segunda-feira, 28 de novembro de 2011

# 207 - 26/11/2011

Caminhando em montanhas lunares, testemunhando a morte de uma estrela, ouvindo a nota SI(B) 32 oitavas abaixo em um buraco negro. Feche os olhos e se deixe guiar por luzes multicoloridas que vão aliviar todo o tormento das mentiras ditas dia após dia, sem parar.
Os tempos são nefastos, mas permita que um raio de luar invada sua retina. Imite as formigas (um grão após o outro), aprenda a beijar com o “beija-flor”, se organize como as abelhas, tenha o cuidado de uma “mãe coruja”, tenha a nobreza de um “lírio dos campos”.
Cenários surrealistas assaltam uma realidade suja, disforme, avarenta, fútil e insana, transformando-a em alento, esperança, calmaria, um sonho bom sem fim. Os dias são mais azuis e as noites mais brandas. As mais belas flores irão beijar seus pés.
Usar a imaginação, a pura imaginação é a saída. Você vai conhecer mundos novos, novas cores, novos sons, novas palavras, novos rituais, um novo firmamento, um novo lar, um novo alimento. Feche os olhos! Deus está dançando.
Dedique uma canção de 1 minuto para você, sinta arrepios nos braços quando uma lágrima despencar na sua face. Não é tristeza, é alívio.
Só poucos conseguem sair do “Círculo”: os loucos, os poetas e os puros de coração. Não precisa ser louco (é para poucos), poetas? Nem todos nascem. Seja um puro de coração. Como? Tenha uma atitude natural. Sinta o vento, toque o azul, flutue, sinta o gosto de sal, o “sal da terra”.
O mundo girando e você sonhando. Um perfume de fragância nunca sentido vai invadir o teu quarto. Uma milha, 100 km c/ um sapato e o olho brilha. Um rio perene, um mendigo solene trás boas novas. Coisas belas vistas da janela em um dia de primavera (linda fera).
O dirigível avisa: - Deus está dançando! É o início da festa, é o mais longo dia. Um dia perfeito para dançar, para sonhar, para ficar livre. A festa começou! É eterna. Além disto não há nada melhor. CINEMERNE.
P.H.
(Email: vitelloni@bol.com.br)


# # #

Kraftwerk:

# Schaunfensterpuppen (edit)
# Das Modell
# Die Robotter (Single version)
# Europa Endlos (edit)

Deep Purple - Hey Joe (BBC Top Gear Session)

The Cigarettes - Love Concept Alpha
The Cigarettes - The Bore
((( Drop Loaded )))

Garrafa Vazia (Rio Claro,sp) - Cirrose
ABiosi (Ribeirão Preto,sp) - Ódio e indignação
Fatal Blow (Balneário Camboriú,sc) - So much for nothing
Artany (Cubatão,sp) - Rápido demais
- por Luiz Umberto

Tchandala - Mirror of Decay

Hellbenders - Hurricane
MQN - Speed Bullet
Mechanics - War

Arthur Faria e seu conjunto - Amigo punk
Pupilas Dilatadas - Era Moderna
Cascavelettes - Ugagogobabago
Volantes - Maçã

The Misfits - Devil´s rain

Casca Grossa - Exploração
SenandiomA - The perfect plan
Cinemerne - Chovendo querosene
Plastico Lunar - Moderna acustica
Road to joy - Summer sonnet

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

New Order, o retorno


Dez anos após deixar de excursionar com o New Order para cuidar da filha, Grace, que desenvolveu uma doença complicada, a tecladista Gillian Gilbert volta à banda que integrou a partir de 1980. No começo, o retorno foi anunciado apenas como uma forma de a banda levantar dinheiro para ajudar um amigo doente, Michael Shamberg. Mas Gillian disse ao Estado que é mais que isso, devem seguir adiante por algum tempo. Tocam no dia 3, no Ultra Music Festival, no Anhembi, em São Paulo.

Gillian volta, e Peter Hook (a quem se credita grande parte do som distinto da banda, e está excursionando com seu projeto solo The Light) sai fora. O baixista não gostou da história. “Todo mundo sabe que New Order sem Peter Hook é como o Queen sem Freddie Mercury, o U2 sem The Edge, Sooty sem Sweep”, afirmou. Bernard Sumner, o vocalista e chefe da trupe, não se abalou. Com essa formação, e já fizeram alguns shows e a formação tem Sumner, Stephen Morris, Phil Cunningham e Tom Chapman no baixo. Eles tocaram recentemente no Ancienne Belgique, em Bruxelas, na Bélgica, e incluíram canções como Ceremony, Elegia, Crystal, Regret, Love Vigilantes e o clássico do Joy Division Love Will Tear Us Apart.

Esse é um retorno definitivo, ou só uma turnê?

É um retorno. Obviamente, eu não sei no que dará, por que eu não tocava havia uma década. Mas tem sido especial voltar a fazer parte de uma banda.

Mas o que será o futuro para o New Order? Vocês vão gravar um disco?

Não sabemos realmente o que será do futuro. O bom de ter voltado é que não há um comprometimento demasiado. Por outro lado, a gente sabe que as pessoas só querem ouvir as velhas músicas, que não esperam mais que isso. E nós queremos olhar para o futuro. Não acho que haja espaço hoje para um disco de carreira como antigamente, com 12 faixas, aquela coisa. Ninguém mais ouve música desse jeito. Acho que poderá acontecer de lançarmos um single, ou duas faixas na internet, e começarmos a compor nesse ritmo. O futuro é um livro aberto para a gente.

Desde que você se afastou do meio musical, muita coisa mudou. Hoje em dia, por exemplo, pouca gente faz álbuns, como você falou. O que pensa desse novo mundo?

Acho que ainda é um mundo excitante. Há muitas bandas novas surgindo todo dia, bandas que acharam seu caminho mesmo sem ter uma gravadora ou um esquema mais profissional de distribuição do seu trabalho. Claro que há contradições. É um mundo muito fechado, com as pessoas ouvindo música em seus headphones, distanciadas umas das outras. Ouvem e fazem música no quarto, e se envolvem pouco com as plateias. E há ainda os fenômenos massivos, como Lady Gaga, que monopolizam as atenções.

Gillian, o New Order surgiu como se fosse um antídoto àquela música que predominava na época, o punk. Foi até rotulado como pós-punk. Você concorda com o rótulo?

Acho que sim, a atitude foi pós-punk. Éramos um pouco mais profissionais, e mais envolvidos com eletrônica, enquanto o punk era básico. Acho que, desde o Joy Division, a banda sempre esteve mais interessada em arte, em explorar diferentes direções usando as máquinas, os teclados, os sintetizadores. Até para a plateia era algo diferente, suscitava uma reação diferente.

Peter Hook diz que esse New Order que vai excursionar é “uma vergonha” e que não aprovou a turnê.

Eu não estava envolvida com o New Order quando eles brigaram, e não sei como se deu o rompimento. Obviamente, não estou muito feliz com esse clima, preferia que ele estivesse conosco. Mas ele não quer. Acho que ele também está se divertindo fazendo o trabalho dele com a outra banda, e toca as canções do New Order. Deve estar ocupado com seus novos projetos.

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por Jotabê Medeiro

Combate rock

Gangrena Gasosa wants you ...

Somos a Gangrena Gasosa, primeira e única banda de Saravá Metal do Brasil. Nascemos no Rio de Janeiro no início da década de 90, incorporando uma bizarra experiência audiovisual de Metal/Hardcore regada a pontos de Macumba.

Nosso primeiro vinil foi lançado pela Rock It!, intitulado "Welcome to Terreiro". Com esta gravação fizemos shows no lendário Garage da Rua Ceará, no Canecão, no Aeroanta em São Paulo, em Florianópolis, entre outros pelo Brasil.Seis anos depois gravamos nosso segundo trabalho, o CD "Smells Like a Tenda Spírita", lançado pela Tamborete Records. Este foi o CD apresentado em maio de 2001 na tour de 28 shows que fizemos na Alemanha e na Áustria.

Agora acabamos de lançar nosso 3º CD oficial, "Se Deus é 10 SATANÁS é 666", esse álbum traz o Saravá Metal fervilhante das entranhas de nossa terra. E as urucubacas, mandingas e zicas vêm diretamente das entidades do além-túmulo. Uma sessão de culto ao esporro!

Sobre o show - No mês de dezembro iremos desembarcar em São Paulo para uma apresentação única no clube paulistano Inferno Club. O show será captado com câmeras HD e iluminação profissional que, unida à cenografia do palco, trará imagens macabras e englobará todo o universo sombrio da Macumba, criando um ambiente perfeito para a gravação de uma performance única onde as entidades da Gangrena interagirão com efeitos especiais do mestre André Kapel Furman, planejados para serem executados ao vivo em frente à platéia!

Sobre o DVD - Depois de realizar o polêmico e badalado documentário GUIDABLE - A Verdadeira História do Ratos de Porão, sobre os quase 30 anos da maior banda Punk do Brasil, a Black Vomit Filmes está prestes a realizar seu mais novo e infame documentário musical.

O formato do DVD será de show e documentário, "incorporando" a esta bizarra experiência audiovisual de metal e hardcore com pontos de macumba um registro fiel em humor e estética, trazendo o Saravá Metal que vem das entranhas da nossa terra juntamente com as urucubacas, mandingas e zicas das entidades do além-túmulo.

Só conseguiremos realizar esse projeto se o valor total de R$ 5.000 for alcançado. Vale lembrar que todo valor arrecadado será usado exclusivamente para atender os custos operacionais de locação de equipamento, iluminação, equipe técnica, transporte, cenário, divulgação, fotografia e etc.

Convidem os amigos para participar dessa sessão de culto ao esporro!
Contamos com sua ajuda também na divulgação do projeto!

PARTICIPE!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Marielle e a Escola de Escândalo

Soube por acaso, navegando na net, que Marielle Loyolla, ex-vocalista da Volkana e da Arte no Escuro, voltou ano passado para Brasilia e gravou 10 musicas com uma nova formação da Escola de Escândalo, legendária banda dos anos 80 que deixou apenas 2 musicas registradas na coletânea "Rumores". As notícias são do início de 2011 e não sei se algo já foi lançado, mas aproveito para dar uma geral na carreira desta importante figura do rock tupiniquim. Com vocês, Marielle Loyolla:

Arte No Escuro: O sucesso de Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial no cenário do rock brasileiro, em meados dos anos 80, levou o rock candango a exportar bandas de maneira rápida. Um dos grupos que se celebrizou nesse período foi o Arte no Escuro.

Herdeiro da tradição gótica de bandas inglesas como Bauhaus e The Cure, o grupo formado em abril de 1985 por Luiz Antônio Alves, o Lui (vocal), Pedro Hyena (baixo – ex-Sociais), Adriano Lívio (guitarra) e Paulo Coelho (bateria), agradava pelo sua estética e clima sombrio. Lui ficou mais famoso pela sua estampa na capa do segundo disco dos Paralamas do Sucesso: O Passo do Lui.

A estréia da banda em palcos brasilienses ocorreu em um cenário conhecido no circuito da Turma da Colina: Departamento de Arquitetura da UnB, cenário de festas e shows de várias bandas da cidade – Capital Inicial e Plebe Rude, inclusive. A apresentação ficou marcada por uma performance digna dos happenings de grupos ingleses: enquanto cantava Beije-me Cowboy, Lui joga sobre si um balde de tinta preta. Surpresa e frisson na platéia. No dia seguinte, os comentários nas rodinhas da capital era da estréia de fogo da banda.

Infelizmente, logo depois desse show, Lui abandona a banda e deixa Brasília. Parte para o Rio, onde continuaria seu trabalho como artista plástico. Segundo Pedro, a banda engataria nessa segunda fase. O vocalista foi substituído por Marielle Loyola (vocais – ex-Escola de Escândalos e, depois, Volkana), em fevereiro de 1986. Em seguida, o grupo – que dividia uma sala de ensaios com o Finis Africae – grava sua primeira demo.

O som cheio de climas, vocais sussurrados, baixos melódicos e guitarras intimistas levou a banda rapidamente a despertar interesse das gravadoras, ávidas por encontrar novas “Legiões Urbanas”. As letras também carregavam em sutilezas, repleta de metáforas e fugindo do lugar-comum dos rocks de protesto. “Nada é verdade absoluta, cada pessoa entende uma coisa”, declarou Pedro Hyena, autor da maioria das letras.

Chegaram a ser rotulados de "dark", um neologismo bobo em voga nas grandes cidades, naquela época. “Isso é só modismo”, atacou Pedro. A fita demo, àquela altura, já tocava diariamente na programação da Rádio Fluminense, no Rio, responsável pelo boom de muitas das bandas de Brasília – dos Paralamas até a Escola de Escândalos. Na seqüência, em 1987, o Arte no Escuro grava um disco pela EMI, lançado no ano seguinte, cujos maiores sucessos foram Beije-me Cowboy e As Rosas. A produção ficou por conta de Gutje Woortmann, da Plebe Rude.

Segundo Pedro, foram vendidas pouco mais de 3,5 mil cópias. O LP hoje é tratado como raridade, sendo disputado em sebos de disco pelo país. A baixa vendagem e o clima de aperto geral na economia levam a EMI a descartar a banda em 1988. “Com o sucesso de vendas alcançado pelas bandas de Brasília nos anos 80, chegamos a receber ofertas para retornar ao estúdio e para apresentações, ofertas que recusamos com dignidade”, disse Pedro.

Dois anos depois, a banda se dissolveria, com Marielle integrando no início dos anos 90 a banda de trash metal Volkana, formada só por mulheres, ao lado de Mila (ex-Detrito Federal).

Volkana: (wikipedia) Banda formada em Brasília, em 1987, por Mila Menezes (baixo), Karla Carneiro (guitarra), Ana (bateria) e Eliane (vocal). Ana e Eliane logo saíram e foram substituídas por Mariele Loyola (vocal) e Débora (bateria), vindas das bandas Detrito Federal e Arte no Escuro. Com essa formação optaram por cantar em inglês, seguindo o exemplo da banda Sepultura. Mudaram-se para São Paulo no ano seguinte e lá gravaram uma demo com duas faixas chamada Thrash Flowers. Graças à essa demo, tornaram-se conhecidas e gravaram seu primeiro LP, First, em 1990. Durante esse período, Débora deixou a banda e foi substituída por Pat que, por sua vez, foi substituída por Sérgio Facci, que participou da gravação do LP. Marielle também deixou a banda e foi substituída por Cláudia França. Posteriormente, Selma Moreira juntou-se à banda como segunda guitarrista. O segundo álbum, Mindtrips, foi gravado em 1994 e, dois anos depois, a banda terminou. Em 2002, a demo é relançada junto com a demo de outra banda feminina, Flammea, em um único LP.

Em 2008, Volkana volta a se apresentar em várias cidades do Brasil com a seguinte formação: Mila Menezes, Marielle Loyola, Renata Lopes e Sergio Facci.

Em 2011, a Volkana contribui com uma canção para a trilha sonora do documentário Brasil Heavy Metal, sendo que Marielle ainda participou junto com outros artistas da gravação da música-tema do filme.

Escola de Escândalo: A banda Escola de Escândalo (nome retirado do clássico literário do autor irlandes Richard Brinsley Sheridan, The School for Scandal) formada em 1983 por Bernardo Mueller e Geraldo "Geruza" Ribeiro, que vinham da Banda XXX, foi uma das grandes promessas e referência de sucesso do rock brasileiro na década de 80. Foram chamados para a formação inicial da Escola o guitarrista Fejão, o baterista Alessandro "Itália" e alguns meses depois, chegava à banda Marielle Loyola como apoio vocal para Bernardo.

Muitos dizem que a banda sofreu uma daquelas distorções do destino, não lhe dando oportunidade para realizar o registro oficial das principais músicas, tornando a banda uma lenda no meio musical.

A Escola de Escândalo teve seu primeiro e único registro sonoro em vinil com distribuição nacional, na coletânea "RUMORES" (Sebbo do Disco/Bsb/84) deixando nele as canções Luzes e Complexos, que foram executadas com destaque nas maiores rádios rock do País da época, como a Rádio Fluminense/RJ e Estação Primeira/Ctba. Foi através da resposta dos ouvintes dessas rádios que a banda foi convidada para muitos shows em todo o país, tendo como destaque a apresentação no programa de Tv Mixto Quente da Rede Globo em 85.

O som da Escola de Escândalo tinha personalidade, e um dos pontos fortes, com certeza, eram as letras, criadas através da realidade juvenil por Bernardo Mueller. Das mágicas mãos do guitarrista Fejão (1965-1996), vinham riffs de heavy metal que se uniam às melodias pop dos vocais, que tinham como base as levadas punk rock do baixo de Geruza e da bateria de Alessandro.

Com a volta de Alessandro à Itália, Antonio "Totoni" Fragoso assume as baquetas da banda e participa da maioria das novas composição da banda. Também passaram pela banda os bateristas Rogério Ribeiro e Eduardo "Balé" Raggi. Em 87 Marielle sai da banda e vai integrar a banda Arte no Escuro e depois a Volkana, que encerra suas atividades na virada dos anos 90.

2010: A VOLTA DA ESCOLA DE ESCÂNDALO

Com a morte do guitarrista Fejão em 96, todas as possibilidades de uma volta da banda foram extintas, mas os ex-integrantes continuaram mantendo contato, principalmente Geraldo e Marielle, que em 2010, num ímpeto de simplesmente "tocar", resolvem realizar um registro das muitas músicas da Escola de Escândalo.

Bernardo Mueller, apoia a realização desse trabalho, mas não deseja voltar aos palcos, então Geraldo e Marielle convidam Totoni pra esse "revival", e chegam à conclusão que para guitarra tinha que ser um "discípulo", grande amigo e parceiro musical de Fejão, Alexandre Parente, guitarrista ao lado de Fejão da Banda de Heavy Metal Fallen Angel por mais de 10 anos.

A Escola de Escândalo iniciou as gravações de um "primeiro" cd em outubro de 2010 com 10 faixas: Caneta Esferográfica, Luzes, Complexos, Grande Vazio, Popularidade, Lavagem Cerebral, 4 Paredes, Más Línguas, Só mais uma canção de soldados e guerras, Celebrações (Arte no Escuro), e deverá estar à diposição em março de 2011.

Escola de Escândalo agora é:

Geraldo Geruza Ribeiro - Baixo
Antonio Totoni Fragoso - Bateria
Alexandre Parente - Voz e guitarra
Marielle Loyola - voz

Entrevista publicada em maio de 2010 no site Rock Brasília:

Você é tida como a musa do rock de Brasília, desde a época em que integrava o Escola de Escândalos. Pode falar um pouco sobre sua saída do Escola e a formação do Arte no Escuro?

Poxa, muito obrigada pelo elogio, pois ser Musa de uma cena tão importante pra todo o País, nossa, é bastante responsabilidade (risos). Muito obrigada mesmo! Bom,minha saída do Escola foi meio confusa, mas o convite no mesmo dia da minha saída do Escola, pra fazer parte de uma banda que até hoje é tida como marco da música gótica no Brasil, foi algo maravilhoso. A Arte no Escuro estava passando pela saída do vocalista Lui, que estava de mudança para o Rio de Janeiro, e era uma banda que eu respeitava demais, pelos músicos e sua qualidade e profundidade musical. No primeiro momento fiquei temerosa, pois assumir o lugar do Lui era muita responsabilidade, mas fizemos uma transposição vocal dele pra mim bem tranquila. Comigo a Arte no Escuro acho que ganhou um perfil mais pop, ou melhor dizendo, mais acessível ao mercado.


Quais as recordações mais marcantes que você tem de Brasília? Como era a cena de rock nos anos 80 e 90? Sente saudade?

Nossaaaa....muita saudade, foi uma fase de pureza de sentimentos, de idéias, de ideais, tudo era tão forte. A vontade de fazer música, de dizer o que sentíamos. Era muito diferente de hoje, quando as bandas fazem música para fazer sucesso, para tocar em rádio, naqueles dias nunca nem se imaginava uma banda como as de Brasília tocando em rádio.
Fazíamos música porque gostávamos de fazer música, sem base nenhuma, sem estudo musical. Era tudo muito de sentimento, de notas que achávamos legais, acho até que essa sinceridade foi o maior motivo do reconhecimento pela mídia e produtores nacionais aos artistas da cidade, pois a sinceridade leva tudo mais longe, dá mais vida! Muita saudade das bagunças com os amigos, dos ensaios no Rádio Center. Parece até coisa de velho né? (risos) Mas só vai entender quem viveu isso!

Depois do Arte veio o thrash metal do Volkana. Conte um pouquinho do fim do Arte e do começo do Volkana e sobre os boatos em torno de uma volta da banda.

Pois é, a Arte foi uma coisa belíssima na minha vida, mas foi tudo muito rápido, pois com menos de um ano de banda nós estávamos dentro de uma multinacional gravando um disco entre os maiores do momento, Legião, Plebe, Paralamas,que eram nossos amigos, e que hoje, quando eu paro pra pensar,caramba,esses caras serão eternos na música nacional. E nós poderíamos ter sido também, mas éramos imaturos, muito novos, e não tínhamos definido muito bem as nossas escolhas. Falo principalmente por mim. Eu tinha saído do Escola, onde fiz um amigo gigante em todos os termos que era o Fejão, que me apresentou um som chamado Heavy Metal. O que eu conhecia do estilo eu achava muito chato, como Led Zeppelin, Deep Purple, coisas do tipo, que eu achava um saco..mas o Fejão me apresentou um outro som, como a primeira demo de uma banda chamada Metallica, caraça, aquilo foi demais, os timbres de guitarra, o vocal (timbre que nunca consegui ter) a bateria com os bumbos dobrados numa velocidade animal. Foi muito demais. E depois veio Anthrax, Mercyfull Fate. Ai tudo mudou dentro de mim. Como eu andava direto com ele, passei a conhecer os amigos dele que tocavam metal, e ai foi. Quando terminei a gravação do disco do Arte no Escuro, a gente já tinha montado a Volkana, mas só de onda, que como as demais bandas de Brasília, tomou corpo rapidamente e foi contratada pelo maior Selo de metal do País daquele momento, que era o Selo Eldorado, onde estávamos ao lado de nomes como Sepultura, Ratos de Porão e Víper. A Volkana é uma banda idolatrada ainda hoje, pois não surgiu nada parecido,nem postura, estilo e pegada. Ali eu me tornei uma profissional, eram todas muito disciplinadas, e acredito que isso foi o que manteve também, o nome da Banda em pé e respeitada até hoje. Encontro meninos de 20 e poucos anos que nos assistiam nos programas infantis, tem o disco até hoje (risos), muito engraçado. Muitos acham que a Volkana é uma banda de São Paulo, pois nos mudado para lá por motivos contratuais, mas sempre fizemos questão de deixar bem claro que éramos uma banda de Brasília e ponto final!! No ano passado fizemos um show depois de 13 anos e foi muito legal. Realizamos essa volta repentina à pedidos do produtor de documentário que deve ser lançado ainda esse ano chamado Heavy Metal Brasil que vai contar as história do estilo no Brasil. Recebemos muitos convites para novos shows, mas ficou difícil devido a distância dos componentes e trabalhos paralelos dos mesmos. A minha saída da Volkana aconteceu devido divergências musicais. Tínhamos um disco lançado na Europa e EUA, mas eu tinha uma opinião que não era muito bem vinda na banda...queria cantar em português pois meu inglês era um lixo, tinha casado a pouco tempo, e havia um problema de doença na minha família em Curitiba, que não permitiriam minha saída do País naquele momento...com certeza eu tinha que me afastar para não atrapalhar o destino delas. Elas fizeram mais um cd com uma nova vocalista que não teve a mesma repercussão do First.

O que te motivou a ir para Curitiba?

Como falei acima, uma pessoa mais do que importante na minha vida, meu irmão, que fez uma participação especial no disco da Volkana, Mariel Loyola, estava com um grave problema de saúde, o que me fazia ir constantemente á Curitiba, minha cidade natal, e com a piora da saúde dele voltei pra cá. Ele faleceu o que me deixou sem ânimo pra qualquer coisa durante quatro ou cinco anos. Então alguns amigos como o Loro Jones,que também era muito amigo do meu irmão, me incentivou a fazer uma banda só pra distrair e pra não perder o amor pela coisa, ai surgiu a Cores D Flores, uma banda legal, mas que não conseguia definir seu estilo e que durou até 2006, pois ai, eu já estava bem apaixonada pelo trabalho em Rádio, pela possibilidade de abrir espaços pra novos talentos, e essa paixão se tornou um amor gigante e eterno em mim

Você foi vocalista da Cores D Flores durante alguns anos. Fale um pouco sobre a banda, as influências e como se deu essa volta aos palcos?

Pois é, hoje já não sou mais vocalista, faço produção e direção musical, incentivo e crio novos espaços para novos talentos, e adoro fazer isso, pois Curitiba é um grande celeiro de músicos talentosos, uma cidade maravilhosa para se viver, tudo ecologicamente correto, tudo muito legal! Sonho em voltar pra Brasília, pois seria o único lugar depois daqui que eu moraria, mas esses meus laços de ternura com a cena local Curitibana é bem forte, e sinto que tenho muito o que fazer por aqui ainda!

Como foi sua incursão no mundo da locução e produção em rádio? Como é o programa, como surgiu?

O Geração Pedreira foi meu primeiro trabalho em rádio em 99 na Rádio Rock 96. O diretor da rádio, Helio Pimentel, conhecia minha história dentro da cena musical nacional e achou interessante usá-lo em um programa de rádio onde poderíamos valorizar a Cena cultural da cidade, e trazer entrevistas e depoimentos de artistas nacionais dentro de um programa. O Nome GERAÇÃO PEDREIRA, em homenagem ao nascimento da Pedreira Paulo Leminski, um dos locais mais lindos pra shows de todo País, que foi idealizada por Helio Pimentel, diretor da rádio e Jaime Lerner, governador do Estado na época. Com o encerramento das atividades da Radio Rock em 2005, e o nascimento da 91Rock em 2006, rolou o convite pra dar continuidade ao trabalho iniciado na Radio Rock com um novo programa, o 91 Cena Independente, com o mesmo perfil voltado à cena nacional e local independente.
Em 2008 recebi um novo convite, agora da Rádio Mundo Livre Fm, do Grupo RPC (afiliada da Rede Globo no Paraná) para iniciar o Projeto Acústico Mundo Livre, um projeto inovador dentro de rádio. A Mundo Livre Fm também é responsável pelo maior Festival do Estado - LUPALUNA -, onde contribuo para a seleção dos artistas locais e nacionais independentes.
Paralelo aos programas de rádio, ainda me dediquei a escrever para revistas especializadas em música na cidade e jornais. Também faço a produção musical do evento ao ar vivo Soho Batel/Mundo Livre Fm, que acontece todo sábado, em uma das mais belas Praças da Cidade, a Praça Espanha.

Qual seu conselho para quem está no caminho árduo do rock independente?

Acho que o caminho, ano após ano é sempre o mesmo: trabalho pesado, dedicação, determinação, criatividade e originalidade, que eu acredito só vem através da sinceridade.
Descobri que, definitivamente, nada cai do céu, tudo vem até vc por merecimento. Plantou, cuidou, nasceu e cresceu...do contrário, morre ainda no chão!!!
Então, se você é afim de fazer música, pra poder viver dela, se imagine um grande empresário iniciando sua primeira mega indústria de, sei lá, macarrão!!
Capriche na receita da massa, use ingredientes especiais (aqueles q só você tem), deixei os amigos de bom gosto provarem, empacote com uma bela embalagem de apresentação, observe o melhor mercado para seu produto e espalhe pelo mundo. Sempre agradecendo muito às críticas positivas, e valorizando muito mais as negativas, pois é delas que você se aperfeiçoa e cresce!

Aproveitando o espaço, se quiserem mandar material de suas bandas pra mim é só enviar e-mail (marieleloyola@hotmail.com), e nos falamos. Estou aqui pra apoiar o som que vem por ai! Beijos a todos, muita paz e sucesso sempre!

Entrevista para o Site Carcasse (data não definida):

Marco inicial do gótico nacional, o ano de 1985 viu os primeiros registros de bandas como o Muzak, de São Paulo, além de fazer da cidade de Brasília uma incubadora de bandas que, além beber das fontes pós-punks inglesas, assimilavam o estilo e a atmosfera sonora de bandas como Cocteau Twins, Bauhaus e Joy Division.

Antes disso, influências do gótico inglês eram notáveis até mesmo em bandas "comerciais" como RPM, mas sempre havia um atenuador, como o contraponto eletrônico ou, no underground, a adição de sonoridades nacionais (vide o experimentalismo de bandas como Black Future, Chance e Fellini).

Então, o que diferenciava a primeira leva pós-punk daquela safra pós-85? Naquele ano, por exemplo, o Finis Africae tocava "Kick in the Eye" num de seus shows e a apresentava como uma canção de "um conjunto de punks góticos ingleses, o Bauhaus". Se São Paulo tinha as galerias de lojas importadoras de discos, Brasília, igualmente privilegiada, tinha nos filhos dos diplomatas pequenos e eficientes focos de difusão cultural. Não espanta, portanto, o grau de acuracidade com que uma banda como o Bauhaus é citada ao vivo. Havia informações abundantes; além disso, havia muita vontade de produzir algo afim, sendo a banda 5 Generais o exemplo cabal da emulação sonora de então.

Tais bandas não eram casos isolados de uma subcultura limitada a "ilhas" urbanas. Havia intenso diálogo, o que se comprova por uma filipeta que naquele ano divulgava justamente uma apresentação com as bandas Finis Africae, Detrito Federal, 5 Generais, A+ e… Arte no Escuro. Quanto à última, que naquela apresentação estreava muitíssimo bem acompanhada, podemos afirmar que sua trajetória configura um "passo além" rumo a uma sonoridade que não mais se via como herdeira de tradições brasileiras, mas como uma legítima encarnação pós-punk, de cariz gótico e intimista.

Fundada naquele mesmo ano, a banda contava com Lui (voz), Pedro Hiena (baixo e letras), Adriano Lívio (bateria) e Paulo Coelho (guitarra). Já em sua primeira apresentação, a banda protagoniza cenas que serviriam de prólogo à sua lenda: ao cantar "Beije-me Callboy", canção sobre o submundo brasiliense com cenas de prostituição e suicídio, o vocalista Lui despeja um recipiente de tinta negra sobre si, num happening até hoje comentado pelos presentes. Musicalmente, a banda já iniciava com uma maturidade invejável, mas os anos seguintes provariam que havia muito ainda a realizar.

Poucos meses após a primeira apresentação, o vocalista Lui deixa a banda e dá lugar à jovem Marielle Loyola, então recém-saída da Escola de Escândalo, onde fazia os vocais de suporte. O talento, a presença e o estilo da nova vocalista serviram como um enorme diferencial naquele momento de efervescência musical, e as rádios passaram a executar algumas faixas da fita de demonstração da banda, como "Beije-me Callboy" e "Na Noite". Em 1987, o Arte no Escuro foi contratado pela EMI e o álbum intitulado Arte no Escuro (1988) seria lançado poucos meses depois, com evidentes amostras do impacto musical e do apelo visual da banda. Ironicamente, comenta-se (no livro Dias de Luta, por exemplo) que a Escola de Escândalo, banda que expulsara Marielle, foi preterida pela gravadora, que preferiu apostar justamente em sua nova e instigante banda.

Após o lançamento do LP, Marielle funda a banda Volkana, de Thrash Metal, mudando-se para São Paulo. O Arte no Escuro então encontra sua dissolução e seu único lançamento de mercado torna-se cada vez mais cobiçado pelos colecionadores. O contrato com a gravadora, aliás, expirou em 2004, o que deixa o trabalho disponível para negociação por outros selos. Uma eventual edição em CD não só serviria para recompor o quebra-cabeça da história do rock nacional, como também daria algo palpável às legiões de novos apreciadores da banda, que se lamentam de só disporem de arquivos digitais, sem algo mais "palpável". Em CD, a banda teve apenas uma canção lançada ("Beije-me Cowboy"), incluída por Charles Gavin (Titãs) na compilação Discoteca Básica: Pop Rock Nacional dos Anos 80, o que é bom, mas ainda é muito pouco.

Muito obrigado por responder a estas perguntas. É uma honra estar em contato com vocês.

Para começar, eu gostaria de falar sobre os anos que antecederam a formação do Arte no Escuro. Brasília era um saudoso celeiro de bandas punks, e vocês integraram as bandas Os Sociais (caso do Pedro), e Escola de Escândalo (caso da Marielle). Como vocês descreveriam esse tempo e as duas bandas cujas histórias se confundem com as suas?

Pedro: Eu e Paulo éramos da "tchurma", como dizia o Renato "Manfredo" Russo, e sempre estávamos envolvidos com o pessoal da Legião, Plebe e Capital. Eles começaram a viajar para o eixo Rio—São Paulo para tocar, e a gente pensava: "se eles conseguiram, por que não tentar?". Anos antes, eu já escrevia letras. "Psicopata", do Capital Inicial, por exemplo, é de minha autoria, e eu tinha um livro cheio delas. Paulo tocava guitarra e eu sempre quis tocar baixo. Os Sociais foi uma das minhas primeiras bandas e, que eu me lembre, só fizemos um show. Eu cantava e escrevia as letras... Todos d'Os Sociais, fora eu, eram filhos de diplomatas, incluindo o Nick, que era alemão. Sempre havia a sombra de que alguém iria deixar a cidade e acho que foi isso o que aconteceu no final. Só não lembro quem partiu... Já ouvi muitos rumores sobre Os Sociais. Eu mesmo não me lembro de nenhuma música e nem do que eu cantava! Tem um mp3 por aí que na verdade foi uma jam session num boteco, eu e um monte de gente, e resolveram dizer que é d'Os Sociais. Pure bullshit! Que eu saiba, ninguém tem algo gravado da época.

Marielle: Bem, na verdade, as lembranças que tenho são as de uma pré-adolescente normal integrando-se a um grupo de pessoas com informações variadas e já criando seus ídolos, que, naquele momento, eram o Renato Russo e o Marcelo Bonfá, nosso galã (risos). O meu primeiro ensaio com o Escola de Escândalo foi engraçado... eles ensaiavam no "closet" da casa do Alessandro "Itália" (o pai dele era embaixador da Itália, acho). Eu cheguei e só conhecia o Itália, e ele foi me apresentando aos outros componentes: Bernardo era o vocalista, irmão mais novo do André X, baixista da Plebe, grande poeta. Geraldo era o baixista, irmão do Loro Jones do Capital, muito boa pessoa e divertido, daí eles me apresentaram o Fejão como um tarado sexual, dizendo que tudo correria bem se eu não chegasse muito perto! (risos) Na minha opinião, ele é um dos maiores guitarristas que esse país já teve, tornando-se um irmãozão... saudade do Nego Véio... Mas o que me assustou mesmo foi a altura dos caras. Acho que o mais baixo deles tinha 1,87 m de altura. Eu, com meu 1,69 m me sentia uma formiguinha ali. Bem, como vocês podem sentir, a nossa convivência sempre foi legal com a turma e tudo era bem divertido... um bando de malucos alegres.

Vocês ingressaram na banda em momentos diferentes. Seria ótimo poder saber um pouco mais sobre o momento em que cada um passou a integrar o Arte no Escuro, o Pedro na formação e a Marielle na substituição do Lui como vocalista. Qual era a "proposta" inicial da banda e como se deu o convite à Marielle?

P: O Arte no Escuro no começo era eu e Paulo Coelho. Eu nem tinha baixo na época e tocava a linha do baixo em uma guitarra. Conhecia o Adriano havia tempos e lembrava que ele tocava bateria. Convidamo-lo e ele aceitou. Com o Lui foi a mesma história: sempre nos encontrávamos no Beirute para tomar uma, e ele tinha interesse em cantar. Acho que ele apareceu ou o convidamos para ver o ensaio e foi isso. Lui é pintor e muito interessado em artes plásticas. Num bate papo, ele comenta sobre um movimento artístico, onde o fotógrafo ou pintor se amarra em arame farpado, sangue saindo, e se pinta e tal. Flagelação por arte. Algo por aí. O nome do movimento era Art in the Dark. Fizemos três ou quatro shows com o Lui nos vocais e parecia que estávamos fazendo um nome. Um belo dia, Lui diz que tinha conseguido transferência de trabalho para o Rio e se vai... Marielle tinha acabado de sair do Escola de Escândalo... éramos fãs do Cocteau Twins; uma voz feminina apelou na época, e pensamos: "por que não?".

M: A minha entrada no Arte no Escuro ocorreu em um momento bem chato pra mim, na verdade, pois eu estava muito triste com minha "expulsão" do Escola de Escândalo pelo Bernardo, após uma apresentação em um programa da Rede Globo chamado Mixto Quente, no qual, das quatro músicas que nós tocamos, foi ao ar justo a que eu cantava, pois na banda eu era só backing vocal, e havia essa música chamada "Complexos" que o Bernardo fez para eu cantar. Nossa, fiquei muito mal com o telefonema dele... e pesou o fato de ele não ter me falado ao vivo, foi pelo telefone... foi punk mesmo. Então, no dia seguinte, o pessoal do Arte no Escuro me ligou dizendo que o Lui estava indo morar no Rio e que eles estavam sem vocalista... nossa, para mim foi tudo de bom, pois eu já conhecia o pessoal da banda e, claro, conhecia o som, pois lá como já te disse todos conheciam todos e todos apoiavam todos. Acho que esse era um grande diferencial do que presenciei depois em vários cenários da música pelo país... a gente podia até xingar, zoar e tudo mais nos shows das outras bandas, mas sempre estava todo mundo lá (risos)!!! Éramos adolescentes felizes!!

Não é raro ouvirmos testemunhos entusiasmados de apresentações ao vivo do Arte no Escuro repletos de cenas antológicas. Dizem que, certa vez, por exemplo, o Lui despejou tinta preta sobre o próprio corpo cantando "Beije-me Callboy". E para vocês, quais foram os momentos "ao vivo" mais memoráveis?

P: Esse "show da tinta", na verdade. Foi o nosso primeiro show... Tivemos muitos shows memoráveis, lembro-me de um no Teatro Galpão, em Brasília, já com a Marielle, chamado "Feira de Música", que acontecia toda segunda-feira. Cada banda tocava duas músicas e era isso. A platéia não hesitava, atirava tomate e o diabo se a banda fosse ruim. Tocamos duas músicas e não atiraram nada; no final, aplaudiram. Acabamos sendo convidados para fazer uma noite especial só do Arte no Escuro. Nossos shows tinham muito clima e energia, coisa que no disco acabou sendo pasteurizada, o que foi uma pena. Na minha opinião, o registro acabou não fazendo justiça ao Arte no Escuro.

M: Putz... na verdade, com o Arte tenho várias recordações legais, o show em Fernando de Noronha... acho que fomos a única banda de rock a tocar lá... meu... o povo gritava muito com a iluminação, eles piraram realmente. O show histórico no Teatro Nacional também, onde fizemos do palco a platéia... foi assim: colocamos arquibancadas no palco e nós, músicos, ficávamos em pequenos tablados individuais. Foi o show de lançamento do disco, muito legal. Na verdade, tínhamos um superempresário, também moleque como a gente na época, mas que sempre soube agilizar e potencializar nossa banda: Luiz Fernando Artigas (Fegê), que hoje é um grande articulador político de Brasília.

Bandas como Gang of Four e Joy Division são muito citadas como influências pelas bandas brasilienses de meados dos anos 80. No caso do Arte no Escuro, vocês acham possível apontar alguns nomes que lhes serviram como referências musicais? Aproveitando o gancho, o título de "Joy" tem alguma relação com o Joy Division?

P: Eu, Paulo e Adriano sempre fomos apaixonados pelo Joy Division. Na época, acho que tivemos influência do Echo & the Bunnymen, Cocteau Twins, The Cure, Siouxsie & The Banshees, The Sisters of Mercy, Magazine e The Smiths, para citar algumas. "Joy" foi feita sem esta intenção, mas acabou tendo todas as marcas do Joy Division... Na verdade, até abrimos alguns shows com ela e nunca pensamos em pôr letra ou gravar.

M: Eu sempre tive uma salada de influências em meu repertório que, acredito, foi muito trabalhado pelas minhas amizades. Sempre fui de circular em várias turmas, então eu ouvia muito Cocteau Twins, The Cult e U2, com o pessoal do Arte, mas o Negreti (Legião) e o Ameba (Plebe) não saiam lá de casa, então eu ouvia muito Dead Kennedys, punk rock e hardcore de verdade e, como o Fejão também ia muito lá em casa, e sempre trazia vídeos e cassetes para a gente ouvir, já viu, né?... aí era metal na cabeça: Metallica, Slayer, Ozzy, Suicidal Tendencies e até o metal farofa!!! (risos) Bem, por aí você vai vendo como as coisas aconteciam, tanto que o Ameba, o Negreti e o Fejão depois montaram uma banda chamada Dentes Quentes, onde eles tocavam Dead Kennedys e um pouco do metal. Já em São Paulo, quando me mudei com a Volkana, conheci o rap... o hip-hop, através do Thaíde e do DJ Hum, que participaram do disco da Volkana... e aí... mais uma paixão... Filtrando tudo isso, tiro todas as sonoridades que tenho em minha alma hoje... a belíssima voz de Elizabeth Fraser, do Cocteau, a simplicidade do Ozzy, a garra do Jello Biafra, o peso do Metallica, a exatidão métrica do hip-hop em algumas coisas e, claro, a paixão pelo Bono... ai, ai... rolou até paixão pelo Bon Jovi e Skid Row, acredita??? Eu trago tudo isso para a Cores D Flores... peso e melodia!

Graças ao excelente site que vocês prepararam, podemos ouvir versões alternativas de várias das canções da banda, além de termos acesso a verdadeiros documentos históricos, entre fotos, filipetas e artigos de época. Como vocês avaliam a repercussão desse material?

P: Não tenho nem idéia de quantas pessoas já entraram no site. Fiz ele sozinho com o material que eu e o Paulo Coelho havíamos guardado. Fora o Paulo, também consultei o Adriano sobre idéias. A intenção nunca foi a de divulgar o Arte no Escuro, mas sim de ter algo para lembrar, um arquivo, nada mais. Daí o material nele. Coloquei tudo que tínhamos achado na época. Daí o "RIP" na main page.

M: Bem massa, né? Pois essa entrevista mesmo só está rolando por causa dessa história que não pode morrer nunca, essa é a história do rock candango e não pode ser esquecida ou ignorada... por isso que me divirto quando alguém compara meu atual trabalho ao da Pitty... adoro o que ela fez no rock nacional, acho ela extremamente talentosa, canta pra caramba e é uma ótima compositora, mas, cara, tem muito jornalista que ignora essa história e quer falar do rock nacional. Acho que informação é importante pra qualquer um, para jornalista então... nem se fala, né??

Excluídos os materiais divulgados no site da banda, existem ainda registros inéditos do Arte no Escuro, como vídeos, composições, clipes?

M: Acho que essa é bem para o Pedro responder, pois eu sempre fui inútil nesse ponto para a banda... era muito moleca aprontona e nem me ligava em organizar nada, aliás, acredito hoje que foi minha imaturidade o que mais atrapalhou o Arte no Escuro... aí, Pedro... foi mal!!! Tanto que hoje na Cores quando faço esse tipo de coisa, lembro-me do imenso acervo que eu poderia ter.

P: Lembro-me de ter visto na TV o show inteiro que fizemos no Teatro Nacional de Brasília, nos bastidores da sala Villa-Lobos. Gravei-o em VHS, e minha ex-mulher fez o favor de gravar em cima Galaxy Rangers para o meu filho, porque não tinha achado outra fita... Não tenho certeza, mas acho que foi a TV Cultura de Brasília a emissora que o veiculou. Com certeza há vídeos de shows que fizemos em Brasília, o problema é achar...

Quanto às canções selecionadas no álbum Arte no Escuro (1988), notamos algumas mudanças em relação às suas versões anteriores. Além de "Beije-me Callboy" ter sido renomeada como "Beije-me Cowboy", um pequeno trecho da letra de "Celebrações" parece ter sido suprimido. Como se deram essas mudanças? Houve alguma interferência da EMI ou tudo fez parte da maturação natural do material?

M: Outra que tem de ser respondida pelo Pedro, pois eu cantava mas não tinha muita participação nas composições, a não ser nas melodias de voz. Lembro-me que "Celebrações" estava muito longa e repetitiva; quanto a "Beije-me Cowboy" eu nem sabia que tinha mudado de nome, só sabia que a intenção dela era a de falar sobre um garoto de programa, mas só. Aliás, no disco do Arte no Escuro tive a minha primeira oportunidade de compor uma letra, o que devo ao Pedro, com quem, com certeza, aprendi muito. Pensando bem, aprendi com os melhores: o Renato (Russo) sempre me dava toques sobre palavras e como usá-las, métrica... o Pedro me fez ler muitos livros legais, além de falar de amor de uma maneira obscura e tão romântica, cantar as letras do Bernardo (Escola de Escândalos) também me ensinou como usar palavras sem nenhuma sonoridade, mas com muitas possibilidades.

P: Só foi maturação do material. No LP, foi burrice não termos gravado "Inocência", pois era uma das nossas melhores músicas em shows. Por incrível que pareça, tanto a EMI como a produção, que foi inexistente, nos deram carta branca no estúdio.

Uma belíssima parceria entre a banda 5 Generais e Marielle ("Outro Trago?") havia sido gravada para a coletânea Outros Rumores, que nunca foi lançada. O Arte no Escuro também participaria dela?

P: Acho que já estávamos em contato com EMI e outros selos na época e não queríamos arriscar lançar algo por um selo pequeno quando gravadoras grandes estavam demonstrando interesse em nós.

M: Essa música, se não me engano, saiu agora, no Rumores II. Recebi a versão remixada e "tá o bicho", aliás, o 5 Generais é outra banda da época muito do cara...mba (risos).

Em 1988, jornais e revistas apontaram influências do pós-punk inglês na sonoridade do Arte no Escuro. A Bizz, por exemplo, apontou um "clima gótico" nas canções da banda e registrou sua recusa ao rótulo "dark". O que vocês diriam sobre tais associações?

P: Na época, negamos, pois era o tal de rótulo, blábláblá de mídia tentando criar polêmica para vender ou pegar a atenção do público: "há um novo bicho pra vendermos, e ele se chama dark"... Acho que estávamos mais para Echo & the Bunnymen que para The Sisters of Mercy.

M: Meu, fomos a primeira banda gótica ou dark do país, não adianta fugir desse rótulo. As letras nos submetiam aos climas "escuros" do amor e da vida. Acho que Álvares de Azevedo gostaria muito de ouvir o Arte no Escuro (risos).

Vocês já chegaram a negociar o relançamento do Arte no Escuro em formato digital? Vocês arriscariam alguma explicação para o inexplicável atraso da gravadora em disponibilizá-lo novamente?

P: Por volta de 1995, lembro-me de ter ouvido falar que a EMI estava interessada em ter-nos no estúdio para gravarmos material novo. Se foi verdade, não sei. Todas as bandas dos anos 80 estavam regravando ou voltando. Eu já estava morando em Londres na época e lembro-me de ter dito a alguém que só voltava para o Brasil se me pagassem U$ 1,000,000.00. Não acho que vão lançar o CD. No final das contas, não vendemos muitas cópias.

M: Eu e o Paulo Coelho até pensamos em tentar um relançamento. Fizemos um contato meia boca e desistimos. Na verdade, uma empresa como a EMI não se interessa pela história ou por registrar documentos com que o rock nacional seja memorizado ou eternizado. Para eles, o que conta é a grana, bufunfa, din-din, o som do produto não importa, mas sim o som da máquina registradora. Ainda bem que existem pessoas como você e esse seu trabalho tão engrandecedor da cena nacional, porque senão a maioria dos jovens ouvintes não teria a oportunidade de saber como começou ou de onde vieram nossas raízes musicais.

Atualmente, existem bandas – como a brasiliense Últimos Versos – que tomam o Arte no Escuro como inspiração e parâmetro musical para seus trabalhos. Como é, para vocês, saber que o Arte no Escuro ainda faz escola?

P: Uau. Nem tinha idéia. Legal. Interessante. Quero ouvir esses carinhas.

M: Pô... eu me sinto extremamente orgulhosa, várias pessoas entram em contato para trocar idéias e passando sempre uma vibe positiva sobre o trabalho do Arte. Em Brasília há também a Morffine, do Phélix do 5 Generais, que também vai pra esse estilo e confessa a influência do Arte. Muito bom... é muito dez ser útil pra alguém (risos).

E quanto ao fim da banda? A que vocês o atribuem?

P: A EMI terminou nosso contrato. "Lambada" virou febre nacional (não estou brincando, de verdade!). Shows ficaram muito difíceis de arrumar. Marielle decidiu cantar em uma banda de heavy-metal e, para ajudar ainda mais, havia a vida. Acho que cansamos de nadar contra a corrente. Amor à musica nunca pagou contas.

M: Bem, eu me sinto bastante culpada, como já assumi anteriormente. Fui irresponsável em vários momentos importantes da banda e sei que a falta de maturidade foi fator derradeiro. A assinatura do contrato do Volkana com a Eldorado também pesou... Eu me apaixonei pelo metal... e quando vi, já era. Sei que magoei pessoas legais com a minha falta de continuidade e loucuras... mas já foi.

Após a dissolução da banda, em quais outras bandas os membros do Arte no Escuro tocaram? Sabemos do Volkana e do Vollume, bandas que contaram com a voz preciosa da Marielle, além do Cores D Flores, sua atual banda. Você poderia comentá-las, Marielle? E quanto ao Pedro, ao Adriano e ao Paulo? Em quais outras bandas tocaram?

P: Eu e Paulo tivemos uma banda que nunca saiu do ensaio ou estúdio. Depois disso, fui convidado e acabei tocando no "new" Detrito Federal por quase um ano. Viajei o Brasil inteiro com eles tocando baixo e acabei escrevendo algumas letras e músicas. Também no Detrito, por uma época, estava o Eduardo "Balé", baterista do Escola de Escândalo. Aqui no Reino Unido, por volta de 96-98 fiz mix de música eletrônica com jazz, ou Breakbeat. Tenho um estúdio no meu laptop e toco baixo, violão e até teclado quando o santo baixa. Que eu saiba, Adriano e Paulo aposentaram as chuteiras em termos de música.

M: Mantenho contato com o Adriano, que conseguiu realizar seu sonho de ser diplomata, o que eu acho muito importante... realizar sonhos... com o Pedro, acho que falei pouquíssimas vezes, pois ele foi para Londres; com o Paulo também falei poucas vezes, mas sei que ele também realizou seu sonho de montar uma empresa de arquitetura. Quanto ao meu destino, fui para o Volkana, que teve uma ótima aceitação do público e da mídia, mas tive de me afastar quando meu irmão ficou doente e veio a falecer (ele era um grande amigo, parceiro... um tudo pra mim, aliás ele até participa do disco do Volkana), voltando pra Curitiba (minha cidade natal), onde minha família precisava de mim naquele momento. Já estava casada com o McCoy, que é um grande guitarrista e que esteve sempre ao meu lado nos quase quatro anos em que me neguei a cantar, convencendo-me a voltar a compor e me agilizar formando a Cores D Flores, após ir a um show do Capital Inicial no qual o Loro Jones e o Dinho me incentivaram muito também a voltar. A banda Vollume, na verdade, foi uma transição da Cores para um som mais pesado, mas sempre foi a Cores, embora com outro nome durante seis meses. Hoje, a Cores D Flores já está se fixando no mercado independente. Já temos três demos lançadas, o Entre Sonhos e Pesadelos, onde exponho as aflições de sonhar, amar e odiar neste planeta, quase uma coletânea dos anos anteriores da banda, contendo versões acústicas em gravações caseiras, mas que pra mim tinham de ser registradas, e naquele momento... coisa de maluco mesmo (risos). Agora estamos finalizando o nosso primeiro CD gravado em estúdio profissional, intitulado Paixão. Nele, temos algumas regravações do Entre Sonhos e Pesadelos, mas lá fica bem mais claro nosso peso, nossa meta musical e nossa melodia, minhas influências, tanto nas letras onde exponho meu respeito aos sentimentos confusos e maléficos do ser humano, e declaro minha Paixão e respeito ao meu público. O CD estará pronto para lançamento em março, e espero, através do seu site, ter a oportunidade de mostrar ao seu grande público esse meu trabalho atual, firmeza??? Também faço a minha parte aqui em Curitiba tentando agilizar uma maior amostragem da cena local através do meu programa na 96 Rádio Rock, o Geração Pedreira e em um site voltado à música paranaense – www.movimentoleitequente.com.br – que, a partir de janeiro, se tornará uma rádio... 24 horas de música paranaense na Web... "é nóis"! (risos)

Nós, entrevistadores, nunca somos capazes de fornecer oportunidades de as bandas expressarem tudo aquilo que seus apreciadores gostariam de ouvir. Por isso, deixo aberto este espaço para que vocês transmitam o que bem desejarem, com toda a liberdade possível. Muitíssimo obrigado pela entrevista!

P: Obrigado pelo interesse e, por favor, se tiverem algo que não está no site do Arte no Escuro, mandem-me que o incluirei, farei um link para o seu site e, claro, incluirei os devidos créditos.

M: Olha só... discordo da sua afirmativa na pergunta. Vocês entrevistadores são os responsáveis pela nossa visibilidade e nossas grandes oportunidades, como esta de estar aqui, de nos aproximarmos mais das pessoas que tanto valem para a gente... os que ouvem nossas canções, nossos corações. Pois para o músico, pelo menos eu penso assim, o mais importante é chegar aos corações através de melodias e poesias. Valeu mesmo, Cid! Conte sempre comigo.

Fontes:

Olímpio Cruz Neto
http://www.rockbrasilia.com.br
Carcasse

Joey "Shithead" (DOA), uma entrevista

Joey "Shithead" Keithley é umas personalidades mais importantes do punk na América do Norte. Para os canadenses, então, é um autêntico godfather.

Aos 55 anos de idade, Joey permanece ativo com sua banda D.O.A. Já são mais de 3 décadas de carreira, 15 álbuns de estúdio, dois livros, um disco solo e outro, seminal, ao lado de Jello Biafra.

No momento em que esta coluna é escrita, o D.O.A. está encerrando sua primeira turnê pelo Brasil. Foram três shows: o primeiro em Curitiba, o segundo em São Paulo (foto abaixo) e o último, deste domingo, no Rio de Janeiro.

A banda aterrissou no Brasil na quinta passada, dia 17, e fui convidado para um jantar de boas-vindas aos canadenses. Por um desses acasos, meu lugar na mesa era aquele ao lado de Joey Shithead. Apreciador de uma boa conversa, não se importou em relembrar inúmeras histórias sobre os primórdios do punk na América do Norte, o rock canadense e muito mais.

Joey me contou, por exemplo, como foi abrir um show do David Lee Roth em Vancouver: "Estava programado para que o Poison tocasse, mas um integrante deles quebrou o braço e fomos convidados em cima da hora pra susbtitui-los. Tinha quase 15 mil pessoas no lugar e muita gente na primeira fila atirando moedas em nós. Os seguranças do David gostaram da gente e começaram a dar porrada em quem jogava coisas no palco. Depois, nos camarins, aprontamos várias e fomos expulsos pelo empresário dele. Mas David é um cara direto, sem frescuras. E na época era um completo 'party animal'. Cheirava várias e frequentava todos os inferninhos".

O Canadá tem assuntos variados na cultura rock. Citei alguns nomes e deixei Joey discorrer, entre uma e outra garfada num delicioso siri.

"Nardwuar é um bom entrevistador. Tem um grande conhecimento musical. Mas da primeira vez que ele me entrevistou, quase saí andando depois de 5 minutos. Não tinha entendido qual era a daquele personagem. O Razor? Não sei nada sobre eles, exceto que fizeram um documentário a respeito dos caras. Ah, esse é o Anvil? Não sei quem é quem. E nunca vi o documentário. O Michel [Langevin, baterista do Voivod] já tocou com a gente em um show beneficente. Ensaiamos por uma tarde e ele tocou umas 12 músicas. É um cara bacana. Do BTO [Bachman-Turner Overdrive] tenho boas lembranças: fizemos um show com eles em um presídio de segurança máxima no norte do Canadá. Era a primeira apresentação do BTO com a formação original em uns 20 anos".

Joey me perguntou se eu recomendava alguma loja de discos em São Paulo. Expliquei o que era a Galeria do Rock e de como Jello Biafra comprou uma enormidade de LPs por lá.

"Sim, eu posso imaginar. Ele tem uma coleção enorme. Uma grande sala com álbuns do chão até o teto. E tudo organizado alfabeticamente! Se você perguntar a ele sobre um LP qualquer, ele dá uma olhada rápida e já puxa o disco da estante. É incrível. Existe um tipo de colecionador que compra de tudo, e existe aquele que só coleciona o que realmente gosta. Jello faz parte do segundo tipo. Não sei quantos álbuns ele tem, mas, baseado em um veterano radialista de Vancouver a quem ajudei a remover 40 mil LPs, eu me arriscaria dizer que Jello tem uns 20 mil discos".

Não dá pra papear com um ícone punk sem falar de outros protagonistas. Mencionei que, em 1999, hospedei Mykel Board, célebre colunista da MaximumRockandRoll, e que o mesmo me disse que só havia duas pessoas em toda a cena punk pelas quais ele colocaria a mão no fogo. Uma delas era Tim Yohannan, fundador da própria MRR, falecido em 1998.

"Tim era uma grande figura. Você debatia com ele por 4 ou 5 horas sobre punk e política, e, no final da conversa, via que ele não tinha mudado uma vírgula em sua forma de pensar. Era muito teimoso e idealista. Mas o papo terminava e continuávamos amigos. Ian MacKaye também é muito íntegro. Mantém os mesmos princípios após todos esses anos. Mas quem é a outra pessoa que ele [Mykel Board] disse que não se venderia?".

Respondi que era G.G Allin.

"Ah, não tenho muito respeito pelo G.G Allin. O cara nunca escreveu uma música que preste. Era basicamente um encrenqueiro". Comentei que, mesmo assim, G.G deixou sua marca. Joey concordou: "Sim, deixou uma marca. E também não quero falar mal do cara. Ele nem está mais entre nós. Ah, deixa isso pra lá. Um brinde a ele!".

Erguemos as taças e brindamos G.G Allin.

por Eduado Abreu

Caixa Preta

Sepultura, + 1 entrevista

(NOTA: Uma coisa tem que se admitir: os caras são persistentes!) Enquanto era embalado no colo da mamãe, o Sepultura lançava o álbum “Arise”, que consolidaria de vez a carreira internacional da banda. Mas na próxima sexta, quando o grupo iniciar uma nova turnê pela Europa, na Alemanha, Eloy Casagrande estará lá no fundo, espancando a bateria como faz desde os sete anos. Hoje com 20, o batera prodígio foi convocado para substituir Jean Dolabella, que teve que optar pela proximidade da família à correria das longas turnês de uma banda estabelecida no mercado internacional.

Eloy leva bateria a sério desde os 13 anos, e ganhou notoriedade no grupo de apoio de Andre Matos, além de ter entrado recentemente para o Gloria, com quem se apresentou no Rock In Rio. Quem já o viu tocando sabe que o rapaz é um verdadeiro animal das baquetas. Com uma pegada pesada e agressiva, cai certinho no Sepultura. O site Rock Em Geral, de Marcos Bragatto, conversou rapidamente com ele para saber como aconteceu esse salto na carreira, e também com o guitarrista Andreas Kisser, que fala da saída de Jean e da escolha de Eloy. Primeiro os mais velhos:

Rock em Geral: A saída do Jean pegou o público de surpresa, já que ele parecia bem integrado à banda, depois da gravação desse novo álbum e da turnê. Qual foi o motivo da saída dele? Partiu de quem essa decisão?

Andreas Kisser: Ele estava bem integrado, sim, mas a demanda de shows e longas turnês foi muito para ele. Ele e a família não se adaptaram ao ritmo, e ele nao aguentou, sofria muita pressão de casa e não conseguia mais se concentrar nos shows e na vida profissional. Ele resolveu sair, até mudamos a agenda para o ano de 2011, com mais folgas e tempo para vir ao Brasil, mas isso não mudou a decisão dele. É uma pena que ele tenha saído no meio do ciclo de um álbum, deixou o trabalho incompleto, mas respeito a decisão dele. Desejo muita sorte, ele foi muito importante nestes anos de Sepultura, mas infelizmente o ritmo da banda foi demais para ele.

REG: A saída do Jean tem a ver com a contusão que ele sofreu na turnê europeia?

Andreas: Não tem nada a ver com a contusão, aquilo foi um acidente de percurso e ele se recuperou rápido para que a gente pudesse terminar a turnê na Europa.

REG: Na ocasião, o Jean foi substituído pelo baterista do Torture Squad, Amílcar Christófaro. Vocês cogitaram ele para ser integrante permanente?

Andreas: Não, o Amílcar é baterista do Torture Squad. Aliás, é um dos membros principais da banda, e ele faz isso com muita energia e paixão. Nós tivemos sorte de ele estar na Europa quando o acidente com o Jean aconteceu, e ele fez um trabalho magnífico, poucos músicos teriam a capacidade de pegar um set de musicas em tão pouco tempo. A gente agradece muito o “input” dele, foi fundamental para que a gente nao cancelasse alguns shows na Europa.

REG: Como vocês optaram por chamar o Eloy Casagrande? Vocês fizeram testes com outros bateristas?

Andreas: Sim, fizemos testes e tínhamos algumas opções fora do Brasil também, mas o Eloy mostrou um talento incrível. Apesar da idade ele tem experiência internacional com o Andre Matos, tem a sua própria estrutura, já tem patrocínios de várias marcas e conhece muito o material do Sepultura. Ele tem um estilo explosivo e muita técnica, tocou o material antigo da banda como se estivesse com a gente desde o início. Acho que o Sepultura mantém a tradição de ter uns “monstros” na bateria, mais um “monstro” brasileiro que a gente mostra para o mundo.

REG: Incomoda o fato de o Eloy ter tocado no Gloria, que não é, digamos, uma banda muito querida pelos fãs do Sepultura?

Andreas: Não incomoda em nada, ele já fez parte de algumas outras bandas e tenho certeza que a experiência dele no Gloria foi muito positiva, isso mostra que ele é capaz de tocar qualquer estilo com propriedade.

REG: O Eloy é mais novo que o tempo de existência do Sepultura. Vê alguma dificuldade quanto à diferença de idades entre ele e os demais integrantes?

Andreas: Isso não tem nada a ver. Como disse, apesar da idade, ele é muito experiente. Essa coisa de idade é muito relativa, para mim nao diz muita coisa.

REG: Como você recebeu o convite para entrar no Sepultura?

Eloy Casagrande: Faz um mês mais ou menos que apareceu essa notícia. Quem me ligou foi a Monica Cavalera, que é a empresaria da banda. Ela falou que tinha interesse em me chamar para a banda. Foi uma surpresa realmente, eu não esperava, foi um choque. Não é todo dia que você recebe um telefonema para entrar para o Sepultura. É uma honra receber um convite desses.

REG: Foi feito um teste?

Eloy: A gente marcou um dia para tocar algumas músicas, para ver como a banda sentia, se encaixava. Fizemos um ensaio, eu tirei umas músicas do repertório dessa última turnê e tocamos para ver o que acontecia. E rolou.

REG: Foi difícil aprender a tocar esse repertório?

Eloy: Desde moleque eu ouço falar do Sepultura, já conhecia algumas coisas. Toda vez que saía um disco eu pegava para dar uma escutada. Não tem como não conhecer o Sepultura. Eu tive umas duas semanas para aprender as músicas, algumas eu até já sabia, foi um esquema rápido.

REG: Quando vai ser a sua estreia?

Eloy: Vai ser no dia 25, sexta agora, na Alemanha. Vamos vai fazer uma turnê de 23 shows em 25 dias. Viajamos nessa quarta.

REG: E qual é a expectativa?

Eloy: Eu tô ansioso. O Sepultura tem muitos fãs espalhados pelo mundo, e recebemos muitas mensagens de muita gente, de várias partes, isso é legal pra caramba. Acho que vai ser bom, nós ensaiamos bastante. Vai ser do caralho!

REG: Desde quando você toca bateria?

Eloy: Eu comecei com sete, mas a sério mesmo foi com uns 10, 12 anos. Porque quando você é criança não quer saber de estudar nada. Eu comecei as estudar de verdade quando tinha 12 anos.

REG: Como é entrar para uma banda que tem mais tempo de vida do que você?

Eloy: Ah, é estranho. Quando eu tava nascendo, eles lançaram o “Arise”. Eu com três meses e eles lançando o “Arise”. Chega a dar medo…

por Marcos Bragatto

reg

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

# 206 - 19/11/2011


O diabo é o pai do rock”, já dizia Raul Seixas. Do samba e do jazz também, pelo menos de acordo com o Satanique Samba Trio, combo endiabrado de Brasília. Além deles, o capeta deu as cartas na abertura do programa de rock de sábado, com um Bloco do ouvinte calcado no Black metal: Dackson “deathrow”, criatura das trevas que vaga pelas noites de Aracaju promovendo o caos e a discórdia, nos forneceu uma pequena amostra deste verdadeiro rito profano travestido de musica com Sarcófago, clássica grupo brasileiro pioneiro do estilo, e mais duas bandas da Finlândia: Barathrum e Thy Serpent. Isto me fez lembrar uma observação pertinente feita por Pedro De Luna quando de sua visita aos estúdios da Aperipê FM para ser entrevistado por este que vos tecla: o programa de rock não é nem um pouco “radiofônico”. Não mesmo ...

Depois do Drop Loaded, o rock esporrento de Goiânia foi interrompido por uma boa causa: Isabela Raposo, nossa anja da guarda, fez questão de entrar no ar Ao vivo, driblando uma série de limitações técnicas, direto de São Carlos, São Paulo, para entrevistar Julico e Perninha do The Baggios, que por lá se apresentavam. Foi ótimo. Semana que vem eu toco de novo os goianos, na íntegra. Na sequencia, gravações de bandas mod* lançadas pela legendária gravadora Decca. A Decca é mais conhecida por contratar artistas de jazz e musica clássica, como Luciano Pavarotti, Joan Sutherland, Renata Tebaldi, Renée Fleming, Cecilia Bartoli, Juan Diego Flórez, Andrea Bocelli e Sir Georg Solti, mas ficou célebre mesmo por ter recusado, no início de carreira, ninguém menos que os Beatles! Redimiu-se pouco tempo depois ao assinar com os Rolling Stones, que lançaram por lá todos os seus discos entre 1963 e 1970, com clássicos do porte de “(I can´t get no) satisfaction”.

Temos um novo quadro: “Vale a pena ouvir de novo”, onde tocamos mais uma vez alguns dos lançamentos recentes que valem a pena serem ouvidos de novo. Nesta edição, Karina Buhr e Lou Reed + Metallica. No bloco new wave que veio a seguir, Talking Heads, que dispensa maiores apresentações, e Bow Wow Wow, banda formada em 1980 pelo adorável picareta (já falecido) Malcon McLaren com ex-integrantes do Adam and the Ants. A musica que tocamos, "C30 C60 C90 go", foi seu primeiro single, que a gravadora EMI se recusou a promover alegando que ele promovia as gravações caseiras. Depois do Devo, que também dispensa apresentações, o Trio, grupo alemão mais conhecido por seu hit “da da da”.

Fechando a noite, Penny Mocks, banda sergipana que faz um som bastante original, com generosas doses de prog metal mas sem se apegar aos cânones do gênero, e musica instrumental com os baianos do Retrofoguetes e seu premiado arranjo para “maldito mambo!”, do segundo disco, “cha cha cha”; os gaúchos da Pata de Elefante com uma faixa de seu segundo disco, “Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha”; e os conterrâneos do Ferraro Trio, com a brilhante cover de “Bad”, de Michael Jackson, a novata Casa Forte, que vai tocar na próxima sexta, no Capitão Cook, com a Penny Mocks, e a saudosa Perdeu a Língua, que deveria voltar!

Foi isso. Sábado que vem tem mais.

Tchau.

A.

# # #

* Os jovens do reino unido se preocupavam em associar suas preferências musicais ao modo de se vestir, dividindo-os em tribos urbanas rivais que se odiavam. O mais forte expoente entre todos esses grupos foi apelidado pela imprensa local como Moderns, ou simplesmente Mods. Para se compreender universalmente o surgimento do movimento Mod, é preciso entender várias das transformações ocorridas no início do século XX.

Artigo por Hígor Coutinho. Hígor é produtor do programa Espírito da Música Rádio Universitária - Goiânia (GO) e consome mais música que a maioria dos humanos normais.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2009/04/were_the_mod_o_movimento_mod.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29#ixzz1TuVviOz4

O século 20, apelidado pelo pensador alexandrino Eric Hobsbawm como a Era dos Extremos, entre guerras colossais e avanços científicos benéficos e ao mesmo tempo catastróficos, reservou um lugar especialíssimo para a juventude.

Pela primeira vez na história, uma fatia da população mundial se fazia diferenciar não pelas características econômicas, sociais, geográficas, raciais ou políticas, mas sim pela faixa etária. A partir da segunda metade do século, impulsionada por uma novíssima forma de música e comportamento, a juventude tomou o poder!!

Como a História gosta (e precisa) de nomes e datas, quem inaugurou oficialmente essa nova era, em 12 de abril de 1954, foi Bill Halley e seus Cometas, com “Rock around the clock”, música que, posteriormente associada ao filme Blackboard jungle (lançado no Brasil como Sementes da violência), chocou violentamente a conservadora, religiosa e ainda muito racista, sociedade estadunidense.

A industria fonográfica de então, numa tentativa de embranquecer o tal ritmo negro, vê no garoto Elvis Presley sua mais viável oportunidade. Mas, apesar do sucesso branco de Elvis (ou talvez impulsionados por ele), novos meteoros negros riscavam o céu de tio Sam: Little Richards, Chuck Berry, e até James Brown, entre tantos outros, galgavam lugares respeitáveis nas paradas de sucesso.

Contudo, com a ida de Elvis para o exército e a conseqüente “saturação” desse novo gênero que já não dava sinais de longevidade, o rock viveu um grande hiato entre 1959 e 1963. Os grandes ídolos de outrora agora enveredavam pelo caminho mais lucrativo da country music e das baladas açucaradas. A morte do rock era anunciada pela primeira vez.

Se nos EUA o rock havia morrido, o velho mundo, representado pela austera sociedade inglesa, indicava que seria o berço de seu glorioso renascimento.

God Bless The United Kingdom!

Não se sabe ao certo o porquê, mas é certo que os jovens do reino unido se preocupavam em associar suas preferências musicais ao modo de se vestir mais do que em qualquer outra parte do planeta, e isso, somado a uma série de fatores sociais, os dividiu em tribos urbanas rivais que se odiavam.

O mais forte expoente dentre todos esses grupos foi apelidado pela imprensa local como Moderns, ou simplesmente Mods. Para se compreender universalmente o surgimento do movimento Mod, é preciso entender várias das transformações ocorridas no início do século XX.

Less Is More!

O Modernismo, desencadeado por nomes como Pablo Picasso e sua tela Les Demoiselles D’Avignon tida como a inauguração simultânea do cubismo e da arte moderna, influenciado pelas construções do arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright e pelo movimento Art Nouveau, pode ser considerado como ponto de partida do que viria a ser conhecido, mais tarde, como movimento Mod.

A abstração, uma das principais características da arte do século XX, somada a idéia de simplificação formal (‘Less Is More’), moldaram no inconsciente artístico de então a negação do realismo obrigatório a que estavam atreladas todas as escolas anteriores, criando espaços para as mais subjetivas invenções.

Dentro desse contexto, foi declarado o Manifesto Futurista, por Marinetti, que conclamava a uma arte mais móvel, agressiva e urbana; “a beleza da velocidade”.

No pós-guerra, os ideais modernos ganharam muita força, a cultura do jazz fervilhava ao som das big bands, os anos quarenta rebolavam as notas do swing e desfilavam as vistosas ‘zoot suits’, ternos folgados que permitiam grande liberdade de movimentos.

Porém, com esse sopro de mudanças o jazz moderno ganhava terreno, com Miles Davis, Gil Evans e tantos outros, e isso acabou significando o rompimento com a tradição ‘hot’ entretenedora do jazz, acompanhado por uma mudança de visual; ternos mais sóbrios substituíram as largas ‘zoot suits’.

O bebop era bastante consumido na Itália, e o design de moda se inspirava diretamente no visual dos músicos. Surgira ainda a necessidade da criação de um meio de transporte que acompanhasse todas essas mudanças, comportamentais e estéticas; Apareciam as primeiras ‘Scooters’, motonetas produzidas principalmente pelas companhias Piaggio-Vespa e Lambretta.

Nos últimos suspiros da década de 50, os jovens ingleses já absorviam todo esse universo comportamental: eram consumidores ávidos do ‘modern jazz’ estadunidense (além do ska, soul, rocksteady etc.) e se vestiam como seus músicos (conseguiam seus bem cortados ternos, ocasionalmente, nas lixeiras da famosa Carnaby street).

Adoravam filmes Nouvelle Vague (New Wave), pilotavam ‘scooters’ italianas e cortavam os cabelos ao estilo francês. Incrivelmente tudo sustentado com o salário de office-boy!

Eram, em sua maioria, membros da juventude judaica que habitava os bairros da classe média baixa londrina, onde conviviam com os recém chegados imigrantes jamaicanos que ajudavam a lotar os clubes de bebop e os coffee-bars. Não tardou para a imprensa rotulá-los como ‘Moderns’. A partir daí, a oralidade fez o seu papel e o neologismo ‘Mod’ se popularizou.

Aliás o termo ‘Mod’ apareceu pela primeira vez no ensaio Today there are no gentlemen, em 1962 num diário londrino. O livro (e depois filme) Absolute beginners de Colin Maclness, retrata bem essa fase de explosão do movimento, através do estereotípico personagem The Dean.

Complementando o ideário do ‘Less is More’, o fardamento Mod cultuava as camisas Fred Perry, botas Clark Desert, calças Levi’s, além das famosas camisetas com o símbolo da Royal Air Force (círculos concêntricos, vermelhos, brancos e azuis), conseguidas através das novíssimas técnicas de serigrafia.

E para completar o uniforme modelo, era preciso ostentar uma das famosas parkas militares, que nos fins dos anos 50 eram usadas somente para proteger as roupas caras da poeira e chuva. Porém, rapidamente este ítem se transformou em adereço obrigatório.

A trilha sonora oficial de então, era a música soul de selos estadunidenses como a famosa Motown, a Tamla, ou ainda a Stax. A combinação de elementos do soul americano com as melodias calcadas na guitarra rock das redondezas definiria a estética sonora predominante nesse período. The Who, Small Face, Kinks, além de muitos outros nomes Europa afora, abraçaram com potência a nova onda.

Estamos em 1964!

Mas os Mods não estavam sozinhos, os Rockers (seus arquiinimigos) e os Teddy Boys (primeiros jovens trabalhadores ingleses a se vestirem como aristocratas) estavam a espreita! Vários dos encontros entre gangues rivais acabavam em pancadaria generalizada! Tudo isso potencializado a mil, pelo consumo demasiado de anfetaminas (adotada como droga oficial do movimento).

O antagonismo entre Mods e Rockers era óbvio: os Rockers eram o oposto frontal daquilo que era cultuado pelos modernos da época; adoravam jaquetas de couro preto adornadas com broches e correntes, ostentavam vistosos topetes, se devotavam ao rock cinquentista dos EUA (considerado ultrapassado pelos nossos amigos) e seguiam o espírito de liberdade do motoqueiro norte-americano, desprezando as benesses do trabalho duro.

A radicalização histórica dessas diferenças ocorreu no dia 18 de maio de 64, no bairro londrino de Brighton, quando centenas de Mods e Rockers se enfrentaram com selvageria pelas suas ruas e praias. Este evento foi muito bem retratado no filme Quadrophenia de Franc Roddam.

Mod de dizer…

Apesar da proximidade do movimento Mod com o universo negro, (dividiam os mesmos bairros e até então compartilhavam muitas preferências musicais), o aparecimento do reggae e seus lamentos “melanínicos” de retorno à África e exaltação à negritude, fizeram com que essa identificação diminuísse gradualmente, já que os jovens britânicos (por mais boa vontade que tivessem) não conseguiam se ver em tais manifestos musicais.

Assim, perdendo seus principais aliados, e concorrendo com o psicodelismo, a nova linguagem oficial do florescente movimento Hippie, o movimento Mod degringolou-se, e os poucos resistentes foram rebatizados como Hard-Mods, e depois Skinheads (não confundir com movimentos neonazistas que se apropriaram, posteriormente, da alcunha).

O movimento Mod estava enterrado!

Nos anos 70 houve um revival na Inglaterra (logicamente não com a mesma intensidade dos “sixties”), capitaneado por bandas como a legendária The Jam de Paul Weller, ou ainda The Lambrettas, Vapors e Purple Hearts, lançadas por pequenos selos como Castle, Detours (nome da banda de Pete Towshend, antes de ser batizada como The Who), Big Beat e One Way Records.

No Brasil o movimento teve poucos ecos, mas podemos citar – ainda nos anos 60 – a banda Som Beat, que chegou a gravar “My generation” do Who. Outros possíveis pontos de contato foram o “pequeno príncipe” Ronnie Von e a banda The Beatniks.

Porém, o maior representante Mod nacional, despontou mesmo foi na década de 80: a banda paulistana Ira!, que em seu disco de estréia Mudança de Comportamento de 1985, presenteou os brasileiros com o hino Mod tupiniquim “Ninguém entende um mod”.

Nos anos 90 e 00 também temos representantes fortes, como os curitibanos do Relespública, Faichecleres e Tarja Preta, os paulistanos The Charts e Momento 68 (este menos Mod e mais psicodélico), os sul-riograndenses Plato Dvorak (das bandas Père Lachaise e Locecraft) e Cachorro Grande, além do também gaúcho Júpiter Maçã (A Sétima Efervescência), que apesar de afundado na psicodelia mantém certas características Mod.

# # #

A banda ‘Satanique Samba Trio’ lançou o segundo disco da trilogia ‘Bad Trip Simulator’, com o inusitado título de volume #1. Isto mesmo... O segundo volume dessa trilogia não segue a ordem numérica, uma vez que a volume #2 havia sido foi lançado antes que o volume #1, no ano passado. Numa banda com esse nome, a ordem natural não passa de uma convenção ultrapassada.

Como sempre, as músicas do ‘Satanique Samba Trio’ ainda têm títulos sugestivos como ‘Splatter gore finesse’, ‘We have obitum’, ‘Afro-sinistro’ e ‘Piece for throat clearing and some latino drum (peça para pigarro e conga)’. A canção ‘Banzo bonanza’ pode-se dizer que é o mais próximo que a banda pode chegar da música de fácil assimilação, nesse caso um chorinho.

Nos shows, a estranheza continua, assim como também o mau humor característico de Munha, que não permite nenhum tipo de demonstração de alegria durante os espetáculos, nem mesmo durante essa entrevista.

Esse disco – ‘Bad Trip Simulator #1’ - foi lançado como parte de uma trilogia?

Sim, é a segunda parte da trilogia que será finalizada pelo 'Bad Trip Simulator #3', a ser lançado ano que vem ou o mais rápido possível.

Porque é que a numeração não segue uma ordem natural?

Porque deveria?

Mas porque o ‘Bad Trip Simulator #2’ veio antes do ‘Bad Trip Simulator #1’?

Se estamos tentando perverter as coisas, que comecemos pelas fáceis. O que esperariam da gente, de qualquer maneira?

Podemos esperar a conclusão da suíte ‘Badtriptronics’?

Não se trata exatamente de uma suíte, mas se vamos mesmo usar termos técnicos da música erudita, eu prefiro chamar os ‘Badtriptronics’ de "bagatelas", músicas curtas, informais e despretensiosas. No nosso caso não tão despretensiosas assim, obviamente. Eu gostaria, inclusive, de aproveitar esta oportunidade para recomendar as seis bagatelas de Gyorgy Ligeti a todos os maconheiros que estiverem lendo esta entrevista.

Como foram as gravações desse disco? Participações especiais de alguém? Ou você gravaram os três discos juntos?

Gravações turbulentas, como de costume. Acho que é o preço que pagamos por tocar em uma banda chamada ‘Satanique Samba Trio’. E é bem estranho você perguntar sobre as participações especiais, por que acabei de comentar com um amigo meu que os músicos convidados ajudaram a dissipar o clima pesado que eventualmente tomou conta do estúdio. Se não fosse a influência positiva desta juventude de boa índole, algum membro mais frouxo da banda provavelmente teria desistido antes de finalizarmos a porra toda. Dando nome aos bois, eu diria que as participações mais significativas foram do DJ Cochlar e Ivan Bicudo nos teclados, Pedro Vasconcelos no cavaco de ‘Banzo bonanza’, Eduardo Santana e Marcelo Vargues nos trompetes e Flávio Rubens em uma caralhada de instrumentos. Não obstante, o disco foi um parto. Estou certo de que o próximo capítulo da trilogia vai ser também. Não é fácil ser babaca.

Vocês fizeram o lançamento do disco no Sesc em São Paulo... Como foi a recepção na capital paulista?

A mesma de sempre: ninguém sabe quando aplaudir, alguns riem, outros vão embora, poucos realmente se interessam... Mas os shows estão sempre cheios e vendemos bem. Isso deve significar algo. Só não sei exatamente o quê...

Quando é que vocês vão tocar em trio elétrico novamente? Como é que foi essa experiência? Como as pessoas reagiram no dia?

Creio que voltaremos às ruas com o ‘Satanique Samba Trio’ elétrico em 2012. Queremos repetir a dose, já que fomos surpreendemente bem recebidos de uma forma geral, principalmente em frente a igrejas, templos evangélicos e escolas primárias. Sinto que a conclusão deste estudo antropológico é algo que devemos à comunidade.

Só fiquei curioso com o significado da canção ‘E.F.M-M in concert’?

E.F.M-M é a sigla oficial para "Estrada de Ferro Madeira-Mamoré". Os mais superticiosos a conhecem como "A Ferrovia do Diabo" e os mais estudiosos a conhecem como uma tentativa falida de ligação entre duas áreas do território de Rondônia durante o ciclo da borracha. Milhares de trabalhadores morreram durante sua construção e ela nunca chegou a funcionar direito. É um caso fascinante de empreeendedorismo estabanado, morte e fracasso. Me espanta que um tema tão fértil em tragédia e drama tenha sido praticamente ignorado pelos cantores e cantoras ecléticos de nosso país.

Fonte: Eu ovo

2011 Bad Trip Simulator #1

1. Banzo bonanza
2. Badtriptronics #12
3. Vermizelas
4. E.F.M-M in concert
5. Dizem morte
6. Badtriptronics #10
7. Afro-sinistro
8. Piece for throat clearing and some latino drum (peça para pigarro e conga)
9. Splatter gore finesse
10. Badtriptronics #11
11. Diabolyn (original remix)
12. We have obitum
13. Badtriptronics #6
14. Badtriptronics #2
15.

Abaixar

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Sarcófago - The Black vomit (versão laws of scourge)
Barathrun - Dark sorceress (winter siege)
Thy Serpent - Calm Blinking
- por Dackson "Deathrow"

Satanique Samba Trio - Splatter gore finesse

Humanish - the one
Malditas ovelhas - Cidade alerta
Axial - Lele
( Drop loaded )

Entrevista Ao Vivo via telefone com The Baggios
Direto de São Carlos, São Paulo
Por Isabela Raposo

The Quick - Bert´s Apple crumble
Small Faces - Grow your own
Amen Corner - Expressway to your heart
Steve Aldo - Baby what you want me to do
The Habits - Elbow Baby
The Wards of court - How could you say one thing

Karina Buhr - Cara palavra
Metallica & Lou Reed - iced Honey

Talking Heads - Once in a lifetime
Bow Wow Wow - C30 C60 C90 go
Devo - Whip it!
Trio - Broken Hearts for you and me

Penny Mocks - Pirambulança

Retrofoguetes - Maldito mambo!
Pata de Elefante - Até mais ver!
Ferraro Trio - Bad
Casa Forte - Funk Espacial
Perdeu a Língua –
Numa relax,
numa tranquila,
numa boa
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