segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma viagem a Yamoth, o planeta sagrado da rainha da morte ...

Minha amiga Catarina Cristo uma vez falou uma coisa que não me saiu mais da mente: “o rock me emociona”. A mim também. O rock e, também, o talento, essa coisa misteriosa que parece aflorar do nada em pessoas aparentemente abençoadas pelos deuses desde o berço.  Thomas Edison dizia que talento é 1% inspiração e 99% transpiração. Entendo o que ele quis dizer: que por trás de uma obra bem executada há sempre muito trabalho acumulado. Mas que há quem parece ter nascido para ser Mozart e quem vai morrer sendo Salieri, isto há! Como explicar Jimi Hendrix, por exemplo? Apenas como fruto de treinamento exaustivo? Acho que não. Imagino quanto gente já praticou o dobro que ele e não chegou a uma fração de sua genialidade ...

Sábado passado eu tive mais uma demonstração de talento explícito, em estado bruto. Foi no bom (mais ou menos, né) e velho Capitão Cook, encerrando a noite de lançamento do disco “Coração Metrônomo”, da Renegades of punk. Para o azar dos incautos que foram embora mais cedo, três guris (não sei qual a média de idade deles, mas não parece passar dos vinte e poucos anos, senão menos) sacaram de seus instrumentos na, esta sim, boa e velha formação básica do rock, um Power trio, e foi como se os espíritos de Jack Bruce, baixista e vocalista do Cream, Tony Iommy e Bill Ward, respectivamente guitarrista e baterista do Black Sabbath, baixassem misteriosamente à nossa frente ...

Pedro Ivo, Thiago Alef e Lillian Lessa formam a Necronomicon, banda alagoana de rock pesado com forte influência dos sons emitidos nos anos 60 e 70 pelos nomes supra-citados, além de generosas pitadas de rock progressivo e, nas letras, do que foi escrito pelo mestre do horror H. P. Lovecraft. São, acima de tudo, muito talentosos, mas tem mais: são “do rock”, como fica evidente na entrega com que executaram suas longas composições nos cerca de 60 minutos de apresentação madrugada adentro - com direito, inclusive, a um espetacular solo de bateria e a uma divertida intervenção de um figura magrinho e perfomático que, pelo que entendi, é o “manager” deles. No “recheio”, um excelente “set” composto apenas de músicas próprias, a maioria de seu segundo disco, “The Queen of Death”, a ser lançado em breve em glorioso vinil.

A perfomance do trio foi tão perfeita que fica até difícil destacar algo. Pedro, que além de cantar e tocar baixo é uma espécie de líder informal do grupo, é acompanhado por Thiago, igualmente brilhante na tarefa de espancar sem dó nem piedade as peles da bateria, e por uma garotinha aparentemente tímida e introspectiva que se comunica basicamente através de riffs poderosos e soturnos. O nome dela é Lillian, mas resolvi rebatizá-la como Antonia – Antonia Iommy. Sensacional! Se já chegaram a este nível em inicio de carreira, é de se imaginar o que pode vir por aí, caso persistam e não se deixem abater pelo estruturalmente raquítico e desestimulante cenário independente brasileiro. Em todo o caso, posso afirmar sem medo que Alagoas já tem mais um nome com potencial para ser registrado na história das grandes bandas do rock nacional, ao lado do Mopho ...

Foi foda! Quem perdeu esta segunda oportunidade de vê-los (já haviam se apresentando por aqui no inicio do ano durante o carnaval, no festival Grito rock) tem a obrigação, a partir do momento em que lê estas mal traçadas linhas, de se arrepender amargamente. Corra atrás e ouça, mas saiba que ao vivo é ainda melhor - mesmo sem a presença dos teclados, que criam belissimos climas nas gravações de estúdio.

Antes, tivemos os anfitriões da Renegades executando seu punk rock nervoso e energético sob o brilho de luzinhas de pisca-piscas natalinos usados para decorar a bateria e os pedestais dos microfones – grande sacada. Simples, bonito e eficiente. Como a banda em si, aliás. Também difícil destacar algo, mas eu chamaria a atenção para a versão de “o inimigo”, das Marcenárias, e para a tiara de oncinha e a glamourosa guitarra azul brilhante de Daniela, que a toca com uma energia e desenvoltura desconcertantes. Excelente!

Abrindo a noite, Alunte. Banda nova, primeira apresentação. Precisam amadurecer, claro, e isto só acontecerá com mais experiência de palco, mas mandaram bem, com um som potente que remete ao grunge dos anos 90, tanto na forma quanto na execução, desencanada e desleixada. Rock, enfim.

Fim.

A.

4 comentários:

  1. Curti a noite e a sua visão da noite - como sempre!

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  2. Rapaz, bem que eu passei a noite de sábado com a sensação de que estava perdendo algo... Estou devida e amargamente arrependido.

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  3. Tava lembrando dessa história hj, Adelvan. Ouvindo uma música que tinha me feito chorar em um show, pensei nas TROZENTAS vezes em que chorei em shows de rock e lembrei disso. Emociona mesmo :~

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