quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um estranho no ninho

II Brutal Zone no Espaço Cultiva - por Rian Santos

riansantos@jornaldodiase.com.br

Troquei meus ouvidos por uma matéria. A culpa é de Fúria, o único intelectual que eu respeito. O rapaz se envolveu na produção do II Brutal Zone – que reúne meia dúzia de bandas do mal, amanhã à noite, no Espaço Cultiva – e me convenceu da importância de dedicar alguma atenção ao segmento. Os argumentos utilizados foram poderosos. O público local de música extrema vem crescendo de maneira espantosa, por conta própria, à revelia dos meios de comunicação e de qualquer atenção do poder público. Fúria não disse, mas eu deduzi. Metaleiro é gente que faz!

Poucas vezes fiquei tão à vontade durante o ensaio de uma banda. Ninguém sabia quem eu era, ou o que fazia no estúdio. Ninguém estava ligando pra isso. O negócio dos caras da Singn of Hate é fazer barulho, e eles se dedicam com uma devoção monstruosa a isso.

Não se enganem. Devoção, aqui, é a palavra. A banda respeita todos os dogmas da música extrema. Volume, velocidade, ruído. Não consegui entender uma única palavra berrada pelo vocalista Marcio Túlio, mas a julgar pela postura beligerante do negão e pela impostação gutural de sua voz, desconfio que a filosofia da banda tem mais afinidade com os propósitos escuros do coisa ruim do que com os sentimentos etéreos e harmoniosos da maioria das religiões.

Claro que eu não estou municiado, de nenhuma forma, para realizar uma avaliação crítica do que presenciei. Faltam-me parâmetros. Deu pra perceber, no entanto, que os caras são músicos competentes, que encaram o ofício com a paixão necessária para emprestar verdade e personalidade ao que fazem.

Talvez o release da banda seja mais esclarecedor. Segundo ele, a Singn of Hate se dedica a espalhar o caos profano em forma de metal da morte. A banda acumula mais de dez anos de atividade, durante o qual lançou alguns discos, entre Demos, Promos e EPs. Segundo pessoas mais qualificadas para emitir opinião a esse respeito do que este escriba, a Singn of Hate é uma das bandas locais mais importantes e queridas do meio.

Como o texto deixa claro, essa não é minha praia. No final das contas, contudo, a experiência se revelou enriquecedora. Do meio pro fim do ensaio, praticamente surdo, quase acordo meus demônios e começar a bater cabeça como faria no fim do mundo.

II Brutal Zone – Com as bandas Andralls (SP), Goreslave (AL), Sign of Hate, Inrisorio e MDV (AL)

Local: Espaço Cultiva
Data: 01 de outubro
Hora: 21 horas

Ainda "À Prova de Morte"


Death Proof ***** - Realização: Quentin Tarantino. Elenco: Kurt Russell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Jordan Ladd, Rose McGowan, Sydney Poitier, Tracie Thoms, Mary Elizabeth Winstead, Zoë Bell, Michael Parks, James Parks, Quentin Tarantino, Monica Staggs. Nacionalidade: EUA, 2007.

A cicatriz que marca a cara de Stuntman Mike (Kurt Russell) é o que ele tem de menos inquietante. Dublê de filmes e séries de televisão dos anos 70, ele distrai-se a utilizar o seu carro Chevy Nova “à prova de morte” para matar belas jovens. “Death Proof” é um slasher movie misturado com o típico filme de perseguições. Uma homenagem, tal como “Kill Bill” o tinha sido para os filmes de kung-fu.

Aqui existem mulheres bonitas (uma especial nota para quem tenha um foot fetish) e carros cheios de estilo. As referências aos anos 70 são inúmeras, quer as estéticas, como a fotografia de Brigitte Bardot cuja pose é emulada por Jungle Julia, quer as cinematográficas, como o evidente “Vanishing Point” (1971). Mas, ao mesmo tempo, Tarantino faz questão de se descolar de um tempo fixo, e dá-nos telefones celulares e carros figurantes totalmente atuais.

A estrutura do filme divide-se em duas partes, separadas cronologicamente por alguns meses e por dois grupos diferentes de jovens mulheres. O primeiro é composto por Jungle Julia (Sydney Poitier, filha do actor Sidney Poitier), Arlene (Vanessa Ferlito), Shanna (Jordan Ladd, filha da Charlie’s Angel Cheryl Ladd) e Lanna Frank (Monica Staggs), jovens arrogantes com vontade de beber uns copos, fumar alguma erva e divertirem-se. Do segundo grupo fazem parte Kim (Tracie Thoms), Abernathy (Rosario Dawson), Lee (Mary Elizabeth Winstead) e Zoë (Zoë Bell, a dupla de The Bride em “Kill Bill”, aqui interpretando-se a si mesma), mulheres temperamentais decididas a experimentar as potencialidades de um Dodge Challenger R/T de 1970, o mesmo modelo usado em “Vanishing Point”.

Ainda à semelhança de “Kill Bill”, “Death Proof” é também um filme sobre a vingança. Mas em contraste com exploração sexual típica deste género de filmes, Tarantino dá uma unusual força às mulheres, estabelecendo um ritmo crescente, que vai desde os intensos diálogos (tarantinescos) da primeira parte à intensa acção física da parte final. A violência e o gore assumem aqui um deliberado estilo anos 70, com fotografia granulada, cores gastas, película com riscos, mudanças de bobine e cortes propositados na montagem.

Tarantino rodeia-se de elementos familiares, desde o toque do celular, "Twisted Nerve", de Bernard Herrmann, que acompanhou a arrepiante caminhada de Daryl Hannah em “Kill Bill Vol.1”, até ao carro amarelo com barras pretas, “vestido” exatamente igual a Uma Thurman. Também de “Kill Bill Vol.1” vêm os agentes McGraw, pai e filho interpretados, respectivamente, por Michael e James Parks. As paredes estão repletas de posters, e apetece parar cada frame e analisar com atenção todos os detalhes, sabendo de antemão que todos eles foram pensados com extrema minúcia.

E para quem se canse do carácter ‘self-conscious’ das excessivas referências, ou ache insuficiente a moralidade subjacente do “cá se fazem cá se pagam”, basta deixar-se inebriar pelo sentimento de perigo real providenciado pela incrível perseguição final, onde o CGI não tem lugar e onde Zoë Bell é simplesmente impressionante.

Uma nota ainda para a sempre boa selecção de banda sonora, de onde destaco JEEPSTER dos T-Rex, HOLD TIGHT dos Dave Dee Dozy Beaky Mick and Titch e, para terminar, a viciante CHICK HABIT de April March (versão da música de Serge Gainsbourg “Laisser Tomber les Filles” popularizada por France Gall).

por Rita Almeida

CINERAMA

* * *

É um povo extremamente verborrágico, este que habita os filmes de Quentin Tarantino. A depender de seu estágio mental inicial, se você está pouco disposto a prestar atenção, por exemplo, chega a cansar. Mas se prestar atenção e começar a se deixar envolver pelo clima “nonsense” da coisa, invariavelmente será fisgado. “A Prova de morte” não foge à regra: começa com um longo diálogo entre 4 amigas num carro a caminho de um bar. No bar, mais diálogos, mas aí já notamos que elas estão sendo seguidas, e o “perseguidor” é ninguém menos que Kurt Russel, que também entra no bar e protagoniza mais alguns diálogos impagáveis, especialmente aquele com o qual ele consegue convencer a personagem de Vanessa Ferlito a proporcionar-lhe uma dança sensual exclusiva. E que dança, senhoras e senhores ! Certamente um dos pontos altos do filme e que estava ausente do corte inicial quando em conjunto com “Planeta Terror”, de Robert Rodriguez, para compor o combo “Grindhouse”. “Stuntman” Mike, o personagem de Kurt Russel, consegue convencer uma das freqüentadoras do bar a aceitar uma carona e aí suas reais intenções, antes apenas sugeridas, vêm à tona: “Stuntman” (Dublê) usa um carro adaptado, “à prova de morte”, para matar suas vítimas - ao que tudo indica, sempre garotas gostosas, bem resolvidas e de personalidade forte, daquele tipo que costuma assustar homens inseguros. Depois de matar a moça de forma bem criativa, numa sequencia de dar inveja aos melhores “slash movies”, Mike parte para o ataque às 4 garotas do bar, o que rende uma das melhores cenas de acidente automobilística que meus olhos já tiveram o prazer sádico de presenciar, tudo mostrado nos mais diversos ângulos e em câmera lenta, com direita a pedaços que compunham os outrora deliciosos corpos das beldades se espatifando no chão entre cacos de vidro e metal contorcido. Absolutamente memorável.

Corta! Segunda parte, lado B. Mike sobreviveu (lembre-se que seu carro é “a prova de morte”) e já está na caça de novas vítimas. Mas desta vez as meninas (ou pelo menos 3 delas) não são tão inofensivas quanto ele imaginava, o que gera um final inesperado e caricato ao extremo, capaz de arrancar gargalhadas até mesmo do mais carrancudo dos cinéfilos apreciadores de Jean Luc Godard. De quebra, mais uma cena para ficar nos anais da sétima arte, a da longa perseguição final. Destaque para a presença de Zoë Bell, atriz e dublê neozelandesa que já havia trabalhado com Tarantino em Kill Bill justamente como dublê de Uma Thurman, fazendo o papel dela mesma.

“Death Proof” ganhou muito com o novo corte, e não apenas por conta da cena de “slap dance”, embora esta, por si só, já valesse uma nova “versão do diretor”, caso não tenha sido esta a intenção se por acaso o projeto “grindhouse” não houvesse fracassado. Eu tinha visto apenas a versão em conjunto com “planeta terror”, no computador, e posso atestar que vale muito a pena assitir no cinema e com os tais 17 minutos a mais, que eu diria que são indispensáveis. Vale notar que, apesar do fetiche escancarado em cada frame, Tarantino não trata suas personagens femininas de forma misógina, muito pelo contrário: elas têm personalidade, são espertas e divertidas. É o tipo de mulher que você baba e quer muito comer já no primeiro encontro, mas caso não role e não haja perspectiva de rolar, ainda assim vale a pena ter apenas como amiga.

O filme foi exibido em Aracaju na última (última mesmo*) Sessão Notívagos e vai estrear amanhã no “Cine Cult”, onde deve permanecer em exibição por 15 dias, sempre às 14:00h. Não deixe de ver.

Por falar em Sessão Notívagos, a da noite de 24 de setembro contou com as presenças da Cabedal, excelente combo “samba rock” local, e da banda Do Amor, do Rio de Janeiro. O show da Cabedal foi, como de costume, redondinho e pontuado por excelentes composições próprias complementadas por covers bem sacados. Já a Do Amor surpreendeu os incautos com uma música dançante porém permeada de experimentalismos, chegando a lembrar as bandas pós-punk nacionais dos anos 80 (do tipo Patife Band) em determinados momentos. Para dançar e para pensar, sem perder a ternura e muito menos o bom humor, jamais. Grandes músicas, como “chalé”, “Pepeu baixou em mim”, “Isto é Carimbo” e “shop Chop”, executadas com precisão por um quarteto pra lá de competente, capaz de driblar, inclusive, a única deficiência “apontável” no grupo, a falta de um bom vocalista, no sentido técnico da palavra – porque artisticamente falando eles tiram de letra, adaptando muito bem a estrutura das canções às suas vozes e revezando os vocais entre todos os componentes.

* Será? Espero que não ...

por Adelvan

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mamutes - A manada segue em frente ...


Essa vida é mesmo surpreendente, e às vezes de onde menos se espera ... Vejamos: De onde veio parar em Aracaju, uma cidade supostamente* sem a mínima tradição “roqueira”, um guitarrista como Rick Maia? Eu acompanho o pequeno porém teimoso e ativo cenário local há quase 25 anos e não lembro de tê-lo visto em nenhuma outra banda anterior aos Mamutes. Karl Di Lion e Marcos Odara eu já conheço de outras eras, de bandas como Crove Horrorshow, Plástico Lunar, Pupilas de Quartzo e Zaratustra. O baixista, Thiago, também é velho conhecido, já tocou em bandas de hardcore e tal, mas Rick Maia, sinceramente, pra mim, é uma grande surpresa.

Uma grande surpresa porque ele toca muito, e mais do que isso: tem punch, malicia ... tem o “mojo”, como diria Austin Powers. Sem querer desmerecer os demais componentes, ele é a força motriz por trás do som da Mamutes, despejando excelentes riffs que emulam o que de melhor já foi feito em termos de “classic” rock, mais precisamente aquele bom e velho hard rock setentista, perfeitamente representado pela faixa que abre o novo single da banda, “A dama de branco”. Com uma letra “sexy”, simples porém “esperta”, os caras cometeram mais uma pequena pérola para incorporar ao seu repertório, desde já destinada a se tornar um clássico cantado em uníssono nos shows. Neste single, que conta com mais duas faixas, é notória a evolução da banda em termos de cuidado com os arranjos e mesmo numa certa ousadia em experimentar novos timbres e sonoridades sem descaracterizar a proposta original. Isso se nota especialmente na faixa seguinte, “noturna”, que começa de forma tradicional mas logo engata um andamento diferente, meio marcial, para, no meio, encaixar um pequeno solo de trompete acompanhado de palmas e castanholas. Tudo isso soaria forçado e daria em nada não fosse o talento dos caras para a composição, ou seja: independente dos arranjos mais elaborados, a música é boa, e no final das contas é isso o que mais importa. Fechando o pacote, mais um petardo hard rock movido a riffs perfeitos soberbamente acompanhados pelo vocal estiloso e “empostado” de karl e a matadora cozinha de Odara e Morcego. Grande lançamento da mamutes, não deixe de ouvir.

* Há controvérsias. A Karne krua, por exemplo, é a banda punk/hardcore há mais tempo em atividade no nordeste, e temos também Snooze e Lacertae, verdadeiros ícones do rock alternativo nacional, ambas já há quase 20 anos em atividade.

por Adelvan Kenobi

Baixe AQUI.

* * *

Um rock de verdade deve causar o mesmo efeito dos cafés amargos. Quando a madrugada atropela os seus filhos insones, o hálito de cerveja e cigarro impregnando o pensamento, um riff bem executado nos ajuda a despertar e organizar as idéias. É essa energia redentora que encontramos no single que os Mamutes lançam esta semana. Hard-Rock, Proto-Punk e ecos setentistas, reconciliando os tropeços noturnos com a enfadonha claridade cotidiana.

Formado por três canções registradas de maneira cuidadosa, o single precede o primeiro disco cheio dos Mamutes, que deve ser lançado nos próximos meses. A julgar por esse pequeno apanhado de acordes, o trabalho deverá fazer justiça à energia rock and roll que eu observei em minha primeira visita ao quartel general da banda – uma espécie de alojamento coletivo, abrigo de músicos e outros malucos talentosos, estúdio, empresa e residência da turma. Convertida num palco, a sala dos caras estava entulhada de equipamento. Cases, amplificadores, cabos, pedais, pedestais e instrumentos, numa bagunça organizada para fazer a alegria de qualquer músico securento. Os Mamutes são assim.

De acordo com o guitarrista Rick Maia, que fez a gentileza de me adiantar o conteúdo do disquinho disponível no Myspace, o lançamento deve acalmar a ansiedade manifestada pelo seguidores da Mamutes. Ele explica ainda que, inicialmente, o quarteto pretendia lançar somente duas músicas. Como a composição “Noturna” foi preterida pelo júri do Festival Aperipê de Música, contudo, eles optaram por divulgar a canção por conta própria.

“Eu convido as pessoas a acessarem o nosso Myspace para conhecerem a música. Que elas façam seu próprio julgamento, comparem nossa música com as selecionadas, e deixem um comentário pra gente”.

Eles fizeram muito bem. “A dama de branco” e “Bye bye, baby” testemunham o amadurecimento da banda, que prece ter encontrado o equilíbrio necessário para acomodar os rugidos viscerais do vocalista Karl de Lyon às palhetadas que constroem as harmonias das canções. “Noturna”, no entanto, é dotada de um colorido diferente, com castanholas e um teclado cadenciado que fariam falta à unidade criativa do single. Obediente aos preceitos que orientam os caras, a composição respeita a pegada Mamutes, mas acrescenta um toque western muito oportuno ao repertório do conjunto.

Fonte: Spleen & Charutos

por Rian Santos

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Ficha técnica:

Gravado entre fevereiro e Agosto de 2010 no Caranguejo Records. Aracaju/SE/Brasil

Arte: Thiag Neuman (Cachorrão)

Técnico de gravação: Anselmo
Mixagem: Leo Airplane
Produção: Rick Maia
Arranjos: Mamutes

A Dama de Brand

Karl di Lion - voz e castanholas em noturna
Rick Maia - Guitarra, vocal e violão
Thiago Sandes - baixo
Marcos Odara - bateria e voz

Trompete em Noturna: Alexandre

1 - A Dama de Branco
(Di Lion, Maia)

2 - Noturna
(Di Lion, Maia)

3 - TE Deixando Meu Bye Bye
(Di lion, Navas)




"Alvorada", Nantes

Quem ainda não percebeu os indícios de claridade no horizonte da música sergipana possui nova oportunidade de apreciar o espetáculo esta semana. A Nantes lança o seu primeiro disco e toma parte num momento especial, em que os personagens de nosso cenário independente fazem a coisa acontecer por conta própria, sob o pretexto de apresentar as 13 canções reunidas em “Alvorada”.

O projeto é ambicioso, não foi concebido para animar multidões. A satisfação guardada nas composições de Arthur Matos é de uma natureza um pouco mais reservada, que pretende o deleite antes da alegria. Com “Alvorada”, a Nantes reivindica nosso deslumbramento.

Gosto é que nem braço – Toda manifestação artística nasce prenhe de comunicação. É na pretensão de alcançar o outro, esse ponto de interrogação monstruoso, que os poemas fogem das gavetas e pulam da página manchada para cair no coração dos leitores. O mesmo pode ser dito dos retalhos costurados pelo artesão ou dos acordes nervosos que moleques cheios de espinhas transpiram nas garagens do fim do mundo. A música só existe na cabeça das pessoas. Em território distinto, a música não passa de promessa, impulso frustrado, exercício estéril, freqüência, barulho.

Ocorre que gosto é que nem braço – tem gente que nem tem. Ao invés de empregar um esforço inútil para conciliar a sofisticação que caracteriza seu trabalho com a instabilidade do humor coletivo, os integrantes da Nantes apostaram na radicalização de suas propostas e deram corpo a esse que, provavelmente, será lembrado como um verdadeiro marco na história da música independente realizada aqui na terrinha.

Eu não conheço trabalho mais cuidadoso. “Alvorada” é rico em ambiências, linhas vocais ousadas, sonoridades pouco usuais, experimentações. Ao contrário da tara observada em produtos semelhantes, contudo, o exagero do aparato obedece exclusivamente às necessidades das canções. Ao invés do fetiche, o proveito. No lugar do excesso, a simplicidade. Dá gosto de ver músicos tão jovens esbanjando tamanha maturidade.

Curiosamente, as músicas mais econômicas foram as que funcionaram melhor comigo. A minimalista “Bem vinda chuva” – dedilhado e tempo marcado numa caixa de madeira, como uma cerâmica latejando – me ganhou pra sempre. “O céu” é outra que gruda logo na primeira audição. Mas o disco é diverso dentro de sua coesão. Não se espante ao perceber um banjo dividindo espaço com guitarras discretas. A julgar pelo resultado alcançado, Anselmo Pereira e Léo Airplaine (responsáveis pela gravação e mixagem do disco, respectivamente) tiveram um bocado de trabalho durante os seis meses gastos na confecção.

A festa de lançamento de “Alvorada” vai contar com uma galera de peso no palco do Teatro Lourival Baptista. Além do já mencionado Léo Airplane, os músicos Pedro Yuri (Elisa), Melcíades (Máquina Blues) e João Mário se juntam à banda na execução do repertório. Segundo o vocalista Arthur, “Alvorada” vai ser executado na íntegra, provando aos incrédulos que aquilo tudo que a gente escuta no disco existe de verdade.

Alvorada da nova música sergipana

por Rian Santos - riansantos@jornaldodiase.com.br

Fonte: Spleen & Charutos

Nantes realiza lançamento do álbum “Alvorada”

Local: Teatro Lourival Baptista
Data: 01 de outubro
Hora: 20 horas

terça-feira, 28 de setembro de 2010

The Baggios, uma entrevista

Por trás de um grande personagem quase sempre há uma grande tragédia. Não me refiro a tragédia banal -- dessas de programas de tv sensacionalistas. Me refiro ao sentido original da palavra de origem grega, que se refere ao conflito entre um personagem e uma figura de instância maior, como a lei, deuses e até mesmo a sociedade.

Baggio é o nome de um homem que ficou conhecido por ser ‘um andarilho que teria perdido a noção de realidade’. Uma pessoa que um dia sonhou em viver de música enfrentando todos os desafios para fazer sucesso com suas canções. Em São Cristóvão, cidade do interior de Sergipe, Baggio é um herói mítico e o The Baggios presta com seu nome homenagem ao primeiro símbolo regional conhecido por ‘enfrentar o desconhecido’ e pagar com a própria vida o preço por querer trilhar um caminho que todos dizem ‘que nunca vai dar certo’.

O The Baggios é um duo formado pelo guitarrista Júlio Andrade e pelo baterista Gabriel Carvalho. A dupla já lançou alguns singles e EPs, contudo, este ano marca o lançamento do primeiro álbum de uma trajetória que começou em 2004 trazendo na mochila como referência a sonoridade de Jimi Hendrix, Led Zeppelin e até dos ‘lunáticos’ Skip Spence e o eterno Raul Seixas.

Na entrevista abaixo, o guitarrista Júlio Andrade fala um pouco da história por trás da escolha do nome da banda, às influências e contextualiza o atual momento da carreira do The Baggios.

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1 -- Li no release de vocês que o nome de batismo, The Baggios, faz refêrencia a músico andarilho que contava história doidas aí na cidade de vocês. Como tiveram essa idéia de prestar essa homenagem a essa figura? Há alguma relação com o nome do jogador italiano que perdeu o penalti na copa de 94, quando o Brasil se sagrou tetra campeão?

Júlio Andrade: Baggio é um figura muito conhecido aqui em São Cristóvão (interior de Sergipe onde resido), como um músico – andarilho, que “pirou “ depois da sua desilusão com a música. Por ser um sujeito que marcou a cidade desde minha infância, achei uma maneira de prestar uma homenagem e dar continuidade e esse trabalho que ele tentou por muito tempo.

Junto com o jornalista Diego Oliveira, produzi em 2007 um documentário que conta toda a história dele. São mais de 40 min de registro que vai desde histórias contadas por familiares e amigos à Baggio tocando Secos e Molhados. Acho que com nese doc dá para sacar um sentido do nome da banda (assista)

2 -- Quais as referências ou influências que vocês sentem presentes na composições?

Júlio Andrade: Eu ouço muito Blues, desde do Skip James, Robert Johnson à R.L. Burnside e Junior Kimbourgh , Seasick Steve, escuto muito rockão antigo também: Hendrix, Ten Years Aftes, Cream, Zeppelin, acho que essas duas linhas de música estão muito presentes na parte instrumental das nossas composições.
Já na escrita puxo mais para o lado brasileiro de ser, Raulzito, Tim Maia, Jorgen Ben, Sergio Sampaio, são minhas referencias.

3 -- Vocês estão finalizando o primeiro disco oficial, estou certo? Como ele vai se chamar e como foi o processo deste primeiro trabalho?

Júlio Andrade: A gente vem lançando EPs e single desde 2006, mas agora resolvemos fazer algo oficial mesmo, algo com uma qualidade maior de gravação e aproveitando nosso entrosamento que está mais afiado. A principio será um disco homônimo. A gente gravou ele durante nossa turnê em São Paulo, no mês de março desse ano e começamos a mixagem em Maio, aqui em Sergipe. As músicas que compõe o Disco são de eras diferentes da banda, vão ter músicas que fiz em 2005 à música que finalizamos nesse ano.

Vão rolar uns arranjos legais de metais numa das faixas, participação de Hélio Flanders na música “Morro da saudade”, tem um bluesão que se chama “Meu eu” que está na trilha do documentário “Baggio Sedado (2007)” bem mais rústica, acho que vai ser um Disco que terá desde a nossa energia de palco, algo mais roqueiro e sujo à algumas experimentações que gravações nos possibilita.

Estamos com o disco 80% pronto e estamos estudando algumas formas de distribuição.Recentemente lançamos um single da música “O Azar me Consome”, som que estará no Disco, como aperitivo. Já dá para prever o que vem na frente.

Download do Single: http://www.mediafire.com/?l2y4nz2ynwkqyzc

4 -- Qual a relação de vocês com a música? Tem outros projetos ou a banda ainda é o único projeto?

Júlio Andrade: Eu toco com a Plástico Lunar e mais numa banda de blues que toca todas as terças num bar fixo em Aracaju. Gabriel toca com a Anéis de Vento e nós dois atuamos no coletivo local , o Virote Coletivo. Sempre estamos envolvido nos eventos da cidade, dando uma força nas divulgações e na produção de alguns eventos. Acho que estamos vivendo a música, mas ainda não vivendo de música, temos a certeza que estamos nessa onda por puro prazer, então fazemos por onde está circulando quando podemos arcar com os gastos e fazemos por onde está ajudando para ser ajudado.

5 -- E qual o atual momento da banda -- estão dedicando esforços para quais objetivos?

Júlio Andrade: Atualmente estamos numa fase muito produtiva, lançamos um single, um clipe recentemente e estamos com um disco quase finalizado e outro clipe na agulha. Acho que é o momento mais legal da banda até agora, agente tem tocado menos esse ano até porque estamos muito dedicado no disco e queremos circular mais com ele em mãos. Mas já temos músicas para nosso segundo disco, mas nem quero pensar nisso no momento. Nosso esforço é para que possamos levar nosso som para o máximo de gente possível e que um dia possamos está circulando a custo zero, e tá desfrutando do brasilzão que tem muito pra se conhecer.

6 – Poderia citar algumas novas bandas que merecem ser ‘descobertas’?

Júlio Andrade: Aqui em Sergipe tem várias legais, e atuantes na cena local, temos a Mamutes, Nantes, curto a Lacertae um duo que já toca desde da década de 90, que está voltando a se apresentar e uma das primeiras bandas que ouvi ao vivo. Mas de fora do Brasil eu tenho ouvido bastante The Black Keys, Bufallo Killers e Seasick Steve.

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Conheça mais sobre o The Baggios visitando o myspace da banda -- www.myspace.com/baggios

Fonte : Rock´n´Beats

por Christian Camilo


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

paulistas, protejam seus ouvidos ...

No último domingo eu vi um dos melhores shows de minha vida: Dinosaur jr. Ao Vivo na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia. Dá pra acreditar que eu nunca tinha ido na Concha acústica do TCA ? Encravado no Campo Grande, centro da cidade, além de amplo, espaçoso, bonito e com uma excelente estrutura, o local é lendário, um dos melhores e mais democráticos espaços culturais da região. Por lá já passou de tudo, como por exemplo um show do Sepultura em formação "clássica", com Max Cavalera, no início dos anos 90, que alguns de meus amigos Headbangers daqui que foram não cansam de lembrar. Me bati com um brother das antigas, o vocalista da banda punk baiana Injuria, por lá, mencionei que era minha primeira vez na Concha e ele já foi lembrando da primeira vez dele, em 1989, show do Cólera com o Taurus ! Por aí dá pra notar a diversidade e a importancia desses espaço para o cenário não apenas soteropolitano, mas também de todo o nordeste.

Era também a primeira vez do Cidadão Instigado, e Fernando Catatau estava emocionado por isso. Ele já tinha tocada por lá com outros músicos, como Otto, há poucos dias, mas não com a SUA banda, o Cidadão. E foi um show excelente, como não poderia deixar de ser, já que a estrutura era de primeira. Aquele mesmo desfile de pequenas pérolas psicodelicas pontuadas por uma originalíssima sonoridade influenciada pela musica REALMENTE popular brasileira dos anos 70 e 80 - sim, não há como negar, Cidadão Instigado É influenciado por aquele brega clássico (que Catatau prefere chamar de musica romantica), e é sensacional. É como se Odair José tivesse tomado um ácido e tirado uns sons com alguma banda psicodelico/progressiva virtuosa. Destaque para "Deus é uma viagem", com seu clima num "crescendo" que culmina numa espécie de louvação. Acho essa música uma obra-prima - aliás, acho o disco "Uhuu" um dos melhores (senão o melhor) do rock brasileiro dos últimos tempos. Rock mesmo, brasileiro, mas ROCK - "Viva a resistencia roqueira no Brasil", gritou Catatau numa certa altura. Excelente.

Antes do Cidadão teve A BANDA DE JOSEPH TOURTON. Legal. Bons musicos, boas intenções (musica instrumental experimental), mas falta composição. Não me ofendeu, mas também não empolgou.

Mas a gente estava lá para ver o Dinosaur jr. Vimos, e ouvimos. Ouvimos muito. Muito alto. Foram precedidos pela montagem de duas paredes de amplificadores, com a mítica marca "Marshall" reluzindo na maioria deles. Isso num pequeno intervalo pontuado pela versão reggae do Dark side of the moon cometida pelo Easy Star All-Stars nos alto-falantes e algumas entrevistas pessimamente conduzidas por um entrevistador ridiculo que parecia ter caido de para-quedas no evento nos telões. Mas quando entraram no palco, entraram "com gosto de gás", como costumamos dizer por aqui. Quer dizer, não entraram correndo, nem saudando a galera aos gritos de "Huhuu" ou coisas do tipo. Apenas entraram, ligaram seus instrumentos e começaram a triturar, sem dó nem piedade, nossos tímpanos. E nós gostamos, muito. O ritual de sado-masoquismo sonoro começou com uma faixa de "Green mind", aquela que no disco tem uma flautinha bacana criando um clima (acho que é "thumb" - perdão por não saber o nome com precisão, sou apenas um "jornalista amador"). Perfeito. Deu o tom do que seria o restante da apresentação: Displicente, porém super eficiente. Displicencia é, aliás, a marca registrada não tanto da banda em si, mas de seu líder, J. Mascis. Enquanto Lou Barlow se acabava batendo cabeça enquanto espocava as cordas de seu contra-baixo no lado direito do palco e o baterista batia sem dó nem piedade em suas peles, Mascis apenas ligava suas fender Jazzmaster no talo e nos emocionava com aquelas belas melodias saídas de sua voz preguiçosa. Barlow arriscou uns "obrigados" em bom português, Mascis falou alguns "thank you" numa vozinha afetada, em tom de brincadeira, e foi isso. A comunicação com o público foi através da música. Só clássicos, como prometido. "The Wagon", "I Feel the pain" e "over it", aquela do sensacional videoclipe deles andando de Bike e skate, foram as vencedoras na categoria "recepção entusiasmada" por parte dos presentes. De minha parte, me emocionou bastante a execução de "out there", do "Where you been", disco com o qual eu e quase todo mundo com mais de 30 aqui no Brasil foi apresentado ao som da banda, já que foi o primeiro a ser lançado em terras tupiniquins, em plena "era do grunge". Para o bis, apenas dois sons. Encerraram com o excelente cover de "just like heaven", do the cure. Aliás, nunca vi um final de show tão abrupto. Pararam de sopetão, agradeceram com um "thank you" apressado e caíram fora. Pode ter dado a impressão aos desavisados de que eles não estavam felizes por estar ali. Pode até ser que eles realmente não estivessem felizes por estar ali - o que eu acho difícil - mas não importa: Eu estava feliz, meus amigos estavam felizes e as pessoas ao nosso redor também pareciam bastante satisfeitas. Voltamos pra casa felizes e eu estou feliz até agora, digitando isso aqui pra você. Espero que você tenha ficado feliz depois de ler.

por Adelvan, uma pessoa feliz.

PS: Ah, comprei uma camiseta linda, azul, com a estampa da capa do Farm. Estou usando-a, feliz, nesse exato momento.



* * *

para quem não viu ainda:

Porque você deveria ir ver os shows do Dinosaur jr. no Brasil

Texto feito por Tiago Marditu, jornalista, músico e profundo conhecedor da obra do Dinosaur Jr ...

Qualquer roqueiro sabe, ou, ao menos, deveria saber, da importância de estar sábado no teatro da UFPE, ou no shows de São Paulo e Salvador que rolam por esses dias. “Ah, você está se referindo a edição desse ano do Festival Coquetel Molotov“, diria você, leitor antenado. Sim, mais especificamente de um show: o do Dinosaur Jr.

Mal comparando, assistir ao show do Dinosaur Jr agora é uma oportunidade imperdível para qualquer fã de rock dos anos 90, assim como assistir ao Deep Purple , na tour que passou pelo Brasil em 2003, foi imperdível para os admiradores do rock do anos 70. Só que, nesse caso em especial, a jurássica banda dos 90 (ou dos 80, já que ela foi formada em 1983 e lançaram seus três primeiros discos nos idos anos 80) voltou com sua formação original – J. Mascis, na guitarra e vocal, Lou Barlow, no baixo e vocal, e Murph na bateria – e, pasmem, vem lançando grandes discos e fazendo shows muito bem cotados por público e crítica especializada. Tente imaginar quantos outros artistas se encontram na mesma situação, obtendo resultados igualmente efetivos. Eu sei, são poucos mesmo.

Se isso ainda não te emocionou, saiba que estamos tratando, acima de tudo, de uma banda que, não só foi responsável por cunhar o rock alternativo dos anos 80/90, mas que hoje também tem a função de preencher algumas lacunas do gênero, que, saudavelmente, diga-se de passagem, incorporou novos elementos que o afastaram de suas origens básicas. O Dinosaur Jr ainda se mantém firme e forte com seu rock melódico, enérgico e barulhento, com raízes fincadas tanto no punk/hardcore oitentista, como no country rock dos primeiros discos do The Byrds e no hard rock de um James Gang. Uma banda de alma rústica, caipira por essência.

Como não se não se admirar com um grupo que teima em fazer uso ostensivo da guitarra e que ficou conhecida por causa dos solos desse instrumento. Sim, solos de guitarra, o ápice da indulgência rockeira; solos esses que aparecem aos montes em suas músicas, longos, quase intermináveis, sempre empapuçados de distorção e sujeira acima da média. Em priscas eras, isso já era uma verdadeira heresia para uma banda com passado hardcore (leiam mais sobre isso abaixo) e que estava fomentando um estilo de música que também viria a abolir firulas nas 6 guitarras e nos demais instrumentos. Hoje em dia, o grupo empunha de forma natural essa tradição que pode, e deve conviver em paralelo com as mais diversas novidades sonoras.

Difícil ao menos não respeitar a figura de J Mascis, um dos grandes guitar heroes do rock underground americano, que mostrou que garotos tímidos e estranhos também poderiam formar grandes bandas de rock. Com seu vocal anasalado, sua postura distanciada e letras quase sempre melancólicas, se tornou ídolo de uma geração que hoje se encontra na faixa de 30/40 anos e ainda encontra nicho em um público bem mais jovem, que claramente se identifica com o espírito adolescente presente na música de sua banda.

Tendo em vista tudo dito acima, nem é preciso salientar a obrigatoriedade de estar presente, hoje à noite, no teatro da UFPE, no caso de Recife. Caso ainda resta alguma dúvida, talvez isso seja a constatação de que você envelheceu muito mais do que deveria.

Dinosaur (1985): Como na maioria dos discos de estréia, a banda ainda estava procurando sua identidade. Em alguns momentos, dá para perceber que havia uma certa dificuldade, de um molde para um razoavemente extenso leque de influências. Rola um flerte com o pós-punk (“Pointless”) e chegam a soar como um Mission of Burma lo-fi em “Gargoyle”. A hard rokeira “Mountain Man” é um dos destaques, com direito a uma passagem descaradamente hardcore e vocais “demoníacos” no finzinho da música. O grande lado negativo fica por conta da péssima produção que deixou as canções sem o punch necessário, arrematando ainda o fato da performance da banda ainda estar aquém do que eles viriam demonstrar nos trabalhos seguintes.

You’re Living Over Me (1987): A obra prima do grupo, ponto final. Discoteca básica para qualquer um que deseja entender o tal do rock alternativo dos anos 90. A produção ainda é vacilante em vários pontos, mas o repertório presente faz isso se tornar quase irrelevante. Das 10 músicas presentes, 8 poderiam estar tranquilamente em um “Best of” da banda, o que não é pouca coisa – a acústica e estranha “Poledo”, de autoria de Barlow, é bem bacana, mas está mais para um protótipo de algo Sebadoh do qualquer outra coisa, e a última é um impagável cover de “Show Me The Way”, de Peter Frampton. Os característicos momentos em que os decibéis correm soltos começam a se mostrar bem mais presentes, assim como um maior cuidado com as melodias e refrões.

Bug (1988): Disco que está pau a pau com You’re Living Over Me, perdendo talvez por alguns décimos. Finalmente a banda se encontra. O famoso paredão guitarrístico da banda aparece forte como nunca. A faixa de abertura, “Freakscene”, é considerada a música mais representativa da banda, trazendo à tona todos os elementos característicos do trio: riff pegajoso, o vocal semidesafinado de J cantando uma melodia certeira, energia saindo pelo ladrão e o esperado momento “guitar freakout”. Apesar de tudo isso, J nunca escondeu o fato desse ser o disco da banda que ele menos gosta – possivelmente isso se deve às brigas intermináveis que ocorreram durante a gravação do mesmo, culminando na saída de Barlow da Dinosaur Jr.

Green Mind (1991): Talvez como forma de exorcizar o stress do disco anterior, a banda, agora resumida a um duo (Murph e J, que,além das guitarras, gravou todos os baixos), resolveu caminhar pra um direcionamento mais tranquilo e menos ruidoso. Até as faixas mais agitadinhas, como “Blowing It” e “The Wagon”, são um tanto quanto mais serenas se comparadas as dos discos anteriores. Uma forte atmosfera country rock pode ser sentida aqui, ratificando ainda mais a capacidade da banda de fazer grandes canções.

Where You Been (1993): Todo fã com mais de 28 anos tem grande carinho pelo Where You Been, pois provavelmente foi com esse disco seu primeiro contato com a música do grupo. O ex-baixista da banda de Mark Lanegan, Mike Johnson, é efetivado no grupo. A despeito das sempre eficazes linhas de baixo de Barlow, Johnson era um músico com maiores predicados e acrescentou uma certa dose de sofisticação ao som da banda. O batera Murph também teve um desempenho dos mais inspirados. Esse talvez seja o disco onde as referências de rock setentistas estejam mais presentes.

Without a Sound (1994): Uma continuação natural do Where You Been, talvez um pouco mais diversificado musicalmente e contendo ótimos momentos, vide “Grab It”, “Yeah Right“ e “Fell The Pain”. Quem dessa vez saiu da banda foi Murph, cansado das desavenças com o gênio forte de J – aliás o próprio resolveu assumir as baquetas – em priscas eras, antes de partir para a guitarra, ele era baterista – e fez um grande trabalho.

Hand Over It (1997): O disco mais atípico do Dino Jr. Em algums momentos, teclados, trompetes e arranjos de corda se destacam mais que as guitarras. Mas isso não quer dizer que elas não apareçam; elas estão lá, mais ruidosas do que nunca. Pode-se até dizer que esse é o disco mais shoegazer da banda – por falar nisso, Kevin Shields e Bilinda Butcher, dos shoegazers-mores, My Bloody Valentine, fazem backing vocals em algumas faixas.

Beyond (2007) e Farm (2009): Os dois últimos discos da banda trazendo de volta sua formação original podem caber em um mesmo lugar: há poucas diferenças estéticas entre ambos e neles o power trio está mais afiado do que nunca, mostrando um vigor sonoro impressionante. Ao fazer um “back to the basics”, buscando a sonoridade dos primeiros discos, somada a toda carga obtida com os anos de estrada, o resultado final obtido foi bem acima do esperado. Músicas como “Been There All The Time”, “Pick Me Up”, Amost Ready” (do Beyond),“Over It”, “I Want You To Know” e “Plans” (do Farm) estão entre as melhores coisas que eles já fizeram em toda sua trajetória.

Fonte: altnewspaper

domingo, 26 de setembro de 2010

protejam seus ouvidos ...


Desde o final dos anos 80, quando o Dinosaur Jr. começou a tocar em bares e outros espaços alternativos em Massachusetts, a recomendação para qualquer fã que queira comparecer a uma apresentação do grupo é a mesma: proteja seus ouvidos.

O primeiro a seguir o conselho é o próprio baixista da banda, Lou Barlow. “Eu uso protetores mesmo quando toco com bandas mais tranquilas que o Dinosaur Jr.. Eu tenho um problema muito sério de tinitus – até quando a minha filha grita perto de mim meu ouvido começa a zumbir, então eu tenho que me proteger”, conta o músico em entrevista por telefone ao G1.

Barlow diz que o guitarrista e líder do grupo J. Mascis deve trazer a sua parede de amplificadores para o Brasil, onde a banda, pioneira do rock alternativo americano, começa uma mini turnê neste sábado (25) com uma apresentação no festival Coquetel Molotov, no Recife.

“Eu não sei por que o J. usa todos aqueles amplificadores”, brinca o baixista. “J. foi a primeira pessoa que eu vi usando protetores de ouvido – no primeiro ensaio do Dinosaur Jr. eu vi ele colocar plugues internos e um protetor externo, desses que você coloca quando está um estande de tiro. E então o amplificador dele quase matou a gente. Ele nunca expôs os ouvidos dele ao mesmo volume ao qual ele expõe as outras pessoas”, lembra.

Turnê - Além da capital pernambucana, o Dinosaur Jr. vai levar seu peso jurássico para outras duas cidades brasileiras. No domingo (26) o grupo se apresenta em Salvador, na versão baiana do Coquetel Molotov, e ainda faz dois shows em São Paulo na terça (28) e quarta (29). Com menos amplificadores, eles também prometem um show acústico gratuito na capital paulista na tarde de terça-feira na Praça Marechal Cordeiro Faria, em um evento de skate.

Barlow fundou o Dinosaur Jr. em 1984 junto com Mascis e com o baterista Murph. Depois de algumas brigas, Barlow foi expulso da banda em 1989. O baterista acabou deixando o grupo alguns anos depois, e reduzido a um projeto solo do guitarrista, o Dinosaur Jr. deixou de existir em 1997.

O empresário do J. sugeriu para ele para voltar com o grupo, para aproveitar os relançamentos dos álbuns nossos dos anos 80, mas o J. disse que não estava interessado. Então ele perguntou, ‘e se ligássemos para Lou e Murph (baterista) e oferecêssemos para que eles ganharem metade do que você ganha?’, e foi assim que J concordou”, conta rindo Barlow, que voltou com o grupo em 2004.

Ele diz que os motivos da volta não são apenas econômicos. Depois de ler o capítulo sobre a banda no livro “Our band could be your life”, principal obra sobre a cena do rock independente nos EUA nos anos 80, Barlow afirma que ficou “muito triste”. “Eu devia essa volta ao legado do Dinosaur Jr., para tentar reescrever a história”.

Inéditas - Desde a volta, o grupo já gravou dois discos com faixas novas, “Beyond” de 2007 e “Farm” de 2009. “Nós queríamos continuar com as turnês, mas precisávamos de material novo, senão ia ficar chato, seilá”, explica displicentemente Barlow.

Na nova fase há espaço inclusive para composições do baixista, que costumava ficar de fora dos discos no início da banda, o que o motivou a montar o projeto Sebadoh, que acabou se tornando tão influente quanto o Dinosaur Jr.

“Quando eu escrevo uma música para o Dinosaur Jr. eu já deixo uma parte separada para um solo do J. – solos não são bem o meu estilo, e uma faixa sem um solo de guitarra dele não é uma faixa do Dinosaur Jr.”, diz Barlow.

Apesar de toda a lenda e influência criada pelos primeiros discos, o músico afirma que o melhor momento da banda é agora. “Nós estamos tocando juntos agora há mais tempo do que quando éramos adolescentes, e estamos nos divertindo muito mais do que na época”.

Amauri Stamborosi Jr.
Do G1, em São Paulo

sábado, 25 de setembro de 2010

# 162 - 25/09/2010

Na edição de ontem do programa de rock tivemos a partcipação Ao Vivo, nos estudios da Aperipê FM, das bandas Do Amor, Cabedal e Nantes. Do Amor falou de seu processo de composição (caótico, segundo eles), vantagens do vinil (fui presenteado com uma belissima edição no formato do disco deles, thank you guys) e as dificuldades (ou não) de conciliação entre as atividades da banda e o trabalho de seus componentes como musicos contratados. Já a Nantes contou um pouco de como foi o processo de "gestação e parto" de seu primeiro disco, "Alvorada", que será lançado na próxima sexta com um show no Teatro Lourival Batista, além de brindar nossso ouvintes com belas versões acústicas de duas de suas músicas executadas ao vivo no estúdio. Fora isso, tivemos um bloco inteiro dedicado ao grande Dinosaur jr., que toca pela primeira vez no Brasil hoje, em Recife, e amanhã, em Salvador, durante o Festival Coquetel Molotov. Estarei presente no show de amanhã e logo mais conto aqui como foi. Encerrando o programa, músicas novas do Superchunk, Loomer e Trent Reznor - deste último, uma faixa extraída da trilha sonora do filme "The social Network", composta por ele, e que conta a história da criação do Facebook.

Cheers !

A.

* * *



Nos dias em que bandas se destacam por não apresentar nada relevante, o que é incrível, ouvir um disco onde as músicas são bem elaboradas, até com harmonias vocais, é muito bom. Um sopro de esperança em meio a uma massa que acha que guitarras altas significa qualidade.

O mercado musical nacional, digo o independente, tem seus ciclos para eleger os favoritos. Muitos ficam de fora. E as vezes possuem trabalhos mais relevantes do que os que estão na crista da onda prontos para dropar e entrar no tubo. A Nantes é uma delas. Não tem guitarras distorcidas, não tem vocais gritados, não tem letras que falam de encher a cara e pegar mulher.

A banda já se chamou Daysleepers, mas decidiu mudar para um nome mais fácil, mais pop, tal quel o trabalho que é calcado no som produzido na década de 60 por nomes como Beatles e Beach Boys, para ficar em dois, porque há muito mais gente boa e que deixou excelentes trabalhos. Os Beatles tem que ser citados sempre, até porque o álbum Alvorada abre com “Um dia na vida”. Letra que fala até de Deus. E quem não lembra, os garotos de Liverpool fizeram uma das mais belas canções de todos os tempos chamada “A Day In The Life”.

Com pouco mais de dois anos a banda sergipana conseguiu criar um álbum que prima pela qualidade musical. Tudo no álbum é bem elaborado: sonoridade com vários instrumentos, vocais, letras que fogem do lugar comum mesmo falando do cotidiano. Caso de “Tempo” que é auto-explicativa. Muitas vezes o melhor remédio é a paciência, o tempo. Já “A 8ª Capela” é só vocal. A introdução de “O Céu” me lembrou Hyldon, um dos mestres do soul brasileiro. Mas na sequência a música desemboca para uma musicalidade que remete a um pôr do sol a beira mar.

“Talvez você possa cantar” remete ao folk. Coisa que a banda sempre faz questão de lembrar também com fotos em meio a plantas, a cenários bucólicos. E como atesta a capa do disco e a bela canção “Bem vinda chuva”. Que assim como uma chuva na hora certa, traz uma calma. “Os Castelos” encerra o álbum mostrando que muitos dos muros levantados por nós, são incorporados de maneira tal que não enxergamos o outro lado. As vezes derrubar é a única maneira de seguir em frente. Em outros momentos é melhor se resguardar dentro das muralhas, andando pelos corredores.

Alvorada é um disco delicado. Para curtir sem pressa. Cada música tem um instrumento que se sobressai, e letras compostas por Arthur Matos que trazem sentimentos a tona. Remetem a uma lembrança, uma sensação.

Por Hugo Morais

O Inimigo

* * *

A Dinosaur Jr., que toca hoje no Teatro da UFPE ( NOTA: Em Recife ) fechando a programação do festival No Ar Coquetel Molotov, é daquelas bandas que merecem o exaurido termo “seminal”. Ela surgiu em meados dos anos 80, quando as paradas eram dominadas por nomes como Van Halen, Michael Jackson, Guns ‘n’ Roses, Bon Jovi ou o metal glamourizado do Mötley Crüe e Twisted Sisters. Porém, na contramão do status quo pop, surgia uma nova onda, logo rotulada de “alternativa”. À frente dela estavam a Dinosaur Jr., Sonic Youth e outras bandas que mudariam o curso do rock and roll.

É até estranho que esta turnê que J. Mascis, Lou Barlow (baixo), e Murph (bateria) estão fazendo (tocam amanhã em Salvador, na edição soteropolitana do Coquetel Molotov) seja a estreia do grupo em palcos brasileiros. J. Mascis, vocalista e guitarrista, dizia ontem que não tinha ideia porque o grupo nunca veio ao Brasil: “Não temos ideia, nem sequer perguntei para alguém. Espero ter uma boa surpresa. Não conheço música brasileira, só sei que sempre quis tocar aí”. O trio, nascido em 1984, em Amherst, Massachusetts, fechou para balanço em 1997 e voltou à estrada há cinco anos. Pelo visto com todo gás, com um repertório meio coletânea: “Eu vou com os caras antigos (Lou Barlow e Murph). Vamos tocar muitos hits de quase todos os discos. Só não terá músicas do álbum do Fog”. O Fog a que ele se refere é a banda que formou em 1999, e com a qual gravou dois CDs.

O fim do grupo em 1997, deve-se à roda viva em que se meteu depois de vender milhões de discos, por uma grande gravadora. Embora Mascis tenha sabido conviver com o sucesso, ao contrário do contemporâneo Kurt Cobain, que não conseguiu equacionar o dilema de ser alternativo e, ao mesmo tempo, idolatrado por milhões de fãs: “Acho que quando começamos éramos uma banda alternativa, com certeza. Nem tínhamos fãs. Mas sabíamos que tipo de música queríamos fazer e escutar. Não tínhamos ideia que iríamos parar em uma major e vender tantos discos”, diz Mascis, garantindo que foram aparadas as arestas que levaram à dissolução da Dinosaur Jr.: “A nossa relação está boa agora”.

Em anos recentes tem-se visto o reagrupamento de várias bandas dos anos 80 e 90 (e até dos 60). J. Mascis tem uma resposta simples para o fenômeno: “Eu acho que existe o interesse em música boa. Quando você gosta de um disco, você sempre vai gostar do disco e isso vai criando mais fãs com o tempo”. O documentário The year punk broke, dirigido por Dave Markey, que registra a turnê europeia da Sonic Youth, em 1991, lançou os holofotes também sobre a Dinosaur Jr., e foi fundamental para tornar o grupo mais conhecido fora dos EUA. Mascis concorda com a importância do filme de Markey: “Sim. Foi ótimo ver o Nirvana crescer. Ver algo que deveria acontecer, acontecendo. As coisas no universo parece que fizeram sentido por um momento. Embora tenha ficado famoso pela quantidade de decibéis que extrai dos amplificadores nos shows da Dinosaur Jr, J. Mascis adianta que acabou de gravar um disco acústico, que será lançado no próximo ano.

* Publicado no Jornal do Commercio - Caderno C – 25/09/2010

Por José Teles

* * *

Dinosaur jr. – Freak Scene
Dinosaur jr. – Crumble
Dinosaur jr. – Plans

Andralls – Two sides
Goreslave – Screams of pain
MDV – Hail to the New poor

Nantes – Um dia na vida
+Entrevista com Nantes

Jack Nitzsche – The last race
Rose McGowan and Kurt Russel – Stuntman Mike
Do Amor – vem me dar
Cabedal – Aquele olhar, morena
+Entrevista com Do Amor
+Entrevista com Cabedal

Superchunk – Digging for something
Loomer – Coward
Trent Reznor – Eventually we find our way

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

j. Mascis, uma entrevista


Joseph Donald Mascis (pronuncia-se mass-kiss), cantor e guitarrista norte-americano de 45 anos, nascido no estado de Massachusetts, é um homem de poucas palavras. É fato: entrevistas não são o seu forte. Sua linguagem de preferência, como seus muitos fãs ao redor do mundo bem sabem, é a dos marcantes riffs de guitarra que notabilizaram sua banda, a Dinosaur Jr., como uma das mais representativas do rock alternativo norte-americano – um movimento que surgiu na esteira do pós-punk, se firmou no underground nos anos 1980 e arrebentou no mainstream na década seguinte, depois que o Nirvana meteu o pé na porta. Nesta entrevista exclusiva publicada no Blog Rock Loco, de Salvador, J. Mascis fala pouco – mas diz tudo.

Pergunta: Como vai ser o repertório dos shows no Brasil? Vai ter alguma música de sua banda paralela, The Fog?

J. Mascis: Muitos hits, de quase todos os álbuns, mas nenhuma canção do The Fog.

P: Você é considerado um dos mais importantes músicos do rock alternativo norte-americano. Mas alternativo ao quê? As influências de rock clássico em seu som são bem claras – como Neil Young, por exemplo. Como você vê esse lance de "rock alternativo"?

JM: Suponho que é porque, quando começamos, éramos definitivamente alternativos, não tínhamos fãs. Só tínhamos uma ideia de que música queríamos ouvir. Nos espelhávamos nas bandas do (clássico selo independente) SST e queríamos excursionar no circuito que o Black Flag (banda punk pioneira dos EUA, liderada por Henry Rollins) estabeleceu. Não pensávamos em estar numa gravadora major ou vender toneladas de discos.

P: Após vários anos desativada, a banda voltou com a formação original. Está tudo bem entre os membros agora? Podemos esperar uma reunião definitiva, de longo prazo?

JM: Nós vivemos um dia por vez. E nossa relação está OK nesse momento.

P: Quem são suas influências como guitarrista? Por que seu som é tão barulhento?

JM: Greg Sage (da banda punk Wipers), Ron Asheton (The Stooges), Keith Richards, Mick Taylor (ambos dos Rolling Stones) são minhas influências. Sempre adorei barulho.

P: Farm (2009), seu último álbum, é um dos melhores da carreira do Dinosaur Jr. O que podemos esperar do seu próximo disco?

JM: Sem planos por enquanto. Mas vou lançar um novo disco solo em fevereiro.

P: É a primeira vez que a banda vem ao Brasil, não? Por que demorou tanto? Você conhece algo de música brasileira?

JM: Não sei muito de música brasileira. Não sei por que nunca tocamos no Brasil antes, sempre quisemos ir aí.

P: Se pudesse escolher um produtor, vivo ou morto, quem seria?

JM: John Leckie (produtor britânico, famoso por produzir, entre outros, álbuns como Stone Roses, da banda homônima e The Bends, do Radiohead).

P: Indicaria alguma banda surgida nos últimos dez anos de que gostou?

JM: Magik Markers (banda noise de Hartford, Connecticut. www.myspace.com/theemagikmarkers).

P: Qual seu álbum preferido do Dinosaur Jr? Por que?

JM: You‘re Living All Over Me (1987). Foi quando nos firmamos como banda e fizemos nossa música, nosso som. Nós meio que desmoronamos depois disso.

fonte: ROCK LOCO

terça-feira, 21 de setembro de 2010

NO SENSE por Escarro Napalm

No Sense Hoje
NO SENSE é possivelmente a banda mais radical que eu conheço. Radical no sentido correto da palavra, o de identificar alguém que vai até o fim naquilo em que acredita. E não há outro adjetivo para apresentar a banda que gravou um disco como “ CEREBRAL CACOPHONY ”. Começaram ainda no fim dos anos 80, chamando a atenção no meio alternativo por ter no vocal uma garota de apenas 13 anos de idade. Os mais atentos, no entanto, viram além: perceberam que eles tinham algo mais, algo que os transformou na melhor banda de grindcore do país (sem querer desmerecer as demais é claro!!) e numa promessa de nível internacional. Apresentamos aqui uma entrevista feita em outubro de 1993 com Angelo, então guitarrista e principal compositor do grupo, e publicada na versão xerocada (internet na época era ficção científica) do fanzine Escarro Napalm.

Uma das primeiras fotos de divulgação
NO SENSE é(ra): ANGELO: guitarra, MARLY nos vocais, MORTO no baixo e PAULO na bateria. Já gravaram: “CONFUSED MIND” (demotape caseira), “OUT OF REALITY” (EP 7” FUCKER REC.) e “CEREBRAL CACOPHONY” (LP COGUMELO REC.).

Atualmente a banda está de volta à ativa, ensaiando novos sons, inclusive, com a formação original, com a diferença de que Morto agora toca guitarra e Ângelo assumiu o baixo.

http://www.myspace.com/nosensegrindcore

Ouça, é deliciosamente horrivel!!

1. COMO ESTÁ SENDO A REPERCUSSÃO DE “CEREBRAL CACOPHONY” NO EXTERIOR? EXISTEM PLANOS PARA O LANÇAMENTO DE UM CD DO NO SENSE? (A COGUMELO VISA BASTANTE O MERCADO EXTERNO E EU ACREDITO QUE A BANDA TEM CACIFE PARA TANTO)
NO SENSE: A repercussão tem sido boa, temos recebido varias cartas de lá. Ainda não sabemos se a COGUMELO lançará um CD nosso, mas talvez seja uma coisa natural, já que o CD no exterior já domina o mercado.

2. COMO ESTÁ A RELAÇÃO ENTRE BANDA E GRAVADORA? VOCÊS ESTÃO SATISFEITOS COM O TRATAMENTO QUE TEM RECEBIDO?
NO SENSE: A COGUMELO é uma gravadora independente que deu certo, afinal o dinheiro entra consideravelmente nela. Quanto ao nosso tratamento, é o mais formal do mundo. Se você não ligar, eles não ligam. As pessoas acreditam que se você entra para a COGUMELO, você se vendeu. Se nós nos vendemos, não ganhamos nada com isso até hoje.

3. É VERDADE QUE A CAPA DO LP ESTAVA PLANEJADA PARA SER A MESMA DO DISCO “HOW THE GODS KILL” DO DANZING?
NO SENSE: É sim, coincidência acontecem, por sorte não aconteceu e, além disso, gostamos da capa atual.

4. EXISTE PLANOS PARA O RELANÇAMENTO DO EP “OUT PF REALITY” VIA COGUMELO?
NO SENSE: Sobre isto ainda não sei, gostaria que sim, muita gente pede pelo 7” até hoje, quem sabe entre em um CD?

5. COMO ESTÁ A VIDA DO NOSENSE HOJE? MUITOS SHOWS, CONTATOS, ENTREVISTAS?
NO SENSE: Nós estamos parados no momento, mas breve voltaremos às atividades. Entrevistas temos tido algumas, contatos vários. Temos viajado por aí, indo a shows de outras bandas e se divertindo.

6. NO SENSE TEM PLANOS PARA TOCAR NO NORDESTE?
NO SENSE: Claro que sim, seria demais. As pessoas daí são legais temos muitos correspondentes por aí. Quando acontecer isso, vai ser demais.

7. MARLY AGORA É MÃE, ASSUME COM ISSO NOVAS TAREFAS E RESPONSABILIDADES. EM QUE ESTE FATO INTERFERIU NA VIDA DA BANDA COMO UM TODO?
NO SENSE: Até agora interferiu um pouco, desde que Marly estava com 8 meses paramos de tocar e ensaiar. Daqui pra frente, não sei como vai ser, mas tenho certeza que tudo irá dar certo.

8. O QUE VOCÊS MAIS GOSTAM E O QUE MAIS DETESTAM EM TERMOS DE SOM?
NO SENSE: Nós gostamos de tudo o que é bom, o que é ruim não gostamos. Curtimos HEAVY, DEATH, PUNK, H.C., DOOM, BLUES, JAZZ, NOISE, EXPERIMENTAL, GRIND. Só não gostamos de coisa que é feita pra vender, oportunista. Pode estar dentro de qualquer estilo já citado, mas se for feito pra vender e agradar a mídia, não iremos curtir.

9. NO FANZINE “VIA SKALA” ANGELO DECLAROU QUE SE UM DIA O NO SENSE FICASSE TÃO FAMOSO QUANTO O SEPULTURA, COM MAURICINHOS E GRUNGES DE PLANTÃO USANDO SUAS CAMISAS, A BANDA ACABARIA. VOCÊS NÃO ACHAM ESTA DECLARAÇÃO UM TANTO PERIGOSA? EXPLICO. SE UM DIA A FAMA VIESSE E VOCÊS ESTIVESSEM NO AUGE DA EMPOLGAÇÃO E CRIATIVIDADE, ACABARIAM COM TUDO ASSIM MESMO? O NO SENSE TEM MEDO DO SUCESSO?
NO SENSE: Não acho a declaração perigosa. Se estivéssemos no auge entre pessoas que realmente gostam do que fazemos continuaríamos, lógico, mas no auge com um bando de mauricinhos, isso seria desanimador. O NO SENSE acabaria e levaríamos nossa criatividade para outras bandas e coisas. Não, o NO SENSE não teme o sucesso, apenas não quer isso.

10. “GRIND IS PROTEST”. NO SENSE SE IDENTIFICA MAIS COM CENA HARD CORE OU COM O DEATH METAL? COMO VOCÊS VEEM A RIVALIDADE ENTRE ESTAS DUAS TRIBOS? EXISTE MOTIVO PARA TANTO?
NO SENSE: Nós nos identificamos com os dois estilos, existe espaço para todo mundo, não existe motivo para isso, como pra qualquer espécie de rivalidade.

11. QUAL A OPINIÃO DA BANDA SOBRE OS SEGUINTES TEMAS:
RACISMO: Idiotice, ninguém é melhor do que ninguém. Igualdade acima de tudo
MACHISMO: O homem se acha superior, mas vive precisando da mulher. Se ele é tão bom assim, porque não ele não transa com outros homens?
VEGETARIANISMO: Bom, nesse caso falo por mim e não pela banda, já que sou o único vegetariano no NO SENSE. As pessoas precisam se esclarecer mais sobre os malefícios da carne e sobre a fome no mundo. A floresta amazônica é devastada para criar gado, toneladas de grãos são gastos para alimentar o gado enquanto pessoas morrem de fome no mundo, pessoas que não irão nunca comer um bife.
MÍDIA: Ela tem o toque de Midas, transforma tudo que toca em ouro, se quiser, mas também transforma muita coisa em merda (a grande maioria, ou toda ela).
POLITICA: Não deveria existir pra ser político não se estuda, mas se ganha bem. O povo deveria tomar o poder, anular o voto e se conscientizar que está sendo usado e enganado.

12. NO PONTO DE VISTA DE VOCÊS, ATÉ QUE PONTO AS BANDAS DE ROCK PODEM INTERFERIR NA REALIDADE QUE AS CERCA PARA, USANDO UM EUFEMISMO BASTANTE POPULAR, “MUDAR O MUNDO”? É POSSIVEL? FOI O ROCK QUE MUDOU O MUNDO OU O SURGIMENTO DO ROCK FOI UMA CONSEQUENCIA DAS MUDANÇAS PELAS QUAIS PASSOU A SOCIEDADE HUMANA NESTE SÉCULO?
NO SENSE: Mudar o mundo é impossível, mas quem sabe lançar idéias, conscientizar as pessoas que ouvem os discos e vão aos shows... Um dia estas pessoas terão filhos e podem passar algo a eles. O não conformismo é o mais importante. O rock não mudou o mundo, senão estaríamos melhor hoje. Mas ele surgiu como mudança de padrão e isso é importante: mudar os padrões e ao criar outros, sempre renovar e nunca se acomodar.

13. ESPAÇO ABERTO. VOMITEM ALGUMA COISA, ALGUM ASSUNTO QUE VOCÊS QUEIRAM FALAR E QUE NÃO FOI CITADO?
NO SENSE: Queríamos pedir mais união, menos clichês, menos rótulos, música pode se rotular, mas pessoas não. Espero que as coisas mudem que o país cresça em todos os sentidos, que toquemos por aí em breve para podermos tomar uma pinga aí com você, Adelvan, e dar muitas risadas juntos. Afinal de contas, o importante é ser feliz!!

NOTA: O No Sense nunca tocou na região nordeste.

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Hoje é Aniversário de Leonard Cohen

(Wikipedia) Leonard Norman Cohen (Montreal, 21 de setembro de 1934) é um cantor, compositor, poeta e escritor canadense. Embora seja mais conhecido por suas canções, que alcançaram notoriedade tanto em sua voz quanto na de outros intérpretes, Cohen passou a se dedicar à música apenas depois dos 30 anos, já consagrado como autor de romances e livros de poesia.

Leonard Cohen nasceu em Montreal, província de Quebec, Canadá, de uma família judia de origem polonesa (polaca). Sua infância foi marcada pela morte de seu pai quando ele tinha apenas 9 anos, fato que seria determinante para o desenvolvimento de uma depressão que o acompanharia durante boa parte da vida.

Aos 17 anos, ingressa na Universidade McGill e forma um trio de música country. Paralelamente, passa a escrever seus primeiros poemas, inspirado por autores como García Lorca.

Em 1956 lança seu primeiro livro de poesia, Let Us Compare Mythologies, seguido em 1961 por The Spice Box of Earth, que lhe conferiria fama internacional. Após o sucesso do livro, Cohen decide viajar pela Europa e acaba por fixar residência na ilha de Hidra, na Grécia, onde passa a viver junto com Marianne Jensen e seu filho, Axel.

Em 1963 lança The Favorite Game, sua primeira novela, seguida pelo livro de poemas Flowers for Hitler, em 1964, e pela sua segunda novela, Beautiful Losers, em 1966.

Já estabelecido como escritor, Cohen decide se tornar compositor. Para isso, muda-se para os Estados Unidos, onde conhece a cantora Judy Collins, que grava duas de suas composições ("Suzanne" e "Dress Rehearsal Rag") em seu disco In My Life, de 1966. No ano seguinte, Cohen participa do Newport Folk Festival, onde chama a atenção do produtor John Hammond, o mesmo que antes havia descoberto, dentre outros, Billie Holiday e Bob Dylan. Songs of Leonard Cohen, seu primeiro disco, é lançado no final do ano, sendo bem recebido por público e crítica.

Seu próximo disco, Songs from a Room, seria produzido por Bob Johnston, produtor dos principais trabalhos de Dylan nos anos 60. Embora não tão bem recebido quanto o anterior, contém a canção "Bird on the Wire", que o próprio Cohen disse ser a sua favorita dentre as suas composições. Em 1971, lança Songs of Love and Hate, um disco mais sombrio que os anteriores. No mesmo ano, o diretor Robert Altman, em seu filme McCabe & Mrs. Miller, utiliza três canções de Cohen: "Sisters of Mercy", "Winter Lady" e "The Stranger Song", todas do primeiro disco do cantor.

Um novo livro de poemas, The Energy of Slaves, é lançado em 1972 e, no ano seguinte, o disco ao vivo Live Songs.

Também em 1973, por ocasião da Guerra do Yom Kipur, Cohen faz uma série de shows gratuitos para soldados israelenses. Baseada no poema "Unetaneh Tokef " da tradição judaica, surgiria a canção "Who by Fire", incluída no álbum New Skin for the Old Ceremony, lançado no ano seguinte.

Após o disco de 1974, Cohen decide se afastar do mundo da música, resultado não só de uma confessa falta de inspiração, mas também de sua insatisfação com as exigências do mercado.

Seu retorno se daria em 1977 com Death of a Ladies' Man, produzido por Phil Spector, que foi também o co-autor de quase todo o repertório do disco. O álbum foi marcado por atritos após as gravações, quando Spector se trancou em seu estúdio para o processo de mixagem, não permitindo que nem mesmo Cohen interferisse no resultado final. Por conta disso é até hoje notória a insatisfação do cantor com o disco, o qual classifica como sendo o mais fraco de todos. Em 1978, numa alusão ao álbum do ano anterior, seria a vez do lançamento do livro Death of a Lady's Man.

Em 1979 reaproxima-se do estilo dos seus primeiros trabalhos com Recent Songs, cuja turnê foi registrada no disco Field Commander Cohen: Tour of 1979, lançado apenas em 2001. Entre os integrantes de sua banda de apoio encontravam-se Sharon Robinson, co-autora de várias canções de Cohen a partir da década de 80, e Jennifer Warnes.

Após a turnê, seguiu-se mais um período de reclusão, no qual dedicou-se à escrita e ao estudo do budismo. Só voltaria a lançar novos trabalhos em 1984, com o disco Various Positions e o livro de poemas Book of Mercy. Embora a essa altura sua popularidade nos Estados Unidos estivesse em baixa, sua música ainda fazia grande sucesso em alguns países da Europa como França e Noruega.

Em 1988, retorna com o álbum I'm Your Man, aclamado por crítica e público. Parte dessa boa recepção deve ser creditada a Famous Blue Raincoat – The Songs of Leonard Cohen, disco tributo lançado por Jennifer Warnes um ano antes, que apresentou as canções do canadense a toda uma nova geração de fãs.

Paralelamente, muitos dos jovens músicos ligados ao folk e ao indie-rock da época diziam-se influenciados pelo trabalho do cantor. Parte desses músicos seria responsável pelo disco-tributo I'm Your Fan, lançado em 1991. Dentre estes, destacavam-se R.E.M., Ian McCulloch (vocalista do Echo & the Bunnymen) e Nick Cave and the Bad Seeds.

No ano seguinte lançaria The Future e, em 1994, Cohen Live, contendo registros de apresentações ao vivo entre os anos de 1988 e 1993.

Em 1994, consolidando a sua aproximação com o budismo, Cohen passa a viver no mosteiro de Mount Baldy Zen Center, próximo a Los Angeles. Em 1996 foi ordenado monge zen e ganhou o nome Dharma de Jikan ("silencioso").

Nesse meio-tempo é lançado, em 1995, um outro disco-tributo, Tower of Songs, dessa vez com nomes mais conhecidos, como Elton John, Bono e Willie Nelson. No mesmo ano é lançado o livro Dance Me to the End of Love, onde poesias suas são mescladas com pinturas do francês Henri Matisse.

Sua experiência no mosteiro iria até o ano de 1999, quando voltaria a morar em Los Angeles. Apesar disso, Cohen ainda se considera judeu, ressaltando que não procura "por uma nova religião".

Em 2001 lança Ten New Songs, seu primeiro disco de inéditas em sete anos, feito em parceria com Sharon Robinson. Em 2004 seria a vez de Dear Heather.

Em maio de 2006 é lançado o disco Blue Alert da cantora Anjani Thomas, sua namorada e ex-vocalista de sua banda de apoio. Cohen foi o produtor e co-autor de todas as faixas do disco.

Menos de um mês depois é lançado o aclamado documentário Leonard Cohen: I'm Your Man, onde relatos do cantor são intercalados com versões de suas músicas interpretadas por artistas como Rufus Wainwright e Nick Cave. No fim da película o próprio Cohen interpreta, junto ao U2, a música "Tower of Song".

Discos/livros

  • 1956 - Let Us Compare Mythologies
  • 1961 - The Spice Box of Earth
  • 1963 - The Favorite Game
  • 1964 - Flowers for Hitler
  • 1966 - Beautiful Losers
  • 1966 - Parasites of Heaven
  • 1968 - Selected Poems 1956-1968
  • 1972 - The Energy of Slaves
  • 1978 - Death of a Lady's Man
  • 1984 - Book of Mercy
  • 1985 - Credo
  • 1993 - Stranger Music
  • 1995 - Dance Me to the End of Love
  • 2000 - God Is Alive, Magic Is Afoot
  • 2006 - Book of Longing