visto o Krisiun. A catarse já havia se iniciado alguns segundos antes, quando a silhueta de Igor ficou visível por trás da bateria, mas Max é o “frontman”, é ele que “levanta a massa”.

Sem muitas delongas, tome paulada no pé do ouvido: “Inflikted”, primeiro “single” deles, abre os trabalhos em grande estilo, já que é uma boa musica. Segue ok com “warlord”, mas o bicho começa realmente a pegar quando rola a introdução de “Beneath the remains”, clássico do Sepultura, nos alto-falantes. E quando eu falo em “bicho pegando”, em termos de Salvador, é porque lá o bicho pega MESMO: “pogo” – ou “slam dancing”, “clube da luta”, o que seja – violentíssimo, SEMPRE! A “roda” lá é pros fortes mesmo, nada da “ciranda cirandinha” que se costuma ver no Recife, por exemplo. Bonito de ver a cena, apreciada de uma distancia segura por mim – a idade somada a duas cirurgias no cotovelo e quase um ano de fisioterapia por conta dessa “brincadeirinha” deixaram marcas ...

O set list é espertamente distribuído entre coisas mais antigas, do Sepultura – sempre as mais aclamadas, claro, e com razão, clássico é clássico – e novas, do Cavalera. Com duas exceções: “Orgasmatron”, do Motorhead – só um trecho, de improviso – e “Wasting Away”, do Nailbomb – ambas tocadas de modo desleixado, mas com uma energia bruta contagiante. Idem para a novíssima “Bonzai Kamikaze”, que eu curti muito na versão de estúdio mas ao vivo ficou quase irreconhecível, uma merda. Os grandes destaques da noite, pra mim, foram “refuse/resist” e “Territory”, que não por acaso fazem parte do repertório de meu disco favorito, “Chaos AD”. “Roots Bloody Roots” também foi foda – pensei que Max fosse mencionar o clipe, gravado na Bahia ...

Não foi um show perfeito, mas foi muito bom. Max demonstrava um certo cansaço e é nítida a falta que Andreas kisser faz, mas teria valido a pena o esforço apenas para ver o segundo melhor baterista de Heavy Metal do mundo em ação. Puta que pariu, caralho, o cara é muito bom! E ainda é bonito, o “fi-da-peste”! Chega a ser engraçado o contraste dele com Max, mais evidente no final do show, quando os dois agradecem ao público abraçados no palco – um super em forma, de cabelo cortado e figurino sóbrio, o outro gordo, detonado, com imensos dreadlocks podres e o velho conhecido figurino “camuflado” em tons de cinza. Mas acima de tudo, muito bom ver a bonita amizade e a cumplicidade que os une, do tipo que consegue se comunicar com uma simples troca de olhar.

Fim de festa, volta pra casa tranqüila madrugada adentro.

Valeu, Salvador!

Quero mais!

Veja AQUI

A.

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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Wallpaper pdrock

Clique na imagem, defina como plano de fundo de sua área de trabalho e nunca mais esqueça o dia, horário e a frequencia do programa de rock ...

 

 

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Triunfo da vontade de potência ...

“Sem música, a vida seria um erro”, disse o filósofo. A noite de sábado, 30 de agosto de 2014, me fez lembrar esta sentença. Foi mais do que um show de Heavy Metal, foi uma celebração da vida – por mais contraditório que isso possa parecer, já que o estilo dominante antende por Death Metal, o “metal da morte”. Mas nem tanto. A morte, afinal, faz parte do processo ...

Sou um fã tardio do Krisiun: conheço-os desde o primeiro compacto, tosquissimo, que comprei num pacote que adquiri para revender na minha loja, nos anos 90, das mãos de Nelson, da Rothness, que chegou com um fusca abarrotado de disquinhos de vinil na casa de minha tia em Cidade Ademar, São Paulo. Desde lá venho acompanhando com atenção e admiração a trajetória da banda, sempre evoluindo em técnica e projeção, inclusive internacional. Chegaram próximo à perfeição dentro do que se propõem a fazer, a meu ver, nos dois últimos álbuns, “southern storm” e “The Great execution”, quando as composições ganharam uma maior dinâmica e ficaram mais “quebradas”, menos “retas” – era o que me incomodava, até então. A partir daí, quanto mais eu vejo – e ouço – mais gosto.

O show de sábado, beneficiado pelo ambiente pequeno, que traz a banda para mais perto do público, e pela qualidade do som, cristalino, foi perfeito. Comecei vendo de trás, na tranqüilidade, mas só senti mesmo a pulsação da coisa quando resolvi adentrar a arena em que se transformou a frente do palco – lá atrás o volume estava chegando um pouco baixo. O choque dos corpos em transe conduzido pelos “blast beats” em ritmo de britadeira do baterista Max amplifica a intensidade da musica, conduzida com uma precisão impressionante pelo trio. Outro nível, definitivamente – anos e anos de turnês ao redor do mundo fazem toda a diferença, sempre!

Sei que vai soar injusto, mas não vou conseguir destacar nenhuma composição própria da banda, pelo motivo descrito acima: sempre os acompanhei um pouco à distancia. Muito por conta disso, mas também fazendo justiça ao que de fato aconteceu – clássico é clássico, afinal – devo dizer que o ápice, o momento da grande catarse, foi quando eles tocaram a mais devastadora versão de “Black Metal”, do Venon, que eu jamais imaginei um dia ter a oportunidade de ouvir. Chega a ser constrangedora a comparação com a gravação original. Ali, naquela palhetada precisa e vigorosa de Moyses, o potencial daquele riff antológico se apresenta em toda a sua glória. Impossível não erguer os punhos e gritar triunfante “lay down your souls to the gods rock 'n roll”. SALVE OS DEUSES DO INFERNO KRONOS, MANTAS E ABADDON! Aquele momento em que você desce do alto de seus quarenta e alguns anos de idade e volta, repentinamente, à adolescência, nos anos 1980 ...

Tocaram ainda “No Class”, do Motorhead, e encerraram o show com menos de duas horas de apresentação, mas em grande estilo, com direito à faixa título do primeiro álbum, “Black Force Domain”, e um “stage dive” do vocalista/baixista Alex Camargo, como que comprovando o que ele dizia a todo momento, entre uma música e outra, sempre que o público fazia coro gritando o nome da banda: que aquela era uma noite especial e que ele nunca iria esquecer. Foi, certamente, a melhor das três passagens do Krisiun por aqui – a última havia acontecido no Gonzagão e a primeira foi há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante – o Vasco Esporte Clube, na região do mercado central, com produção da saudosa Destruction productions e sonorização by “Paquito” – “Tá CD!!!”.

O público também prestigiou não em tão grande número mas com entusiasmo as bandas locais de abertura, Sign of Hate e [maua]. A primeira tem, por sinal, no Krisiun uma de suas principais influências. Para a apresentação de sábado contaram com o reforço de seu excelente ex-vocalista, infelizmente apenas numa participação especial – uma pena, pensei que ele havia voltado à banda. Já a [maua] faz um som híbrido, cheio de “groove” e influenciado pelo chamado “nu metal”. Têm na competência de seus músicos e no carisma de seu vocalista, Ericão, suas principais virtudes. Estão sempre evoluindo, apesar das constantes mudanças de formação. Merecem, NO MÍNIMO, o respeito de todos, mesmo daqueles com um gosto musical mais ortodoxo ...

Vale mencionar, também, que o show aconteceu num tradicional “pico” da “playboyzada” local, o “Infinity club”, antiga Boate do Augustu´s – e várias outras denominações. É a boate de “Fabieira Olivano”, decano das micaretas e patrono da diluição cultural. Nunca havia ido lá. Nada de muito impressionante. Me chamou a atenção, apenas, a falta de saídas de emergência sinalizadas. “Vivendo e não aprendendo”, como dizia o Ira! Que nunca haja ninguém morrendo, é o que se espera, depois do que aconteceu na Boate Kiss, mas fazer o que, diante do eterno descaso dos responsáveis e da negligencia de quem deveria fiscalizar ...

Em todo o caso, foi antológico ver aquele evento acontecendo ali.

O mundo, realmente, dá voltas ...

A

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