quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

# 260 - 26/01/2013

THE DEAD BILLIES - Eles tinham punch, eles tinham classe, eles tinham paixão e (surpresa!) eles tinham música. Assim era o grupo, mais-do-que-performático, The Dead Billies, cujas influências eram e são, digamos, visíveis: rockabilly, 60’s, surf music e mod. No palco, Mosckabilly (vocal), Morotó Slim (guitarra), Joe Tromondo (baixo) e Rex (bateria) exploravam todos os clichês do Rock’n Roll, inspirados em nomes como Stray Cats, Ver, Cramps, Horton Heat, Dick Dale e Kinks. Um conselho: esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre “exageros”. The Dead Billies sacudiu platéias desde 1993, quando a banda fez seu show de estréia em Salvador. Três anos depois, eles gravaram o primeiro álbum, Don’t mess with…The Dead Billies, do qual derivou o clipe “Invasion of the body snatchers”, que chegou a ser transmitido pela MTV Brasil. A banda também mereceu destaque em publicações especializadas como ShowBizz, Rock Brigade e Rock Press. Em 1999 lançou seu segundo e derradeiro album, Heartfelt Sessions, uma concepção gráfica fantástisca e músicas igualmente maravilhosas, com destaques para “Supernatural Rockbeat”, “Run away from you (ma-ma-ma)” e “Rats & Bats & Black Cats”, já conhecidas de suas performáticas exibições ao vivo. Destaque também para a música “Favourite Crime” que, em alguns shows, contava com a participação especial de Pitty. Após a saída do vocalista, Mosckabilly, Joe, Morotó e Rex seguiram caminho numa banda de surf music chamada Retrofoguetes. Posteriormente Joe tornou-se baixista de Pitty. Já o ex-vocalista Mosckabilly (Glauber Guimarães) hoje toca os projetos Glauberovsky Orchestra e Teclas Pretas. 

TODY'S TROUBLE BAND - Tody's Trouble Band surgiu em Março de 2011 na cidade de Aracaju-SE com o intuito de trazer diversão e um "troquinho" para os amigos Marcelo Todynho (Baixo Acústico), Demétrio Varjão (Guitarra Rosa) e Fabinho Espinhaço (Bateria), figuras ilustres e remanescentes de outras bandas notórias da cena rock independente sergipana. Além de divulgar o Blues, o Rockabilly e a música antiga de uma forma divertida e nunca antes feita em Aracaju, o trio faz questão de tocar em seu repertório músicas autorais com letras em português e covers de alguns clássicos da boa música, o que tem feito o público se surpreender e curtir os calorosos e fanfarronicos concertos da banda dos problemas do Tody. Em 2012 a Tody's passa por mudança em sua formação com a entrada de Romulo Sandes na bateria, figura mais que querida e conhecida da cena rock de Aracaju! Grande Baterista! 

CRAZY HORSES - Após uma maldição numa noite de sexta-feira 13, três psychos de Londrina foram transformados em homens cavalos, possuídos por um ritmo western psychobilly. Desde então eles sofrem essa transformação em noites terríveis que reúnem pessoas estranhas para cultuar o Psychobilly, onde geralmente eles apresentam seu som amaldiçoado. E ao que tudo indica as noites devem causar este distúrbio e despertar os Crazy Horses.  

KÃES VADIUS - Nascidos em 13 de agosto de 1985 em São Caetano do Sul (ABC Paulista), os Kães Vadius surgem no cenário underground brasileiro como precursores do Psychobilly no pais. Em 1987, já contando com uma legião de fãs fiéis arregimentados em centenas de shows no circuito alternativo, lançam o primeiro disco brasileiro com o novo estilo musical. Influênciados por nomes como Stray Cats, Cramps, Meteors, Guanabatz e os mestres Genne Vincent, Eddie Cochran, Chuck Berry, Bill Halley etc, os Kães Vadius compôem suas próprias letras e músicas baseadas em temas mais urbanos e atuais. Terror, sexo, violência e psicose são misturados ao sarcasmo a ao humor negro de forma irreverente e poética, que somados aos riffs clássicos e distorcidos, transformam os anos 50 e 70 em fonte de inspiração para refletir o caos deste século.O nome foi inspirado nos Stray Cats - seriam o oposto dos Cats, seriam os Kães, com K, para dar um toque mais latino (???) na coisa toda. mas Kães o quê? Como nessa época ninguém trabalhava, viviam de bicos e muuuuuuuuuuita cachaça, uma amiga que participava da animada reunião sugeriu: VADIUS. E assim foi. 

AS DIABATZ - Power Trio feminino de Psychobilly. A banda vem ganhando grande espaço na cena, mesmo tendo pouco tempo de existência. No verão de 2006/07, três garotas do sul do Brasil notaram que já era hora de montar uma banda de garotas na cena psychobilly brasileira. Inspiradas pelas bandas clássicas dos anos 80, elas começaram a fazer suas músicas simples e cruas, tentando transmitir essa doença que é o psychobilly. Formada por Baby Rebbel (guitarra e vocal), Killer Klaw (baixo acústico) e Clau Sweet Zombie (bateria), a banda toca “psychobilly clássico”, o som do início dos anos 80, com bases simples e guitarras limpas. As letras são feitas em conjunto e abordam temas como: terror, diversão, homens, mulheres, insanidade, pesadelos, que podem ser conferidas no CD Demo “Witches Stomp”, gravado em 2007. Em março de 2009 lançou seu primeiro CD, “Riding Throug the Devil´s Hills”, pelo selo Drunkabilly Records da Bélgica. O CD foi gravado e mixado em Rotterdam por Marc Burguer (músico veterano em várias bandas). Psycho Attack, Psychobilly Fest e Psycho Carnival são exemplos de alguns festivais que o trio já participou. O EP “Crazy Psychos First Degree” é o novo lançamento da banda, com cinco músicas inéditas e uma versão de “Bat Attack”, da banda holandesa Batmobile.

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The Ramones - Happy Birthday Mr. Burns
Ira! - Envelheço na cidade

The Dead Billies - Invasion of the Body Snatchers
Tody´s Trouble Band - Blues da Epilepsia
Crazy Horses - out to kill
Kães Vadius - Morcegos loucos
As Diabatz - Woman in white
- por Wagner "Billy"

Banda Lúgubre - como se ...
+ Entrevista.

Dança da vingança - Um espaço que é nosso

Atari Teenage Riot - Delete yourself
The Grunge Revenge - MMDC
Nine Inch Nails - The Begining of the end
GDE - Synthetic Apocalypse

My Blood Valentine - Several girls galore
Spiritualized - Come togheter
The Flaming Lips feat. Henry Rollins - Brain Damage
Pink Floyd - Interstellar overdrive

The Strokes - One way trigger
Voivod - Kluskap O´Kom
Bad Religion - True North
Tomahawk - Oddfellows
Os Vulcânicos - Piraí Safari


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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

VERÃO SERGIPE 2013 - VERSÃO "VIDA REAL"

Aracaju, 27 de janeiro de 2013. Uma gigantesca e belíssima lua cheia se ergue do mar sobre uma cena inusitada: na praia, iluminados apenas pela luz de um refletor alimentado por um gerador, um punhado de jovens – em idade e em espírito – se reúne em torno de um grupo de garotas vindas do planalto central do país para participar de mais uma celebração do espírito livre e independente, transmitindo aos presentes sua mensagem de esperança através de uma musica simples e tribal, porém densa, angustiada e repleta de significados.

Sim, esperança. Porque aquelas palavras de dor emolduradas por acordes soturnos, toscos e dissonantes têm como objetivo maior, na verdade, sublimar o sofrimento oriundo da opressão orquestrada pelas estruturas arcaicas que ainda nos regem, como sociedade. Sofrimento que se manifesta na forma de gritos primais emitidos por indivíduos que se recusam a ser escravos da ignorância, vitimas de todo tipo de violência física e psicológica. Se recusam a ser gado conduzido docilmente ao abate, a cair nas armadilhas das convenções sociais. Todos os que estavam ali naquela noite eram, de alguma forma, ovelhas negras. Todos almejavam, de alguma forma, se libertar.

A apresentação era da Soror, banda brasiliense com uma interessante proposta musical que em essência é punk, mas que flerta com a estética gótica e se utiliza de acordes e andamentos tão lentos e climáticos que resvala no “doom” – sem o metal. Nada de virtuosismo, aqui. Tudo começa com notas primárias tiradas de um contrabaixo distorcido em um andamento lento, muito lento, numa espécie de introdução fantasmagórica interminável que vai, aos poucos, se desdobrando em novos elementos acrescentados aos poucos, sem pressa, até culminar em vocalizações desesperadas que desencadeiam uma barulhenta explosão de angustia. Conduzindo a sinfonia macabra e minimalista, 4 jovens mascaradas que se revezam em seus instrumentos, esnobando a técnica e esbanjando criatividade.

Foi um desfecho perfeito para algo havia começado com o sol ainda brilhando, por volta das 17h00. Era a quarta edição do “Clandestino”, evento inspirado na atitude punk do “faça você mesmo” que coloca bandas dispostas e despojadas diante de um público curioso e participativo convocado pelas redes sociais. Tudo planejado e executado de maneira informal, espontânea, colaborativa. Rock sem edital, sem muros, sem portas. Libertário, como deve ser. Sempre.

Os organizadores aproveitaram a passagem de duas bandas brasilienses por Salvador para participar do Festival Vulva La Vida para as convidar para uma esticada até a cidade vizinha e tocar na praia, ao ar livre, de graça – um convite irrecusável para quem vive no centro-oeste, tão longe do mar. Elas vieram, e se depararam com um bom público reunido em torno de uma estrutura básica montada ali mesmo, na areia, em frente ao mar. E trouxeram algumas amigas a reboque, dentre elas uma espécie de poetisa ativista que se apresentou como “Formiga”, de São Paulo, e declamou, no intervalo entre a Dança da Vingança e a Soror, um poema de protesto adaptado de uma letra de rap. Foi ouvida com atenção e efusivamente aplaudida.

A Dança da Vingança se apresentou exatamente na transição entre a tarde e a noite e teve a sorte de ser presenteada com a aparição da lua no instante em que pisavam o palco improvisado – uma lona preta sobre a areia. Foi um momento mágico. Sua musica é simples e primaria, mas as deficiências técnicas são amplamente superadas pela energia e verdade com que é apresentada. Tanto que atraiu ao palco uma criança, filha de um dos casais presentes, que parecia querer, a todo custo, participar daquilo. As crianças sentem quando a coisa é verdadeira. As meninas, com os olhos brilhando, pareciam não acreditar no que estava acontecendo. Nós também não. Repito: foi mágico.


Os trabalhos foram abertos por volta das 17h15 pela local Renegades of Punk que, mais uma vez, no presenteou com uma apresentação precisa e energética comandada por Dani, com seu sorriso cativante, sua tiara de oncinha e sua glamorosa Danelectro refletindo o brilho do sol, acompanhada pela cozinha nervosa de João Mário e Ivo Delmondes – este último servindo de obstáculo para os acrobáticos saltos ornamentais de Alex e sua invejável saúde de ferro. Na platéia, representantes de todas as gerações, com destaque para as promessas do futuro: Nico, filho de Marcelo Larrosa, o bebê mais babado e adorado do Facebook, e a garotinha que interagiu com a Dança da Vingança, filha do casal “rocker” Nani e Kakau. Do reino animal, destaque para a presença de Denzel, o pinscher, mascote da Todys Trouble Band.

Valeu muito a pena, tudo. Até mesmo para quem vai precisar de dias, semanas, quiçá meses, para limpar toda a areia acumulada nos equipamentos. Tenho certeza disso.

O rock me emociona. Catarina e Rodrigo, faltaram vocês ...

Fotos por Snapic e Marcelinho Hora.

Texto de Adelvan k.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

# 259 - 19/01/2013

Criado em 2009, a segundo inverno é uma banda de rock paulistana formada inicialmente por Dennis Monteiro (voz/guitarra), Renato Andrade (voz/guitarra) e Coy (baixo). Essa formação gravou os dois primeiros EP’s, o primeiro homônimo e o segundo “O homem dos olhos cinzas”. Em 2010 Carlos Porto passa a ser o baixista e toca com a banda no Festival Woodgothic na cidade de São Thome das Letras. No fim desse mesmo ano acontece a segunda mudança de formação e Dennis e Renato passam a contar com Penna Lopes no baixo. O segundo inverno é influenciado pela estética minimalista da música post punk e seu notório experimentalismo através de “ruídos sujos” de guitarra e do som “plástico” da bateria eletrônica. Esta é a base sonora para que eles usam para falar de questões existenciais, quase sempre na primeira pessoa, em letras que abordam o ser e suas vivências e a busca do autoconhecimento. Existe espaço também para críticas sociais e o uso do sarcasmo e do cinismo.

Os dois primeiros anos da banda geraram um álbum com 13 músicas chamado “As coisas que movem o mundo”, gravado em 2011.


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Tody´s Trouble band - Murro Blues - Ao Vivo no programa "Encruzilhada"
Exenteration - Desecration of the tomb
Segundo Inverno - Viver e morrer

Saxon - 747(Strangers in the night)
Son Of a Bitch - Love your misery
X-Wild - Dealing with the devil
Running Wild - Adrian SOS
- por Mayanna

Coheed and cambria - Dark side of me

Garotos Podres - oi tudo bem
Cólera - Vivo na cidade
Inocentes - Pânico em SP
Replicantes - Festa punk
Desordeiros - Chaminés
Karne Krua - Karne Krua

No Sense - progression retrogression
Purulence - Maggots
Brujeria - Asesino
Asesino - Puta con pito
Cripple Bastards - I Hate her
Anal Cunt - I became a consoler so I could tell rape
Extreme Noise Terror - No Threat
Meat Shits - in pain

The Fall - A past gone mad
Daft punk - Harder Better Faster Stronger
New Order - Regret (Sabres Slow ´n´low mix)

Albert Hammond jr. - The Boss Americana
Echo & The Bunnymen - The Game
Weezer - Blowin´my stack
Faith No More - Stripsearch

John Lennon - Nobody Told me
Bob Dylan - Highway 61 revisited
Johnny Cash - I walk the line
Van Morrisson - Brown Eyed girl


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sábado, 26 de janeiro de 2013

NO FALSE METAL !!!

            Skull Fist é uma banda canadense de Heavy Metal “tradicional” – aquele cheio de firulas e gritinhos agudos. É considerada uma parte importante da Nova Onda do Heavy Metal Tradicional (New Wave of Traditional Heavy Metal (NWOTHM)), movimento crescente que tem alavancado o ressurgimento de bandas com uma sonoridade derivada da anterior New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), de onde saíram grandes nomes como Iron Maiden, Saxon e ...

            Bem, grandes, grandes, só estes mesmos.

            Eu nem sabia que existia essa tal NWOTHM, nem nunca tinha ouvido falar do Skull Fist. Mas calhou de, por uma destas ironias do destino, um dos roadies dos caras ser brasileiro, mais precisamente daqui, de Aracaju, então acredito que, por conta desta relação de amizade (roadies no rock, mais ainda no metal, são sempre mais amigos que funcionários), eles resolveram dar uma esticadinha até as terras do Cacique Serigy, já que na divulgação original da turnê que fariam pelo Brasil não constava esta data.

            Foi tudo um tanto quanto improvisado, pois não existem espaços adequados para este tipo de evento por aqui. Aconteceu na CHE Petiscaria, um lugar quente – muito quente – e sem isolamento acústico. Fechado, quente (de novo) e, acreditem, sem um misero ventilador de teto ou de parede sequer, para aliviar o calor. Não fosse por um cantinho aberto no fundo, por onde entra alguma brisa - e vaza o som para a vizinhança - seria uma verdadeira sucursal do inferno! O que me leva a pensar: será que os “empresários” que se dispõem a abrir espaços alternativos na cidade não investem num mínimo de conforto para os seus clientes porque não há retorno de público ou não há retorno de público porque os locais não oferecem um mínimo de conforto para qualquer um que não seja um roqueiro adolescente ensandecido sedento de rock and roll e disposto a enfrentar qualquer “perrengue” pra ouvir umas guitarras distorcidas? A equação é complexa mas, a meu ver, se não há capital para a instalação nem mesmo de ventiladores, melhor deixar quieto ...

            Depois dos locais da Berzerkers enfrentarem a sauna e, mesmo assim, entregarem um bom show – os caras saíram do palco banhados em suor, era impressionante – foi a vez dos canadenses encararem as agruras do rock no terceiro mundo. Além do calor infernal tiveram som fraco e falhando, iluminação insuficiente e mal utilizada e uma irritante insistência em entupir o ambiente com fumaça de gelo seco. Havia momentos em que não se via nada no palco – a falta de noção era total, neste quesito, para o desespero dos fotógrafos Victor Balde e Marcelinho Hora, que se desdobraram para conseguir imagens decentes em condições tão adversas. E conseguiram, o que é mais incrível! Confira você mesmo nas imagens que ilustram estas mal traçadas linhas.

            Como não gosto de Heavy Metal (apesar de ser fã do Judas Priest) não fiquei muito impressionado com os som dos caras, que achei inclusive meio “farofa”. Mas não há como negar que fizeram uma grande apresentação, apesar dos irritantes gritinhos agudos a cada 5 segundos. O vocalista e guitarrista, único membro original remanescente, toca muito, e entregou uma perfomance visceral, com direito a todo o cerimonial obrigatório em shows do estilo, como oferecer a guitarra para que a turma do gargarejo, ensandecida, toque nas cordas, se jogar no chão e carregar um dos outros membros da banda nas costas. Quanto ao repertório, não posso opinar, mas me disseram que eles tocaram, inclusive, dois covers de clássicos do metal – em deles do running Wild, se não me engano. Não sei. Não conheço, não gosto, não identifiquei.

            Se não gosta porque foi e, ainda por cima, está se dando ao trabalho de escrever esta resenha, perguntará o incauto leitor. Por três motivos: primeiro, para parabenizar os que viabilizaram a empreitada, pois sempre torço para que as coisas aconteçam no cenário do rock alternativo, de qualquer vertente ou matriz – ainda mais às vésperas do Pré-caju, essa gigantesca celebração da mediocridade que acontece todos os anos à custas do dinheiro público, apesar de se tratar de uma festa privada. Segundo, para registrar o fato, inusitado e digno de atenção e reverencia. E terceiro, porque é uma boa desculpa para colocar no blog as sempre sensacionais fotos da Snapic.

por Adelvan

# 258 - 12/01/2013

David Bowie aproveitou seu aniversário de 66 anos na terça-feira do dia 08 de janeiro para lançar seu primeiro single em 10 anos. O clipe de "Where are we now?" pode ser assistido no site oficial do músico britânico.

A nova canção foi escrita por Bowie com a ajuda de Tony Visconti, seu colaborador de longa data, e foi gravada em Nova York. O vídeo conta com a direção de Tony Ousler. "Where are we now?" estará presente em "The next day", álbum que será lançado em março pelo cantor. Seu trabalho mais recente é "Reality", que saiu em 2003.

Bowie se apresentou ao vivo pela última vez em 2006 e raramente aparece em público. Ele recusou o convite para tocar na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, mesmo com o pedido sendo feito pelo cineasta Danny Boyle.

Duncan Jones, filho de Bowie, usou o Twitter para dar os parabéns pelo aniversário de seu pai e comentar o novo disco. "Em primeiro lugar, é meia noite em Nova York. Isso significa que um gigante feliz aniversário está a caminho de meu muito amável e talentoso pai! Faz 10 anos desde seu último disco... Seria demais se vocês espalhassem a notícia sobre o novo álbum do meu pai". "The next day" sairá no dia 8 de março na Austrália, em 12 nos Estados Unidos e no dia 11 no resto do mundo. O disco tem 14 músicas ao todo, com mais três faixas bônus na edição de luxo.

O programa de rock do dia 12 de janeiro abriu com a música nova de Bowie e com "Barriers", primeiro single do próximo álbum do Suede, "Bloodsports". Seguiu com sons das duas bandas que se apresentariam na quarta seguinte no CHE Pestiscaria, Berzerkers e a canadense Skull Fist, e se encerrou com mais um set matador cometido por Andye Iore, do qual, infelizmente, não possuo a relação. Esta edição teve, excepcionalmente, apenas 1 hora de duração, devido a um atraso na volta de nossa viagem a Paulo Afonso para ver o Drakula - ver post abaixo.

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David Bowie - Where are we now?
Suede - Barriers

Berzerkers - XXXXXXXXXXXXXXX
Skull Fist - No False Metal
Skull Fist - Head Of The Pack

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

“Porreta!!!”

Andye & The Renegades of punk
Cada um no seu quadrado - Eu não sou do rock. Gosto de música e, eventualmente – com bastante frequência, aliás –, me animo com um riff de guitarra, mas faz tempo que joguei fora as bandeiras sob as quais me escondia. Não sou do rock, mas também não sou estúpido a ponto de reduzir figuras como Adelvan Kennobi e Sílvio Campos ao estereótipo do abestalhado vestido de preto, pendurado numa garrafa de vinho vagabundo nas escadas da Catedral. Não é a esse tipo de gente que o jornalista e agitador cultural paranaense Andye Iore pode ser associado. Assim como as lendas supracitadas, ele é do rock, mas também é gente que faz.

Depois de juntar moedas durante dois anos, período no qual o projeto do documentário ‘Porreta!!!’ foi maturado, Andye largou o emprego e quebrou o porquinho de porcelana para percorrer o nordeste registrando as bandas mais relevantes encontradas no caminho. Na cabeça, uma ideia fixa: O rock prescinde dos batuques frequentemente associados ao nosso quintal.

“A ideia do vídeo é mostrar bandas bacanas que não são tão conhecidas no Sul e Sudeste. O foco é rock´n´roll, sem essa bobagem de misturar rock com ritmos regionais. Quero mostrar que aqui há bandas tão bacanas quanto as do Sul e Sudeste, que as dificuldades são as mesmas, que há pessoas responsáveis por iniciativas que merecem ser levadas pra mais gente”.

O coroa sabe das coisas. De passagem por Aracaju, abrigado por Fabio “Snoozer” Oliveira, ele me explicou que seu envolvimento com o segmento é muito antigo, remonta aos anos 80, quando a cultura dos fanzines criou uma rede de informação que desafiava a miopia midiática. Desse período, restaram bandas e amigos que ele carrega até hoje, sem os quais o projeto dificilmente teria vingado.

Olhar estrangeiro – Aqui, Andye encontrou um cenário inesperado. Segundo ele, o capital humano da cena sergipana não fica devendo nada ao de nenhuma região do Brasil. Muito ao contrário. Como o material recolhido deixa claro (o documentarista conversou com The Baggios, Snooze, Renegades of Punk, Karne Krua e Tody’s Trouble Band), músico talentoso, a gente tem de sobra. Falta o pulo do gato. Fazer a coisa acontecer.

“A Karne Krua é uma verdadeira lenda do cenário independente brasileiro. Antes mesmo de vir a Aracaju, participei do Programa de Rock. A cena tem tudo o que precisa para crescer em Aracaju, basta que os músicos daqui se ajudem e aprendam a caminhar com as próprias pernas”.

Tá dado o recado.



 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Drakula em Paulo Afonso

“Drakula”, excelente banda de garage rock/surf music de Campinas, São Paulo, ia tocar em Paulo Afonso, Bahia. Andye Iore, agitador cultural de Maringá, Paraná, está aqui, em Aracaju, e sugere que demos um pulinho lá. Ok, boa desculpa para rever a cidade que ilumina o nordeste ...

(Mais de 90% da geração de energia do Nordeste provêm de usinas hidrelétricas que estão concentradas no rio São Francisco. Com capacidade de geração de 10.705 megawatts, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) é responsável pela produção, transporte e comercialização de energia elétrica para os Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A produção média anual do sistema Chesf é de 40 milhões de MW e o consumo médio anual na região é de 33,5 milhões de MW. Xingó, Paulo Afonso, Sobradinho, Apolônio Sales, Luiz Gonzaga e Boa Esperança são as principais hidrelétricas do sistema Chesf. A capacidade de geração do rio São Francisco, no entanto, está esgotada e, por isso, tem-se pesquisado alternativas de geração de energia através de fontes solar, eólica (vento) e gás natural. Os Estados da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará se preparam para instalar usinas termelétricas).

Pegamos a estrada à 1 da tarde – com o sol pelando, evidentemente. Em Itabaiana, a primeira parada, para almoçar e fazer uma visita à única loja especializada em rock do interior do estado, a TNT Rock. Rendeu, para mim, um DVD do Heaven and Hell, uma edição em Cd importado com vários bônus de “kaleidoscope”, do Siouxsie and The Banshees, uma edição nacional de “The Eternal”, último disco do Sonic Youth, e um Cd split com as bandas DFC e Merda cuja primeira “música” tem o singelo título “o crack é muito gostoso”. Tudo por um precinho camarada! A TNT fica na Rua Prof. Hilário de Melo Rezende, 554 – no fundo do Colégio Murilo Braga. Os telefones são (79)3431-5565/9969-4618/9953-0113.

Pé na estrada de novo, que tem muito chão pela frente. Chão seco, sol a pino, calor do estopou balaio do cânço mariano da peste. Ribeirópolis, Aparecida, Glória, Monte Alegre, Poço Redondo. Belo por do sol no sertão, devidamente registrado pelas lentes do celular de Andye Iore e postado no facebook via instagram – sim, somos modernos! Entrada de Canindé, curva à esquerda, Paulo Afonso.

Paulo Afonso é uma cidade “sui generis”: está ilhada artificialmente pelo rio São Francisco, devido às diversas barragens construídas pela CHESF para alimentar as usinas. Tem cerca de 110.000 habitantes, mas parece maior do que realmente é, pois sua população se espalha de forma um tanto quanto irregular pelo território, que tem diversos “vazios demográficos” em seu interior. Ficamos mais pedidos que cego em tiroteio, mas perguntando aqui e ali, conseguimos finalmente chegar ao tal SPOM, o clube onde aconteceria o evento, que, segundo meu amigo Chacal, que nos acompanhou, era famosíssimo, uma espécie de Boate do Augustu´s local. Só que ninguém sabia onde era! Só chegamos porque tínhamos outras referencias, e lá entendemos por que tanto desconhecimento: trata-se na verdade de uma construção simples num terreno murado localizado num local cabulosíssimo, um beco deserto e sem pavimentação! Chegamos quase na hora marcada e não tinha ninguém, a não ser o porteiro, no local. Perguntamos se era ali que iria rolar um rock e, diante da confirmação positiva, partimos para a operação hospedagem – muito bem sucedida, num Hotel pra lá de decente, a um preço relativamente justo.

Quando voltamos, tivemos uma grata surpresa: na verdade o local não era aquele em que estivemos antes, era outro, amplo, aconchegante e com um delicioso ar condicionado geladinho, numa rua bem iluminada e cheia de gente bonita e “descolada” ...

Só que não! O pico era o mesmo, escuro e desprovido de qualquer vestígio de glamour, povoado por cerca de 100 (o Andye calculou 40 a 50) gatos pingados já bêbados e vestidos de preto. Que se foda, quem tá no rock é pra se foder! Ou não – contrariando todas as expectativas, foi uma noite bastante divertida, no final das contas. Apesar de ter seguido começando mal, com uma banda local muito fraquinha chamada Dona Benta HxCx ...

Foi bom, dentre outras coisas, porque a segunda banda, a “Comendo Lixo”, de Delmiro Gouveia, Alagoas, era boa. HC tosquinho, também, mas feito com mais propriedade, intensidade e verdade. Tocaram um cover de “subversores da ordem”, da karne Krua.

Também porque o Ete, do Muzzarelas, que também toca no Drakula (ou seria o contrário?) montou uma banquinha bem bacana onde eu morri em mais algumas dezenas (mais de uma centena) de reais ao não resistir e adquirir, em glorioso vinil, algumas cópias de “smell of femmale”, do Cramps, “Aqua Mad Max”, do Leptospirose, e um compacto do Drakula, “vilipêndio de cadáver”, que brilha no escuro. Pago no cartão de crédio, em 3 vezes sem juros. Eu adoro a modernidade ...

Drakula no palco. Riffs matadores, som dançante, máscaras de luta livre mexicana, coreografias ensaiadas. Show curto e intenso, na medida certa. Publico pequeno porém participativo – pelo menos a parte que foi ver o show, já que muito mais da metade estava ali apenas pra se chapar pelos cantos ou penetrar promiscuamente no banheiro feminino. Normal. Saudável. Rock! “Faz o que tu queres, é tudo da lei”.

Mais bate-papo informal com o Ete, que diz ter meu antigo zine, o Escarro Napalm, guardado até hoje em sua coleção. Dali eles iriam, de carro, direto para João Pessoa, Paraíba, onde tocariam na noite seguinte! Eu, depois de “olhar com os olhos e lamber com a testa” alguns outros discos que não levaria pra casa, como o primeiro do Suicidal e o “I against I” do Bad Brains, em vinil, reuni meus comparsas para que voltassemos ao Hotel e déssemos a noite por encerrada. Waleska Popozuda, a funkeira mais escrota do Brasil, iria se apresentar por lá naquele final de semana, mas o show seria apenas na noite seguinte. Uma pena, pois teríamos que ter mais gastos com hospedagem. Seria um bom encerramento para uma viagem inusitada ...

... que terminou bem, em todo caso, com uma peixada acompanhada de um delicioso pirão na orla de Piranhas, Alagoas, às margens do rio São Francisco ...

por Adelvan







# 257 - 05/01/2013

A formação mais clássica da Dorsal se reúne depois de 22 anos para gravar, graças ao apoio dos fãs - um sistema de financiamento coletivo conseguiu bancar o disco. Isso por si só já é motivo de comemoração, porém o melhor é que o novo trabalho é ótimo. Uma produção de altíssimo nível, desde o projeto gráfico até a gravação. Um instrumental poderoso e muito pesado. E embora não tocasse guitarra há dois anos, Carlos mostra que quem foi rei não perde a majestade. Norteiam o disco Riffs pesadíssimos, que remetem tanto ao thrash oitentista quanto ao heavy metal mais clássico. O instrumental é um dos destaques. Hardcore mostra que é um excelente baterista e que não fica a dever a nenhum baterista do gênero.

O disco abre com "Meu Filho me Vingará", uma paulada de tirar o fôlego com uma letra que cita Canudos, Euclides da Cunha e "Os Sertões" - a melhor faixa. Em seguida, outra que se destaca é "Stalingrado", com uma pegada punk, riffs que lembram sirenes e uma letra que fala sobre a batalha entre a USRR e a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Lopes continua sendo um ótimo letrista e especificamente nessas duas faixas as letras são enormes, com verdadeiras histórias. "Gol feito com a mão, gritam:  é Campeão! O motorista ciente estaciona/ Na vaga pra deficiente". "Corrupto Corruptor" é outra boa faixa. Encerrando, "Imortais",  homenageando os fãs, fundamentais para o retorno da banda, que esperamos não seja somente para esse disco.

"2012" marca a volta de uma das formações mais clássicas do Heavy Metal nacional em um dos melhores discos do ano.

Compre aqui: carloslopes68@gmail.com

por Gustavo Carneiro

r´n´roll Hell

Meu Filho Me Vingará

[Carlos Lopes]

Desconfiado sob um céu nublado, o coração pesado nervoso
15 de agosto, o vingador pediu um revólver para matar
Entrou na casa do amante, “o cão raivoso”
Arrombou a porta com o pé. “Onde está minha mulher?”
O campeão de tiro, o jovem rival
Cometeu o crime de matar um Deus sem igual
"Odeio-te, mas te perdôo." Meu filho me vingará!
O assassino absolvido em legítima defesa
O filho do morto foi se vingar, Assim não pode ficar sete anos depois,
O amante mais uma vez arrasou os Sertões
Absolvido o maldito “O Paraíso Perdido”
O campeão de tiro, o jovem rival
Cometeu o crime de matar um Deus sem igual
"Odeio-te, mas te perdôo." Meu filho me vingará!
Um tiro no braço, que quebrou
Outro tiro no pulso direito o desarmou
Por fim alvejado nas costas
Finalizado na porta da casa
“Ao invés de mandar o fuzil para Canudos matar, deveriam mandar a escola”
“O Brasil se separa por 300 anos na história”
Canudos matou a República
A República decidiu matar o escritor
Foi armada a cilada
O sangue do Conselheiro contaminou
A alma do escritor

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Ação Direta - Zeitgeist
Karne Krua - Justiça (sessão pdrock)
Banda Lúgubre - Canto triste
Necronomicon - The Black Priests of Chaos

Lolita Storm - I luv Daddy
Jucifer - Luchamos
Mastodon - Battle at sea
Judas Priest - Prisioner of your eyes

Dorsal Atlântica - Meu filho me vingará
Carpete red - Descontrução
Statik Majik - Shadows of hope
Darge - Meu desespero
Repudio - Imundo genital
Incendiall - Carne e osso
- por Michael Meneses

Módulo 1000 - Não fale com paredes
Casa das Máquinas - Mania de ser
A Barca do sol - Os pilares da cultura
Pão com Manteiga - Micróbio do universo
- por Lucas Fellipe

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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

garganta seca, inanição

               Eu confesso: tenho dificuldade para parar e colocar para ouvir, com a devida atenção, discos de bandas sergipanas de cuja quantidade de shows a que fui eu já perdi a conta. É o caso da Karne Krua, que eu conheço desde o II Festcore de Aracaju, minha primeira experiência como publico de um festival de rock underground, há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante. De lá pra cá, acompanhei todas as fases da banda – que nunca parou! Já enjoei, desenjoei, virei fã, desgostei e voltei a gostar. Sou um entusiasta da atual formação, que considero a melhor desde a clássica, com Almada, Marlio e Marcelo – na verdade desconfio que esta já seja A melhor, superando todas as outras, mas isto é assunto para outro texto – ou não.

               Eu sabia que “Inanição” é primoroso, certamente o melhor disco da banda e um dos melhores do estilo lançado no Brasil nos últimos - e raquíticos - tempos. Mas nunca tinha parado para ouvir como se deve: em CD, num aparelho de som decente, com o encarte nas mãos e acompanhando as letras. Fiz isto hoje, e fiquei “de cara”. Que puta disco do caralho !!!! Puta que o pariu, porra, caralho, é bom pra cacete !!!!

               Já começa impressionando com a excelente letra de “Dois Cumes”, de autoria do conterrâneo Ricardo “guerrilheiro”. Dizer que somente a letra é boa seria injustiça: a música, de Silvio Campos, é igualmente matadora! O cara tem que ter muito talento pra musicar um texto de forma tão primorosa! Destaque para o final, que faz referência ao clássico do cinema politizado nacional “Cabra marcado pra morrer”. Na sequencia, duas regravações de petardos hardcore de duas fases distintas: “lixeiras da cidade”, que nos remete aos primórdios do punk rock em Aracaju, e “cobaias”, uma das muitas que vi a banda lapidar e polir nos anos 90. Esta última é inteligentemente linkada com outra mais recente que trata do mesmo tema, “Animais indefesos”, que tem excelente letra de Silvio e musica em parceria com Alexandre Gandhi. O refrão trás uma imagem  poderosíssima: “são as cobaias trancadas em jaulas torturadas queimadas e envenenadas”. Morrissey assinaria embaixo.

               A quinta faixa, “infinitivos”, também tem letra de Ricardo “Guerrilheiro” e musica de Silvio – só que, desta vez, com um resultado bem inferior à primeira. É, provavelmente, a mais fraca de todo o álbum. Mas a peteca não cai, pois em seguida entramos numa espécie de sequencia conceitual dentro do disco, com várias canções dedicadas a um tema caro a Silvio, o sofrimento do homem do campo nordestino. Por muito tempo reclamei com ele deste direcionamento que ele às vezes tomava. Via a Karne Krua como uma banda eminentemente urbana e, por isto, achava meio forçada essa faceta, digamos, “regionalista”. Com “inanição”, mudei de idéia. Aqui eles encontraram o equilíbrio perfeito entre a influencia da musica folclórica do nordeste, notadamente os “aboios” entoados pelos vaqueiros durante a condução do gado, e a agressividade do punk rock. E percebi, de uma vez por todas, que a Karne Krua canta o canto dos esquecidos, sejam eles os párias sociais que gravitam na periferia das grandes cidades, os sertanejos eternamente castigados pela “política da seca” ou mesmo os animais ditos “irracionais”, vítimas inocentes da “racionalidade” humana.

               A primeira faixa da sequencia “sertaneja” é uma junção de duas músicas, “Terra Morta” e “o vaqueiro e a boiada”. Perfeita. Silvio parece ter sido vaqueiro nalguma vida passada, pois encarna muito bem o personagem sofrido do interior. É seguida por um dos grandes clássicos de uma das formações anteriores, “o guerreiro”, assinada por Wendell, Mazinho, Silvio e Thiago, com seu refrão solene que reverencia aquele que é, segundo a definição de Euclides da Cunha, “antes de tudo, um forte”. E então temos “Lamento dos esquecidos”, uma faixa com um andamento mais lento, quase uma “balada”, que destoa de praticamente todo o repertorio da banda. Evidencia uma das muitas caracteristicas positivas da Karne: sua coragem para ousar sempre, indo além dos cânones estabelecidos pelo estilo na qual foram forjados. E segue ousando com uma espécie de rap/repente de letra quilométrica, “Do sol latente ao cinza das ruas” – letra de Max Alberto. É emendada, encerrando a sequencia semiconceitual, com a excelente “No cinza da cidade eu morrerei” – letra e musica de Alexandre Gandhi.

               Somos brindados então com a regravação de mais dois clássicos de tempos remotos, “Hienas na Carcaça” e “Perdidos”, ambas de autoria de Marcelo Gaspar. É uma pena que a letra da primeira não tenha sido reproduzida no encarte, pois é primorosa – fala dos “homens que constroem catedrais”. Tão boa quanto a de “Mensões do futuro”, de Valdeleno, ex-baterista. A esta altura já fica evidente outra característica positiva: a Karne Krua é e sempre foi uma banda, não um projeto personalista centralizado na figura de Silvio, como alguns erroneamente já interpretaram. Todos os que passam por suas fileiras têm amplo espaço para desenvolver suas habilidades tanto como músicos quanto como compositores, o que fica evidente nos créditos reproduzidos no encarte. Eu, por exemplo, não sabia que Valdeleno compunha, e bem! Foi uma agradável surpresa. Há espaço, inclusive, para a colaboração de pessoas de fora da banda, como o poeta Nagir Macaô, o já mencionado Ricardo e Marcos Aurélio, autor da letra de “Navalha no pescoço”. O que já não é surpresa é o talento de Alexandre Gandhi, que além dos riffs matadores de guitarra compôs algumas das melhores canções da fase recente da banda, a exemplo de “Inanição”, a música. Uma obra-prima. A Master piece – para que fique claro, inclusive para os gringos que por um acaso passarem os olhos por aqui ...

               Fechando o disco com mais um toque conceitual, “O vaqueiro e a boiada”, de volta. “Inanição” é um registro de uma fase de transição da Karne Krua. Foi gravado com Alexandre Gandhi assumindo o baixo e Thiago “Babalu” ainda na bateria. Posteriormente a banda encontraria aquela que parece ser sua formação definitiva, com Ivo Delmondes nas quatro cordas e Adriano empunhando as baquetas. Seguem tocando e compondo e, a julgar pelo que vi e ouvi durante a já célebre sessão de lançamento do disco no programa de rock, vem coisa muito boa ainda aí pela frente.

               Acima de tudo, “Inanição” é a comprovação de algo que eu já sabia: Sergipe tem uma banda clássica de punk rock/hardcore. Uma banda que, caso tivesse nascido e atuado em São Paulo ou algum outro centro urbano com maior visibilidade midiática, seria colocada no mesmo panteão de nomes como Cólera, Olho Seco e Ratos de Porão. Acho isto desde que os vi em ação pela primeira vez. Digo isto o tempo todo, pra quem quiser ouvir. Não sou bairrista - até prefiro Recife a Aracaju e Aracaju à minha cidade natal, Itabaiana. Digo isto porque acho mesmo. De verdade.

               Viva a Karne Krua!

por Adelvan

Fotos acima por Reinaldo & Walber. A foto ao lado é da Snapic, trabalhada por Thiago "Cachorrão"


              

Eu (ou)vi o futuro, ele é o passado.

               Necronomicon é uma banda de Alagoas que causou furor entre os “rockers” sergipanos quando tocou aqui pela primeira vez, no Grito Rock Aracaju 2012, em pleno carnaval. Repetiram a dose no segundo semestre do mesmo ano com um show devastador fechando a noite em que a Renegades of punk lançou “Coração metrônomo” no Capitão Cook. Virei fã, por isso não hesitei em encomendar minha cópia de “The Queen of Death”, o primeiro disco “oficial” deles – segundo, se considerarmos o primeiro Cd demo.

               A bolacha colorida de vinil foi lançada por um selo gringo especializado em “progressivices” e “space rock”, o Hydro Phonic records, e tem 6 faixas, 3 de cada lado. Trata-se de um álbum conceitual baseado num conto de fantasia e ficção científica à la H. P. Lovecraft escrito pelo baixista/vocalista Pedro Ivo que, se "quadrinizado", poderia ser publicado na revista “Heavy Metal”. Narra as desventuras de um assassino contratado para matar a tal Rainha da Morte, líder de um culto poderosíssimo baseado em Yamoth, o planeta sagrado. É para lá que somos lançados já na primeira faixa, “Holy Planet Yamoth”, que nos apresenta de cara do que se trata o petardo: um som “retrô” totalmente inspirado pelo Hard rock progressivo e psicodélico dos anos 60 e 70 do século passado. Riffs de guitarra precisos, levadas de bateria perfeitas, linhas de baixo matadoras e um vocal que ora remete ao de Jack Bruce, do Cream, nos momentos mais melódicos, ora aos de Ozzy Osbourne, nas partes mais “gritadas” ou, paradoxalmente, sussurradas, nos conduzem por uma história sombria muito bem contada (em inglês) e embalada por belas melodias distribuídas em musicas longas com vários andamentos e refrões poderosos.

               A “trip to the Holy planet” prossegue com “The Assassin´s song”, que começa conduzida pelas baquetas de Thiago Alef e tem, basicamente, o mesmo ritmo – e qualidade! – da primeira, culminando em “The Black Priests of Chaos”, já mais lenta, onde somos apresentados aos sacerdotes negros contratantes do que parece ser o personagem principal da história, o tal assassino. Perfeito! Fim do lado A.

               O lado B começa com uma musica instrumental que coloca em evidencia outro ponto forte do disco, as várias camadas e texturas de teclados, pianos, órgãos e sintetizadores executadas por Pedro Ivo. O efeito é viajante, chapante, matador! E então voltamos à estrutura mais convencional do rock and roll com “Hypnotic Overdrive machine”, totalmente “sabbathica”, assim como o é a faixa título, que encerra o disco. Nelas sentimos um pouco mais algo que pode ser encarado como uma deficiência na mixagem ou na própria captação de som, caso não tenha sido propositadamente planejado para que fosse assim e o disco soasse como se tivesse sido produzido em algum momento do início dos anos 1970: o som da guitarra. Poderia ser mais “encorpado”, “na cara”, ou pelo menos mixado no mesmo nível dos vocais. Do jeito que está, acaba por não valorizar o tanto quanto merece a sensacional perfomance de Lillian Lessa, uma dedicada discípula de Tony Iommi e sua Gibson SG batizada nos quintos dos infernos. Esta é, no entanto, a opinião de um confesso admirador obcecado pelas seis cordas – eu quase sempre acho que as guitarras deveriam estar no talo. Todo o resto, no entanto, está perfeito, e como mencionei lá atrás, a mixagem acaba por dar ao disco uma sonoridade “datada”, o que parece ser, no final das contas, o objetivo de todo o projeto.

               Vale destacar que os componentes da Necronomicon são jovens. Muito jovens! Nunca perguntei, mas aparentam estar na faixa dos vinte e poucos anos – senão menos – o que dá à coisa toda um sabor ainda mais inusitado. E nos faz acreditar que ainda dá pra acreditar no futuro deste tal de roque enroll em Terras Brasilis, para além do lixo que nos é vomitado pelo “mainstrean”. Tenho até pena de quem tem como única referencia o que passa na programação abjeta da MTV, VH1, Multishow e demais canais abertos ou pagos que supostamente deveriam cobrir o universo da música  como um todo, mas acabam prestando, em nome do comercialismo mais barato, um verdadeiro desserviço à cultura musical da juventude brasileira. Venham para o “undeground”, bastardos filhos da puta! É aqui que as coisas REALMENTE acontecem!

               Como bem dizia Agapito no já célebre vídeo da 120 Diasde Sodoma, BANDA DO CARALHO! BANDA DO CARALHO!

               “The Queen of Death” foi produzido por Necronomicon e gravado no Pedrada Estúdios entre julho e setembro de 2011. Ouça aqui. Para adquiri-lo, você pode entrar em contato diretamente com a banda clicando aqui

Todas as letras e musicas são de Pedro Ivo Araujo – um verdadeiro “garoto prodígio”

O Design e a arte da capa, sensacionais, são de Cristiano Soares.

Alagoas é a terra do Mopho, que também é sensacional.

Eu sou Adelvan e sou sergipano.

O rock me emociona.

Fim.