terça-feira, 29 de junho de 2010

"Meus Sons" Entrevista Dimmy, "o Demolidor"

O baterista Demétrio da Silva Miranda Souza, 32 anos, é meio carioca, meio baiano, e mora em Lauro de Freitas - BA. Ex-The Honkers, atualmente nas baquetas da banda Vendo 147, é músico requisitado e um produtor bem articulado da cena independente nacional. Expert em mercado e suas produções, também faz palestras onde ensina, com sua experiência, o “caminho das pedras” aos neófitos da música. Em entrevista exclusiva ao blog "Meus Sons", Dimmy fala sobre detalhes do mercado indie e dicas para os iniciantes. Confira na íntegra aqui.

ALGUNS TRECHOS: "Volto a afirmar que todo trabalho deve ter um planejamento, deve ter organização, disciplina. Concordo com quem falar que é chato e um pouco xiita, porém em toda área de trabalho existe a parte chata, parte burocrática, ou as pessoas acreditam que um surfista só faz ir lá e surfar? Ou o jogador de futebol só faz entrar num estádio e disputar uma partida? Enganam-se quem esquece que existem etapas burocráticas como em qualquer outra atividade profissional e na música não é diferente e o artista tem que, cada vez mais, participar disso, como eu ja ouvi ha um tempo atrás “O artista tem que tomar conta da sua carreira”, na verdade ele deve ser o maior interessado nisso."

"Fala-se muito em festivais por aí, mas esquecem de olhar ao redor de que existem pessoas trabalhando pra que esse país imenso que temos seja melhor compreendido e visível pra todos. Hoje se consegue contatos de bons produtores do Acre até Uruguaiana (divisa do Brasil com a Argentina), ou seja, tem pessoas trabalhando pra que o Brasil seja interligado por uma enorme rede independente, facilitando cada vez mais quem busca trabalhar e circular."

"Não gosto nunca de citar nomes de artistas, nem de bandas, pra evitar ser injusto, pois a memória sempre falha, porém tem três pessoas que eu admiro e sigo seus passos: Leonardo Panço (Jason/ Tamborete), Fábio Mozine (Mukeka di Rato, Merda e Os Pedrero/ Laja) e André Frank( Asrtonautas/ QG Produtora), esses três rapazes são pra mim como o Led Zeppelin, Deep Purple e o Black Sabbath, o pilar da minha referência."

Ep da Vendo 147 para download: http://www.mediafire.com/?mwdjt3qdnmz
www.myspace.com/vendo147
dimmydasilva@gmail.com




Cinema rocks ...


O Cinemark transmitiu (quase) ao vivo a apresentação dos "Big 4", os quatro grandes do thrash, para salas de cinema em todo o Brasil. Em Aracaju infelizmente não rolou, então segue abaixo um relato de como foi a noite histórica em São paulo:

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Sofia, Bulgária. Palco do segundo show da 'The Big Four Tour', o encontro que pode ser considerado como marco na história do heavy metal moderno. As quatro maiores bandas de metal do mundo dividem o mesmo palco, o mesmo local, a mesma cidade!

O que parecia inacreditável até pouco tempo atrás, se tornou real. Anthrax, Slayer, Megadeth e Metallica juntos para delírio e emoção absoluta dos incrédulos e ardorosos fãs do metal pesado.

Graças às maravilhas da tecnologia moderna, milhões de pessoas ao redor do mundo puderam assistir no cinema uma transmissão (quase) ao vivo do festival Sonisphere, responsável pela união do 'The Big Four'.

Além da ansiedade pelas bandas, pelo espetáculo, pela produção, pela relação de amor e ódio que Dave Mustaine tem com os caras do Metallica, pelo fiasco em potencial em se tratando de quatro bandas muito bem sucedidas e que tem um histórico de rusgas nos mais de 25 anos de carreira de todas elas, os fãs do mundo inteiro certamente se perguntavam: Mas como será assistir a tudo isso, a essa epopéia sonora dentro do cinema comendo pipoca e tomando guaraná? Bom, foi uma experiência inusitada.

Em São Paulo, mais precisamente no Cinemark Eldorado, este repórter foi conferir os quatro grandes do metal mundial, pelo telão e sentado!

Pouco antes do show dos Nova-Yorkinos do Anthrax, Scott Ian, Dave Mustaine, Kerry King e Lars Ulrich concedem uma entrevista um pouco apreensivos, pois sabiam da responsabilidade que era fazer a apresentação funcionar para os quase 100 mil fãs presentes no festival e para milhões de pessoas que assistiam pelas mais de 800 salas de cinema ao redor do mundo.

Ian e sua trupe iniciam o que seria uma noite mágica e inesquecível para todos os participantes, ao vivo e nos cinemas. A banda parece estar muito disposta e já na segunda emendam "Got the Time", uma música do álbum “Persistence of Time”, de 1990. Joey Belladona, o carismático e original vocalista da banda, está de volta após 13 anos e parece o mesmo 'menino' de quando começou há 27 anos.

O show segue com "Indians" e "Mad House" e mostra que a banda continua coesa, rápida e sendo um dos grandes nomes do thrash-speed metal mundial. Quase no final do ‘set’, Scott Ian anuncia que a banda irá tocar uma canção em homenagem ao falecido cantor Ronnie James Dio, que mais tarde seria lembrado com bastante emoção e carinho pelos membros das outras bandas. "Heaven and Hell", ‘cover’ do Black Sabbath, é cantada em coro e mostra o quanto o saudoso Dio era querido pelos metaleiros fanáticos.

As quase 300 pessoas que estavam no cinema já davam sinais de que não seria uma tarefa fácil ficar sentado nas cadeiras e já começavam a levantar, a bater cabeça e levantar as mãos pra cima como se estivessem pessoalmente na pista do estádio em Sofia, e não sentados confortavelmente no cinema.

Contrariando a ordem divulgada pelo festival, a segunda banda a entrar no palco é o Megadeth, liderada pelo polêmico, por vezes arrogante e intragável, mas talentoso, Dave Mustaine.

O primeiro petardo é "Holy Wars. O show é basicamente o mesmo que foi apresentado esse ano em terras tupiniquins, a tour de celebração de 20 anos do aclamado álbum “Rust in Peace”. Na seqüência, a banda emenda com "Hangar 18" e o cinema vem abaixo, as pessoas cantam a letra, levantam das cadeiras, vão para perto da tela, chacoalham as cabeleiras.

Pronto, o cinema virou a extensão da pista do show. Em "Symphony of Destruction", a platéia prova porque o heavy metal é um estilo que jamais irá acabar. A lealdade dos fãs é impressionante, os quase 300 pagantes vão ao êxtase tamanha emoção de assistir ao show de tão longe, mas aparentemente tão perto! A banda encerra a apresentação e um Mustaine emocionando e com olhos marejados agradece às milhares de pessoas que assistem a banda pelo mundo e ao público presente na Bulgária.

Slayer sobe ao palco com "World Painted Blood",o décimo CD de estúdio da banda, e mostra a que veio. Brutalmente velozes, o quarteto de Los Angeles, capitaneado pelo guitarrista Kerry King, prova que é o maior nome do metal agressivo mundial. Os clássicos "Season in the Abyss", "War Ensemble,"South of Heaven" e "Mandatory Suicide" não poderiam faltar no repertório da banda e levam as pessoas ao delírio. As primeiras rodas são abertas dentro do cinema e a equipe de segurança começa a ficar preocupada pois certamente não estão acostumadas a lidar com metaleiros pulando, bangueando e pogando dentro do cinema!

"Raining Blood", um dos hinos da banda, é a última música do ‘set list’ e certamente faz honra ao título com o 'estrago' causado. A sala fica pequena para a platéia e o público delira com o quarteto de Los Angeles.

Antes dos caras do Metallica subirem ao palco e encerrar com chave de ouro esse momento histórico da música mundial, é mostrada uma entrevista bastante emotiva com os líderes de cada banda falando a respeito do lendário Ronnie James Dio. A impressão deixada é que o baixinho Dio na verdade era um gigante de coração imenso, muito querido pelos colegas de profissão e de estrada. Ian, Mustaine, King e Ulrich rasgaram elogios e lamentaram a imensa perda do vocalista, vítima de um câncer, no último 16 de maio.

É hora da atração mais esperada da noite, Metallica. A tradicional introdução levanta os quase 100 mil presentes no estádio e todos no cinema. "Creeping Death" abre o show e na seqüência "For whom the Bell Tolls" mostra porque o quarteto de São Francisco é a maior banda de metal de todos os tempos. O magnetismo que emana da voz e guitarra de James Hetfield é indescritível. Não há uma alma viva a esse ponto parada. É clássico atrás de clássico.

Pirotecnia, tanques de guerra, helicópteros, metralhadoras, fogos de artifício precedem "One", um dos pontos altos do show. O público já está em outra dimensão e o refrão é cantado como se fosse o último sopro dos pulmões. Realidade misturada com mágica são os sentimentos de quem assiste o show 'sentado' na poltrona.

"Enter Sandman", "Nothing Else Matters, "Fade to Black" são executadas com perfeição e sentimento pela banda. Não deixam vestígios nem pedra sobre pedra. James Hetfield agradece o público presente e os fãs do mundo todo, e chama ao palco o restante do Big Four, para tocarem "Am I Evil", dos veteranos ingleses do Diamond Head. Confraternização no palco, cada vocalista canta uma estrofe. Rusgas, mágoas e vaidade deixam lugar à união em prol do metal e dos fãs.

"Seek and Destroy", clássico de "Kill'em All", é a última música do show. O sentimento dos presentes no cinema e no festival é o mesmo. Felicidade, sorriso no rosto e a compreensão de que momentos como esse são únicos e que uma nova página na história foi escrita no dia de hoje. Parabéns a todos os envolvidos...

por Felipe Almeida
TDM

SET LIST DOS SHOWS:

METALLICA
Intro
Creeping Death
For Whom the Bell Tolls
Harvester of Sorrow
Fade to Black
That Was Just Your Life
Cyanide
Sad But True
Welcome Home (Sanitarium)
All Nightmare Long
One
Master of Puppets
Blackened
Nothing Else Matters
Enter Sandman
Am I Evil
Hit The Lights
Seek And Destroy

SLAYER
World Painted Blood
Jihad
War Zone
Hate Worldwide
Dead Skin mask
Angel of death
Beauty through Order
Disciple
Mandatory suicide
Chemical Warfare
South of Heaven
Raining Blood

MEGADETH
Holy Wars
Hangar 18
Wake Up Dead
Headcrusher
In My Darkest Hour
Skin O’My Teeth
A Tout Le Monde
Hook In Mouth
Trust
Sweating Bullets
Symphony
Peace Sells

ANTHRAX
Caught in a Mosh
Got the Time
Madhouse
Be All End All
Antisocial
Indians
Medusa
Only
Metal Trashing Mad
I’m the Law

Mark Lanegan: Comitê - São Paulo/SP



Mark Lanegan é um homem tácito. Vocalista da banda mais injustiçada do Grunge - importante movimento musical criado em Seattle, no início dos anos 90, capitaneado por Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden -, o Screaming Trees jamais emplacou na MTV americana e nas college radios como as bandas supracitadas, porém o status cult alcançado após quase 18 anos do lançamento do aclamado álbum "Sweet Oblivion" justifica o retorno ao Brasil do 'frontman' e líder, Mark Lanegan.

Dono de uma voz grave e inconfundível, o calado e misantropo Lanegan subiu ao palco em São Paulo, nessa quinta-feira, dia 24 de junho, para uma apresentação intimista, acompanhado do violonista Dave Rosser.

Sem qualquer introdução a luz é apagada, a cortina é aberta e o show é iniciado com "When Your Number isn't Up", canção do álbum "Bubblegun", de 2004. Para essa turnê, o repertório é basicamente as canções dos seus álbuns solos, com algumas músicas de suas diversas parcerias e uma ou outra pincelada na discografia de sua banda original.

"One Way Street", "No Easy Action" e "Miracle" embalam a seqüência de canções rápidas e diretas. É interessante a postura de Lanegan durante o show, pouquíssima interação com a platéia, mas sem soar arrogante ou pretensioso. Simplesmente ele é assim, e o público parece compreender a postura linear e franca do vocalista.

As melodias são muito bonitas, delicadas e bem arranjadas por Rosner, que ocasionalmente faz backing vocals. A temática das letras é pautada nos conflitos pessoais do vocalista e abrange temas como amor e esperança em "Bell Black Ocean", vulnerabilidade humana em "The River Rise", uso de drogas e romance não correspondido em "One Hundred Days".

Um ponto alto da apresentação é "Traveller", uma das duas músicas do Screaming Trees, juntamente com "Where the Twain Shall Meet", que Lanegan revisita nessa noite. "Julia Dream", cover do Pink Floyd, é bastante saudade pela platéia.

O show está prestes a terminar quando os primeiros acordes de "Hangin Tree" são tocados e levam a casa abaixo. Aliás, a parceria entre Mark Lanegan e Queens of Stone Age é muito frutífera e vem de longa data. Antes mesmo da banda ser montada, Josh Hommes, vocalista, guitarrista e líder da banda, excursionou como músico de apoio durante a turnê de "Dust", a última dos Screaming Trees. A amizade de Hommes e Lenagan é tanta que ele participou de todos os CDs do Queens of Stone Age, seja como membro efetivo da banda ou artista convidado.

Mark agradece o público com um singelo 'Thank You very much', desce do palco escoltado por dois seguranças, passa por entre a platéia, e deixa o local do show pela entrada principal, causando surpresa e estupefação perante a galera presente.

A impressão final é que o público esperava ouvir mais músicas do Screaming Trees, principalmente os sucessos que apresentaram a banda ao mundo nos anos 90. Hanna Santiago era uma das fãs saudosas desse tempo. Após viajar 300 km de Araraquara a São Paulo só para ver o ídolo, mostrou-se um pouco decepcionada. "Gostaria de ter ouvido "Nearly Lost You" e "Dollar Bill". Uma pena que ele não tocou as minhas músicas favoritas, mas só pela oportunidade de vê-lo ao vivo e tão perto, valeu a aventura", disse a estudante.

Mark Lanegan continua o mesmo. Esquisitão e calado, porém um poeta genial, muito à frente de seu tempo e dono de um legado que o tempo não irá apagar. Dos melhores shows do ano, senão o melhor. Mark Lanegan é (quase) Deus.

por Felipe Almeida
TDM

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre fanzines, programa de rock, aperipê fm, cultura e informação.



perguntou: Michael Meneses - http://www.flickr.com/people/michaelmeneses
respondeu: Adelvan

1 - Como surgiu seu contato com o rock? - Surgiu principalmente através da tela da Globo, no primeiro rock in rio de 1985. Tinha 14 anos e ali foi que fui começar a entender mesmo o que era rock, e a me interessar pelo assunto. Posteriormente me aprofundei lendo e colecionando as revistas Bizz e Rock Brigade – principalmente a Bizz, sempre fui eclético dentro do universo do rock e o xiitismo metaleiro da Rock Brigade só me interessou num primeiro momento. Em resumo, sou da geração Rock in rio/Revista Bizz. Se morasse no Rio na época seria da geração Fliminense FM, também, certamente.

2 - Você foi um dos primeiros zineiros de Sergipe, isso em meados dos anos 80, em uma época que só em filme e literatura de ficção imaginava se a Internet. Como você teve a idéia de fazer um Zine mesmo morando no interior do estado (Itabaiana/SE)? - A primeira idéia foi bem espontânea, tanto que eu nem sabia o que era um fanzine, fiz uma espécie de “apostila” contando a historia de minhas bandas de rock favoritas para distribuir entre os amigos, pois tinha ciumes de minha coleção de revistas e não emprestava. Só depois, quando meu zine, que eu não sabia que era um zine, chegou ás mãos dos donos da Distúrbios Sonoros, loja de discos especializada em rock da época, e que faziam um programa de radio na Atalaia FM chamado Rock Revolution (no qual eu conheci muita coisa que só tinha lido sobre nas revistas), eu recebi um pacote cheio de fanzines e panfletos punk de Silvio da Karne Krua e fiquei sabendo que havia toda uma rede de informação em torno daquilo. Foi bem interessante, me influenciou muito. Depois, já morando em Aracaju, editei meu zine que ficou mais conhecido, o “Escarro Napalm” (hoje em versão blog), através do qual fiz contatos e amizades por todo o Brasil – algumas duram até hoje.

3 - Como você poderia narrar a historia do rock em Sergipe? Você ainda pensa em escrever um livro sobre o rock Sergipano?(Fale sobre as principais bandas sergipanas de todos os tempos) - Eu escrevi uma vez uma matéria para o extinto zine carioca “Bodega” contando como foi o primeiro show a que fui em minha vida. Gostei e tive a idéia de dar continuidade à história, sob o título de “Dossiê Rock Sergipano”. Parei em algum ponto do início dos anos 90, porque me perdi e não sabia mais do que já tinha falado, até que descobri um comandozinho milagroso no Word chamado Control L em que você pode pesquisar palavras no texto (sério, não sabia que existia isso, sou um semianalfabeto em termos de informática) e recentemente comecei a retomar aos poucos o texto, já avançando anos 90 adentro – uma década que foi bastante rica no underground aqui, bem mais que os pioneiros anos 80. Os anos 90 pra mim foram ótimos, pois foi quando me envolvi mais diretamente com o rock, fazia o fanzine, viajava, via grandes festivais (rock in rio II, vários Hollywood rock), tive uma loja especializada (que comprei de Sylvio, a Lokaos), fazia um programa de radio em Itabaiana onde tocava o que quisesse – cheguei a tocar “canção de amor” dos Cabeloduro, a música com a letra mais escrota que eu já ouvi. Enfim, foi divertido. Tinha a aura “heróica” ainda dos anos 80, mas com uma maior riqueza de informação e sem essa confusão que impera hoje em dia. Acho que estamos, todos nós, no mundo inteiro, sofrendo por excesso de informação. Os anos 2000 foram muito confusos – ou vai ver eu é que tou ficando velho, mas acho até que sou dos que se adaptam bem às novas tecnologias. Só não sou obcecado por novidades tecnológicas, como todo mundo hoje em dia parece ser. Twitter, Facebook, iPad, kindle, essa tralha toda, por exemplo, nunca me interessou - O orkut e o MSN já suprem satisfatoriamente todas as minhas necessidades, então pra que eu vou ter que aprender a usar uma nova plataforma, só porque é a novidade do momento ? Claro que também não sou totalmente avesso a novidades, experimentei o facebook e o twitter, cheguei à conclusão que não precisava deles e abandonei. Acho o orkut (e uso o antigo, o novo é muito confuso e cheio de informações inúteis) bem melhor que o Facebook, não sei como o google não conseguiu convencer o mundo disso. Já dentre as maiores bandas de rock de Sergipe eu diria que as pioneiras e mais representativas dos principais estilos são a Karne Krua, a Snooze e a Warlord (no momento parada). Mas nos últimos anos têm aparecido bandas excelentes, como a Plástico Lunar, The Baggios, Nucleador, Berzerkers, Inrisório, The Renegades of punk e muitas, muitas outras.

4 - Como foi o convite para apresentar e produzir o Programa de Rock na Aperipê FM? - Foi bem simples – o diretor lá da FM me convidou pra fazer um programa de rock com Fabio do Snooze e eu aceitei. Aliás escolher o nome do programa foi bem fácil também, como deve ter percebido ...

5 - Como você faz a produção do programa, como é feita a escolha das músicas e das noticias veiculadas no Programa de Rock? - Notícias são poucas. Faço um apanhado dos shows que andam rolando pelo estado e divulgo no ar. É a “Agenda rock”. Notícias e resenhas de shows e discos deixo mais para o blog do programa. A escolha das musicas é parte baseada em meu gosto pessoal, parte com uma intenção mais didática, tipo, de vez em quando toco coisas que nem curto tanto mas que tem importância para a Historia do rock. Tem um espaço aberto para os ouvintes participarem também, o “Bloco do ouvinte”, que eu acho importante justamente para que o programa não fique tão centrado no meu gosto pessoal – apesar de meu gosto ser BEM eclético, vai de Cocteau Twins a Extreme Noise Terror. O programa é de rock, não se prende a nenhum estilo específico, dentro do universo do rock toco de tudo – ou quase, já que coisas como emocore e nu metal eu nunca programei, nem pretendo programar. No máximo uma do Korn num especial de natal.

6 – A Aperipê FM é uma rádio publica. O rock sempre foi um estilo musical de contestação política, cultural, religiosa... Existem normas de conduta por parte da rádio na seleção das musicas ou noticias veiculadas no seu programa ou tudo funciona na base da liberdade de expressão com bom senso por ambas as partes? - Liberdade total. Só não pode falar palavrão – na verdade ninguém nunca me disse que não podia, mas meu bom senso diz que é melhor evitar. Só teve uma vez que um papo lá com um entrevistado, “Homem Brasa” ( www.vivalabrasa.blogspot.com ) tava caminhando muito para o lado da apologia à maconha, já que ele é um maconheiro convicto e inclusive amigo do Capitão Presença em pessoa, em que o diretor da radio ligou pedindo pra “maneirar”.

7 - No ano passado o Programa de Rock foi indicado ao premio de melhor programa de rádio ou rádio rock do Brasil pela Revista Dynamite. Como você viu esse fato? - Vi com surpresa, já que divulgo o programa mais por aqui mesmo, e apenas via internet. Fiquei muito feliz com essa indicação e com o fato de não termos ficado em último na votação – ficamos num honroso penúltimo lugar. Para um programa feito no menor estado do país, de forma voluntária e praticamente sem recursos de marketing, acho que foi um feito e tanto.

8 - Alem dessa indicação, quais foram os pontos altos do programa...(entrevistas, sorteios, apoios...)? - Entrevistar o Ronaldo Chorão, meu ídolo e amigo, ao vivo, foi bem legal. Um programa especial que eu fiz no dia do rock eu acho que ficou bem bacana também, me impus o desafio de contar a historia do rock em 90 minutos de música e acho que, modéstia a parte, em saí muito bem. Os especiais só com rock sergipano acho bem importantes também – nunca imaginei que iria ter a oportunidade de fazer um programa de 2 horas no radio tocando só rock sergipano. Fizemos vários, e faremos mais, já que estamos inseridos no projeto "sergipanidade" da Fundação Aperipê. Fico feliz também com o apoio que pessoas como você, Michael, têm dado ao programa - temos alguns ouvintes cariocas fiéis graças à divulgação que você faz por aí.

9 - A visibilidade do Programa pelo Brasil afora fez com que a Fundação Aperipê estudasse uma versão televisiva do Programa de Rock e um piloto chegou a ser gravado. Qual a possibilidade desse programa ir ao AR de fato? - Acho que nenhuma. O episódio piloto, que não foi ao ar, pode ser visto no youtube.

10 - Recentemente a TV e Rádios Aperipê voltam a ser transmitidas pela internet. Alem é claro do Programa de Rock, quais outros programas você recomenda aos internautas do mundo inteiro como forma de conhecer e usufruir da cultura do estado de Sergipe? - Tem o Clube do Jazz, às quartas, 20:00h, que é muito bom. O sonora, todo dia às 14:00h, é legal também. E o "Encruzilhada", totalmente dedicado ao Blues, todo domingo às 22:00h. No geral é uma boa radio, de longe a melhor por aqui e creio que uma das melhores do Brasil - soube inclusive que tem sido citada como modelo e referência para as demais rádios públicas do país pelo próprio Ministro da Cultura.

11 – Na sua opinião o que falta para o Rock e para cultura sergipana em geral ser reconhecida de forma justa no Brasil? - Não sei. Mais empenho das bandas, talvez – mas ta rolando esse empenho, aos poucos, bandas como The Baggios, Plástico Lunar e, numa seara mais pop, Alapada, começam a aparecer na TV em rede nacional e em Festivais Brasil afora. A questão é que Sergipe é o menor estado da federação e fica localizado numa região historicamente marginalizada, longe do alcance da grande mídia, ou "longe demais das capitais", como dizia o grande filósofo Humberto Gessinger, então é natural que as coisas sejam mais difíceis de acontecer por aqui, em termos de visibilidade. Mas o importante é não ficar "sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar".

12 – Deixe sua mensagem final? - “Keep on rocking in the free world”

sexta-feira, 25 de junho de 2010

# 150 - 25/06/2010

Elvenking – Death and suffering
Allestorm – keelhauled
Blood or whiskey – No answers
Floggin Molly – Devils dance floor
Gaelic Storm – Na poc Ar buile
The Dubliners (Ao vivo) – Whiskey in the jar
(Bloco produzido por Débora Andrade)

Metropolis – Celebration of the vampire
That Band from Holland – Frank the guardlife II
(Drop Loaded)

Penny Mocks – Wait for the ballad
Nasi – Eu só poderia crer
Satanique Samba Trio – Cabra da peste negra

Electro Hippies – Mega Armaggedon death PT. 3
Napalm Death – you suffer

Danzig – Hammer of the gods
Iron Maiden – El Dorado
Ozzy Osbourne – life won´t wait
Arcade Fire – Ready to start
Isobel Campbell & Mark Lannegan – come undone

Led Zeppelin – Black Dog
The White Stripes – Icky Thump
U2 – Endless deep

Retrogoguetes – Maldito mambo!
Pata de elefante:
• Grandona
• Sai da frente
• Squirt surf

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(Wikipedia) Elvenking é uma banda italiana de folk e power metal. Foi criada em outubro de 1997 pelos guitarristas Aydan e Jarpen. Em março de 1998, o vocalista Damnagoras entrou para a banda, mas apenas em setembro o grupo encontrou estabilidade com a chegada de Zender, que assumiu a bateria.
Desde o principio, o Elvenking definiu como objetivo o uso da formula que mistura power metal, música folk e sons extremos em uma única combinação. O primeiro e único promo-cd, To Oak Woods Bestowed, foi gravado em 2000, levando a banda a assinar contrato com a AFM-Records. Para aprimorar seu som, o Elvenking contratou o baixista Gorlan. Sua primeira aparição na banda foi em um ensaio, mas logo se tornou membro permante.
O primeiro álbum oficial - Heathenreel - foi lançado em 23 de Julho de 2001 e recebeu excelentes críticas em todo o "mundo do metal", sendo considerado "álbum do mês" por muitas revistas e websites. Por razões variadas, o cantor Damnagoras foi forçado a deixar a banda em Agosto de 2002. Com o novo cantor Kleid e a entrada do violinista/tecladista Elyghen, o Elvenking gravou Wyrd, lançado em 19 de Abril de 2004.
Um período complicado marcou a banda após esse segundo álbum, terminando com o retorno de Damnagoras e a saída de Kleid e Jarpen.
Na area de shows, fizeram várias apresentações pela Europa, tocando em festivais como os de Szieget (Hungria), Bloodstock(Reino Unido), Agglutination (Itália), Tradate Iron Fest (Itália), D:O:A (Alemanha).

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(Wikipédia) Alestorm é uma banda de folk/power metal formada em Perth, Escócia, originalmente com o nome de Battleheart, em 2004. Suas músicas são caracterizadas por usar como temática histórias de piratas, razão pela qual eles descrevem seu estilo como "True Scottish Pirate Metal"(Verdadeiro metal pirata escocês). O primeiro álbum da banda foi lançado em 25 de Janeiro de 2008, entitulado Captain Morgan's Revenge.
Originalmente a banda consistia de três integrantes, Gavin harper, Stacey Shipman e Christopher Bowes, e gravou o seu primeiro EP independente (Battleheart) em 2006. Logo após o lançamento do disco o baixista Dani Evans e o baterista Doug Swierczek entraram para a banda. Battleheart realizou seu primeiro show ao vivo somente 5 dias depois de conhecerem seus novos integrantes.
O segundo EP (Terror on the High Seas) foi gravado no mesmo ano de 2006, agora com Dani Evans gravando o baixo, porém a bateria ainda era programada. Mais tarde no mesmo ano a música "Set Sail And Conquer" entrou no CD "Battle Metal V" da revista de heavy metal européia Metal Hammer, junto com outras bandas como Yýr, Hammerfall, Firewind e Blind Guardian.
No começo de 2007 o baterista Doug Swierczek saiu da banda por motivos pessoas e foi substituído por Ian Wilson da banda Catharist. Mudou então o nome para Alestorm, depois de ser contratado pela produtora Napalm Records. Seu álbum debut "Captain Morgan's Revenge" foi lançado em 2008. A faixa título também foi incluída no CD "Battle Metal VI".
Em abril de 2008 o single "Heavy Metal Pirates" foi publicado para download. Ian Wilson saiu da banda em junho, não podendo ser rapidamente substituído e foi temporariamente colocado em seu lugar o baterista Alex Tabisz. Em agosto desse mesmo ano, wilson retornou para a banda a tempo de participar dos shows em Ivory Blacks em Glasgow no dia 29 de agosto.
Em setembro de 2008, Bowes anuncio que o guitarrista Gavin Harper tinha deixado a banda, alegando não estar mais tão entusiasmado como quando a banda fora criada. Após um curto período, o baixista Dani Evans trocou de instrumentos e assumiu como guitarrista. No lugar de Evans, Gareth Murcock assumiu o baixo.




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(Wikipédia) Blood Or Whiskey e uma banda Irlandesa que mistura elementos do Folk Irlandes ao punk formando o chamado Irish punk, misturando punk rock com os instrumentos tradicionais irlandeses.



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(Wikipedia) Flogging Molly é uma banda americana de Celtic punk, que mistura música tradicional irlandesa com Punk rock. Foi formada no ano de 1997 em Los Angeles, California, EUA.









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(Wikipedia) Gaelic Storm é uma banda de música céltica, tanto irlandesa, como escocesa e indo até o celtic-rock. O grupo foi criado em Santa Monica, Estados Unidos.





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(Wikipedia) The Dubliners é uma banda de música tradicional irlandesa.






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(Wikipedia) "Whiskey in the Jar" é uma célebre canção tradicional irlandesa. Sua letra, que se passa nas montanhas de Cork e Kerry, fala sobre um salteador que é traído por sua esposa (ou amante). Uma das canções folclóricas mais conhecidas e executadas da Irlanda, vem sendo gravada por artistas profissionais desde a década de 1950, porém recebeu maior notoriedade depois de ter sido gravada pela banda folk irlandesa The Dubliners, que a executaram internacionalmente e a gravaram em três álbuns na década de 1960. Após o sucesso dos Dubliners, a banda de rock Thin Lizzy entrou para as paradas de sucesso da Irlanda e Reino Unido no início da década de 1970, e a banda de thrash metal americana Metallica a levou a um público ainda mais amplo depois de gravá-la em 1998.

As origens exatas da canção são desconhecidas. Diversos de seus versos e a trama geral lembram a de uma balada tradicional chamada "Patrick Fleming" (também "Patrick Flemmen he was a Valiant Souldier"), sobre um salteador irlandês executado em 1650.[1][2]

No livro The Folk Songs of North America o historiador de música folclórica Alan Lomax sugere que a canção teria se originado no século XVII, e, com base nas semelhanças, deduz que The Beggar's Opera, obra de 1728 do autor inglês John Gay, teria sido inspirada pela execução de "Whiskey in the Jar" feita por um cantor folclórico irlandês. Com relação à história da canção, Lomax afirma: "O povo da Grã-Bretanha no século XVII adorava e admirava seus salteadores locais; e na Irlanda (ou Escócia), onde os cavalheiros das estradas assaltavam os senhores de terra ingleses, eles eram vistos como patriotas e herois nacionais. Estes sentimentos inspiraram esta balada exuberante".[3]

A um certo ponto a canção foi levada para os Estados Unidos, onde se tornou uma peça favorita durante o período colonial por sua atitude irreverante em relação aos oficiais militares britânicos. As versões americanas da letra muitas vezes se passam nos Estados Unidos e abordam personagens americanos; uma destas versões, de Massachusetts, fala sobre Alan McCollister, um soldado irlandês-americano que é sentenciado à morte por assaltar oficiais britânicos.

A canção apareceu num formato próximo à sua versão moderna numa precursora, chamada "The Sporting Hero, or, Whiskey in the Bar", numa partitura do meio da década de 1850.

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Satanique Samba Trio (do site da banda)

Atualmente trabalhando em uma série de discos vindouros, o Satanique Samba Trio deseja que você morra de câncer. Abaixo, amostras gratuitas do que está por vir:

- CABRA DA PESTE NEGRA
- CANCRO MOLLY
- DF DEATH TRAP

Obs.: em um futuro próximo, algum maconheiro relacionado a banda disponibilizará novas peças para download neste SÍTIO, portanto mantenha suas visitas periódicas.

Não se anime, PORÉM: como a maioria dos fãs do Satanique Samba Trio vive no exterior e sabe-se nacionalmente que TODO GRINGO CAGA EM DÓLAR, a farra do download gratuito neste pardieiro está com seus dias contados.

CONSIDERANDO QUE é bem possível que um monte de estrangeiros pague por elas, quando os discos anteriormente mencionados saírem do forno infernal, suas faixas estarão disponíveis em lojas virtuais apenas para os otários que pagarem.

Então é isso, pestinhas! (responderemos eventuais dúvidas e ameaças pelo e-mail sataniquesambatrio@sataniquesambtrio.net)

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(Das "páginas negras" da revista trip): Nasi sempre foi um exemplar clássico dos excessos do rock 'n roll. Testou seus limites para quase tudo: cocaína, maconha, álcool,brigas, mulheres, estrada, comida trash. Mas nem ele estava preparado para o que aconteceu nos últimos meses. Depois de anunciar a decisão de dar um tempo do Ira!, Nasi brigou, primeiro no braço e depois na Justiça, com seu irmão/empresário e teve sua interdição pedida pelo pai. Em entrevista à Trip, ele dá sua versão dos fatos, não poupa ninguém (nem a família, nem Edgard Scandurra) e revela detalhes inéditos – incluindo o que ele chama de armação para interná-lo “com enfermeiro e camisa de força”. Nas páginas a seguir, Nasi abre o jogo.

“Eu vou revelar tudo para vocês agora.” Marcos Valadão, o Nasi, 46 anos, ex-vocalista do Ira!, o sujeito que virou notícia em outubro após sofrer um processo de interdição (no direito, um impedimento do exercício dos atos da vida civil), chega a um restaurante nos Jardins, onde foi realizada esta entrevista. Está tranqüilo, mas com um sorriso desconfiado no rosto. E logo solta esta frase: “Eu vou revelar tudo para vocês agora, tenho provas, já posso falar”. E, entre um copo de vinho e outro, realmente fala. Sobre tudo. Não foge de nenhuma pergunta.
“Vou contar uma coisa para vocês que ainda não contei para ninguém.” E começa a relatar o que, de acordo com ele, foi uma das piores noites de sua vida. “Dia 25 de outubro, 21h30, quinta-feira. Eu estava em casa fazendo um espaguete para uma amiga. Toca o interfone. Atendi, e um cara de uma maneira muito agressiva disse: ‘Desça, que eu tenho uma intimação por agressão para você assinar’. Estranhei e liguei para o meu advogado e para a delegacia que fica perto de casa. A pessoa da delegacia me disse: ‘Nasi, não desce, porque isso é uma armação. O policial ligou aqui e disse que
está com uma interdição para você, com enfermeiro e camisa-de-força, e que vai te internar’.
A história continua, mas com meandros que não cabem ser revelados aqui. O cinéfilo Nasi compara seu drama com Bicho de sete cabeças, no qual um pai pede a internação do filho em uma instituição psiquiátrica ao descobrir que ele fuma maconha. De acordo com Nasi, a “armação” teve participação de um policial, o homem que tocou seu interfone. Ele afirma também que registrou inquérito na Corregedoria da Polícia Militar contra o tal policial. Seu advogado, Rodney Carvalho de Oliveira, confirma. Mas explica que o caso corre em sigilo judicial e que por isso não pode contar nada.
Sim, a história de Nasi, o cantor da banda que durou 27 anos e lançou 13 discos, é hoje uma fábula policial cheia de envolvidos. Só seu irmão, o ex-empresário da banda Airton Junior, tem dois processos e um inquérito na Justiça contra Nasi. O inquérito foi registrado depois que os dois saíram na mão às 8h30 do dia 9 de setembro, em frente à casa de Nasi. Dias depois, era Nasi quem registrava inquérito contra o irmão, afirmando ter sido atacado com uma faca.
Como toda crônica policial, essa tem várias versões. Segundo Nasi, a briga ocorreu porque ele queria ter acesso às contas do Ira! e seu irmão não se conformava por ele ter decidido dar um tempo de um ano da banda e ainda ter anunciado isso para uma revista, que publicou – erroneamente, segundo ele – que o cantor estaria largando o grupo. O irmão diz outra coisa. De acordo com Airton, a briga ocorreu depois que Nasi lhe telefonou com ameaças de morte. Nasi não nega que tenha, mesmo, falado um monte pelo telefone. Uma coisa é certa. Os dois irmãos não se falam mais. Nem se consideram mais irmãos. Frases como “lixo humano” e “maluco insano” são trocadas dos dois lados, com a reportagem como intermediária. Nasi fala tudo. O irmão também, mas depois pede que suas declarações não sejam publicadas. E, de novo, a conversa ganha ares de reportagem policial. “Escreve que eu não tenho mais nada para falar, que meus advogados estão cuidando de tudo e que, se ele falar inverdades, será novamente processado”, diz Airton Junior.
Mas será que o Nasi está louco mesmo? Ele não nega seu jeito esquentado. “Sou brigão, mas não sou babaca.” Fato: ele se manteve coerente nas cerca de cinco horas que passou com a equipe da Trip. Mais relaxado, no fim deu muita gargalhada, conversou sobre músicas e contou histórias. Muitas histórias. O cantor, além da fama de mau, guarda também uma certa reputação de mitômano. E seu humor negro afiado faz os interlocutores rirem várias vezes.
Na entrevista, poucos foram poupados. Seus alvos principais são o irmão, ouvido pela reportagem da Trip, e Edgard Scandurra. O ex-parceiro do Ira! é chamado de Greta Garbo, Moby Tupiniquim e por aí vai. “Vou contar uma coisa que não contei para ninguém”, solta Nasi, de novo. E lá vem uma acusação pesada contra Edgard. “Eu estava com minha exnamorada e um casal de amigos em um bar, e o Edgard chegou quando meu amigo estava falando sobre ‘Pobre paulista’ [música que diz: “não quero ver mais essa gente feia/ não quero ver mais os ignorantes/ eu quero ver gente da minha terra/ eu quero ver gente do meu sangue”]. E ele sentou e disse: ‘Olha, essa música é realmente um preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não agüentava essa coisa de música baiana, de Caetano, de Gil’.”
Intrigas à parte, essa é uma acusação séria, considerada “mentirosa” por Edgard. “Essa é uma música punk. As pessoas ignorantes de quem falo na música não têm raça, não é isso. É de dentro para fora. Eu nunca disse para o Nasi que essa música era contra nordestinos, isso não é verdade. Acho que ele está apelando para aparecer”, declarou Edgard, que se disse ainda “triste com o fim da banda, mas feliz por estar longe de Nasi”.
Leia a seguir o que Nasi Valadão tem a dizer.
Você vai estrear como ator. Como é o filme? Olha, Sem fio é um filme de dois diretores [Tiaraju Aronovich e Vaner Micalopulos]. Mistura ação e questões comportamentais do nosso tempo. É sobre como as pessoas, por meio dos veículos modernos e digitais de comunicação, se distanciam cada vez mais, por causa da internet, do celular. O diretor procurou um não-ator para o meu personagem. O Castro é um atormentado, neurótico, destrutivo, autodestrutivo, viciado em cocaína e atendente de uma associação de valorização da vida. Um cara que não acredita no ser humano.
Quando rolou? Há um ano, e as filmagens foram em setembro e outubro. Por coincidência, o filme aconteceu no meio de todo esse burburinho, de interdição, separação, brigas etc. Então eu chegava ao set de filmagem possuído. Isso ajudou a compor o meu personagem, um atormentado. Teve dias que eu tive de dormir escondido na produtora de cinema.
Fez bem para você na época? Muito bem. Nunca tinha feito análise, e agora tenho de fazer, porque eu vou passar por um perito psiquiátrico, eles ainda vão ter que pagar por isso [risos].
A interdição é uma briga de família? É mais que isso, é uma briga de empresário e artista, esse é o problema. Eu realmente não sabia de certos recalques, de certos modos de agir do meu irmão. Eu e os outros caras do Ira! somos pessoas ingênuas. Eles se deixaram manipular. Pedi pra ver os contratos do Ira! do Acústico pra cá, porque eu tive um problema de borderô de um show meu que ele fechou. Atirei onde eu vi e acertei onde não vi.
Isso piorou com o anúncio da sua saída do Ira!? Não houve saída do Ira!. Decidi parar um ano e usei uma revista de celebridade para tornar público o que estavam tentando desconstruir.
E por que você estava a fim de dar esse tempo? Porque estava insuportável a nossa relação. Ninguém estava feliz.
Aí você falou isso na revista de celebridades... Dei uma primeira entrevista superserena. Só que a revista pegou e deu uma manchete assim: “Após 26 anos, Nasi deixa o Ira!”. E botou na capa. Lá dentro eu nunca disse isso aí. A única coisa que falei foi: “Em 2008, como está acordado, nós vamos parar”. E acabou que deu numa briga na frente do meu condomínio, às 8h30 da manhã, entre mim e meu irmão.
E como começou a briga? Eu deixei uma ligação para o [Airton] Junior, porque eu descobri um monte de coisa errada. Uma ligação em que eu estava xingando, ameaçando. Quem nunca fez isso? E então ele ligou às 8h, em casa, me chamando para o pau. Fomos para as vias de fato e acabamos na delegacia, no 51o DP.
E aí o Ira! parou de vez? No dia dessa briga, tinha um show. Eu liguei pro produtor e falei: “Pára a banda. Não vamos fazer o show. Eu não briguei com o irmão, briguei com o empresário, não dá pra separar as coisas”. E os caras não só vão fazer o show, como o Edgard sobe ao palco sem mim e fala que eu fui hospitalizado. Isso está na internet e eu estou processando ele por isso.
Como você ficou sabendo do processo de interdição? No dia 25 de outubro, às 21h30, véspera de sair nos jornais do Brasil inteiro sobre a interdição pedida pelo meu pai, eu estava na minha casa cozinhando um espaguete, esperando uma amiga. Atendo o interfone e o porteiro diz: “Nasi, tem um policial aqui, uma viatura, pedindo pra você sair para assinar uma intimação”. Eu atendo, e um cara, de uma maneira muito agressiva, diz para eu descer, pois tinha uma intimação por agressão. Eu estranhei. Liguei para o meu advogado e para o 51o DP. Na delegacia, me disseram: “Nasi, não desce, porque isso é uma armação. Esse policial ligou aqui e disse que está com uma interdição contra você, com enfermeiro e camisa-de-força, e que vai te internar. Eu agradeci e, na mesma hora, liguei para o meu advogado e acionei a PM. Interfonei para o policial na portaria e disse para ele me esperar, que eu estava chamando um delegado do 51o DP, para relatar tudo aquilo. Ele foi embora.
E o que você fez? Liguei para os meus advogados e falei que o cara tava falando que queria me interditar. Eles ainda disseram: “Imagina, Nasi, você está louco?” [risos]. Mas o fato é que do lado de fora da minha casa estavam o advogado do meu pai, que tinha uma curatela parcial que autorizava a internação forçada, como se eu fosse um drogado, entendeu?, dois enfermeiros com uma camisa-de-força, o policial e uma rede de televisão. Se eu saísse, o que ia acontecer?
Você iria reagir? Exatamente. É pior do que [o filme] Bicho de sete cabeças, você concorda? Porque eu tô limpo, eu acho que não podiam me internar por eu tomar Cabernet Sauvignon... Brincadeiras à parte, o que foi criado é uma verdade kafkaniana, ninguém ia acreditar em mim, né?
Mas havia a ordem para te internar? Isso funciona assim: meu irmão pega um laranja, no caso o meu pai. Eles arranjam um psiquiatra, contratam um psiquiatra, que faz o que se chama laudo indireto, sem a minha presença. Bacana, né?
Ele não te examinou? Sabe quem ele entrevistou? Meu irmão, Edgard Scandurra, André Jung, quer dizer, todos que estavam brigados comigo por causa da minha separação do Ira!, e ainda fizeram o requinte de pegar uma ex-namorada minha, de quem eu estava separado havia um ano e meio e com quem tive um relacionamento conturbado. O mais surreal de tudo isso: em 1985, o Edgard e o André, no início da nossa carreira, foram presos supostamente por porte de entorpecentes. Eles foram inocentados no julgamento, eu fui testemunha deles. Eu falei pro juiz e, não riam por favor, “excelência, eu jamais vi eles usando drogas” [risos]. Vinte e três anos depois, eles, que sabem que eu não uso drogas, ajudam uma pessoa a criar uma situação em que eu poderia estar babando num lugar, entendeu?
E o seu pai nessa história? Na sexta, saiu nos jornais de todo o Brasil. Meu pai vem do interior declarando assim: “Vim tratar meu filho que está internado”. Meus advogados foram ao fórum e os advogados do meu pai tinham levado o processo pra praia. Nem os meus advogados sabiam o que era. Se dava mesmo direito à internação... A farsa toda era a seguinte: que eu já estaria internado quando ele chegasse, entendeu?
Você estava com muita raiva? Uma puta raiva e não podia demonstrar. Tinha que falar “eu perdôo meu pai”, como em parte perdôo. Eu tenho pena dele, porque é sustentado pelo meu irmão. Tenho compaixão, amor por ele, mas não orgulho.
E como era sua relação com seu irmão antes? Nunca fomos muito próximos. Nem crianças? Não. Um amigo dos dois, que tentou intermediar a situação depois da briga na porta do meu condomínio, ligou pra mim e disse: “Esse cara te odeia”. Ele gravou uma conversa com o Junior. Ouvi coisas que não dá nem pra falar. Coisas do tipo: “Vou destruir o Nasi para salvar o Marcos”. Tipo o Pelé e o Edson, sabe? Vai ver que existe o Airton e o Junior nele também, né? Eu não sei quem é essa pessoa.
Você é o mais velho? Sou. Só aprendi a brigar na rua por causa dele. Na rua, ele era um garoto que todo mundo queria bater porque era um folgadinho e eu tive que aprender a brigar por causa disso.
Você aprendeu bem, né? Aprendi bem.
E tomou gosto, né? Também [risos].
Daí que veio o disco Meninos da rua Paulo? Tem uma relação? Acho que tem. Fui um menino de rua, no bom sentido.Eu morei na Bela Vista, nasci na Treze de Maio, onde havia gangues de rua. Era um período de ditadura militar, meu pai desempregado. Estudava em colégio estadual, jogava bola na rua. Aprendi a lei da sobrevivência...
Depois do fim do Ira!, ficou o André com o Edgard de um lado, e você e o Gaspa do outro. Ou era cada um por si? Cada um por si. Eu e o Gaspa, a gente nunca teve problema. O André morava comigo e eu levei pro Ira!. Ele não era o baterista que o Edgard queria. Eu levei ele porque eu acreditava nele. E o que ele tentou fazer comigo? Tentou seguir o Ira! sem mim, como se eu fosse um detalhe na banda, e ainda foi cúmplice da interdição. Que desencanto. Não que eu seja uma pessoa ingênua em relação às pessoas, mas acho que é muita falta de gratidão.
O Ira! aconteceu rápido, né? Porque no segundo disco já tava estourado, com música na novela das oito... Foi toda a nossa geração, né? Bandas como Ira!, Legião, Titãs saíram do gueto e foram pra uma coisa que fez parte até da abertura política do Brasil, de uma renovação de artistas. Precisava dessa nova cara, de a juventude que consumia também começar a ditar moda e cantar suas canções. A MPB vivia uma crise muito grande e já não refletia a juventude brasileira. E nem poderia também.
Quando desandou a relação? De dez anos para cá. Eu tenho um problema de muita discordância com o Edgard, de eu não aceitar certas coisas do comportamento dele. Eu tô de saco cheio da pessoa que ele é, ou que se tornou, porque eu fui um fã do Edgard, quando estudávamos no colégio estadual.
Era amizade de muitos anos? A gente foi se distanciando nos últimos tempos, infelizmente, foi uma coisa de competição. Que poderia ser sadia, em algumas bandas é, vira uma eletricidade no palco. No nosso caso não foi. E eu fui perdendo a admiração.
Vocês estavam meio Rolling Stones, que faz disco sem se falar? Estava pior. O Edgard foi falar na Folha que eu me precipitei ao falar sobre a parada em 2008. Pô, como eu me precipitei? Eu sou um cantor de rock, sou precipitado por natureza! Vou agir como uma família burguesa que bota tudo pra debaixo do tapete? [Risos.]
Você acha que teve uma euforia dessa volta ao sucesso do Ira!? Você estava feliz? Eu tava, mas, porra, o Edgard não estava. Ele estava inconformado. Por quê? Porque pô, meu, desculpa, o público me ama. Fiz um bom trabalho e subia no palco satisfeito. O público percebe isso. O músico que pensa que o público não percebe que um está com picuinha... Isso não vale o cachê pra mim. Eu preciso de dinheiro como qualquer pessoa, mas não podia ficar assim. Não foi só uma turnê, há muito tempo está assim. É como se ele falasse: “Olha, ninguém aqui pode aparecer mais do que eu”. É uma quebra de cumplicidade.
Agora tem um negócio de a crítica de colocar o Edgard num pedestal. Ele foi eleito o melhor guitarrista do Brasil várias vezes. Fazia mal pra você isso? Isso fez muito mal pra ele, cara. Eu sempre torci pra ele nesse sentido. Eu fiquei decepcionado na hora que começou a virar pro meu lado. Sempre o achei excelente, excepcional. O problema do Edgard é que, quando falaram que ele era gênio, ele acreditou.
Teve inveja do Edgard quando ele lançou o disco solo? Não, imagina.
Não pensou assim: “Ele pirou nessa onda eletrônica”? Claro que eu pensei. Porque o Edgard ficou insuportável nessa época. Quando eu produzi hip hop, e fiz o Psicoacústica (1988), o Edgard olhava pro hip hop, essa coisa de DJ, e achava um absurdo. Enquanto a gente estava lá no Juventus, na periferia, já existia música eletrônica, aí na hora que foi pros Jardins todo mundo quis ser moderno. Detesto esse termo moderno, mesmo porque a gente já passou pelo pós-modernismo. O Edgard virou um fundamentalista de uma coisa que é anacrônica, fundamentalista moderno é anacrônico, né?
Ira! sofreu porque é uma banda bem paulista? Foi um erro gravar “Pobre paulista”? Essa música é de antes do Ira!. O Edgard fez quando era Subúrbio ainda, quando eu conheci ele no colégio. Eu olhava essa música e tinha uma outra leitura sobre ela. Eu achava que era sobre rebeldia juvenil, sobre a opressão... Quando nosso clima estava ruim, eu estava num bar com minha ex-namorada e um casal de amigos, depois de um show do Acústico MTV. Apareceu o Edgard bem na hora que o meu amigo estava falando sobre “Pobre paulista”. O Edgard senta na mesa e diz assim: “Olha, não é nada disso, não tem nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não agüentava essa coisa de música baiana, de Caetano, de Gil”. Na hora, esse foi mais um dos insights que eu tive. Puta que o pariu, defendi durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia, eu saí de lá falando assim “eu nunca mais canto essa música”.
Tem outras músicas do Ira! banidas? Não, por mim é só essa. Sou preconceituoso: separo as pessoas entre as de caráter e as sem caráter, mas pra mim pode ter a cor que tiver. Com certeza eu acho o nazifascismo a excrescência da humanidade, eu acho o racismo a falta total de humanidade, inclusive de inteligência, de alguma espécie de cultura.
E o Nasi, de onde surgiu? Tive muito problema com isso. Esse foi um apelido que eu tive no colégio, passava Holocausto, uma série na televisão que tinha a popularidade que o Big Brother tem. Nessa fase do colegial, eu era tão briguento e tão revoltado com a escola estadual que começaram a me chamar de nazi, de nazista, na verdade. No primeiro disco do Ira!, eu assino Marcos Valadão, e tem muita gente que até hoje fala assim “poxa, e como é que foi que você entrou no Ira!?”.
O Ira! foi uma banda de altos e baixos na carreira, certo? Acho que era por essas coisas que o público nos amava. O Ira! passava por cima de tudo. E ninguém mais do que eu lamenta esse tipo de fim que a gente teve porque vai contra até muitas canções que a gente cantou, né? De amizade, de amor, de lealdade... O Edgard vinha falando, há dez anos, “essa é minha última turnê, eu quero parar, preciso dar prioridade ao meu trabalho solo, esse é meu último disco”. Hoje eu vejo que era uma chantagem, porque no dia que eu cheguei e falei “acho que a gente chegou num ponto legal e paramos”, aconteceu isso tudo. Eu tenho uma raiva do Edgard... Mas tenho um respeito por ele, porque nós que começamos isso. Do nada!
Ninguém imaginava que fosse fazer sucesso? Graças a Deus! Às vezes eu critico muito a década de 80, porque eu quero desmistificar um pouco. Tinha muita porcaria, né? Como também tem hoje. Mas é óbvio que eu tenho que falar que tinham poetas de qualidade lá, mesmo porque eu acho que também existia um mundo em transformação, principalmente no Brasil, que necessitava disso. A gente hoje também vive um mundo muito medíocre, é difícil também. E montar uma banda de rock serviu para... Para impressionar as garotas, para não ter patrão.
Você tem fama de ser mulherengo também. Isso se justifica? Sou tão tranqüilo. Até brinco: “Se eu sou um cantor de rock e não posso fazer algumas bravatas, quem pode?”. Teve uma recente que até hoje gera polêmica, né? Aquela das 1.158 mulheres. Na verdade, eu nunca contei. Isso foi o seguinte: quando a Playboy me entrevistou, eu sabia que eles iam me perguntar isso: “Na década de 70, o jogador Paulo César Caju declarou que tinha transado com mil mulheres, e você, Nasi?”.
Aí você chutou um número? Claro. “Eu transei com muito mais que isso, parei no 1.150 e alguma coisa.” Sempre procurei aproveitar a vida e amar as mulheres da maneira mais intensa possível. Com muitos erros, muitas paixões, muitos amores, muitas decepções. Eu digo pra você com todas as letras, é a coisa mais importante da minha vida: um grande amor. E ainda é.
O que te impede? Não tenho condições de desenvolver uma relação estável, nem de ter um peixinho de aquário. Também não quero esse tipo de relação que a maior parte dos meus amigos músicos tem, sabe, de deixar uma mulher em casa...
Aquela que você fica traindo? Exatamente. Sou ambicioso no amor e mais romântico do que pareço. O que eu procuro ainda não encontrei. Cresci muito nos últimos tempos nesse sentido. E cresci também no sofrimento. Tem horas que eu deito no meu travesseiro e falo: “Como eu queria alguém, importante, comigo, do meu lado”. Só uma pessoa, e não tenho. Ao mesmo tempo eu tenho que passar por isso e sei que vou sair disso mais forte.
Quais foram seus grandes amores? Ah, vários. O último foi dois anos atrás. Uma pessoa que eu magoei muito e que me magoou muito.
Ela também foi ouvida no seu processo de interdição? Era ela. Mas foi usada também. Isso é uma das coisas que eu acho mais covardes, pegar coisas que são mais delicadas pra mim pra tentar me destruir.
Como foram os dias pós-furacão? Como você conseguiu sobreviver a eles? Ao mesmo tempo que me faltou um pai na vida, eu encontrei uma pessoa do candomblé que é mais do que um sacerdote, foi quase que um pai de outra vida que veio me dar amparo.
Quando você se aproximou do candomblé? Em 1989, em Salvador. Minha mãe era médium de incorporação, então eu já conhecia espiritismo, já conhecia toda a obra do Kardec, já tinha freqüentado umbanda, mas o candomblé não. Na época eu conheci uma senhora muito simples em Itapuã, fui jogar búzios com ela. Era uma senhorazinha, mãe Margarida; no fundo da casinha dela tinha o Ilê, e lá eu fui começar a me religar espiritualmente com uma religião que... [pausa longa] que transcende essa vida que estou tendo. Depois perdi o contato. Inclusive foi num período de decadência. Na década de 90 eu estava realmente com problemas com as drogas, e ela faleceu. Eu me envolvi com outros lugares até que, há um ano, conheci o pai Amaro de Ogum Corodé. É um homem de 69 anos, sacerdote do Ifá, a religião mais antiga dos orixás. Foi aí que novamente me religuei.
Te deu uma equilibrada? Os trabalhos que eu fiz, que venho fazendo, me deram um equilíbrio espiritual que nunca tive. E a proteção. Vocês percebem que a minha vida é antes e depois daquele dia da interdição? Por que eu não saí de casa naquele dia? Porque alguma coisa fez assim [estala os dedos]. Isso é só um exemplo, entendeu?
Nessa hora do desespero você chegou a ligar pro Amaro? Ele foi me buscar. Saí no porta-malas do carro dele.
Ele te deu essa proteção de família? Mais que isso. Falo com ele todos os dias. Nunca falei tanto a palavra pai como hoje. Você está conseguindo ver algo positivo nessa situação? Não sou Poliana não, eu sou mais cético. Mas estou vendo essas coisas e tenho fé. E eu sei que a minha fé foi uma das responsáveis por pegar um amigo, ou um colega de classe na baixa Vila Mariana, e transformar em uma marca de bom rock no Brasil.
Já ganhou muito dinheiro? Nos últimos anos, eu fiz minha poupança. Mas estou tendo que gastar muito nos últimos tempos.
Você só conseguiu guardar dinheiro quando já tinha uma certa maturidade? Tenho uma vida muito simples. Não saio. Gosto de bons vinhos, mas de custo–benefício de R$ 50 a R$ 100. Não consigo pagar 200 paus num vinho, sei lá, só se eu falar: “Pô, ganhei uma puta grana”. Fumo charuto cubano, que custa R$ 70. Mas não fumo toda hora. Tenho minha casinha lá na praia, na Bahia, é isso.
Ainda come mal como nos tempos de estrada? Não, eu como bem. É que na estrada eu como mal. Pra fazer um lance como a turnê com o Acústico, de mais de 200 shows, você tem que enfrentar estradas terríveis, tem que comer em lugares horríveis, no horário que der para comer. Ossos do ofício. Mas é um sacrifício grande.
Cuida bem da saúde? Claro. Tem uma história interessante. Minha filha mais velha, com quem não tenho muito contato porque não me relaciono bem com a mãe dela, passou comigo um tempo lá na minha casa na Bahia. Foi a primeira vez que a gente ficou junto. Na hora do almoço, ela virou pra mim e falou: “Pai, você está com problema no coração?”. “Por quê?” “Porque o Edgard falou que você foi hospitalizado por causa de um problema no coração.” E eu falei: “Não, filha, isso foi inventado”. Isso porque ela me viu tomando uma pílula, aí expliquei que o papai toma finasterida pro cabelo.
Você é vaidoso? Não, mas tenho de me cuidar, né? Gosto de me olhar no espelho, ver qual é o meu melhor ângulo, sem loucura nenhuma. Trato do meu cabelo, que hoje em dia é pouco. Tenho que me cuidar, eu sou um cantor, cara. Eu gosto de comer muito bem, tento ficar vigiando meu peso, sem ser neurótico. Continuo andando todo dia. Porque se eu fico viajando não consigo fazer uma coisa simples como essa.
Faz esporte todo dia? Sempre que dá, uma hora e meia.
Começou depois de se livrar das drogas? É.
E como foi sua história com as drogas? Nos anos 80, cheirava-se loucamente, né? E continuam.
Sua droga era mesmo o pó? Comecei tarde. Com tudo. Até os 20 anos de idade, eu não fumava cigarro, não bebia, não fumava maconha, achava que era coisa de hippie, que o sistema venceu por causa desse lance de paz e amor. Eu era punk. Me lembro que os caras me trancavam no carro e era a maior fumaça. O primeiro cara com que eu fumei um baseado foi o Gaspa. Porque ele nunca me ofereceu. Foi aí que eu me senti à vontade para pedir e comecei a usar compulsivamente, de 20 pra 21 anos. Aí, eu comecei a fumar cigarro pra ver se eu fumava menos maconha, sabe? Comecei a fumar os dois muito. Aí, na década de 80, pintou tudo, cocaína, heroína também, misturadas. Entrei nessa doidera, fui fundo.
Notou que aquele negócio estava te dominando? Num primeiro momento, não. Eu sofri um acidente de carro e, até porque eu fiquei sob cuidados médicos, larguei por livre e espontânea vontade, sem terapia nem nada, a cocaína. Mas continuei fumando maconha feito um louco. Te juro que naquela época eu falava “nunca mais vou cheirar” e fumava. Acordava fumando maconha. Bastou uma decepção amorosa pra mim, o fim do meu relacionamento com a Marisa Monte – e ela não foi culpada, porque foi uma
coisa natural, eu já tinha pisado na bola com ela o suficiente. Aí eu passei um período na minha casa, enfurnado, deprimido. E um dia eu reencontrei o diabo vestido de branco. Virei uma pessoa completamente social, a depressão foi embora, e era eu o senhor da noite. Durante um ano eu comia, transava, dormia bem. E depois começou o meu calvário. Só depressão, minha carreira foi pro lixo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

The Big Four

Em entrevista para a revista Revolver, o guitarrista Kerry King do SLAYER e Dave Mustaine, líder do MEGADETH, falaram sobre o "Big Four", reunião das bandas Metallica, MEGADETH, SLAYER e ANTHRAX. Confira trechos abaixo.

Revolver: Como surgiu a turnê "Big Four"?

King: "Foi algo que eu estava tentando fazer acontecer, então eu simplesmente fui convidando todo mundo. Eu tenho que dizer - cara, eu não posso acreditar, que desde 27 anos atrás quando lançamos nossa primeira gravação, ninguém tentou fazer isso acontecer. Porque agora que está acontecendo, é tão legal, é tão importante, que o mundo inteiro o quer. Eu não sei porque isso demorou tanto".

Mustaine: "Nós tivemos algumas oportunidades de fazer estes festivais, e nós estávamos fazendo datas do Carnage (com o SLAYER) que, claro, é tão popular nos Estados Unidos e Canadá. Para mim, particularmente, eu não vi isso acontecendo... Estava jantando com Lars (Ulrich, METALLICA) na outra noite, ele me disse que tinha falado com o tour menager do Slayer um ano e meio atrás sobre como isso ia ou não acontecer, e eu pensei, 'Deus, eu estou tão grato de não saber disso um ano e meio atrás, porque eu gastaria todos os meus dias com aquele pensamento: eu tenho uma grande turnê chegando'".

Revolver: Por um longo tempo, parecia que havia um atrito entre vocês, especificamente entre o SLAYER e o MEGADETH, e MEGADETH e o Metallica. O que quebrou esse gelo?

King: "Antes de fazermos as turnês australiana e japonesa com o Megadeth, eu estava lendo uma matéria do SLAYER na Revolver e acabei lendo a entrevista com o Dave. E eu simplesmente nao conseguia lembrar porque eu não era mais amigo desse cara - eu não conseguia lembrar porque eu estava chateado. Então nós chegamos ao aeroporto, e eu vi ele chegando do lounge e o cumprimentei e disse 'Hey cara, acho que eu não falo com você há uns 15 anos!' Nós temos uma porradas de datas por vir e, honestamente, quando eu falei com ele, eu lembrei do cara que eu conheci 25 anos atrás".

Mustaine: "Nós apenas aprendemos a dar um passo atrás e ver o que estávamos enfrentando no mundo, o 'Big Four', e como cada banda contribuiu para isto de sua própria forma. Eu tive uma grande virada em toda a minha visão de vida entrando nesta turnê, com um novíssimo relacionamento. A primeira pessoa com quem falei foi Kirk (Hammett, do METALLICA). Nós conversamos um pouco e então, no jantar, eu sentei junto a James (Hetfield) e Lars (Ulrich), e foi legal enxergar as coisas - o quanto nós tínhamos mudado o mundo... Vinte anos atrás, esta turnê provavelmente não aconteceria - éramos todos jovens, e não sabíamos lidar com a fama muito bem".

Revolver: O que o Slayer representa no "Big Four"?

King: "Nós representamos tudo o que é demoníaco no 'Big Four' e, historicamente, eu acho que nós representamos melhor o thrash, mas é engraçado como estas quatro bandas deste mesmo movimento tomaram identidades tão diferentes".

Revolver: E sobre o MEGADETH?

Mustaine: "Nossas letras são um pouco mais profundas do que alguns dos outros, mas nós somos todos diferentes neste ponto - as letras do Slayer são realmente diferentes do ANTHRAX. Somos realmente como uma janela de quatro vidros, sabe - quatro diferentes vantagens, todas através da mesma mensagem".

Revolver: Considerando que o Metallica é a atração principal [N.R.: sendo o último a se apresentar] Kerry, eles deveriam estar preocupados em perder espaço para um de vocês?

King: "A única coisa com a qual eu não estou feliz - e nós não sabíamos disso até chegarmos aqui - é que isto não é sempre o 'Big Four' em sequência. Alguns dias há outras bandas entre nós, isso é meio irritante. Uma noite finalizada com ANTHRAX, MEGADETH e SLAYER deveria ser brutal. Eu não tenho nada contra essas outras bandas, mas eu não sabia disso. Mas sim, nós abrimos para o Metallica algumas noites. Eu tenho visto o dobro do Metallica nesta turnê, e eles podem não ter toda essa lenga-lenga e sinos e assovios que eles tinham nos Estados Unidos, mas eles continuam matadores. Eles são profissionais, cara, eles não tem nenhum problema. Isso quer dizer, cara, que nosso set é brutal e não está lá para fazer amigos".

Tradução por Lucas Steinmetz

Revolvermag

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Forró com rock

O Forrócaju (abaixo em fotos de Arthur Soares, da Snapic) e demais festas juninas continuam, mas sexta-feira já tem rock nas ondas da 104,9 FM. A partir das 20:00. Pela Internet em www.aperipe.se.gov.br

Até lá !





Rock Em Rondônia ...

COBERTURA DO FESTIVAL CASARÃO, EM PORTO VELHO, RONDÔNIA.

por Marcos Bragatto

REG

PRIMEIRA NOITE - Começou dia 16 de junho, em Porto Velho, a décima edição do Festival Casarão, com dois shows no Piratas Pub. A noite, tida para marcar o pontapé inicial do festival, reuniu um público reduzido – boa parte produtores, organizadores, imprensa e convidados - para ver o baixista do Pato Fu, Ricado Koctus, apresentar seu trabalho solo, com uma banda montada na própria cidade. A abertura coube à banda local Versalle, bastante apoiada pelo público, mas que sofreu com a equalização do som.

Com Fernanda Takai deslanchando como cantora solo e John Ulhoa produzindo e tocando na banda dela, era natural que Koctus também fizesse um trabalho pra chamar de seu. Mas enganam-se os que pensam que seria ele o patinho feio do Pato Fu. Koctus tem um vozeirão daqueles, composições próprias e moldou sua apresentação de intérprete tal qual um crooner canastrão, com um repertório romântico, no limite do brega. Não por caso sacou pérolas como “Impossível Acreditar Que Perdi Você”, do também mineiro Márcio Greyck, redescoberto ainda por Tony Platão, e “Como 2 e 2”, de Caetano Veloso. Ricardo deixa a timidez de lado e se revela um inesperado entertainer, contando histórias e brincando com os músicos de sua banda entre uma música e outra. Em um dado momento, levou riffs das músicas “Black Night” e “Smoke On The Water”, do Deep Purple, e improvisou uma versão para o clássico “La Bamba”, famosa na voz de Richie Valens, que um casal havia pedido. Brega pra você? Nem tanto.

Ricardo Koctus também tem as suas composições. A que abriu o show, “Por Você e Ninguém Mais”, já resumiu o romantismo do repertório. Por vezes, é difícil saber se a postura do músico é para emocionar de verdade ou se o jeitão canastrão não passa de um personagem criado para pura tiração de sarro. De um modo ou de outro, o show vale - é diversão garantida, quando cantor faz as vezes de Elvis Presley e cita o piegas “Ghost – Do Outro Lado da Vida”, ou mesmo quando se compenetra para sacar do fundo do baú “Killing Moon”, do Echo And The Bunnyman. Ricardo Koctus bem que queria ter tocado outras canções de seu repertório, mas o avançar da hora fez com que o público fosse minguando aos poucos, e ele se retirou depois de levar um blues de improviso, finalizando cerca de hora e meia de apresentação. Na alta madrugada de uma quinta-feira, em Porto Velho, nem precisava.

Na abertura, o Versalle mostrou o interesse e cuidado com as guitarras, num show salpicado de covers. Bandas como Queens Of The Stone Age e Placebo são exemplos das fontes em que os rapazes bebem. O problema é que o som, que funcionou no show principal, atrapalhou o grupo. Embolado, potencializou a timidez do vocalista Criston, que precisa mais firmeza para soltar a voz de verdade e deixar de lado clichês consagrados por Rodrigo Amarante (Little Joy). Formado há menos de um ano, o grupo ainda tem uma longa estrada pela frente, mas o potencial é bom, sobretudo no trabalho da dupla de guitarras.

SEGUNDA NOITE - O segundo dia do Festival Casarão espalhou o rock pela cidade de Porto Velho, com os shows acontecendo em três locais. No início da noite, os palcos gratuitos, montados na região central da cidade, mobilizaram a maior quantidade de público até agora. Um, em plena praça pública, reuniu bandas do rock pesado bem em frente ao Palácio do Governo; o outro, no Mercado Cultural, uma construção histórica reformada há pouco tempo pela prefeitura, e reduto do samba local, viu a mistura de ritmos regionais com o rock. Ou seja, na véspera do feriado estadual do Dia do Evangélico, o rock profanou Porto Velho no seu mais tradicional status quo.

No palco da Escadaria da Unir, a gratuidade dos shows reuniu camisas-preta de todas as tendências. Inconformado com a recepção inicialmente fria do público, o vocalista da Hipnose, que abriu os trabalhos, disparou: “Vocês são emo, porra?”. Foi o suficiente para um que um clima de tensão fosse quebrado e participação fosse crescendo a cada show. O som do Hipnose é mais identificado com o nu-metal, fato que pode ter contribuído a desconfiança do púbico. Mas a banda sofreu mesmo foi com o terrível equipamento de som, que limava instrumentos e os traziam de volta o tempo todo, isso sem falar no volume inexplicavelmente baixíssimo – problemas que se repetiriam durante toda a noite.

Ajuntando várias tendências do thrash e do death metal, o Dyviron se mostrou mais familiar à platéia. Também, pudera. Cada música que o grupo iniciava fazia lembrar um clássico do subgênero, de Metallica a Sepultura. Tudo graças a um guitarrista técnico que tocava com boa precisão, embora petrificado no palco. Só falta agora o grupo deixar de lado a máxima das “bandas cover com músicas próprias”. A pitada de hardcore veio com o NEC, mas àquela altura o público era bastante disperso como se fizesse um pic-nic na Praça, tendo o grupo como pano de fundo. Para piorar, os shows do Mercado Cultural começaram a acontecer ao mesmo tempo, desmobilizando totalmente o palco externo. O disparate foi tanto que durante o show do Bedroyt, único dos grupos voltado ao metal tradicional/hard rock, o Mugo (na foto acima), de Goiânia, que seria a atração principal do Palco da Escadaria, convenceu a produção de se apresentar dentro do Mercado Cultural. Sábia decisão.

Lá dentro, dois trios instrumentais resgatavam ritmos regionais do Norte com certa virtuose. O local Expresso Imperial é típica banda de baixista comandada por Ramon Alves, que dita o andamento de quase todas as músicas. Como é muito novo, falta ao grupo superar a timidez – o guitarrista chega a tocar de costas pra o público – e ganhar entrosamento para que a música ganhe fluidez e boas composições apareçam. Uma coletânea de instrumentais do Rush cairia muito bem no tocador de mp3 dos rapazes. Já ao Caldo de Piaba, um dos queridinhos do cenário independente nos últimos tempos, não falta nada. O grupo é bem entrosado, toca brincando e faz ao mesmo tempo música com boa técnica e dançante. Padece – assim como o Do Amor, a atração principal do palco – pelo resgate de ritmos regionais de gosto questionável. Há até certa identidade com o público local, mas oxalá não passe disso.

O Do Amor, do Rio, tem como vantagem o fato de os locais verem suas raízes regionais refletidas num grupo da capital cultural do País. O quarteto também se dá melhor por não ser “apenas” instrumental, muito embora nenhum dos integrantes – músicos de mão cheia, nota-se – saiba cantar direito. Ainda assim, eles vão moldando um modus operandi musical que pode superar as escolhas equivocadas. Uma instrumental da fase guitarrista de Pepeu Gomes cairia bem no lugar da inefável “Pepeu Baixou em Mim”.

Mas o caldo entornou mesmo quando o recém transferido Mugo (foto) fez, no Palco do Mercado Cultural, aquele que era para ser o grande finale na Praça, do lado de fora. O grupo goiano superou – e de longe – todas as outras apresentações. O som deles, pesadíssimo, reside em algum lugar da história em que o death metal melódico europeu cruzou o Atlântico e se encontrou com a quebradeira do nu-metal. Mesmo com apenas um guitarrista, o esporro é garantido. Foi o único momento da noite em que o público participou mais ativamente à beira do palco, onde – em tempos de Copa do Mundo – até Messi e Ballack bateram cabeça abraçados.

O esforço da produção em descobrir um novo formato, para substituir os tempos em que o festival era realizado no casarão que lhe deu o nome às margens do Rio Madeira (até 2008), está resultando numa permeabilidade que ainda viu o Autoramas tocar no Piratas Pub, no coração da boemia jovem de Porto Velho. O grupo carioca trouxe o show no formato acústico com suas vantagens e desvantagens. Se mostrou versões interessantes para hits de outros artistas, como “Blue Monday’, do New Order, e novas como a impagável “Samba Rock do Bacalhau”, deixou de fora hits do naipe de “Carinha Triste” e “Fale Mal de Mim”. No computo geral prevaleceu a pegada rock da banda, mesmo com violões que – esperamos todos – estejam com os dias contados.

TERCEIRA NOITE - Fez pouso ontem, no Kabanas, em Porto Velho, a edição desse ano do Festival Casarão. O festival vem em palcos itinerantes desde a última quarta. Com uma instalação mais estruturada, não foi problema para as bandas fazerem grandes apresentações, cada qual com seu público e tamanho. Curiosamente, se destacaram dois grupos que usam o rock como veículo para lançar misturas inusitadas, que, de forma improvável, funcionam. Se o Cidadão Instigado usa as guitarras para resgatar a música brega dos anos 70, o comunidade Nin-Jitsu faz de riffs consagrados do classic rock a cama para trazer à tona a batida do miami bass, há séculos chupada no tal funk carioca.

Nem sempre é fácil reproduzir no palco aquela porção de barulhinhos que o Cidadão Instigado grava em estúdio, mas é notório o esforço que Fernando Catatau e sua turma fazem atingir esse objetivo – plenamente alcançado. De outro lado, Catatau parecia mais agressivo ao empunhar sua guitarra, num sinal de que a tendência é show, hoje correto, crescer ainda muito mais. O grupo, por exemplo, não está tocando mais a íntegra de “U-HUU”, sua obra prima, e ontem fez um show até curto – cerca de uma hora –, que inclui uma música do álbum anterior, “Método Tufu…”. Ele ainda teve parte do tempo emprestado para o guitarrista Edgar Scandura levar dois hits do Ira! (“Tolices” e “Núcleo Base”, cantada a plenos pulmões por Catatau) e uma músicas de sua carreira solo. Poderiam ter investido mais na parceria, colocando Edgar para tocar músicas do Cidadão, o que não rolou.

Mas quem melhor soube aproveitar a estrutura e colocou pressão nas caixas foi o Comunidade Nin-Jitsu. Riffs de guitarra tomados de clássicos do rock, assim como acontece com o batidão de morro carioca, tomaram conta do salão de forma avassaladora. A linha guia do grupo cruza pontos fora da curva como Falco, Cream e o “Rap da Felicidade”. O Comunidade já faz parte da história do rock nacional por ter transformado o funk de morro em música de qualidade minimamente razoável, não apenas matéria-prima para antropólogos descolados. Por isso, é mesmo um mistério o grupo gaúcho não ser convidado para se apresentar em outros festivais – Mano Changes deixou isso claro ao agradecer à produção do Casarão por terem “lembrado da gente”. O grupo tem um disco novo, “Atividade na Laje”, e dele soltou pérolas como “Funk da Paz Rebola o Resbolah” (preparadas de plantão não aceitaram o convite para testar o ritmo no palco) e “Chuva nas Calcinha”, além de velhos hits como “Detetive” e “Analfabeto”. Com bases oriundas do funk de raiz, o grupo fez de longe o melhor show desses três primeiros dias.

Não que isso fosse fácil, porque ninguém ali queria deixar barato. O Hey Hey Hey, por exemplo, headliner do palco B, mandou um rock vigoroso, com um bom trabalho de guitarras. O vocalista Marcos é curto e grosso, e parece retirar daí mesmo, paradoxalmente, o carisma com leva suas músicas: um punhado der boas canções já registradas em quatro EPs, pesadas na medida certa, que cativam com facilidade. A melhor notícia, no entanto, foi a apresentação de uma nova, composta já depois d troca de baixistas, seguramente a melhor do show. Recepção semelhante teve o “Theoria das Cordas” – o nome é ruim, mas o som, não -, só que a dupla de guitarristas pega mais pesado, abusando de riffs típicos do heavy rock setentista. Um deles é espécie de “Zakk Wylde meets Chris Cornell”, e o outro o provoca com evoluções que resultam em ótimos duelos. No final uma bela jam session – com viradas de bateria - deixou uma precoce sensação de nostalgia no ar.

Identificado com a nova onda do metal americano, o Survive veio do Acre disposto a mexer com as estruturas. Muito bem tocado, o som da banda mostra a fusão insólita de peso, melodia e hardcore de grupos como As I Lay Dying e Killswith Engage. Curiosamente o vocalista é a cara de Iggor Cavalera, mas se chama Max… Ele busca soluções para ao show, como subir em cima da mureta que faz do palco B um cercadinho, ou usar como tema em uma das músicas, a história da “conquista” do território acreano, num contexto de batalhas típico do heavy metal.

Três bandas inicialmente programadas não deram as caras – Coveiros, The Name e Cabocriolo – e o Soda Acústica entrou no line up de última hora. A cabeçuda música universitária dos rapazes não agradou e deve se transformar em poesia o mais rápido possível. Entre eles e o Cidadão Instigado rolou tanta coisa boa que poucos tiveram saco para a rave que Edgar Scandurra, sozinho no palco, implementou já na madrugada. Não precisava, né, guitarrista?

ÚLTIMA NOITE - Ficou para o final a maior festa da décima edição do Festival Casarão, que aconteceu de quarta até ontem, em Porto Velho, Rondônia. No dia em que a maior quantidade de público compareceu ao Kabanas, Móveis Coloniais de Acaju, Superguidis (foto) e Nevilton puxaram a fila de boas revelações do rock nacional - praticamente todos os shows agradaram e tiveram, de uma forma ou de outra, um “quê” de interessante, com destaque para três boas bandas do próprio estado de Rondônia, pela ordem: Di Marco, Sub Pop e Jam.

O Superguidis é praticamente local em Porto Velho, dada a receptividade calorosa do público. Com uma boa carga de shows nos últimos tempos, o quarteto, antes tímido e com síndrome de indie deprimido, hoje é quase uma banda de arena. É impressionante como, num set curto, tantas músicas chamam a atenção, vindas de um repertório de três álbuns. “Mais do Que Isso” e “Não Fosse o Bom Humor” (aquela mesmo, parente próxima de “Race For The Prize”, dos Flaming Lips), entre outras, mataram a pau, numa das melhores apresentações do festival e talvez até do próprio grupo. O headliner do Palco B foi o Nevilton, que voltou a impressionar pela destreza que tem para comandar o público, muito pela postura rock’n’roll no palco, fincada nos paradigmas que incluem saltos, coreografias e guitarras empunhadas; ou seja, agradou geral. Cada dia que passa “Máscara” se parece com um grande hit de FM, se isso ainda existisse como em outros tempos.

Rondônia não ficou atrás e mostrou que há mais coisa lá além do bom Hey Hey Hey, já há certo tempo destaque da região, que se apresentou na sexta, no mesmo local. Uma delas é o Di Marco, de Ji-Paraná, que investe num pop rock nervoso e cativante. O trio tem boas músicas que seduzem de cara até o ouvinte menos interessado no show. Não que não houvesse, já, um bom público conhecedor do trabalho do grupo – muita gente cantava tudo. De Vilhena, outra cidade do interior do estado, o Sub Pop vai na onda do rebuscamento da sonoridade oitentista que marcou o rock da última década. Além da típica batida da bateria, a novidade vem com um teclado (o único em todo o festival?) que contribui para um fundo quase tecnopop. Só a cover de “Quem Sabe”, da época em que o Los Hermanos fazia rock, destoou do conceito, embora muito bem feito.

A mais nova de todas é o Jam, formado por garotos de perfil ginasiano. O grupo vai fundo numa mistura de rock pesado com funk de raiz, tudo muito bem tocado. O que pega é ainda a falta de boas músicas (normal para gente tão nova) e a sonoridade, ainda muito parecida com a do Red Hot Chili Peppers. Mas nada que não se arrume, ainda mais quando há um guitarrista ousado que trafega com desenvoltura pelo funk e pelo rock pesado. Quem quebrou a sequência de boas bandas foi o Strep, acusado na região de querer “ser carioca” - o grupo, de Porto Velho, se mudou para o Rio. Mas os arrumadinhos têm lá um público cativo, conectado no fácil rock de playboy/“Malhação”, e mostram que até no quesito banda fabricada Rondônia está presente.

Duas outras bandas foram bem no Palco Principal, mas acabam rodando em círculos com repertório limitado e pouco atraente. O Ultimato, de Porto Velho, num estilo à Rage Against The Machine, foi o que se saiu melhor. O problema é que sobra conceito/estética, e faltam boas composições, ou algo que dê um mínimo de diferenciação em relação às bandas do desgastado nu-metal. O mesmo erro é cometido pelo Rhox, de Cuiabá. Mas este tem um som mais consistente e um vocalista carismático e que se mexe sem parar, embora fale tanto até encher o saco. Com letras em português, o grupo pode crescer se fizer alguns ajustes, pois tem uma bela base. O que falta, - repita-se – são músicas boas. Um papo com os caras do Hey Hey Hey ou do Di Marco, para não irmos muito longe, resolve a parada.

Nota: Assim que o Móveis Coloniais de Acaju iniciou o show que prometia ser do tipo arrasa-quarteirão, o Homem Baile teve que se mandar para não perder o vôo de volta ao Rio de Janeiro.

Marcos Bragatto viajou a Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão.