sexta-feira, 20 de novembro de 2009

# 128 - 20/11/2009

Fonte: http://www.kollision.biz/movies/mov_files/mov_vampiroslesbos.htm

Cult é somente uma das classificações (a mais famosa) que geralmente se dá a Vampyros Lesbos em qualquer círculo cinéfilo que se preze. Um dos mais conhecidos dos muitos filmes feitos pelo prolífico cineasta espanhol Jesus Franco, ele ainda carrega uma considerável aura de fascínio em torno da formosa figura de Soledad Miranda, creditada aqui com o pseudônimo Susann Korda por solicitação da própria, devido às cenas de nudez e lesbianismo que seriam inevitavelmente exibidas mundo afora. A trágica morte prematura desta atriz de magnética presença só fez aumentar sua legião de admiradores e, por conseguinte, também o grupo de fãs dos trabalhos de Jesus Franco, que foi iluminado o suficiente para adotá-la como sua musa pelo tempo que pôde.

Enquanto assiste a um show privado num clube ao lado do namorado (Andrés Monales), a advogada Linda (Ewa Strömberg) reconhece a moça no palco como sendo aquela que vem assombrando seus sonhos já há algum tempo. Bonita e insinuante, a estranha se torna o principal assunto das sessões de Linda com seu psicólogo, já que ela dá vazão a seus desejos sexuais reprimidos quando sonha. Ao visitar a condessa Nadine Carody (Soledad Miranda) em sua mansão, Linda se depara com a mesma moça, na realidade uma vampira que leva uma vida dupla e se alimenta do sangue de mulheres. Herdeira das posses do próprio conde Drácula, Nadine também se encontra sob a investigação cada vez mais próxima de um tal dr. Seward (Dennis Price), cujas pesquisas na área do vampirismo têm interesses nada ortodoxos relacionados à bela vampira que está seduzindo Linda.

O uso de pseudônimos é uma constante nos filmes dirigidos por Jesus Franco, que aqui é creditado como Franco Manera na cadeira de diretor e, como compositor, David Khune. Dá um trabalho danado saber quem usou o nome verdadeiro em seus filmes. No caso de Vampyros Lesbos, contudo, o que importa é saber que a morena de olhar penetrante e pernas maravilhosas respondia por Soledad Miranda, e sem sombra de dúvida por toda a fascinação relacionada ao filme. Sua personificação da vampira que odiava os homens e amava todas as mulheres, até se deparar com uma com a qual se apaixonou, casa perfeitamente com o erotismo subjacente da história e valoriza o estilo etéreo de Franco, que trilha uma linha bastante tênue entre um trabalho de visionário voyeurismo e uma viagem de ácido de execução amadora e relaxada.

Logo, é preciso dizer que Vampyros Lesbos pede por uma apreciação diferenciada por parte do espectador, por pertencer a nenhuma vertente marginal do gênero em sua época e, por isso mesmo, não poder ser calcado em nenhum molde de filme de vampiro amplamente conhecido. O vampirismo de Jesus Franco, para falar a verdade, é um mero detalhe e, muitas vezes, nada mais que uma desculpa para o desfile de mulheres nuas em cenas de lesbianismo soft. Mesmo com as menções diretas ao famigerado conde Drácula e com a presença de algum sangue derramado, a desconexão narrativa proposital não permite uma impressão completamente certa do que é ou não realidade dentro da história, e este é um desafio que muito provavelmente o diretor não idealizara para a sua platéia. O aspecto intrinsecamente onírico e a sensação de desnorteamento vêm em sua maior parte da edição difícil, um reflexo indireto dos parcos recursos de produção do filme.

Mesmo com suas óbvias limitações, movimentações de câmera tremidas, simbolismos baratos e uma visível carência de coesão narrativa, o filme pertence inegavelmente à categoria de obras que pedem uma segunda sessão para que possam ser assimiladas com mais justiça.

Título original: Vampiros Lesbos
Ano: 1971
País: Alemanha Ocidental, Espanha
Duração: 90 min.
Gênero: Terror
Diretor: Jesus Franco (Ela Matou em Êxtase, Drácula contra Frankenstein, La Maldición de Frankenstein)
Trilha Sonora: Jesus Franco, Manfred Hübler, Sigi Schwab
Elenco: Ewa Strömberg, Soledad Miranda, Andrés Monales, Dennis Price, Paul Muller, Heidrun Kussin, Michael Berling, José Martínez Blanco, Beni Cardosi, Jesus Franco



Vampyros Lesbos – Dedicated to Love
Air – Be a Bee

Nucleador – Inthrash
Demonkratzie – CAPTAlismo
The Renegades of Punk – é uma simples questão de usurpação
Discarga – Repressão subliminar
Discarga – Boicotar
Discarga – Explorar para esgotar
Discarga – O Agora
Discarga – Somente mais um número
Discarga - SPLIT COM HZERO:
- Desacelerar
- Atirar na cabeça
- Qual é a sua cor ?
- Sem causa
- Mar de lama
- Minha sina

Drop Loaded:

Detroit – Rock Pomona
Rinoceronte – o choque

Bloco produzido por Idalício:

Dark – The Car
Fuse – permanent resident
Tear Gas – I´m glad

Pata de Elefante – Dorothy
Lacertae – Santo de casa
Perdeu a Língua – Alto relevo

Dick Dale And his Del-Tones – Misirlou
Chuck Berry – you never can tell
Urge Overkill – girl, you´ll be a woman soon
The Statler brothers – flowers on the wall
Dusty Springfield – son of a preacher man
Samuel L. Jackson – Ezequiel 25:17
The Centurians – Bullwikle PT II
The Revels – Comanche
The Lively Ones – surf rider
The Tornadoes – Bustin´ surfboards

Play Fast or Don´t



Nosso correspondente informal no velho mundo ( esse mesmo, muito bem acompanhado na foto acima ) demorou mas postou em seu blog suas impressões sobre o Festival "Play Fast or Don´t". Devidamente autorizados, reproduzimos o texto abaixo:

Por Juliano Mattos
Fonte: http://errocrasso19.blogspot.com/

É Quinta-Feira, dia 3 de Setembro. Eu chegara a Praga há dois meses, e desde então já havia ido ao Karlovy Vary International Film Festival, ao Obscene Extreme Fest e acabara de chegar de uma viagem de três semanas entre Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia e Finlândia. A sensação era a de que mais uma vez o Verão longe de Portugal fora gratificante em todos os sentidos, superando o do ano passado, até. Fisicamente, a exaustão remetia-me à cama ou, quanto muito, aos passeios virtuais na Internet. Mentalmente, havia a ideia de que a “preguicite” não poderia me impedir de desfrutar dos meus últimos dias de férias na capital checa.

Todavia, era a véspera do Play Fast Or Don’t (PFOD), um festival que não tem a logística e estrutura do Obscene Extreme, mas que musicalmente interessava-me mais. Sobretudo este ano, com um set list absolutamente avassalador. Parecia que os organizadores do festival haviam levado em conta o meu gosto pessoal para criarem o cartaz. Comparativamente ao ano passado, quando também tive a oportunidade de ir ao festival, o PFOD mostrava uma grande evolução. Creio que este ano ele firmou-se definitivamente como uma das principais referências da cena Crust europeia e até mundial.

Uma das coisas mais esperadas por mim para o Verão era o PFOD, de forma que o cansaço e o desgaste logo deram lugar à ansiedade e ao entusiasmo. À noite eu iria encontrar-me no centro de Praga com a Kate, o meu irmão Ivan e sua namorada, Andreia. A ida deles à Rep. Checa fora motivada única e exclusivamente pelo PFOD, dando sequência a uma tendência de turismo musical que nos últimos anos contagiou alguns amigos portugas. Não posso dizer que também seja o meu caso, porque as minhas idas à Rep. Checa não têm absolutamente nada a ver com festivais musicais. São apenas eventos simultâneos à minha estadia por lá, e eu não desperdiço as oportunidades.
A Martina, mais uma vez, decidira não ir ao festival. Eu sempre a convido, embora relutante devido ao risco que isso acarreta. Se ela estivesse inteirada acerca do meio musical em questão, para mim não haveria qualquer problema em leva-la, mas como não é o caso…Já a levei a vários shows de Crust no Klub 007 Strahov, mas creio que ela ainda não esteja preparada para um festival de dois dias. Enfim…

À noite, dirigi-me ao centro da cidade para encontrar os três turistas musicais. O combinado fora ajuda-los a encontrar um hostel barato para passarem a noite. O avião atrasara e só os encontrei duas horas após o combinado, junto ao Národní Divadlo (Teatro Nacional). Dali, ainda houve tempo para iniciar o meu irmão na cerveja checa (Pilsner Urquell) antes da despedida às portas do primeiro hostel encontrado, que por sorte era muito barato. Voltaríamos a nos encontrar às 11 horas da manhã seguinte e logo partiríamos, de trem, para Hradec Kralové.

Já no trêm, fizemos a viagem de cerca de uma hora e meia ao sabor de cerveja quente. De fato cerveja quente não é boa e lugar algum do mundo, mas como o objetivo era chegar ao festival já etilicamente alegres, ela serviu para o cumprir. O trêm não tinha cabines, tivemos o azar de não viajarmos no célebre comboio com cabines, autênticos quartos de hotel ambulante. Os vagões assemelhavam-se aos ônibus, com poltronas duplas em sequência. A Kate passou a viagem toda arrotando. Seus arrotos são brutais, e as pessoas olhavam-na enojadas. Até eu, de fato.

Chegando em Hradec Kralové, e depois de sermos ajudados por uma senhora checa que nos indicou o ônibus para o letiště (aeroporto), lá íamos em direção ao PFOD. No mesmo ônibus iam muitas pessoas com o mesmo destino, então em cerca de 20 minutos chegávamos ao destino e bastou segui-las. Era preciso caminhar ainda uns 15 minutos até ao recinto exato do festival. Eu já conhecia o local, afinal foi ali que vira Offspring no festival Rock For People de 2008. Sim, já sei! Offspring é uma merda comercial! Mas ver um show de Offspring não era mais do que mera curiosidade por tratar-se de uma banda referencial no período em que eu iniciava-me nestas andanças do Rock e do Punk. O Show foi uma perfeita merda…a nostalgia não bateu porque eles quase não tocaram músicas antigas.

Chegamos no local e logo montamos a nossa tenda. O espaço reservado para comportar o festival era enorme, muito maior do que o do ano passado. Havia um grande terreno do aeroporto aparentemente abandonado ou utilizado somente para eventos musicais, e uma cerca nos separava do aircraft show, que decorreria em simultâneo ao festival. Para quem não sabe, trata-se daqueles eventos de manobras de aviões militares. A própria organização do PFOD, em seu site, aconselhara que todas as pessoas chegassem na Sexta-Feira porque os acessos rodoviários circundantes ao aeroporto seriam cortados devido ao evento. A ideia de ter aviões fazendo manobras arriscadas sobre a minha cabeça não me soava nada bem, e por diversas vezes suei frio, abrindo sorrisos amarelos enquanto tremia de medo. O Ivo, um colega meu checo, crustie das antigas, quarentão, casado e pai de uma moça pouco mais nova que eu, não compareceu ao PFOD por medo dos tais aviões. Confesso que ponderei várias vezes o mesmo.

Nesse primeiro dia os pilotos treinavam para o evento do dia seguinte, e o faziam sobre nossas cabeças. Poucos minutos depois de chegarmos e montarmos a tenda, já estávamos sentados nas mesas no meio dos checos e bebendo cerveja. Sentamos ao lado de dois rapazes de Ostrava, cidade do Nordeste do país, junto à fronteira polonesa. Em poucos minutos já éramos amigos, embora nenhum deles falasse inglês. Não importa! Nesse tipo de festival há linguagens alternativas que superam a questão do idioma. Os nossos diálogos resumiam-se a pequenos monossílabos e uma mistura bizarra de inglês com checo. Mas a linguagem do álcool é universal, então nos entendíamos perfeitamente na partilha de cerveja, vinho checo e vinho do Porto, que a Kate trouxera com ela. Foi já aí que tive a primeira grande decepção com o festival. A cerveja escolhida para este ano parecia cerveja espanhola de tão ruim que era. Seu nome era Crakonos, oriunda de Trutnov e datada de 1582. Uma cerveja de quase 500 anos! É tempo suficiente para aprenderem a fazer uma cerveja boa, a Pilsner Urquell não tem nem 200 e é aquele suco de cevada cremoso e maravilhoso. Foi até difícil acreditar que a Crakonos era checa, de fato foi a primeira cerveja checa ruim que bebi. Era muito aguada, sem sabor, sem consistência, sem fervura…Falando assim até pareço especialista em cerveja, quando na verdade fui meio straight edge até 2006.

De qualquer forma, a cerveja não poderia estragar o ambiente, sobretudo quando nossos amigos de Ostrava começaram a nos pagar as rodadas. A Andreia já estava ceguinha. A coitada bebera um suposto vinho oferecido por um dos nossos amigos checos e apagou de vez. Isso em menos de uma hora! Eu ficava cada vez mais alegre, já atrevia-me a falar checo para além dos monossílabos e olhava para as manobras dos aviões com a esperança de caírem ou se chocarem. A cada vez que passavam por nossas cabeças, parecia que o efeito do álcool era cortado pelo do medo, mas quando eles passavam mais adiante, acompanhávamos as manobras implorando, aos gritos, que explodissem. O pior de tudo era o barulho que eles faziam. Era estremecedor, parecia os trovões das tempestades que tinham ocorrido em Praga no começo de Julho. Sempre que os aviões passavam, rasantes, emanavam um barulho ensurdecedor que transmitia a sensação de que estavam caindo. E caindo em minha direção. Eu gelava! Olhava à minha volta e via outras pessoas fingindo o gelo que também sentiam na barriga, enquanto outros desfaziam-se em gargalhadas. Mas a grande maioria ignorava totalmente.

Os shows já haviam começado, mas as primeiras bandas não nos despertavam interesse. Era melhor estar ali fora convivendo e bebendo. Nesses festivais o mais gratificante é o convívio com pessoas que nunca vimos na vida mas que parecem ser nossos melhores amigos. E para fazer amizade com os checos não há lugar melhor do que sentado numa mesa e bebendo aquilo que eles veneram: cerveja. Em Praga acontece o mesmo. Um bar lotado é uma comunhão, uma irmandade. Parece que durante o ritual etílico todos os tabus e comportamentos padrões da sociedade desfazem-se. Poderia ser sempre assim. A vida poderia ser uma festa…

Então, em meio aos copos, finalmente encontro a Petra, vocalista da banda grind Idiots Parade, da Eslováquia. A conhecera no PFOD de 2008, quando ela me espancava no meio do mosh durante o show de Unhole Grave. Trocáramos mensagens via Myspace e combináramos que desta vez iríamos beber e “moshar” juntos, já que no Obscene Extreme não nos havíamos cruzado, embora a banda dela tivesse tocado lá e eu estivera no mosh. Ela também parecia uma amiga de longa data, era a primeira vez que nos falávamos pessoalmente e já parecíamos os melhores amigos um do outro. A Petra é muito simpática, o problema é que ela também não falava inglês. Ela nem conseguia ter diálogos curtos, com frases simples. Eu já sabia, porque suas mensagens no Myspace sempre foram esquisitas, óbvias traduções automáticas grosseiras no tradutor do Google. Mais uma vez, apelei para o meu checo, que é até razoável quando estou “alegre”. O checo está para o eslovaco como o português para o castelhano, são similares.

O idioma (ou a falta dele) pode ser uma barreira em conversas formais, mas em festas ele não faz muita falta, afinal todos os diálogos tendem a acabar em goles, abraços e gargalhadas. E foi assim durante todo o festival, com a linguagem gestual e a linguagem etílica preenchendo a lacuna do poliglotismo.

A primeira banda que vi foi Social Chaos, do Brasil. É um crust/grind já bastante batido e sem nada de novo, como disse o meu amigo Adelvan do Programa de Rock de Aracaju. Mas não é preciso ser original para ser bom, certo? A banda tem um som potente e super veloz, gostei bastante, como já gostava nas gravações. Mas já ali, nas primeiras bandas, havia algo errado com o som, que estava uma grande porcaria. Pensei que isso seria resolvido ao longo do festival, mas não foi. Durante todo o festival o som esteve horrível, de forma que todas as bandas, por mais diferentes que fossem, soavam iguais. A única banda que conseguiu de certa forma esquivar-se um pouco disso foi Infame, banda barcelonesa com vocalista brasuca. Sua enorme quantidade de solinhos fez com que algo diferente saísse daquela aparelhagem que só emitia um ruído grave que impossibilitava distinguir os instrumentos. No fim do festival, fiquei com a sensação de que Infame fizera a melhor apresentação, porque foi a única, talvez ao lado de Guided Cradle, que conseguira soar um pouco diferente das demais.

Infelizmente a qualidade sonora do festival acabou por estragar um pouco o ambiente para quem estava muito interessado nas bandas. Eu fiquei super desiludido, porque não é qualquer dia que temos a oportunidade de desfrutar de um cartaz tão bem preenchido, repleto de grandes bandas da cena crust mundial. Mas olhando à minha volta, os checos pareciam não ligar muito para isso, e faziam a festa. Deve ser por estarem tão acostumados em ver grandes festivais repletos de grandes bandas que não dão o mesmo valor que dá alguém que não está acostumado com isso. Para nós, de Portugal, foi uma oportunidade única. Talvez para os checos tudo não passou de apenas mais um festival, sabendo que no próximo ano haverá mais, fora os que acontecerão até ao próximo PFOD.
Outro ponto negativo do festival foi o cancelamento de Iskra, banda canadense de anarco-crust/grind/blackmetal. Ao lado de Guided Cradle era a banda que eu mais queria ver. Eu soubera do cancelamento antes do festival, até escrevera ao pessoal da banda questionando acerca do cancelamento da atuação no PFOD, resposta que obtive do guitarrista Wolf, que me avisara acerca de alguns problemas que levaram a banda a cancelar não apenas a atuação no PFOD, mas toda a tour europeia, prometendo tentar fazer a tour no Inverno ou na Primavera.

No primeiro dia do festival, Social Chaos, Ruidosa Inmundicia e Infame foram as únicas bandas que vi com maior atenção, visto que a maior parte do tempo passei fora do bunker, babando nas bancas de distribuidoras. Mais uma vez o antro do consumismo de material musical underground estava montado e ninguém resistia, tão pouco eu, que não voltei para Praga sem levar umas “lembrancinhas” comigo.

Ruidosa Inmundicia não era novidade para mim. Eu já havia visto a banda austríaca em 2005 num festival anarco-punk na cidade de Évora, em Portugal. Trata-se de um hardcore ultra rápico e melódico com vocal feminino e letras em castelhano devido à proveniência da vocalista, que é chilena. As músicas da banda dificilmente ultrapassam 1 minuto. Fica um pouco a sensação de que as músicas acabam quando estamos começando a entrar no ritmo, mas particularmente gosto muito.

Já Infame é uma banda muito energética. Seu crust’n’roll cheio de passagens melódicas bem grudentas são típicas da cena crust de Barcelona. Alguns chamam de crust melódico, ou neo-crust, numa linha semelhante à cena de Portland, com bandas como Tragedy. Mas Infame tem uma base rock’n’roll muito forte, e além disso possui o Robertinho, cujo vocal não deixa dúvidas para ninguém acerca de sua proveniência. É o típico vocal do HC brasileiro. Infame caiu nas graças do público, que delirou com a apresentação da banda. Eu nunca a tinha visto ao vivo e me surpreendi pela positiva. Foi sem qualquer dúvida uma das duas melhores bandas do festival. A outra fica a critério pessoal de cada um. Para mim foi Guided Cradle.

Curiosidade: antes de Infame começar a tocar, quando já estavam no palco preparando o som, o vocalista Robertinho vira-se para mim e diz: “vai lá chamar o teu irmão para ver o nosso show, cara. Você sai do bunker e vira à esquerda, ele está ali sentado, sozinho, com um copo na mão”.

Lá vou eu à procura do irmão caçula, e encontro o desgraçado sentado no chão ao lado do trailer de cerveja, delirando, totalmente cego, e em frente dele há um checo enorme, em pé, olhando para ele com desdém e fazendo algumas perguntas em checo. Chego para leva-lo para dentro do bunker e ele diz-me que precisa beber água. Seus olhos não fixavam nada, parece que flutuavam dentro de suas órbitas oculares. Estava completamente cego, depois de passar o dia bebendo a horrorosa Crakonos. Tive de o levar meio que à força para ele não partir o coração do Robertinho.

Após Infame, houve o prometido baile dos anos 80, com um DJ passando clássicos daquela década. Foi engraçado ver os crusties todos se deliciando com A-Ha, Madonna, Michael Jackson, Cyndi Lauper e cia. Mas foi ainda mais engraçado quando o DJ passava clássicos locais, ou seja, pop checo dos anos 80. Aí só os checos entendiam, o resto ficava pensando “pô, eu não lembro dessa música”. Curti o baile apenas cerca de uma hora, e depois fui dormir. Eu não havia dormido nada na noite anterior e queria estar preparado para a grande sequência de grandes bandas do dia seguinte. A Kate madrugou com o pessoal de Social Chaos. Juntos, eles usaram e abusaram de LSD e outros “medicamentos”, de forma que na tarde do dia seguinte os caras de Social Chaos ainda estavam totalmente alucinados, e partiram, de carro, para Bratislava, onde tocariam à noite, completamente cegos. A melhor lembrança que tenho da banda é quando vejo seu carro se distanciar, com os braços do baterista de fora, se despedindo de…ninguém!

Voltando atrás, acordei com o barulho estrondoso dos aviões sobre a minha tenda. A cada vez que um deles passava, eu me cagava todo. Foi o que me fez acordar mais cedo e procurar abrigo dentro do bunker. O problema é que havia um vento tão forte que várias tendas já tinham sido arrancadas do chão e levadas por ele. A nossa não teve o mesmo destino porque eu peso 70 Kg. O solo onde estávamos era o que chamamos em Geografia de litossolos, ou solos esqueléticos, com pouca espessura de terra cobrindo rochas, As estacas não afundavam e as tendas ficavam soltas. Tivemos sorte por termos mochilas demasiado pesadas para não permitirem ao vento levar a tenda. Outra sorte foi não ter chovido, porque com um solo daqueles, qualquer chuvinha seria suficiente para o saturar e alagar tudo.

Durante a manhã e parte da tarde, tivemos de conviver ali com os aviões e suas manobras suicidas. As estradas estavam cortadas e a já referida cerca separava o recinto do festival do recinto dos aviões, que estava lotado de gente. Alguns crusties estavam junto à cerca observando os aviões. Mesmo dentro do bunker, durante os concertos, era possível ouvir o rasgo sonoro daquelas máquinas, que ofuscava as guitarras de qualquer banda, ainda mais com aquele som horrível.

A primeira banda que acompanhei foi Infekcja, da Polônia. Uma banda muito legal, como quase todas as bandas polonesas. Pessoalmente, a cena crust/grind/fastcore do leste europeu é a minha favorita. Polônia, rep. Checa e Eslováquia estão muito bem servidas. O problema era o som, que continuava horrível. As bandas sucederam-se e nada do som melhorar. A apresentação de Infekcja foi lamentável por causa disso, e eu já começava a desconfiar de que o som não iria melhorar.

Selfish (Finlândia), The Arson Project (Suécia), Stolen Lives (Rep. Checa), Instinct of Survival (Alemanha), Nuclear Death Terror (Dinamarca), Extinction of Mankind (Reino Unido), Hellkrusher (Reino Unido), Riistetyt (Finlândia), Morne (EUA) e Yacopsae (Alemanha) apresentam-se e soam iguais, com óbvia exceção de Morne, claro. Morne é morno, parece Amebix, super lento e dá vontade de dormir, mas é legal em certas circunstâncias. De resto, só se ouvia um ruído grave e mais nada. Eu olhava para o sujeito responsável pela mesa de som e o queria esganar, mas eu não sabia se era um problema técnico ou um problema da própria acústica do bunker.

Não poderei comentar a apresentação de nenhuma dessas bandas porque a minha memória não as consegue distinguir. Eu estive lá no mosh, mas não consigo recordar-me de uma única música. Só me recordo do ruído.

No entanto, presenciei algo fantástico, uma verdadeira aula de libertinagem e pouca vergonha que não deixa nada a dever ao Obscene Estreme Fest. Durante a apresentação de Hellkrusher, o vocalista de Riistetyt, um velhote com seus cinquenta e tantos anos, mostrou ser um grande conquistador. Ele estava na lateral direita do palco, numa conversa que imagino ter sido picante com uma mulher que não aparentava ser nem finlandesa, nem checa. De repente, e aos poucos, ele começa a tirar a roupa dela, lamber seus seios caídos e roçar em suas partes íntimas enquanto ela delirava. Então ele tira a sua própria camisa, ela entrelaça as pernas no corpo dele, e começam a fazer movimentos de pura excitação. Isso na frente de todo mundo e durante a apresentação de uma das mais emblemáticas bandas europeias. Eu e Ivan observávamos aquilo e nos divertíamos. Cheguei a pensar que eles iriam acasalar ali mesmo, na frente de todos, mas guardaram o coito para mais tarde, num local reservado. De qualquer forma, foi suficiente para eu e Ivan concluirmos que o velhote finlandês era O CARA. Como se não bastasse ser vocalista de uma das mais antigas e influentes bandas do hardcore europeu.

Voltando ao que importa (porque a situação acima referida é de interesse exclusivo do casal envolvido), foi frustrante não desfrutar do show de Hellkrusher! A cada música que passava, eu comentava com alguém se eles já haviam tocado essa ou aquela música. Não dava para saber, era tudo ruído grave e mais nada.

Até que vem Guided Cradle. Três dias antes eu enlouquecera no Klub 007 Strahov. A apresentação deles lá havia sido perfeita, absolutamente brutal! Era a volta deles a Praga depois de irem morar em Portland, EUA. O som estava limpinho, ouvia-se perfeitamente cada instrumento, cada acorde, e ao vivo eles conseguem ser ainda melhores do que nas gravações.

Foi no show que a banda deu no Klub 007 Strahov que eu convenci-me de que Guided Cradle é a melhor banda de crust da atualidade.

Voltando ao PFOD, eu sabia que o som continuaria a mesma merda. Se não havia melhorado até então, não melhoraria mais. Mas abstraí-me desse detalhe, dei a minha máquina fotográfica para meu irmão, e fui curtir. Corri logo para subir no palco e pular. Repeti o ritual quatro ou cinco vezes, até que quase quebrei a perna num salto direto para o chão. Fiquei mais moderado, mas voltei a subir e pular. Era uma loucura total! Dezenas de pessoas subiam no palco e saltavam ao mesmo tempo.

Guided Cradle é uma banda recente, possui apenas dois álbuns, o que é uma garantia de que toca sempre os seus clássicos. E por ter uma estrutura musical diferente, mais complexa e com passagens mais trabalhadas, solos, etc, até que deu para compreender alguma coisa no meio daquele ruído grave.

No final, gostei muito, mas ao mesmo tempo fiquei muito feliz por ter ido no concerto deles três dias atrás, porque naquele show eu pude curtir a música da banda, pude contempla-los enquanto músicos, pude ver a técnica e saborear o som. Eu pensei: “no show do Klub 007 eu não me mexi um único instante, sempre com os olhos colados nos caras tocando. Agora será a desforra”.

Após o show, eu estava exausto, todo sujo e dolorido. Ainda faltava Violent Headache (Espanha), Dirty Power Game (Itália) e Antimaster (México). Eu queria muito ver Dirty Power Game, afinal é a principal influência musical de Winston Smith, a minha banda (que anda adormecida há tempos). Só que o som me impediu de curtir. Eu estava lá com o meu irmão e não entendíamos nada. Olhávamos sempre um para o outro sem saber quais músicas eles estavam tocando. Para se ter uma ideia do estado do som, a apresentação da banda italiana acabou sem a gente saber se ela havia tocado o seu grande clássico, também intitulado Dirty Power Game. Frustrante! A qualidade sonora do festival apresentava-se ainda mais decadente no caso de bandas com sonoridade mais pesada, como é o caso do crust/grind de Dirty Power Game.

Assisti Violent Headache e Antimaster já totalmente acabado. A primeira banda até achei legal e curti um pouco, mas a segunda me fez dormir. Não culpo a banda, até porque já a conhecia e ouço com entusiasmo suas gravações. Culpo o som e o fato de eu já estar totalmente desfeito àquela altura do campeonato. Fazia um pouco de frio e começava a chuviscar. A Kate esteve cega o dia todo, não a vi em show nenhum, exceto no de Guided Cradle. Ivan também já acusava sinais de fraqueza e sua namorada já estava na tenda.

Fomos dormir, exaustos.

Chegando na tenda, encontramos as duas moças dormindo. A Kate sabia que só havia lugar para três pessoas, e havia garantido que algum de seus muitos admiradores arranjaria lugar para ela dormir. Tentei acorda-la, mas ela estava desmaiada. A enorme mistura de drogas leves e pesadas deixaram-na apagada. Tentei puxa-la para fora da tenda, sem piedade, mas não consegui. O jeito foi dormirmos todos juntos ali dentro, uns sobre os outros, com mochilas no meio e chão frio.

Até que aparece o Robertinho, vocalista de Infame, e a leva dali para fora. Para onde, não sei. Fiquei imensamente agradecido e adormeci, já mais confortável.
No dia seguinte, foi acordar, desmontar a tenda, e ir embora. E não houve nada de interessante na viagem de regresso para merecer alusão além do fato de termos viajado, finalmente, no célebre comboio de cabines, no qual passamos a viagem toda no corredor, com a janela aberta, sentindo o ar fresco na cara enquanto observávamos a paisagem rural checa.

Mas uma vez em Praga, a loucura continuou. Foram mais três dias de total boêmia, dias mergulhados em álcool, num exagero poucas vezes atingido por mim. Ivan, Andreia e Kate dormiram na casa da Martina, para meu desespero, que via-me obrigado a responsabilizar-me pela estadia daqueles três na casa da checa. No final, até deu tudo certo.

Durante esses três dias fomos certamente mais de 10 vezes ao Hany Bany, o meu bar favorito em Praga. Lá, conhecemos um estadunidense residente em Praga, que tratou de nos pagar lanches e bebidas. Durante os passeios por Praga, nos quais eu era guia turístico dos três, conhecemos dois finlandeses em Vyšehrad, um rapaz e uma moça. Também o levamos para o Hany Bany, e lá o rapaz, de nome Tofu, desafiou a Kate a tomarem absinto. O absinto original é de cor verde e proibido em Portugal e na maioria dos países da Europa devido à substância alucinógena Artemisia Absinthium. Creio que no Brasil o absinto também é proibido, pelo menos o absinto original. Já na Rep. Checa, ele é legal e bebido normalmente nos bares. A Kate, obviamente, aceitou o desafio.

No último dia da estadia dos três turistas portugas, chegamos a ir 4 vezes ao Hany Bany, e quando não estávamos lá, estávamos andando pela cidade sempre com garrafas de Pilsner ou Staropramen na mão. À noite, ainda fomos jogar bilhar com a Martina. Foram três dias surreais, para finalizar com chave de ouro as minhas férias longe de Portugal.

No dia 9 de Setembro os três portugas regressam ao Porto, numa viagem de avião com escala em Madrid. Eu só voltaria a Portugal duas semanas mais tarde, e ainda tive a oportunidade de ver um show aberto (gratuito), na Staroměstské Náměstí (a praça principal do centro histórico de Praga), do sérvio Goran Bregović.

Apesar da desilusão com o PFOD devido à qualidade sonora, valeu a pena e o convívio criado compensou o fato de não ter sido possível desfrutar das apresentações das bandas.

Ivan reconheceu que a cerveja checa é melhor (muito melhor) que a portuguesa, e escolheu Praga como sua cidade favorita.

No próximo ano, esperamos estar de volta a Praga, ao Play Fast Or Dont e inclusive ao Obscene Extreme.

Parece que o turismo musical entre Portugal e Rep. Checa veio para ficar.

PS: Quero fazer uma dedicatória a duas pessoas. Uma delas é o Ivo, o velhote crustie checo que não foi ao PFOD devido à sua fobia. Sei o quanto ele lamentou não ter ido, e espero encontra-lo lá no próximo ano. A outra pessoa é o Adelvan Kenobi, grande personagem e impulsionador da cena roqueira de Aracaju. Fica aqui reiterada a minha vontade de um dia partilharmos pessoalmente uma gig, seja aí na terra dos papagaios e dos cajus, seja aqui na “zoropa”.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

# 127 - 13/11/2009



The Beatles – Oh! Darling
The Beatles – Octopu´s garden
The Beatles – (naked) The long and winding Road
The Beatles – (naked) I Me Mine
The Beatles – (naked) Across the universe

Discarga – O porque da violência
Discarga – Sob influência

Drop Loaded:

O Melda (Claudão Pilha e sua Monobanda) - Cervejinha Papai
The Dead Rocks – Kalamanawa

Bloco produzido por Joelâne:

Soils of Fate – Bloody Money
Beheaded – Vaults of Ageless pain
Necrophagist – seven
Nile – Kafir !

Atari Teenage Riot – Sex Law penetration
Pitschifter – Second hand
KMFDM – superhero
Big Black – La Dopa

Snooze – FADO

Snooze & The Rubberman:
Pocket show
entrevista

+ DOSOL

Clique AQUI para ler uma resenha vagabunda escrita por Adelvan Kenobi, que viajou ao todo (ida e volta) + de 1500 km de Aracaju a Natal de carro com quatro amigos por uma BR 101 cheia de insuportáveis obras de duplicação inacabadas para ver, basicamente, 1 hora de show (ok, com um monte de bandas excelentes de bônus, mas a verdade é que o grande motivo da viagem foi mesmo ver o Exploited ) e voltou achando que valeu MUITO a pena.

Abaixo, fotos de Reinaldo Rodrigues.































terça-feira, 10 de novembro de 2009

The Second Coming

Fonte: Terehell

Ex-Maquinaria

por Fernando Castelo Branco

Foto: Marcos Hermes

E em SP, acreditem, faz, às vezes, um calor digno de nem sentir saudade de casa. Nessas horas a conhecida deselegância discreta das paulistanas tira do armário até saída de banho pra tentar aliviar o calorão. Mais sobre o tempo adiante...

Vou pedir a vocês um "boooo" virtual pros organizadores do Terra e do Maquinaria, que não chegaram a uma decisão inteligente sobre datas e trombaram os dois festivais. Mau pros dois. Nenhum conseguiu repetir os 30 mil presentes do Radiohead em março passado. Um racha, evidentemente. Creio que muitos que foram ao Terra acharam que o festival seria mais "adulto", enquanto o Maquinaria agradaria a pivetada "nóinha", na gíria paulistana.

Puro engano. A platéia do Maquinaria era basicamente dos trintões que curtiram Faith No More e Jane's Addiction nos anos 90, e continuaram vislumbrando a influência dessas no trabalho dos Deftones, lá pela segunda metade da mesma década. Perdi Nação Zumbi e Sepultura. Uma série de fatores: clima, distância e saco pra ficar em pé com uma das pernas toda detonada. Mas Chino Moreno e companhia já valeram de cara isso tudo. Com aparência bem mais saudável, Chino puxou novos e velhos sucessos de todos os discos e inaugurou a interação com a platéia, pra desespero dos seguranças. Só senti falta de "Back to School", de resto o baixista-estepe segura a ausência de Chi Cheng, ainda hospitalizado devido a um acidente de carro há quase um ano.

Entre um show e outro, respectivamente, Sayowa e A Maldita. Coincidência ou não, bandas que já trabalharam na gringa com os produtores do Maquinaria...A primeira investe num som com percussão, meio batido. A segunda vai de hard-power-pornô, nada novo embaixo do sol desde Screaming Jay Hawkins, Alice Cooper ou, mais recentemente, Marylin Manson. Mais sobre entre-shows adiante, junto com o tempo.

Jane's Addiction fez um show correto. O show que se espera de uma banda como eles. Tudo é muito profissional. Um belo pano de fundo usava uma gravura de uma caveira mexicana, estilo "dia dos mortos", o telão passou um trecho de um filme onde a banda é citada. Bailarinas, uma delas esposa do vocalista Perry Farrell, interagiram em "Three Days", "Summertime Rolls" e na jam final, com passistas de uma escola de samba (talvez o ponto baixo: clichê e brega). Dave Navarro deu pití com um fotógrafo, mas sem grandes consequências. Perry Farrell é o último dos andrógenos, uma coisa entre Bowie e Ney Matogrosso. Eric Avery fica lá no canto dele, sua permanência na banda parece algo burocrático e ele dá sinais claros disso, embora em momento nenhum o JA deixe de passar em grande estilo pelas músicas dos discos da formação clássica. Tudo profissional, direto e na medida.

Aí voltam o tempo e as entre-bandas. O céu fecha, já noite, e começa a chover. O vendedor de capinha de chuva (tão comum por lá quanto cambista) logo inflaciona o preço e o hino nacional começa a rolar no PA do palco Myspace. A Vanussa, será? Pior: Supla e seu irmão João Suplicy causaram 40 minutos de suplício (sic) com sua "bossa furiosa" nomeada "Brothers of Brazil". "Japa Girl" e chuva na moleira, o preço de esperar pelo Faith No More.

Ao som de "Reunited" (de Peaches & Herb, uma espécie de Jane & Herondi afro-estadunidenses), empunhando um guarda-chuva, óculos escuros, paletó vermelho-pomba-gira e uma bengala, Mike Patton dá o sinal pro começo dos cem minutos de fim do mundo com "From Out of Nowhere", daí desfila, de enfiada, clássicos de todos os álbuns da banda, com ênfase em "King for a Day - Fool for a Lifetime". Sempre conversando com a platéia num português canastrão, o FNM vai do namoro com o death metal em "Surprise You're Dead" à balada-xarope "Easy" (dos Commodores de Lionel Ritchie) sem cerimônia. "Evidence" tem a letra vertida para o português e "Caralho Voador" não fica fora do set. Algumas músicas foram bastante espichadas pelas loucuras e bizarrices de Patton, como fingir um ataque de tosse e vômito em "Midlife Crisis", ou fazer quem pagou 450 reais na àrea VIP gritar "pôrra,caralho" como se fosse uma criança boca-suja de seis anos. Podia ter aproveitado pra tocar coisas como "Falling to Pieces" ou "Zombie Eaters", mas dou um desconto por terem privilegiado bastante material de "Angeldust", um de seus discos mais "difíceis" e sub-estimados.

Escaldado de chuva e da espera por um táxi no meio da madrugada, escapuli antes do segundo bis, mais um momento Antena 1, depois de uma versão matadora de "We Care a Lot". São Paulo amanheceu fria e meio com cara de chuva, mas daí só me restou entulhar a mala e me escafeder.

P.S: Graças a um amigo com vivência e bons contatos na paulicéia pude ver na noite anterior ao Maquinaria a ressureição-relâmpago de 2/4 da primeira formação do Pin Ups num galpão desfarçado de lounge-chic na Barra Funda. Gracias, Erick!

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No Rio ...

Fonte: Portal Revoluta

por Deise Santos

04Em noite de premiação do Grammy, quem ganhou o maior e melhor prêmio da música foi o público do Rio de Janeiro, que presenciou um show épico da banda norte-americana Faith No More.
Desde o anúncio da “Second Coming Tour” a ansiedade cresceu entre os amantes de Mike Patton e sua turma. A possibilidade de ver o quinteto em ação fez o público carioca vencer o calor infernal que assolava o Rio de Janeiro, numa quinta-feira de primavera, e se dirigir à casa de shows na Barra.
A noite começou com o show da banda carioca Moptop, que fez um show pra uma casa já com um bom público e preparou o ambiente para que o Faith No More entrasse em cena.
O visual do show foi o mesmo de toda a “Second Coming Tour”. Cortinas vermelhas decoravam o fundo do palco, Mike Bordin estava todo de preto, Roddy, Billy e Jon de roupas sociais e Mike Patton todo de vermelho. Parece que os “meninos” apostaram nessa imagem clean, muito diferente dos anos 90, quando Patton tocava com roupas variadas, até com uniformes de fast-food e Roddy também ousava nos visuais. Sinais dos tempos e da maturidade da banda, que assim como o vinho, fica melhor a cada ano.
O show não poderia começar melhor, aos primeiros acordes de “Cowshit (Midnight Cowboy)” o público já sentiu que aquela seria uma noite memorável. Parecendo não querer perder tempo, a banda explodiu a sonoridade de “From Out of Nowhere” - uma viagem no tempo aos idos anos 90 – que fez o público vibrar. Na sequência, o vocalista provoca ao dizer que a música que irão tocar é uma homenagem ao seu primeiro amor, Iris Lettieri – locutora carioca, que trabalhava no Aeroporto do Galeão. Patton, em sua primeira passagem pelo Rio, ouviu a voz de Iris no aeroporto e ficou encantado – fato que tornou público no antigo programa “A Entrevista” na MTV (na época no canal aberto), quando disse ter ficado extasiado com aquela voz. Feita a provocação – já que Iris processou a banda por usar sua voz indevidamente no álbum Angel Dust -, eles dispararam uma versão de Evidence, com pitadas de brasilidade. E o show continuou com músicas de todos os álbuns.
Mas se a banda pensou que só iria surpreender, se enganou, porque o público também presentou a banda. Na hora da execução de “Midlife Crisis” veio a surpresa, Mike Patton admirado com o coro de mais de 4 mil pessoas que acompanhavam a banda, pediu que os músicos parassem de tocar e o público cantou à capela para o quinteto. Patton extasiado, virou-se de costas para a platéia e perguntou em português muito bem pronunciado: “E aí banda? O que dizer?”. Ovacionada pela platéia e depois de recuperar o fôlego, a banda retoma a música e segue com o show.
Sentindo-se em casa e orquestrando a platéia durante todo o concerto, Mike Patton comandou uma coreografia de braços em “Just a Man”, arriscou mais palavras em português como o elogio ao público: “Super Legal!” e até brincou de cavalinho com um dos seguranças, chegando mais perto da platéia, aumentando assim a interação com os fãs e o clima de festa entre amigos.
“We care a lot” ficou para o primeiro bis, mas foi o segundo bis, depois da banda sair e retornar ao palco com direito a um tropeço de Jon em um fio e cumprimentos de Roddy à la maestro de orquestra, que causou o maior burburinho e emoção entre banda e público. Ao ouvir os fãs pedirem Falling to Pieces! Falling to Pieces! Falling to Pieces! Mr. Patton se rendeu ao charme dos cariocas e falou em portunhol: “Solo porque estamos em Rio” – a música estava fora do set há algum tempo - e dispararam o hit que consagrou a banda por aqui. A surpresa foi ver que Patton não lembrava a letra toda, errou uma estrofe e recorreu a Bordin, que cantou um pedaço da música, para alegria dos fãs presentes. Nada que não possa ser perdoado, afinal a banda não toca pelos lados de cá há mais de uma década.
Resultado: quem foi não se arrependeu, que não foi ao menos deve procurar no youtube as dezenas de vídeo que foram feitos por algumas câmeras espalhadas entre os mais de 4 mil mortais que lotaram a casa de shows para poder comprovar, o quão memorável foi esse encontro entre o quinteto e o seu público.

The Exploited em Natal



Fonte: Rock Em Geral

"O punk não está morto"

No dia destinado à música pesada, o Festival DoSol recebeu um público jovem em Natal, disposto a ter lições com o Exploited, criador do movimento “punk’s not dead”, e a se divertir em rodas de pogo sem perder a consciência com Devotos e Confronto.

Foto do Exploited: Rebeca Correia
texto por Marcos Bragatto

Com uma paisagem decorada por muitas camisetas pretas, o domingão do Festival DoSol, em Natal, foi marcado por uma programação voltada para bandas de heavy metal – em seus segmentos mais variados – e punk rock/hardcore. O destaque maior foi a apresentação do grupo britânico Exploited, ícone do renascimento do punk no início dos anos 80, que apresentou uma indelével vitalidade. Devotos (ex- do Ódio) e Confronto não ficaram atrás e mobilizaram o público com shows contagiantes.

Não é qualquer dia que se vê um símbolo vivo do rock, carregando no peito sua própria imagem. Pois quem se acostumou a reconhecer a caveira moicano do Exploited no imaginário coletivo do rock, pôde ver, ontem à noite, em carne e osso, a cabeça que lhe deu origem. Quando Wattie subiu no palco para encerrar um dia em que treze bandas se apresentaram, trouxe com ele toda a história do punk mundial, que certamente não seria a mesma sem a interferência do Exploited. Por isso o início com “Let’s Start a War (Said Maggie One Day)” tratou de colocar os pingos nos is. Além da origem do hardcore em si, através do movimento “punk’s not dead”, Wattie trouxe para Natal as cusparadas refutadas por John Lydon em todos esses anos.

E também um repertório consagrado por clássicos que transformam o Exploited, hoje, numa banda de classic punk – se é que cabe o maneirismo. Entre mais de 20 músicas, sempre anunciadas sob um sotaque terrível do vocalista, “War”, logo no início, “Alternative” e “Sex And Violence” foram as que resultaram em grande interação com o público, que girava em rodas de pogo sem parar. A última com participação de fãs que subiram no placo após o chamado do batera Wullie Buchan, no bis. Nada que superasse o carisma de Wattie, que anda sem parar de um lado a outro e mantém a tradição de bater com o microfone na cabeça e jogá-lo no chão quando acaba o show. Possesso, o público enlouquecia a cada nova música.

Seguramente o Devotos não existiria não fosse o Exploited, e o grupo de Recife tem em comum com o britânico um punhado de bons hits – mais até, por estas plagas – capazes de criar rodas de pogo sem parar. A colante “Eu Tenho Pressa” e “Futuro Inseguro”, de conteúdo simples e direto que o digam. Canibal está muito bem, comunicativo e fazendo o grupo dialogar com a platéia, em que pese a timidez do guitarrista Neilton, que se esconde atrás de um boné e fica quase o tempo todo de costas para a platéia. Houve tempo para um bis, depois da obrigatória “Punk, Rock Hardcore, Alto Zé do Pinho”.

Sem o Exploited também não teríamos o Confronto, do Rio, outro que proporcionou cenas de diversão explícita. Cada vez mais o crossover hardcore/metal cabeçudo do grupo, com letras de conteúdo social, aponta para a música extrema, cortesia do guitarrista Maximiliano, vidrado em referências como o Slayer do auge do thrash metal. O Confronto tem um público fiel em Natal, e o vocalista Felipe Chehuan sabe muito bem comandar a massa. Em “Abolição”, por exemplo, ele garante a diversão ao transformar a turma do gargarejo em front de combate. Um showzaço que só reforça a vocação do grupo para conquistar novos adeptos, nesta que foi apenas a segunda vinda a Natal.

O heavy metal não foi citado só pelo Confronto, mas suas mil e uma ramificações vieram ao DoSol na tarde de ontem, arrastando um diverso público cuja soma deve ter superado os três mil pagantes. Desde o hard rock de coreografias ensaiadas e trejeitos repetitivos do Comando Etílico, passando pelo retorno do metal tradicional do Deadly Fate e pela modernidade pesada do goianiense Mugo, até chegar no metal extremo do paulistano “Nervochaos”, que toca sem a presença de Deus, havia de tudo um pouco no domingo de sol. Buscando algo de diferente, Natal tem as parentes Calistoga e Distro, ambas descendentes de um ancestral emocore, mas que não querem carregar a herança maldita.

A primeira apresenta a performance à Incubus, acrescida de roupas cheias de pulgas que fazem todos pular de modo desconexo, sem parar. O grupo precisa urgentemente rever seus conceitos – e se ver no espelho – de modo a aprender a hora de dar um passo atrás para acertar dois adiante. Já o Distro, rico pela presença de dois guitarristas/vocalistas, achou seu caminho. As passagens de guitarra e as composições do grupo são boas, e só tendem a melhorar com o tempo. Para o show ficar bom, só falta parar com esse negócio de ficar afinando guitarra entre todas as músicas.

Na série banda nova que tende a crescer, as locais I.T.E.P. (hardcore com metal), Fliperama (bubblegum) e Dr. Carnage (“estilo brucutu”) encaram o desafio de tocar para quase ninguém como abertura num festival de renome nacional. Até o norueguês Pulverhund, que tem na bateria um brasileiro torcedor do Corinthians, fez bem a sua parte depois de cair de pára quedas na Ribeira. A banda pode não ser essa coca-cola toda, mas ao menos o baixista/vocalista é a cara do líder do Queens Of The Stone Age, Josh Homme.

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Na noite anterior ...

Começou ontem, em Natal, no Rio Grande do Norte, a sexta edição do Festival DoSol. Realizado pela terceira vez utilizando simultaneamente o Centro Cutural DoSol e o Armazém Hall, tendo como área comum parte do Largo da Rua Chile, o evento reuniu cerca de 3 mil pessoas, entre 15h30 e 4h da madrugada de domingo. Ao todo, se apresentaram 17 bandas, nos dois palcos. Embora o canadense Danko Jones tenha causado grande expectativa, coube o Retrofoguetes, de Salvador, fazer o melhor espetáculo da noite, que levantou o público do palco Armazém Hall, destinado às bandas principais - o grupo já havia se apresentado no DoSol em 2005.

Havia sido uma tarde problemática nos dois palcos. Mais cedo, um dos bateristas do Vendo 147 teve dificuldades para segurar parte de sua bateria, que se deslocava de acordo com a vibração do palco. O grupo faz um instrumental pesado com dois bateristas tocando num kit siamês, um de frente para o outro. Foi, até então, a melhor apresentação do festival, que citou o tema do personagem “Vingador”, do seriado “A Caverna do Dragão”, e encerrou com um pout pourri excepcional, que incluiu trechos turbinados de clássicos do Black Sabbath, AC/DC, Led Zeppelin, Jimi Hendrix e Metallica.

O som também castigou o público no show do local Rejects, cujo volume, altíssimo, não encontrou equalização adequada e atrapalhou a performance pesada do grupo. O trio traça um crossover moderno de metal lento, pesado e arrastado, com o grunge de Seattle. Embora seja revelação da cena local, não cativou a quantidade de público que se esperava. No outro palco, a psicodelia do ótimo Plástico Lunar também foi prejudicada pela ausência dos teclados, ocultos no som que chegava a público, e com o projeto solitário O Melda, Claudão Pilha não conseguiu se fazer ouvir como havia planejado, usando o capacete crivado de anéis metálicos.

Foi nesse cenário que o Retrofoguetes, dessa vez trajando macacões brancos, mudou a história da primeira noite do festival. Acompanhado por um ténico de som experiente, o combo instrumental já entrou no palco com pompa e circunstância. De início, o som quase cristalino da guitarra de Morotó Slim causou espanto, mas aos poucos a platéia, inicialmente comtemplativa, passou a aplaudir o grupo compulsivamente, sobretudo depois da adesão a outros ritmos que não a surf music de raiz, incluindo até uma versão impagável para o antigo tema da entrada de jurados do programa de calouros de Silvio Santos. É de se estranhar, inclusive, que o nome de Morotó não apareça entre os maiores guitarristas brasileiros em todos os tempos.

Dentre os nacionais, o grupo baiano foi o que reuniu um maior público, entre o translado de um palco a outro, incluindo a área aberta onde funcionava uma feirinha com vários lançamentos de selos independentes à disposição do público. Por pouco o trio não roubou a cena do canadense Danko Jones, que soube muito bem se afirmar como atração principal, aproveitando a boa qualidade do som, o tempo para apresentação, maior que os demais participantes, e a disposição do público em receber um artista pouco conhecido no Brasil, quiçá em Natal. Falando muito entre uma música e outra, o guitarrista (que dá nome à banda) disse estar orgulho de estar pela primeira vez no Brasil, e de o País ser o primeiro da América do Sul que ele visita.

Fazendo um hard rock moderno, nervoso e cheio de riffs, não tardou para o grupo arrancar aplausos do público, que acompanhava cada pedido de palmas do baixista. Em cerca de uma hora de show, o guitarrista instigou os natalenses a pensar sobre política, sexo e se eles realmente gostam de rock. Ao final, numa homenagem ao conterrâneo Rush, um trecho de “YYZ”, a instrumental mais cantarolada do mundo, foi levada num volume altíssimo, e ainda rolou tempo para um bis solitário.

Outro show que entra facilmente no rol dos melhores do festival é o do paranaense Sick Sick Sinners, que levou vantagem por tocar no palco DoSol. Com o local abarrotado, o psychobilly do grupo converteu os fãs de hardcore ao gênero, que se divertiram a valer em sucessivos moshes, rodas de pogo e stage dives. Tanto que nem perceberam os constantes problemas com o som que culminaram no corte de um dos vocais. A combinação da guitarra semi-acústica com o baixo acústico, tocado em alta velocidade, acrescenta muito ao som do grupo.

Duas bandas de Natal, já conhecidas de outras festivais, foram bem. O Bugs, como quarteto, ficou bem mais pesado que antes, e as músicas do novo EP prometem. O Bonnies também tocou para um bom público no palco DoSol, mostrando uma empatia trazida por mais experiência de palco. O Cassim & Barbária, de Floripa, reúne integrantes de outras bandas da cidade, e precisa definir melhor qe tipo de som quer fazer, já que o show apresenta tantas variações que é claro, positivamente, a falta de um rumo. Mais que isso, o The Baggios, grupo do guitarrista do Plástico Lunar, deve complementar a formação antes de agendar o próximo show.

BARULHINHO RUIM

Nessa edição a produção do festival apostou num público mais, digamos “adulto”, e para isso escalou uma espécie de prorrogação com artistas de gosto questionável. Assim, os palcos praticamente se transformaram em pistas de dança de salão e o chamado “Barulhinho Bom”, se eventualmente atraiu mais público, acabou saindo pela culatra, ao distoar (em princípio) dos objetivos de um festival como o DoSol. Exceção honrosa se faça ao Eddie, de Olinda, cuja credibilidade supera com facilidade tais circunstâncias.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

# 126 - 06/11/2009



Messias – Broadcast your scape
Then Crooked Vultures – New Fang
Slayer – World Painted Blood

Siouxsie and The Banshees - Candyman
Bauhaus – The Passion of lovers
The Cure - Disintegration

Drop Loaded:

Vitrolas polifônicas – é o que me excita
Calistoga – wait to fight
Vendo 147 – Kill Bill

The Gathering – Strange machines
Tiamat – gaia
Type O Negative – Christian woman

Elefant – sunlight makes me feel paranoid
Interpol – take you on a Cruise
White Lies – Death
She Wants Revenge – Red Flags and long nights

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Karne Krua no Portal Rock Press



Mais um bom serviço prestado ao rock sergipano por

Michael Meneses

Karne Krua - O Vinho da História* dos Subversores da Ordem*

Pense numa banda com mais de 20 anos e fazendo sua história em Sergipe, o menor estado do Brasil! Pensou na Karne Krua? Acertou! Na ativa desde meados dos anos 80 e linear ao florescer do movimento punk no Brasil, a Karne “Ainda é Krua” e finaliza seu novo álbum intitulado “Inanição”, com previsão de lançamento para o fim do ano. Seu vocalista e um dos fundadores da banda, Sylvio Campos, concedeu esse entrevistão ao Portal ROCK PRESS em sua loja, a Freedom Discos na capital de Sergipe, Aracaju, outrora conhecida no meio underground por “Buracaju”, nome de um fanzine de sua autoria.

O século XXI segue e imagens de punks ainda chocam, às vezes com o mesmo impacto com que as primeiras aparições punks em São Paulo e no Rio de Janeiro chocavam quando exibidas na TV nos anos 80. Porém, a cena punk não era exclusiva do eixo Rio-São Paulo e assustava com vigor longe das metrópoles. A cena se mobilizava na base da sua máxima, o “faça você mesmo”, e foi se solidificando pelo Brasil. Bandas surgiram e fizeram história, algumas sugiram e fazem história, e não apenas uma história regional, mas nacional, e isso não foi diferente na capital sergipana, que na década de 80 (e até hoje) foi apelidada de “Buracaju” em referência ao zine editado por Sylvio Campos, vocal da banda mais importante do rock em Sergipe, a Karne Krua.

Apresentar a banda narrando os shows pelo nordeste, mudanças na formação, citações na mídia, dos K7’s, Lp, Cd, coletâneas, vídeos e Cd homenagem... Soa até natural. Porém, para a Karne Krua isso tem diferencial, afinal são mais de 20 anos de garra fazendo parte da construção da cena rock (e não apenas punk) sergipana, e não é fácil erguer-se num estado cujo rock. por mais “Ilustre” que seja, é infelizmente visto como um “Desconhecido”, ofuscado pela falta de visibilidade, levando muitos à acreditar que cultura em Sergipe limita-se aos sons e rebolados do Pré-Caju e do Calcinha Preta.

Morei em Aracaju nos anos 80, conheci a banda em 1987, quando ela já conquistava respeito na cena nacional, tinha 12 anos e queria distância da fase “Underground” da hoje rotulada Axé-Music e que saturava Sergipe. É Glorioso lembrar o dia que vi uma banda de rock pela primeira vez, ao acompanhar um amigo indo ao encontro dos músicos da Karne, que ouviam rock num toca-fitas na calçada da residência do artista plástico AC (Augusto César) e que, quinze anos depois, participou do lançamento do CD “Em Carne Viva”, pintando uma tela no palco. Imagens na minha mente, ou melhor, na mente de um fotógrafo , são sentimentos, e lembrar de punks escutando rock numa calçada do histórico bairro de Sto. Antonio em Aracaju é algo nostálgico, cultural, histórico e de grande importância na minha vida.

Ao retornar ao Rio em 1990, dias antes do Rock in Rio 2, o melhor cartão de visita para interagir com o Rock carioca foi responder varias vezes: “Sim conheço a Karne Krua, o Sylvio e sua outra banda o Logorreia...”. Eventualmente vou a Sergipe, e no final de 2008 assisti novamente um show da banda - antes havia assistido a um único show em 1990. Hoje shows de rock em Sergipe ocorrem com relativa frequencia, mas naqueles tempos tudo era difícil ou perto do impossível. E foi numa dessas idas que realizei a entrevista publicada no PORTAL ROCK PRESS - Clique AQUI para ler.

Karne Krua - O Vinho da História*, dos Subversores da Ordem* - Entrevista com Sylvio Campos
Por Michael Meneses!
Fotos – Alex Spirro e arquivo pessoal de Adelvan Kenobi e Michael Meneses!
Depoimentos colhidos por: Deise Santos e Michael Meneses!

*O título e sub-titulos desta matéria e da entrevista publicada na Rock Press foram inspirados em sons da Karne Krua.

Michael Meneses! – É fotojornalista, carioca do subúrbio, filho de paraibano com sergipana, torce pelo Campo GrandeA.C. no Rio de Janeiro, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Graças ao bom e velho heavy metal, conheceu as variadas vertentes do eterno rock and roll, sem esquecer suas raízes com o rock pesado. michaelmeneses@portalrockpress.com.br